Há chance de um mercado de light novels no Brasil?

Um leitor do blog me propôs a ideia de fazer uma lista com todas as light novels publicadas no Brasil. Era uma ideia que a gente já tinha, mas não havíamos colocado em prática por uma série de motivos. Com esse empurrãozinho começamos a escrever, porém enquanto desenvolvíamos a postagem um grande questionamento apareceu: há chance realmente de um mercado de light novels no Brasil? Há potencial para mais e mais light novels aparecerem no país? Resolvemos, então, elucidar essa questão.

I – O que são Light Novels?

Primeiramente vamos definir de forma genérica: light novels são livros. Sim, isso mesmo. Assim como mangá é uma história em quadrinhos, light novel nada mais é do que um livro como outro qualquer. Aí você questiona: mas se são livros por que tem nome diferente? Acontece que esse tipo de publicação tem várias especificidades que os diferenciam dos livros “normais”.

Light novels, regra geral, possuem ilustrações. Algumas mais, outras menos. Isso, a princípio, não é nada que diferencie muito de alguns livros que circulam pelo país, mas acontece que as ilustrações lembram em muito os desenhos de animes ou mangás. Ficou interessado? Só que essa é apenas uma característica e nem é a mais marcante.

guin saga 01
Mangá de Guin Saga (cancelado pela Panini) é adaptado de uma light novel com cerca de 130 volumes.

As light novels, do mesmo modo que os mangás, costumam ser serializadas e somente depois seus capítulos são compilados em livros. Interessante, não é? Porém, isso não é uma regra. Há light novels que são publicadas diretamente nas livrarias sem passar por uma serialização. E assim como mangás (e livros comuns), as light novels podem ser tanto de volume único, como podem ter vários e vários números. Uma das mais notáveis (e que só foi encerrada com a morte da autora) se chama Guin Saga que possui cerca de 130 volumes.

Vale dizer que mesmo se uma light novel tiver muitos volumes, a história sempre se fecha em um volume ou conjunto de volumes, ainda que exista continuação posterior. Ou seja, você pode começar uma light novel como Haruhi Suzumiya e parar no volume um que tudo ficará bem. Coisas ficarão mal explicadas? Sim, mas a narrativa se encerra ali.

Contudo, o que mais define as light novels é o seu público alvo (geralmente jovens) e a linguagem empregada nelas. Por serem, em sua maioria, livros voltados para pessoas mais novas, a linguagem deles por vezes é mais simplificada, raramente se usando kanjis difíceis. O esquema narrativo também é diferenciado, passando uma fluidez muito maior que os livros de ficção convencionais.

Embora tenham temáticas distintas umas das outras, elas (as temáticas) também buscam agradar uma parcela do público mais jovem. E isso acaba sendo um fato bastante importante para a cultura pop japonesa, pois tem se tornado cada vez mais comum a transformação de light novels em animes e mangás. Exemplos disso não faltam, como os inegáveis sucessos Haruhi Suzumiya, Toradora, Sword Art Online, etc.

O inverso também ocorre. Algumas vezes mangás e animes fazem tanto sucesso que são exploradas ao máximo, gerando inclusive light novels. As primeiras light novels publicadas no Brasil exploravam justamente esse filão, com o lançamento de Gigantomaquia de Cavaleiros do zodíaco, pela editora Conrad, e posteriormente de Samurai X, pela JBC. Atualmente o grande hit Naruto também já foi adaptado para Light Novel.

Essa característica das light novels de ser mais popular (isto é, de pertencer à cultura pop) e de ser mais voltada para um público consumidor mais novo é muito interessante e pode ser de grande auxílio para um futuro mercado brasileiro. Ou será que isso é que é um empecilho para seu desenvolvimento? Vamos ao próximo item dessa postagem…

II. Há chance de um mercado de light novel no Brasil?

Um tempo atrás eu diria, com toda certeza, um sonoro “não”. Ainda hoje sou tentado a dizer o mesmo, porém estou um pouco mais otimista. Talvez não para um mercado propriamente dito, mas sim como um acessório do mercado de mangás, do mesmo modo que existe hoje, porém um pouco mais ampliado.

kakyouExplico: durante os últimos 15 anos, tivemos o início e a consolidação do mercado de mangás no Brasil e as light novels só vieram ao país como um plus a esse mercado, para explorar ainda mais alguns sucessos, como os já citados casos de Cavaleiros e Samurai X. Além disso, praticamente todas as light novels publicadas no país estão atreladas a algum mangá ou marca de sucesso. O melhor exemplo é Kakyou e seu diário de conquista da terra que, apesar de não ser expansão ou origem de nenhum mangá publicado no Brasil, veio ao país por causa do renome do grupo Clamp.

Mesmo os recentes No game; no life e No 6 também não indicam um mercado de light novels independente. Ambos os títulos vieram em conjunto com suas versões em quadrinhos. Não sabemos se foi imposição japonesa ou escolha da Newpop, mas independente disso fica evidente que light novel só existe no país em função de um outro suporte, mais conhecido e mais popular: os mangás.

Isso não é de todo ruim. Se as light novels realmente vem juntas ou posteriormente a algum sucesso, podemos ter algumas desembarcando em nosso território dentro em breve, como Sword Art Online, Highschool DxD. ou mesmo as novels de Naruto. Está certo que os três exemplos que eu citei são da Panini e de que ela ainda não publicou nenhuma novel, mas o público leitor já deixou bem claro que tem interesse nesse tipo de publicação e a editora já disse que pode fazer um teste no futuro.

no game no life 01A consolidação desse mercado acessório depende dos leitores e do desejo deles de possuírem realmente light novels. Durante o Ressaca Friends de 2014, quando foram lançados tanto a light novel quanto o mangá de No game; no life, Júnior Fonseca, o dono da Newpop, foi bem claro em uma palestra: a versão em mangá estava vendendo mais que o livro. E lá ele também deixou o aviso: se o cenário continuasse provavelmente não lançariam mais nenhuma que já não tivesse sido negociada.

Então amiguinhos, se você quer mais light novels no país comprem as que aparecerem. A lógica de mercado é bem clara: se vende, eles vão trazer; se não vende, não irão. Mas não me interpretem mal. Eu não estou querendo dizer para você que quer, por exemplo, a light novel de Toradora no Brasil comprar a de No game; no life, pois isso tornaria mais fácil a vinda de Toradora. Isso não faz sentido. No game; no life veio por ser No game; no life, por ser de um brasileiro, etc. O sucesso dessa novel não fará com que a editora invista em Toradora no futuro. Essa ideia de ter que comprar para “ajudar o mercado” é bem errônea e não tem nenhum resultado prático. Você deve comprar apenas as coisas que gosta, simples assim.

A questão é que quem pedia No game; no life tem que comprar para mostrar à editora que existe público para as duas mídias. E quem pedia No 6 também, assim que a light novel for publicada. Agora, você não conhecia No 6, mas leu o mangá que foi lançado pela Newpop e gostou? Por que não dar uma chance à light novel também?. É preciso que essas light novels vendam para que esse mercado acessório continue a se expandir.

Para compreender melhor, a minha ideia de mercado acessório é basicamente a seguinte: existe uma light novel de sucesso no Japão. Ela faz tanto sucesso que gera animes e também mangás. Esse sucesso chega ao público nacional, a editora brasileira vê muita gente pedindo tal título e resolve ir atrás… do mangá. Essa é a regra, esse é o habitual e dificilmente irá mudar. E a light novel? Ela pode vir junto (igual a Newpop fez recentemente), ou depois como costuma fazer de tempos em tempos a JBC. A ideia é justamente explorar os sucessos comerciais também por meio das novels, aumentando a presença desse tipo de obra no país.

Mas veja que, em minha ideia, esse mercado só se expande com obras de apelo inegável e isso dificultaria a vinda de muitas light novels pouco conhecidas do público brasileiro. E isso, sem dúvida, é um banho de água fria dos mais gelados possíveis. Devemos então perder a fé de que o mercado brasileiro de light novels comece a existir?

III. Uma outra possibilidade

Dissemos ali em cima que light novels não passam de livros, correto? Então por qual motivo esse tipo de obra deve ficar restrita à esfera otaku? Recentemente vivemos o fenômeno dos livros de colorir para adultos, mostrando claramente que existe público consumidor para todo e qualquer tipo de obra impressa. Por que não tentar para light novels também? Qual seria o impedimento básico do lançamento e popularização dessas obras?

A gente sabe os empecilhos: obras longas, falta de interesse das editoras, falta de marketing adequado, medo de um fraco retorno, etc, etc. As editoras não arriscariam tanto. E não se deve culpá-las por causa disso. Elas não são gigantes e podres de ricas como a gente pensa e não há motivo para arriscarem com força fora de seu nicho habitual.

No entanto, em discussões no facebook, uma pessoa levantou uma questão bastante pertinente acerca da popularização de light novels: por que as editoras de livros normais não iniciam a publicação dessas obras? De fato, uma Record ou uma Companhia das letras da vida teria dinheiro suficiente para bancar a publicação de uma ou duas light novels, além de realizar um bom marketing em busca da popularização desses títulos.

battle royaleNo entanto, fica a dúvida: as editoras de livros sabem que esse tipo de material de existe? Você, leitor, já foi em uma página dessas editoras pedir o lançamento de uma light novel? Eu realmente não vejo o porquê de uma editora “normal” não apostar em uma obra dessas. Lembram que a editora Globo publicou o livro Battle Royale ano passado? Pois então, a editora lançou possivelmente por seus precedentes (semelhança com Jogos Vorazes, filme de mesmo nome, etc) e fez uma bela campanha de marketing com alguns blogs, enviando além de um livro para ser resenhado, uma espécie de conjunto de sobrevivência…

Publicações japonesas podem ter espaço sim, basta que as editoras percebam a existência de algum material vendável tal qual Battle Royale era. Conheço muito pouco sobre light novels e não sei exatamente qual seria uma obra vendável para a população não-otaku. Mas eu não saber, não é problema, o problema é as editoras não saberem.

Você conhece alguma light novel que poderia ser facilmente vendida para quem não acompanha nada sobre o Japão? Se conhece, faça as editoras de livros conhecerem, preferencialmente alguma obra que seja sucesso tanto no Japão, quanto em algum outro país do mundo. E quando eu digo sucesso, eu digo sucesso de vendas, que tenha aparecido entre os livros mais vendidos de jornais e revistas importantes.

Não vejo melhor solução para o verdadeiro nascimento desse mercado se não for pela mão das editoras de livros. Elas têm as ferramentas necessárias, as estratégias de marketing, etc. Só precisam conhecer obras vendáveis. Não sei se existe precedente em outros países, mas considerando o Brasil e as editoras nacionais de mangás, essa é a melhor forma para a popularização desses livros….

***

Sobre a lista de light novels publicadas no Brasil, ela já está pronta. Sairá semana que vem, nesta mesma hora e nesse mesmo canal blog.

[Atualização 29.06.2015]

Um leitor me informou que já houve um light novel lançada por uma editora de livros convencionais. Foi Moribito pela Martins Fontes. Sendo um sucesso no Japão e pelo mundo é natural que editoras queiram lançar. Mas com uma ajudinha do público pode ficar mais fácil, não é mesmo?

***

Clique aqui e veja a lista de Light novels lançadas no Brasil

Equipe Biblioteca Brasileira de Mangás

13 Comments

  • Bem, como tem muitos otakus aqui no Brasil, até que seria uma boa ter uma Livraria de Light Novels.
    Aguardo anciosamente até esse dia chegar, por que eu quero comprar mais livros da CLAMP.

  • A NewPop tem um grave problema com erros de digitação e erros ortográficos nas suas obras. Eu já tentei entrar em contato com eles algumas vezes. Por diferentes mídias/formas de contato, mas eles nunca demonstraram interesse. São erros grosseiros e acho que não justifica eles levarem nas “coxas” simplesmente por tratar-se de uma leitura direcionada para crianças e jovens (Eu sei que não é só criança e jovem que lê, eu mesmo já sou “veiáco”).
    Eu continuo comprando, por saber que se eu não o fizer, não vai ter outra editora que irá produzir tão cedo. E eu sou meio “Old-School”, prefiro ler mangás/livros no papel. Não curto ler light novel na frente de um pc. Mas mesmo assim, desmotiva bastante, saber que eu vou comprar uma coisa cheia de erros. Além do mais, é um serviço pago. Não é um favor que eles estão fazendo. Não trata-se de um fan-sub que não ganha nada.. Eles ganham dinheiro, então nada mais justo do que pedir um serviço bem feito.

    Sei que meu comentário está divergindo bastante do assunto principal, mas eu já estava incomodado com essa situação.

    A propósito, esta é a primeira vez que eu entro neste site. Na real eu estava procurando saber quais Light Novels existiam no Brasil (pelo próprio google), e acabei caindo aqui. Hahehe. Gostei bastante da tua matéria. Acho que voltarei aqui mais vezes. <3

  • Eu tenho interesse em ler os Light Novels tenho até alguns em minha wishlist, os que já sairam não comprei ainda porque são um pouquinho caro e tenho outras coisas que quero comprar, mas assim que um dinheiro tiver entrar na conta com certeza vou comprar \o/ eu gostaria muito que a JBC relançasse Samurai X, quero comprar os da Clamp pela New Pop, talvez eu compra o No.6 depende de quando ele sair e tudo mais, o único que eu tenho certeza que vou comprar assim que lançar o Another *O*

    Agora acho um pouco complicado as editoras que não sejam de mangá lançarem Light Novels, porque o publico em geral, tem muito preconceito com tudo que vem da Asia, com isso seria difícil vender para esse publico em geral, mas quem sabe em um futuro isso não aconteça ne… Alias acho que a única que poderia dar certo seria a LP&M até porque ela lança mangás e os preços dela são bem acessíveis.

    • Preconceito realmente existe, mas com filmes, desenhos animados e quadrinhos. Com livros não necessariamente é assim. Não existe evidência de que as pessoas prefiram comprar um livro desconhecido americano a um livro desconhecido japonês.

      Pode realmente existir uma chance, desde que se faça uma campanha de marketing adequada…

      • Bom pelo menos todo que conheço que não se ligam nesse meio, quando falo qualquer coisa que venha do mercado asiático torcem o nariz e tenho certeza que não comprariam nada sabendo da onde vem, mas não quis generalizar, talvez dependendo da história pode ser que não aconteça isso. Mas quis dizer deferente as pessoas que eu conheço… espero mesmo que esse mercado tenha uma grande expansão e mais pessoas gostem e comprem ♥

  • Filipe

    Eu acho que as Ligth Novels vão continuar sendo um acessório por um bom tempo. Não vejo a chegada de LNs que não sejam há de algum anime de sucesso junto de seu mangá. Na minha opinião, para o mercado de LNs da certo vai ter que ser explorando o nicho otaku mesmo. E querendo ou não o nosso mercado de mangás tem que ser fortalecer mais para abrir espaço e público ao de LNs. Tipo o mercado brasileiro não é um mercado que vai acabar de uma hora para outra, na verdade parece até estar indo bem, mas ainda estamos longe de EUA, França ou Itália por exemplo. E se o EUA, o maior mercado importador de produtos otakus do ocidente está começando a investir em LNs para valer só agr, pra mim é sinal de que ainda temos um certo caminho a percorrer.

  • andersonel21

    O único problema de pedir Light Novels para editoras de livros é que elas não dão muito atenção a elas. Eles tem mais interesse no mercado norte-americano e no mercado britânico de livros. Mas não custa tentar né?

    Fico no aguardo da lista de Light Novels ^^

    • Samara Barreira

      Será que eles realmente preferem estes mercados ou têm interesse neles pelo simples desconhecimento de light novels? Também quero saber que lista é essa, a de light novels.

  • lucassm16

    Claro que há chance, é só o pessoal comprar. O tanto de gente que comprou o mangá de NGNL e não tem a mínima vontade de transitar para o livro. O mesmo deve acontecer a No.6, e é uma pena. Falta apoio do pessoal mesmo e maior coragem das editoras.

    • Samara Barreira

      Eu comprei ao menos o primeiro volume da light novel de No Game No Life. Só não comprei o terceiro por falta de grana, mesmo. E, cara, Brasileiro tem preguiça de ler, mesmo. É lamentável.

      • Samara Barreira

        Quero dizer… o segundo volume. E já vai para o terceiro volume. Enfim… Sem grana, não sei se vou continuar.

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