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Desmistificando: Japoneses podem obrigar as editoras BR?

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Eliminando mais um mito?

Existe um mito por aí de que as editoras japonesas obrigam as editoras brasileiras a trazer certo título ou a fazer de certo jeito. Isso é tudo conversa fiada para boi dormir. Porém isso não quer dizer que não haja exigências, mas todas as exigências são aceitas por livre e espontânea vontade pelas editoras brasileiras (sob pressão ou não).

Para entendermos um pouco mais do que acontece, vamos voltar um pouco e conversar em como uma editora brasileira adquire um título.

Ao contrário do que muitos acham, comprar licença é menos compra e mais aluguel. Você não vai em uma loja online exclusiva e sai colocando obras no seu carrinho. Licenças são adquiridas através de propostas e contratos, variando para cada empresa.

Em geral as editoras possuem empresas ou seções para lidar com licenciamentos e uso dos materiais. Você pode conferir que empresas são essas olhando os dados no mangá, geralmente em inglês. Alguns exemplos:

Alice Hearts: Portuguese Translation rights arranged through TOHAN CORPORATION, Tokyo.

No Game No Life: Portuguese translation rights reserved by NewPOP Editora Ltda-ME. under the license from KADOKAWA CORPORATION. through TOHAN CORPORATION, Ltd., Tokyo.

Samurai X: Portuguese Translation rights in Brazil arranged by Shueisha Inc. through Cloverway, Inc..

Trigun Maximum: Portuguese version published by Panini Brazil under license from Shonen Gahosha Co., Ltd., Tokyo through Tuttle-Mori Agency, Inc., Tokyo.

Não é incomum que os direitos sejam adquiridos também através de outras empresas americanas, como TokyoPOP e Viz. Um caso recente é Drug-On, da NewPOP, licenciado através da TokyoPOP.

Uma vez que você saiba quem possui aquela série, você pode mandar propostas e demonstrar interesse. Aqui é a hora em que as editoras mais quebram a cara, pois muitas vezes as editoras japonesas não põem muita fé em você ou não acham que está “no momento certo” de lançar aquilo. E se ela não quer te vender, ela não é obrigada. São as editoras brasileiras que têm que puxar saco, fazer propostas interessantes e vender os peixes delas.

Note que existe um enorme desbalanceamento de poderes aqui. A editora japonesa como detentora dos direitos possui a última palavra e, é por isso, que muitas vezes as editoras brasileiras não tem outra opção que não acatar os pedidos.

Veja que elas não são obrigadas, a editora BR pode dizer não e passar para outra. Mas se ela quer aquele título X, a editora japonesa pode ter exigências.

Uma das exigências mais comuns é o direito de veto e aprovação da capa. Os famosos atrasos devido “aprovação de capa” nada mais é que uma dessas exigências, nenhuma capa sai a não ser que eles deem o OK. Se algumas empresas são agradadas fácil, outras podem cismar com cada detalhe minúsculo.

Outras exigências são quanto a nomes, títulos, formato, etc. Tudo a depender da chatice de quem está do outro lado. Existem exigências vindas também dos autores, como as supostas vendas combinadas “Só deixo lançar 20th Century Boys se lançar Monster”, dentre outros detalhes que possam aparece durante as negociações.

Essas negociações podem ser rápidas ou levar uma eternidade. Há sempre o perigo de haver concorrência e as empresas japonesas passarem a aceitar negociar com aquela que mais lhe agradarem ou com a qual tiverem mais familiaridade. Pior, há a chance de entrar em leilão e passar a ser um “quem dá mais”.

Não é incomum também que as concorrentes tentem licenciar várias séries ao mesmo tempo, seja para conseguir vantagem sobre as outras, por facilidade ou a procura de algum tipo de desconto.

Seja como for, por causa da posição desvantajosa das editoras brasileiras em relação às licenciantes, não é incomum que elas sejam “forçadas” a acatar muita coisa para conseguir aqueles direitos. Mas no final das contas é uma escolha também da editora brasileira aceitar tais exigências.

Diga-se de passagem, isso vale também para quaisquer editoras estrangeiras e qualquer tipo de licenciamento. São todos contratos.


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂

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