Desmistificando: Estaria o Mercado realmente maduro?

CavaleirosGlobo, UOL e falas que nos fazem duvidar…

Ultimamente temos testemunhado uma porção de notícias sobre os mangás e quadrinhos no Brasil em redes televisivas, jornais e canais digitais. Alguns chegam a informar que este seria o auge dos mangás em nosso país. Mas até onde isso é verdade?

Quantidade de títulos e anúncios

De fato, uma simples comparação ano a ano mostra um aumento considerável de quantidade de obras lançadas anualmente, mas esse número vem de mãos dadas com a diminuição absurda de número total de volumes. A JBC, por exemplo, teve uma explosão de títulos nos últimos 2 anos, a grandíssima maioria de obras entre 1 a 5 volumes.

O mesmo ocorre com as editoras de menor expressividade como a Nova Sampa  (Jens), L&PM, NewPOP, Abril e Alto Astral, que possuem catálogos abarrotados de séries curtas.

Logo essa aparente evolução do mercado na verdade é fruto exatamente de uma queda de vendas e estabilidade. Mercados “fracos” não suportam séries gigantescas e longas, já que requerem consumidores fieis por longos anos, ainda mais em periodicidades curtas, mensais e bimestrais (entenda por que).

Dessa forma, embora inicialmente pareça ser uma prova do “auge”, na verdade é uma forma de mascarar uma queda ou mudança do consumo.

Quantidade de lançamentos mensais

É verdade que o recorde de maior quantidade de mangás lançados em um único mês pode, sim, ter sido recentemente com a entrada de várias outras editoras, especialmente entre 2013 e 2015. Mas várias delas perderam o fôlego, o que por si só não é um bom sinal.

Mas será mesmo que há mais mangás sendo lançados todo mês? Selecionamos os últimos meses e, aleatoriamente, alguns outros até 2012:

Panini JBC
jan/16 14 jan/16 14
dez/15 17 dez/15 19
nov/15 15 nov/15 18
ago/15 16 ago/15 15
mai/15 15 mai/15 10
jan/15 13 jan/15 14
ago/14 19 ago/14 12
fev/14 16 fev/14 17
ago/13 18 ago/13 13
jun/13 17 jun/13 12
nov/12 12 nov/12 15
mai/12 12 mai/12 11
média 15,3 média 14,1

Note que há uma variação grande, na Panini por conta dos bimestrais que se alternam e na JBC por conta os novos volumes de séries encostadas no Japão. Mas, embora haja uma variação, a média desses meses selecionados não destaca nenhum aumento real na quantidade de mangás sendo lançados mensalmente.

Na verdade dá para perceber que as duas maiores editoras encontraram um número confortável faz um bom tempo. E que os poucos aumentos como o da JBC em dezembro de 2015 são pontuais, devido a retornos, eventos ou alinhamento dos planetas.

Aqui também não vemos muita novidade para justificar ser chamado de “auge” e, se houve um amadurecimento, o mesmo já ocorreu faz tempo.

Variedade

Outra coisa destacada é a variedade, “nunca se teve tantos estilos lançados”. Será mesmo?

É inegável que nos últimos anos tivemos a volta dos hentais (desde os lançamentos da Conrad, como Sade e Ero-Guro), a chegada do boy’s love (yaoi/shounen-ai), a volta de clássico do Tezuka (de novo, desde Adolf da Conrad), a maior quantidade de light novels, databooks e mangás de terror (que desde a Conrad já existiam por aqui, mas foram lançados pontualmente desde então), além de um reinvestimento nos shoujos de peso e fortalecimento da produção nacional.

Tudo isso parece lindo e maravilhoso dito assim, mas a realidade é bem diferente. Foram apenas alguns hentais de volume único lançado, 1~2 volumes de Tezuka ao ano (o resto dos muitos clássicos e seus autores continuam a ver navios), a mesma coisa para todos os outros: alguns lançamentos pontuais que não representam quase nada no total de lançamentos.

Sim, porque o Brasil ainda é predominantemente shounen, a única mudança significativa que tivemos envolvendo demografias é que ao invés de lançarmos apenas coisas para 12-18 anos (shounen), agora lançamos coisas também para 18-24 (young seinen).

O fato da maioria dos seinens lançados serem exatamente das mesmas marcas (exemplo, da Shounen Jump para a Young Jump) mostra que essa “inovação” não passa da mesma coisa de sempre com um nível de violência e conteúdo adulto maior.

Vale a pena comentar que existem várias revistas seinen no Japão, mas para faixas etárias diferentes, inclusive é comum se colocar o termo “young” nos próprios nomes para diferenciar as de 18-24, como Young Jump, Young Ace, Young Animal, Young Sunday, Young Champion, Young Gangan, Young King e Young Magazine.

Muito recentemente as editoras passaram a trazer um seinen um pouco mais maduro, da faixa dos 24-30 anos. Nos últimos anos dois anos, tivemos Planetes e Vagabond (da revista Morning), Hideout (da Big Comic Spirits), Zero eterno, Orange e O cão que guarda as estrelas (da Manga Action), além das publicações das revistas Afternoon e Evening, como Éden, Blade, Parasyte e Vinland Saga e a coleção Fim de Verão (de várias revistas).

Mesmo assim pouquíssimo dos seinens lançados no Brasil são os voltados para a meia-idade ou terceira-idade. Os famosos gekigá e ero-guro, gêneros adultos, mal dão as caras no Brasil e passam anos esquecidos.

A coisa fica ainda mais engraçada quando notamos que muitos mangás shoujos vieram ao Brasil para atrair o público masculino. Vários shoujos baseados em anime ou franquias famosas deram as caras desde sempre, como Cowboy BeebopLodoss War: a história de DeedlitTrinity Blood, Blood+ Yakou Joushi, Blood+ Adágio, Darker Than Black, Code Geass e agora mais recentemente o spin-off de Ataque dos Titãs, Ataque dos Titãs – Sem Arrependimentos.

Numa comparação imbecil, dizer que o Brasil tem variedade de gêneros e demografias é como ir àqueles buffet de 50 tipos de saladas, mas serem todas variações de tomate e alface, com uma de rúcula e uma de repolho.

Temos muitos tipos de mangá… Shounen. E shoujos com cara de shounen e seinen com cara de shounen, até os kodomos que saíram são versões shounen para menores de 12 anos. Aí, claro, temos shounen a la jump, shounen a la kodansha, shounen de esporte, de luta, de aventura, de comédia, de comida, de romance. Muita variedade dentro de uma única demografia, isso nós temos.

Exagero? Não, de forma alguma, de todos lançamentos mensais da Panini, cerca de 80% é shounen de verdade, e quase sempre os outros 20% são os “young seinen”. A JBC é um pouco diferente, ela tem lançado 40-50% de shounen, 40-50% de seinen e o resto de shoujo e outras coisas perdidas.

Dizer que há variedade no Brasil é uma piada, a impressão é que os outros gêneros só “lançam para dizer que tem”. O mercado de mangás aqui ainda é “coisa de criança”, centrado nos lançamentos infantojuvenis. Se for este o quesito para definir a maturidade, diria que o mercado continua infantil. Onde está a maturidade deste mercado supostamente maduro?

Em outros mercados verdadeiramente maduros, como o coreano, o americano, o francês e o chinês, vemos uma quantidade significativa de todos os estilos, autores e demografias. Com uma porção de obras clássicas e adultas, autores novos e velhos, indo muito além dos mangás de anime.

Dependência

Outro ponto interessante é notarmos que ainda hoje o que é lançado está diretamente conectado com anime e filmes. A grandíssima maioria das obras só vêm ao Brasil após o anime ou ao mesmo tempo. Achar séries que não tenham sido adaptadas para outras mídias ou não sejam parte de franquias é uma missão quase impossível.

Isso mostra mais uma imaturidade do nosso mercado: a venda de mangás é parte do consumo de animes. Se houvesse uma “calamidade” e não houvesse forma alguma de um brasileiro assistir anime, haveria mangás no Brasil?

Compare ao mercado de Comics, por exemplo, vários super-heróis que nunca (ou quase nunca) viram adaptação em cartoon ou similares eram lançados no Brasil, antes mesmo do mais recente boom. E se de repente a Disney desistir de fazer mais filmes dos Avengers (Vingadores), o consumo de comics americanos pode diminuir, mas continua forte e independente.

O mesmo não acontece com mangás, inclusive muitos chegam a descrever mangá como “versão em quadrinho de anime”. Mangá não é visto como uma forma independente de produção e história, mas como um apêndice dos animes.

E isso é tão forte que todo mundo assume que se você lê mangá, você também assiste anime. Tente dizer que você não gosta de anime e veja a cara de interrogação das pessoas, “Como alguém gosta de mangá e não de anime?”.

Representatividade

Uma boa forma de julgarmos a maturidade de um mercado é ver se as obras publicadas representam as melhores obras daquele universo.

Se formos falar em venda, de fato dos 30 títulos mais vendidos no Japão, 16 foram lançados no Brasil (embora alguns tenham sido cancelados). Mas quando vamos falar em prêmios, a maioria das obras premiadas dentro do Japão nunca foi lançada por aqui. O mesmo vale para autores, tanto os autores clássicos quanto os mais modernos, pessoas reverenciadas no Japão nunca tiveram seus muitos títulos no Brasil. Quando falamos de clássicos então, atualmente temos Osamu Tezuka, ponto.

Note que catálogo pobre nós temos, aqui só chega o que tem anime e vende muito no Japão, obras de importância histórica e cultural não tem espaço algum.

Tiragens e vendas

Mas, talvez, o auge seja no número de vendas! Será?

Todas as vezes que alguém abre a boca para falar sobre vendas ouvimos sobre crise, diminuição de tiragem, reajustes de preço e estratégias, mangás entrando no freezer invisível sem data de retorno, etc. De fato ouvimos bastante, mas ninguém veio falar de aumento de vendas devido a sucesso já faz um tempo.

O clima no mercado atual é de retração: uma soma do consumo menor devido à crise mais aumentos dos custos, especialmente quando o produto depende de licenças internacionais e importações.

Em meio a isso tudo seria surpreendente se o mercado estivesse de fato crescendo em vendas e arrecadação total.

Público consumidor

Só resta então que a causa do “mercado maduro” seja o consumidor, uma estabilidade e crescimento dos leitores.

Entretanto não é isso que vemos, de fato animes e mangás andam em queda no Brasil, poucas crianças têm acesso aos animes como as gerações passadas, a moda anda muito mais voltada aos cartoons, super-heróis e Disney.

O público original envelheceu e vários abandonaram o barco. A nossa própria cultura desestimula que adultos mantenham os hábitos de crianças, como jogos (games), quadrinhos e desenhos animados.

Como testemunha do envelhecimento dessa geração, é particularmente fácil para esta redatora ver os amigos perdendo o interesse e passando a serem consumidores casuais, seja pela falta de interesse, emprego ou família. Até o ponto de ser a última teimosa.

E, obviamente, se há pouca criação de novos leitores e perda continua dos velhos, o público consumidor está longe de qualquer estabilidade.

***

Mas veja que a “culpa” não é das editoras, para um mercado amadurecer o público precisa amadurecer também. Todas as tentativas de venda de gekigás e seinens adultos foram mal de venda. Seton, por exemplo, de Jiro Taniguchi foi um dos fracassos de vendas mais tenebrosos da Panini, e olha que é um mangá de qualidade inegável e de um dos autores mais premiados na França.

Então por que Seton e vários outros não vendem no Brasil? Provavelmente pela falta de maturidade de grande parte dos consumidores, que só está interessado nas adaptações de anime e shounen, e/ou porque mangá ainda é visto pelo público maduro e de colecionadores de quadrinho (potenciais consumidores) como obras infantis e não há de fato nenhum esforço sendo feito para mudar essa visão.

Não, o mercado não está maduro, ainda é jovem, incompleto, instável e viciado. Agora, seria esse o auge? Ou seria esta apenas uma turbulência causada pela crise no país com um futuro de crescimento nos aguardando? Será que dá para sonhar num crescimento do mercado? Na diversificação de obras e autores?

Esta redatora espera que estejam todos errados e este não seja o auge, porque se for, o mangá realmente fracassou no Brasil e morrerá imaturo.


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂

20 Comments

  • Que puta texto maravilhoso, meu Deus! Eu vejo e penso isso sobre os mangás desde sempre! *__*
    Rose, vc é linda, casa comigo! <3

  • Fabricio Lima

    Um adolescente de 14 anos é mais maduro que uma criança de 8, porém não é tão maduro quanto um adulto de 32 anos.

    O texto diz que não é exagerado sendo exagerado. Vamos com calma, o mercado ainda tem muito o que crescer e amadurecer.

  • Alison Varjolo

    Nosso mercado ainda está muito longe de estar maduro mesmo, mas, o próprio Cassius da JBC e a Beth da Panini já confirmaram em palestras que, pelo menos do ano passado pra cá, houve um aumento de pelo menos 10% nas vendas dos mangás. A Beth também já disse que mangás no geral não ficam atrás das HQ’s americanas não, só disse que não dá pra comparar com um Batman da vida, porque Batman é Batman.

    Então, sim, nosso mercado está longe de estar maduro, mas acho que vem crescendo aos poucos 🙂

    • Roses

      Alison, essa história de “aumento” é duvidosa, ao mesmo tempo que dizem isso, dizem que tiragens estão diminuindo, que certas coisas não vendem, não se pagam. O que é esse aumento de 10%? Na venda de que mangás?
      Já ouvi desse pessoal que na verdade está vendendo mais em lojas especializadas, muito mais. Isso não significa que não se está vendendo menos nas bancas. Pelo que disseram a crise força às pessoas a buscar descontos e tal que lojas oferecem e bancas não.
      É difícil falar desse assunto sem nenhum dado concreto. Fora que você pode ter um aumento na Panini e uma queda na JBC. Ou outras editoras, como não há compartilhamento de dados não dá pra saber o total e como está as coisas. Entende?

  • Kyle

    Acho que nós, brasileiros, não devemos nos prender tanto às demografias. Sim, estão sendo publicados muitos títulos ‘shonen’ aqui, mas o que importa é que são diversificados. Temos títulos que envolvem drama, romance, ação, humor, pra quê se prender às demografias? Se formos olhar para as demografias com certeza no Brasil terá pouca variedade de títulos, mas se olharmos com outros olhos veremos que o mercado está sim amadurecendo e dando várias opções para os leitores antigos e novos. Não estou dizendo que o mercado está super maduro, mas que estamos, sim, ficando mais consistentes. Infelizmente a cultura do mangá aqui no Brasil ainda está bem abaixo da cultura das hqs americanas, mas creio que com mais um tempinho o mercado ainda irá se fortalecer mais. Conclusão: Curti bastante o texto, Roses, e é verdade que o mercado não está tão maduro, mas, na minha opinião, diversificado está, sim.

    • Roses

      Kyle, a demografia é uma forma de vermos gêneros, já que demografias infantojuvenis limitam os temas possíveis.

      Por exemplo, não ligarmos para demografia nos cinemas, seria desconsiderar as idades e classificação indicativa. Se nos cinemas só começasse a passar filmes de classificação livre, mas de todo o gênero possível. Você estaria feliz?

      Ia ter filme de todo o gênero, mas entalado numa perspectiva apta ao infantil. Ou seja, sem tocar em sexo, sem discutir a vida, sem discutir problemas, sem morte, sem violência gratuita, etc.

      Disney pode ser “bonitinho” e fazer você cantar as músicas por anos, mas ninguém sai dos filmes se perguntando sobre a própria vida.
      Existem filmes adultos que também são filmes-pipocas, mas em adultos estão aquelas obras que falam da morte, da nossa essência, que questionam nossos valores e nos fazem pensar, nos afetam.

      O mesmo ocorre com shounen, que shounen você já leu que te afetou? Que te fez questionar a sua vida? A sua realidade? Seus valores?

      Seinen é o adulto, existe pipocas, os young seinen, que é adulto de porradaria, sangue e sexo. Mas existe o seinen realmente maduro, que questiona. Meu amado Jiro Taniguchi tem um história que me fez chorar, literalmente, a história do cachorro dele, que ficou doente. Ele mostra todo o esforço que eles fizeram para ajudar o cachorro, os problemas, a imposição na vida deles e termina com o cachorro morto. É chocante e imediatamente pensei na minha gata que morreu de forma similar, em parentes que morreram aos poucos também.
      A obra foi tão boa, que mesmo sendo uma oneshot (capítulo único) recebeu prêmio dado a obras e séries, Inu wo Kau, se quiser ir procurar.

      Enfim, o ponto é que nada adiante termos uma variedade enorme de obras se elas são todas escritas para pessoas jovens. Pode ser divertido e tudo mais, mas uma tragédia shounen não chega nem perto do que é ser uma tragédia seinen. Da mesma forma, temas são trabalhados tendo em visto um público alvo, se é para criança, é suavizado.

      Algo para você pensar: Como seria Frozen se fosse feito para adultos? Elsa teria matado os pais acidentalmente e passaria os anos escondendo isso e se consumindo de raiva, até quase matar a irmã um dia e fugir. A Anna teria que aceitar perdoar a irmã pelo assassinato dos pais e por todas as mentiras. Em um Frozen adulto a Anna poderia mandar gente para matar a Elsa, completamente consumida pela raiva e dor.
      Mas Frozen é infantil, nada disso jamais poderá acontecer. 🙂

      • Ives Leocelso

        Roses, gostei bastante da ideia geral do texto, até chegar nesse comentário. Já parou para pensar que o público brasileiro de mangás simplesmente não tem interesse em obras assim? Tenho 29 anos e mangá para mim é e sempre será uma forma de diversão leve e escapista. Gosto muito de shoujo, josei e young seinen, mas esses super dramas como a história do cachorro aí não me despertam o mínimo interesse. A vida já é complicada demais, vamos deixar os mangás pra relaxar Huahuahuah

        • Roses

          Esse foi um exemplo dentro de muitas possibilidades. Existem todo tipo de obra em diferentes demografias. Por exemplo, você assistiu Deadpool? É um filme extremamente adulto e para entretenimento descompromissado, mas é adulto. Aquele nível de violência, sexo e teor é 100% adulto. Como seria um Deadpool infantil?

          Em nenhum momento estou dizendo que só será diversificado se tiver esse tipo específico de série. O ponto é que diversidade dentro de um subtipo não é a mesma coisa que diversidade de subtipos. Um supermercado pode ter 100 tipos diferentes de doces, mas continuam sendo doces, algo muito diferente do supermercado que tem alguns doces, produtos de limpeza, hortifruti e outros alimentos. Uma diversidade dentro de uma limitação não é a mesma coisa de uma diversidade total. Embora o ideal, claro, seja a diversidade total e específica. Ir num mercado com apenas uma opção de doce, uma opção de bebida, uma opção de fruta, uma opção de carne é igualmente ridículo.

          Um bom mercado tem opções para todo o espectro de leitores, tanto em idade quanto em temática. 🙂

  • Como sempre, muito instrutiva sua matéria Roses. Ainda caminhamos lentamente para esse amadurecimento no mercado brasileiro. Uma sugestão de matéria pra você, Reimpressão de Mangás, existe isso aqui no Brasil? Nós leitores pedimos muito por reimpressão de título X, ou título Y que não se encontra mais, ou quando encontra é muito caro. Não vale a pena a editora trazer novamente já que é tão pedido?

  • O Mercado amadureceu em relação a alguns anos atrás, hoje temos obras que dificilmente seriam lançadas se o mercado não estivesse como é hoje.Em relação a mangas longos e antigos acredito que há esperanças sim, um exemplo disso é Blade, nunca imaginei que um dia seria relançado no Brasil, mas é claro que se não fosse nesse formato big, seria bem difícil.
    Sobre variedade de gêneros o mercado evolui consideravelmente, mas ainda falta ousadia por parte das editoras arriscarem em obras mais “underground” que por sinal não são tão rentáveis no nosso atual mercado , obras como homunculus e mpd mpd psycho são exemplos disso.

  • Bruno

    Mas e se o consumidor prefere Shounen, ele é imaturo por não gostar de outra coisa? É o gosto pessoal, ninguém é obrigado a comprar o que não quer só pra ajudar o mercado nacional

    • Roses

      Não estamos discutindo gosto pessoal, mas maturidade do mercado. “Se ler apenas material infantil significa que a pessoa é infantil” é um tópico que me recuso a comentar, haha.

  • Rafael

    Parabéns pela matéria, como sempre muito bem feita e abordada com bons argumentos. Certamente o mercado atual não é maduro, mas com certeza amadureceu bastante levando em conta a situação do público de forma geral, resumindo em um ponto: o incentivo à leitura no Brasil é pequeno, a ponto de ser insignificante.

    Bom, mas por que penso que o mercado amadureceu BASTANTE? Primeiramente por causa de um tópico abordado na matéria: obras muito extensas. Tais obras deixaram de ser visadas pelas editoras por um bom tempo, pois houve um consenso que, seja por falta de publico fiel, seja pela saturação, entre outros fatores, essas obras não se encaixam num padrão fundamental para as editoras atualmente: a busca pela ampliação de mercado consumidor. Por isso as mesmas apostam em títulos curtos em sua maioria, por serem mais fáceis de acompanhar e por não correrem o risco de se tornarem longas e “enjoativas”. Somente isso já pode ser considerado um grande avanço para o mercado ao meu ver.

    Quanto a questão da diversidade de gêneros, concordo absolutamente, ele pode ter se tornado MAIS variado, mas não significa que é diverso. Muitas obras são variações dos shonen, só que classificadas de forma diferente. Porém essa evolução será de forma lenta, muito mais lenta do que foi nos mercados americano e francês por exemplo, pois, volto a destacar, o incentivo à leitura no Brasil é ridículo de forma geral. Aqueles que tem costume de ler dificilmente estão dispostos a expandir seus horizontes em tal quesito. Por isso as iniciativas da NewPop de trazer yaoi/BL esporadicamente representam uma tentativa de que quebrar tais paradigmas, o que creio estar se concluindo de forma BEM devagar, haja vista que nenhum desses títulos tenha ficado no vermelho. Mas a possibilidade do mercado evoluir a ponto de títulos com essa e outras demografias atuarem com mais peso está longe, por motivos já citados.

    Em suma, o mercado tende sim a crescer apesar de todas as dificuldades. Mas para alcançar um nível desejável, de mercados realmente maduros, a jornada será mais longa do que o presenciado nos mesmos.

    De novo, meus parabéns àqueles que idealizaram e mantém essa coluna. Aqui há um exelente exemplo de discussões interessantes e saudáveis a respeito de um assunto o qual tanto presamos.

    OBS: Aos que leram até aqui, meu obrigado por aturar essa humilde opinião de um leitor de mangás viciado kkk.

    • Roses

      Sim, com certeza é inegável que tem havido uma diversificação, é uma pena que isso acontece de forma tão, mas tão tímida.

      Obrigada pelos parabéns e por nos acompanhar! 🙂

  • Eu considero que o amadurecimento do mercado se deve a fatos de que o perfil do leitor de mangas de hoje não é o mesmo de quando o mercado iniciou. Por exemplo: Eden chegou a ser cancelado pela Panini e agora está firme e forte nas carissimas edições Big da JBC. na epoca esse tipo de leitura era algo chato pra maioria dos poucos leitores de manga, hoje é altamente recomendado pela maioria que leu. Shoujos eram de leitura praticamente exclusiva a garotas, não esses “shoujos” citados, mas os shoujos reais e que por algum motivo foram omitidos da materia. Se Aoharaido e Orange tivessem sido lançados naquela epoca, não teriam sido o mesmo sucesso de hoje porque a maioria dos garotos jamais cogitariam ler esse tipo de manga, coisa que hoje até me espanta ver mais garotos comentando sobre eles do que garotas(que parecem mais interessadas em BL). Mangas como Kekkaishi que foram cancelados pela panini no passado, provavelmente fariam sucesso se lançados hoje, exatamente porque o publico leitor é mais “maduro”, ou seja, mais aberto a vários tipos de mangas do que no passado. Outro fator de “amadurecimento” são os mangas que a NewPop tem lançado que são nicho do nicho e a editora ainda consegue sobreviver e estar entre as grandes. Não digo que o mercado ESTÁ maduro, mas sim que está obviamente amadurecendo e que ainda tem muito chão pela frente se a crise não falir o pais antes.

    • Roses

      Como informado, houve um amadurecimento do Shounen ao Seinen. Orange e Eden fazem parte desse amadurecimento. Mas estamos falando de um amadurecimento de um dos muitos possíveis gêneros. O tópico “variedade” fala tanto disso quanto dos shoujos que você diz terem sido omitidos. Aoharaido é um, um único mangá shoujo em mais de 34~40 lançamentos, dos quais pelo menos 50% são shounen e mais um tanto seinen. Basta você pegar os checklists e checar você mesmo. Orange é seinen, ele nasceu como shoujo, mas se mudou para uma revista seinen, vale a última demografia, não a primeira.

      Kekkaishi foi um shounen que não deu certo, símbolo de amadurecimento seria outro shounen dar certo?

      A NewPOP tem nichos, sim, mas o que ela representa no total? Quantos yaois são lançados ao ano? 3 de volume único? Às vezes menos.

      Isso é exatamente o que comentei no texto acima, segue:
      “É inegável que nos últimos anos tivemos a volta dos hentais (desde os lançamentos da Conrad, como Sade e Ero-Guro), a chegada do boy’s love (yaoi/shounen-ai), a volta de clássico do Tezuka (de novo, desde Adolf da Conrad), a maior quantidade de light novels, databooks e mangás de terror (que desde a Conrad já existiam por aqui, mas foram lançados pontualmente desde então), além de um reinvestimento nos shoujos de peso e fortalecimento da produção nacional.

      Tudo isso parece lindo e maravilhoso dito assim, mas a realidade é bem diferente. Foram apenas alguns hentais de volume único lançado, 1~2 volumes de Tezuka ao ano (o resto dos muitos clássicos e seus autores continuam a ver navios), a mesma coisa para todos os outros: alguns lançamentos pontuais que não representam quase nada no total de lançamentos.”

      Dá para ver um começo de coisas voltando ou inovações, mas que no total não representam muita coisa, os esforços da NewPOP em lançar nichos não vendem nada comparado à venda dos shounens da Panini. O Próprio Júnior Fonseca quando é perguntado dos vários nichos responde que eles “se pagam”. Yaoi mesmo só vem volume únicos, por que a editora não traz séries imensas? Por que não tem yaoi novo todo mês? A resposta deles nas comunidade é que precisa de um tempo para os volumes venderem. Isso não mostra um amadurecimento de consumidor ou variedade, mostra que é possível lançar certos nichos e se pagar. Mas não são rios de lucros, veja que não são os carros-chefes da editora.

      E são tão fracos que as 2 maiores editoras de “nicho” só lançam shoujo, uma delas até traz seinen vestidos de shoujo. E estamos falando de 1~3 volumes ao mês, dentro de 35~40 mensais. Chega a ser menos de 10% do total.

      Existe uma inegável diversificação, mas no total, essa diversificação não é palpável. É excluída, restos. =/

  • Que triste ler este texto..

    Faço parte dos leitores originais desde que a Conrad começou a publicar os mangás dos Cavaleiros, Dragonball, One Piece entre outros no Brasil sempre estou comprando todos os meses os diversos títulos até hoje! E sempre procuro comprar títulos mais “maduro’ como Oldboy, Homunculus, Vinland Saga, Planetes buscando alternativas também nos shoujos como Aorahaidô, Orange e claro não dispenso os mangás shounes de sucesso. Mas que o mercado precisa crescer falta muito mas muitos anos pela frente! É triste ver a dura realidade de que os mangás estão em decadência. Seja pela perda de leitores (como o texto mesmo descreveu o por quê), pouco crescimento de novos leitores por causa da internet (que as pessoas que só acompanha por scans) e nada de bons títulos que deveriam chegar no mercado com Real, Pluto, Yotsuba!, entre outros. Cadê o auge? Só lembro disso em 2001!

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