BBM entrevista: Junior Fonseca, presidente da NewPOP

logo 3Hora de tirar nossas dúvidas!

Hoje trazemos algo diferente para os nossos leitores, a primeira entrevista do site! E ela será com o presidente da editora NewPOP, Junior Fonseca. Na verdade, mais que presidente, Junior é editor-chefe, diretor e dono da jovem editora. É ele quem sempre comparece aos eventos e representa a empresa.

Para quem não sabe, a NewPOP trabalha no mercado de quadrinhos desde 2007, são eles os principais publicadores de light novels, yaoi e clássicos no Brasil, embora seu catálogo não se resuma a isso. Você pode conferir todos os títulos publicados aqui ou no site deles.

Na entrevista conseguimos perguntar várias coisas que sempre tivemos curiosidade ou que víamos ser uma dúvida geral do público: a relação da NewPOP com a Yamato, reimpressões, formato MAX, a relação da editora com a Kodansha e Shueisha, distribuição e o lançamento de light novels. Confira o bate-papo na íntegra abaixo e tire você também as suas dúvidas!

NewPOP

BBM: Após 9 anos de existência, a NewPOP já está consolidada no mercado nacional de mangás e é reconhecida por seu trabalho. Nesse tempo todo quais foram os principais desafios que a editora já enfrentou?

Junior Fonseca: Acho que um dos principais desafios é ser uma editora com uma estrutura pequena em meio a uma concorrência bem grande com editoras de grande porte. No começo tivemos muitas dificuldades para conseguir licenças e conseguir respostas das editoras. Mas com o tempo, mostrando um bom trabalho conseguimos nosso espaço e hoje em dia trabalhamos com todas as editoras japonesas.

BBM: Por ver o logotipo da NewPOP no site da Yamato, pessoas começaram a pensar que a editora pertencia a ela. Desmistifique para nós: qual a verdadeira relação da NewPOP com a Yamato? Esta empresa já investiu dinheiro para a publicação de mangás da NP?

JF: É apenas uma parceria entre as empresas, algo normal, afinal a Yamato possui alguns dos principais eventos de animês e mangás do Brasil, onde nosso público está presente em peso. A NewPOP (infelizmente, rs) não recebe investimento de nenhuma empresa. Além disso, eu presto serviços para eles na parte de atrações dos eventos, sou um dos coordenadores. Eu brinco, porque devo ter uns 4 empregos diferentes.

BBM: Recentemente, a editora fez uma pesquisa de público no qual os leitores disseram a opinião sobre a editora, apontaram erros, sugeriram títulos, etc. Houve alguma surpresa nessa pesquisa?

JF: Houve surpresa porque os leitores foram muitos sinceros quanto a críticas e elogios. Levantaram pontos que obviamente já tínhamos conhecimento, mas também citaram coisas que realmente nunca pensamos. Foi muito interessante e conseguimos criar um perfil dos nossos leitores, o que está nos levando a tomar várias decisões para o futuro da NewPOP.

BBM: A NewPOP tem como um dos pontos mais fortes e que a destacam em relação às suas duas principais concorrentes o fato de ter quase todos os títulos publicados ainda disponíveis para compra em lojas especializadas. A que se deve esse diferencial?

JF: A NewPOP, por ter começado sua história de forma bem restrita, tem ainda um potencial enorme de crescimento. Crescemos a cada ano e é natural que muitas obras antigas tenham passado batido por nossos leitores. O mercado de mangá é muito concorrido e nem sempre o leitor consegue comprar tudo na hora que é lançado. Por essas duas razões, temos a preocupação de manter todo nosso catálogo disponível sempre. Se você quiser começar a colecionar RED GARDEN, DORORO você ainda consegue… Loveless, Usagi Drop… tudo ali disponível em diversos canais de vendas.

BBM: Apesar de manter quase todo o catálogo disponível, a empresa tem alguns títulos esgotados também. Já foi anunciada a reimpressão de 1945, Speed Racer e uma nova edição de Dark Metrô. Os leitores podem esperar novas reimpressões ou novas edições de outros títulos esgotados para os próximos anos?

JF: Sim, a ideia é manter tudo disponível. Mas se você for ver, além desses já citados, praticamente não temos nada indisponível, pois sempre estamos reimprimindo.

BBM: Hoje, a empresa já negocia com a Kodansha e tem em seu catálogo obras famosas como 5 cm por segundo e NO. 6. Foi muito difícil para a editora conseguir trabalhar com a Kodansha?

JF: Foi difícil, sim, foram muitas reuniões, algumas até pessoalmente, mas conseguimos comprovar com números e com a qualidade do nosso acabamento que podíamos fazer um bom trabalho. A Kodansha é uma editora que presa muito pelas suas obras e pelos seus autores, por isso, são bem detalhistas e exigentes.

BBM: Salvo engano, Gate 7 é o único título da Shueisha do catálogo da editora. É difícil para a NewPOP conseguir licenças dessa editora?

JF: Não é difícil, é uma questão apenas de escolha. Temos obras deles em negociação. Assim como a Kodansha, eles são bem exigentes. Mas não existe nenhum empecilho em trabalhar com eles no momento. É apenas questões de escolhas editoriais da NewPOP.

BBM: Ainda nessa questão: Poderia dividir com a gente alguma experiência curiosa ou engraçada que a NP teve com alguma editora japonesa?

JF: Acho que a que eu sempre comento nos bate-papos com os leitores é o caso da aprovação da capa do mangá CALLING. Mandamos a capa para aprovação e eles comentaram que queriam alterações na cor da pele do personagem. Fizemos as alterações e enviamos, ficamos nesse vai e volta umas 6 vezes até que resolvi mandar uma única imagem com várias versões numeradas e para minha surpresa, eles escolheram uma que na verdade era a mesma que enviamos na primeira vez, rs.

BBM: Os autores e as editoras originais pedem cópias do mangás brasileiros? Já houve comentários sobre as versões da NewPOP?

JF: Sim, por contrato você sempre deve enviar amostras da edição brasileira. Até hoje nosso feedback foi sempre muito positivo. Acho que esse é um dos fatores que vem conquistando as editoras japonesas que é a questão de nossa qualidade. Lembro até hoje dos elogios que recebemos em relação à capa do Metrópolis, pela Tezuka Productions.


FORMATOS E DISTRIBUIÇÃO

BBM: Recentemente, a editora anunciou que publicará mangás em um novo formato, o NewPOP MAX que compilará três volumes em um único tomo. Dark Metrô será o título de estreia desse formato e é sobre isso que gostaríamos de perguntar: o sucesso desse título ditará os rumos e a frequência de utilização do formato ou a empresa já tem encaminhados outros títulos para experimentá-lo?

JF: Claro que os resultados influenciam nas decisões futuras, mas já temos algumas coisas encaminhadas para o selo MAX. É um formato já adotado em outros países e acredito que poderemos fazer bastante coisa nele. Sempre analisamos o mercado e as opiniões do público quando lançamos algo, em breve começaremos a divulgar detalhes.

BBM: Uma de suas concorrentes tem adotado um formato parecido, publicando dois volumes em apenas um, e sendo destinado exclusivamente a livrarias e lojas especializadas. O formato Max da NewPOP seguirá o mesmo rumo e será exclusivo para livrarias ou irá para as bancas também?

JF: Será exclusivo para livrarias, lojas especializadas e lojas virtuais. Na verdade, aos poucos a grande maioria dos lançamentos da NewPOP serão para esse mercado, como sempre falei, pretendemos parar de trabalhar com bancas, isso irá acontecer já nos próximos meses.

BBM: A NewPOP possui alguns títulos que são mandados para as bancas, enquanto outros ficam restritos a livrarias e lojas especializadas. O que define se um título irá para as bancas ou se irá só para livrarias? A estratégia de colocar obras só para livrarias tem gerado bons resultados?

JF: Há obras que possuem um público mais especifico como é o caso dos mangás do Tezuka ou livros. As bancas hoje em dia estão lotadas e os próprios jornaleiros comentam que cada vez mais precisam colocar produtos variados (cigarros, doces e até brinquedos) para poder manter o negócio viável. É tudo uma questão de avaliar o perfil do leitor de cada obra lançada, alguns não possuem paciência de ir à banca procurar o que é do seu interesse ou, às vezes, até acabam esquecendo devido à correria. No geral, as vendas são mais lentas, mas ainda assim é uma forma viável de lançamentos de séries que não atingem a grande massa.

BBM: Qual a principal diferença entre trabalhar com mangás para bancas e mangás para livrarias? Existe alguma diferença de retorno financeiro para a empresa, em termos de lucro e tempo de retorno?

JF: Basicamente, uma das principais diferenças é a questão da tiragem. Para colocar obras nas bancas e tornar o lançamento viável você precisa trabalhar com uma quantidade bem maior de exemplares. Hoje em dia trabalhar com bancas está se tornando uma dor de cabeça. A NewPOP em breve anunciará algumas mudanças relacionadas a isso, até por essa questão que não entrarei em muitos detalhes. Há grande diferença entre os dois canais de venda, nas bancas é tudo muito mais limitado e as vendas precisam ser feitas rápidas, pois as edições não ficarão expostas para sempre.

BBM: Muitas cidades do país não possuem livrarias e nem lojas especializadas e os moradores dessas cidades acabam tendo que recorrer a lojas online para comprar os produtos da editora. Porém duas das maiores livrarias do ramo (Amazon e Saraiva) não têm trabalhado com a NewPOP recentemente. O mesmo ocorre com a Liga HQ. O que é preciso para que possamos mudar esse cenário e essas empresas passem a comprar da NP?

JF: Fizemos este texto (http://www.newpop.com.br/?p=669) explicando mais ou menos como funciona. Trabalhamos com todas as lojas citadas, infelizmente não quanto como gostaríamos, mas para mudar isso é necessária uma ajudinha dos leitores. Em relação à Amazon, logo já estaremos com todo nosso catálogo disponível.

Mas há um detalhe, hoje temos a nossa loja oficial que em breve estará com sistema de assinaturas, o NewPOP Club, e uma nova modalidade de frete econômica para vender nossos lançamentos. Será um canal de vendas importante nesse momento que iremos parar de pôr títulos em bancas.


LIGHT NOVELS

BBM: Um dos pontos positivos da NewPOP é ser a única a investir de verdade na publicação de novels. Perguntamos: O que levou a editora a investir em Light novels? A experiência no passado com Tarot Café, 1 litro de lágrimas, Gravitation, Kakyou, entre outros, teve algum impacto na decisão da editora de procurar novels de mais de um volume como No game No life e Fate/Zero?

JF: A NewPOP sempre se preocupou em publicar os mais variados estilos. Acreditamos que todo tipo de obra possui um público em potencial, claro que ele vai variar em quantidade e cabe a nós saber mensurar isso de forma correta. Por isso, por exemplo, que os novels e livros não são publicados em bancas, pois a quantidade de leitores é muito especifica e ainda limitada. Há diversas questões no lançamento de novels, como o seu custo mais elevado para o leitor e também para produção. Lançar novels e livros é bem mais demorado e trabalhoso que mangás.

BBM: Como a NewPOP é a única editora a publicar light novels de mais de um volume, acabou sendo bastante natural que as pessoas começassem a pedir novels e mais novels para a empresa. Como você encara essa chuva de pedidos?

JF: Sempre recebemos os mais variados pedidos até pela questão do nosso catálogo ser tão abrangente e diversificado. Todos os pedidos são levados em conta, mas precisamos sempre ponderar bastante para saber qual realmente possui potencial e aqueles que são “correntes”. Os leitores precisam lembrar que é importante lançar um novel com uma base de leitores já existentes ou com o apoio de algum anime/mangá que tenha virado mania. É muito arriscado para a editora abraçar uma série com dezenas de volumes, cujo o investimento é alto e as vendas são lentas.

BBM: Durante a palestra no Expo Geek, você disse que a NP começará a publicar literatura contemporânea também. Perguntamos a você: a editora dará a oportunidade para obras brasileiras também?

JF: Sim, avaliaremos isso com cuidado. Da mesma forma que apoiamos o quadrinho nacional, a ideia a apoiar a literatura também.


DO DIGITAL AO LUXO

BBM: Gostaríamos de saber: qual é a atual posição da editora sobre o lançamento de mangás e novels também em formato digital? Existem muitos empecilhos para que tenhamos títulos digitais sendo vendidos na Amazon, por exemplo?

JF: O digital (pelo menos para o nosso mercado em específico) ainda está em um processo lento. As negociações com as editoras japonesas existem, mas ainda não há muitas novidades sobre isso.

BBM: Um grande diferencial da NewPOP é a qualidade física dos seus produtos. É difícil encontrar no mercado mangás com melhor acabamento que o da NP e isso não se pode deixar de reconhecer. Entretanto temos que perguntar: e os mangás de luxo? A editora pensa na possibilidade de publicar um ou outro título em capa dura, por exemplo?

JF: Sim, já houve alguns projetos neste sentido, mas não temos nenhuma novidade para comentar. Mas não descartamos esta possibilidade.


PARA ENCERRAR

BBM: O que podemos esperar da NewPOP no futuro e como você imagina que editora estará daqui a 5 anos?

JF: Continuaremos fazendo um bom trabalho, tentando sempre corrigir nossos erros e evoluir. É muito bacana ver o crescimento da NewPOP e temos certeza que essa trajetória só foi possível graças ao apoio dos leitores, queremos continuar com vocês do nosso lado.

Olha, eu sou muito sonhador, imagino a NewPOP com uma estrutura maior, fazendo coisas novas e quebrando barreiras.

***

BBM

22 Comments

  • Fabio Rattis

    tomará q a new pop cresça mais, e traga titulos mais importantes, tanto Mangás como LN.

  • jufoxxygirl

    Saudades das edições da neo tokyo com os editoriais do Junior Fonseca.Depois que ele saiu a revista desandou total. Tá aí um cara realmente apaixonado pelo Japão e que ta mostrando um trabalho competente e digno. Tenho alguns mangás da new pop e realmente sao primorosos. Um dos meus primeiros mangas da vida foram os irmaos green e 1 litro d lágrimas. Se hoje minha coleção ja passou dos 600 exemplares foi por ter me apaixonado la no começo por esses mangás da new pop *_* nunca mais consegui largar o vicio depois. Parabéns Junior Fonseca equipe new pop por fazer parte de tantos anos da minha vida. Excelente entrevista.

  • Keiko-chan

    Uma entrevista cativante, tanto por parte do diretor da empresa quando do entrevistador.
    Gostei dos pontos levantados porque sempre tive dúvidas em relação com o formato e de como a empresa é em si. Fico feliz de ver uma editora com uma comunicação boa, porque não é só o que a maioria de nós otakus assistimos que geralmente é o que queremos. Lembro-me da minha alegria em saber que Azumangá Daioh e K-ON serem selecionados pela New Pop para serem tragos aqui pro Brasil. Continuem investindo em mangás e 4komas que tem potencial.

  • Legal a entrevista, queria que as editoras tivessem uma linha de quadrinhos ( e mangás! ) voltados para criar público leitor novo e resgatar leitores antigos que pararam de ler.
    Tem tanta gente no Brasil, mas tão poucos lêem quadrinhos, independente do tipo.

  • Ótima entrevista Kyon, parabéns.

    Eu só senti falta de uma pergunta (e consequentemente resposta) sobre os erros frequentes nas novels. Erros esses que já deixaram de ser meros “acidentes” e se tornaram “rotineiros” nas LN da editora.

    É algo que está ficando chato e cansativo, compro NGNL e Fate/Zero com “dor no coração”, deixei de comprar Madoka por causa disso, e estou pensando seriamente em não pegar Log Horizon por conta desses problemas de revisão.

    A editora tem algum plano para enfrentar isso e, se não terminar, ao menos reduzir consideravelmente os erros?

  • Gosto muito da qualidade da NewPOP e, pra mim, não existem reclamações; pelo menos, dentre os produtos da editora que possuo não as vejo, nenhuma delas. Estou muito animado devido aos últimos títulos já anunciados, bem como ansioso pelo formato MAX e os títulos que venham a surgir neste novo selo; torço muito para que as Obras de Junji Ito, possam vir pela editora, tal qual a linha Tezuka já existente e, espero muito que elas venham pelo formato MAX. Seria ótimo ter mais títulos de terror. Sucesso sempre à NewPOP!

  • A NewPop atualmente me parece a grande esperança de vários otakus por aí que anseiam por obras que já passaram do Boom ou não são muito conhecidas… Ela é a “terceira força” nas publicações, e o fato de se arriscar pode muiti bem influenciar as outras editoras a seguir esse caminho (ou pelo menos é isso que espero kkk)
    PS: eles bem que podiam lançar Suzumiya Haruhi um dia, né? Kkk

  • areanomv

    Desejo vida longa e prospera a NP. Reconheço que diversidade e qualidade física são os pontos fortes da editora. Parabéns

    • Teve a Feira do livro em Frankfurt e o rolo com o porto de Santos, isso fez as coisas atrasarem.
      Se não me falha a memória, comentaram isso no facebook da Editora.

    • Exatamente o que o The Fool falou. A aprovação de capa demorou meses e depois teve o problema no Porto de Santos… Logo deverá sair o volume 2.

  • Vagão

    – Por que ainda não há regularidade/periodicidade nas publicação da New POP?
    – Não foi a editora quem disse que era balela esse negócio do papel?
    – Cadê os anúncios da Anime Friends de 2015?

    • Oi Vagão, a crise do papel não atingiu a editora, o que tivemos foi nossa compra de papel presa por motivos alheios, não faltou papel e nem tivemos que mudar o mesmo. Esse atraso lascou toda nossa previsão de lançamentos, rs.

      Os anúncios do AF15? Alguns deles já saíram, ouros não, mas lembra-se, anunciar que uma obra é seu não significa que vou lançar ele num período exato, quando não damos datas, significa que lançaremos em um dia que será decidido ainda. Aos poucos, os leitores estão parando com essa ideia de que anunciar significa que lançará logo.

      • Guilherme

        Juniro, parabens pelo trabalho, que vcs possam crescer cada vez mais e mais, vcs merecem!!!

  • riickss

    Ótima entrevista!
    O Júnior é bem sincero, passa uma imagem boa para o consumidor.

  • João Neto

    Que cresça e mantenha o investimento em coisas mais alternativas.

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