Desmistificando: Qual o problema de honoríficos e gírias nos mangás?

nii-san

Vícios que se perpetuam no Brasil…

Todo leitor  já se deparou na sua vida com palavras japonesas no meio dos mangás, sejam elas honoríficos, termos ou nomes. Todas elas fazem parte das gírias do universo otaku.

Essas são gírias específicas de um grupo, que só são entendidas por aqueles em contato com elas. Não é “normal” um brasileiro saber o que é “kareshi”. Logo, toda publicação que apresentar esse linguajar específico, por natureza, está restringindo o entendimento do público leigo.

Como assim “restringindo”? Para um leitor que vai ler um mangá pela primeira vez, ser bombardeado por uma porção de termos exige muito esforço, não só para gravar, como para entender. O leitor de primeira viagem precisa se relembrar diversas vezes o que é “senpai” ou “sempai” (como a Panini usa), pior, o cérebro dele vai imediatamente pensar “houve um erro ali, faltou espaço”. Quem leria uma frase como “O sempai saiu” pela primeira vez na vida e não pensa que o cara não tem pai, que faltou um espaço ou hífen ali?

No fundo, o leitor vai ter que se acostumar com um sentido de leitura diferente e um monte de gírias que vão contra a nossa lógica gramatical. Sim, porque não é natural para brasileiro nenhum colocar honoríficos. Nossos pronomes de tratamento vem na frente, não atrás.

Dessa forma, o uso, mesmo que mínimo, de qualquer gíria do universo otaku é um bloqueio inicial de entendimento. O que nunca é algo vantajoso, já que causa estranhamento e resistência.

O mesmo acontece quando as empresas enchem suas publicações de gírias específicas de São Paulo ou outra localidade, criando uma restrição ou dificuldade de entendimento para o resto do país (dessa vez sem glossário ou notas para ajudar). Ou quando certas empresas decidem usar a segunda pessoa do singular e plural que, convenhamos, praticamente ninguém usa ou nunca ouviu na vida.

Mas se esse tipo de coisa prejudica parte dos leitores e, pior ainda, atrapalha o entendimento dos novos leitores, por que as editoras usam?

No caso do regionalismo é completa e total falta de interesse ou respeito pelo público leitor do resto do país. São editoras que geralmente se focam e centralizam na capital paulista, então não é de se surpreender que traduzam dessa forma. A todos os outros leitores resta apenas aceitar que eles não são a prioridade.

Agora, os honoríficos e termos japoneses, além do uso da segunda pessoa já é outro motivo! A gramática japonesa funciona de uma forma diferente, existem “formas” de se falar, de forma simplificada:

Teineigo (丁寧語): A forma polida de se falar. Usado em situações bem formais, principalmente com estranhos.

Sonkeigo (尊敬語): A forma honorífica. Forma de elevar aquele com que se fala a uma posição superior. Uma forma respeitosa.

Kenjougo (謙譲語): A forma humilde. A forma mais humilde e simples, usado em situações informais.

As diferença entre elas são muitas, desde as terminações verbais, os termos e palavras utilizadas até expressões próprias. Por exemplo, japoneses entre amigos não usam “iee” (não) ou “hai” (sim), eles usarão “uun” (não) e “un” (sim). Responder usando os dois iniciais dá uma ideia mais formal, nos mangás seus personagens só usam eles falando com professores e pais, ou para dar uma força na resposta. Um militar, por exemplo, não diz “sim, senhor”, ele diz “sim” de forma polida, “hai”.

Como então passar essa forma de falar ao português? Algumas editoras acham que usar um troço quase extinto é a saída. Mesmo que, no Japão, a forma honorífica de se falar seja usada o tempo todo, qualquer lojista fala com você de forma respeitosa. Se algum lojista me recebesse falando na segunda pessoa do singular/plural eu saia correndo. Não é difícil de notar que os dois não se equivalem.

Uma parte importante dessa formalidade é a forma como você se refere às pessoas. E não é uma questão apenas ao uso de honoríficos, o você (tu) e o eu também!

Como você vai chamar a pessoa com a qual está falando?

Anata: Se você não conhece o nome ou é indeterminado.

Anta: Forma muito íntima de se chamar alguém. (Ou uma forma de um brasileiro xingar alguém sem ser notado, hehe.)

O nome dela: Forma casual e íntima.

O sobrenome dela: Forma informal.

O sobrenome dela seguido de san: Forma formal se falar com alguém.

O sobrenome dela seguido de sama: Forma respeitosa e honorífica.

O sobrenome dela seguido de sua posição: Forma respeitosa e/ou de reconhecimento de hierarquia, como o “sensei”, “senpai”.

Omae: Forma grossa de se chamar alguém. (Alguém bravo com você pode te chamar assim.)

Kisama: Forma rude, muito rude de se chamar alguém. (Alguém querendo quebrar a sua cara vai te chamar assim.)

Note que existe uma variação complexa, mas que nos mangás brasileiro só aparece um pedaço. Inclusive, “Omae” no Brasil pode ser traduzido como “Seu…!” e “Kisama” é traduzido com xingamentos (aqueles famosos “bastards” e “bastardos” nas traduções ilegais eram “Kisama”), são adaptados. Já as formas íntimas viram todos “você”.

Não é um pouco esquisito que, se a hierarquia e polidez são tão importantes, apenas um pedaço delas é repassado no português?

A coisa é ainda mais ignorada quando se entra nos “eu”:

O próprio nome: Uma forma feminina ou infantil de se falar de si mesma.

Atashi: Forma feminina e informal.

Watashi: Forma de ambos os sexos em situações informais ou levemente formais.

Watakushi: Forma formal, polida, para ambos os sexos.

Ore: Forma masculina casual.

Boku: Forma usada no discurso casual ou polido, principalmente para homens. Às vezes com um sentido de inferioridade ou humildade, como o “este servo” do Kenshin.

Tirando alguns personagens que falam na terceira pessoa nas traduções e o exemplo do Kenshin, todos os “eu” japoneses viram uma única coisa.

***

Se a forma de falar e hierarquia japonesa é tão importante que deveria ser incluída na versão brasileira, por que quase nada dessa forma aparece? Seriam os honoríficos tudo que basta para passar essa ideia?

A verdade é que não, nos originais japoneses basta uma frase para você identificar que tipo de relação aqueles dois têm, as nuances, os desconfortos causados pela forma de se falar. Alguém falar com você de forma íntima, sem que vocês sejam, é muito desrespeitoso. Isso não acaba passando para o português.

Os tradutores passam a adaptar e criar alternativas para passar esses desrespeitos e falta de bom-senso para todos os “eu” e uma porção dos “você”. E se já fazem isso com a maioria, por que foi que os honoríficos ficaram de fora?

No fundo, os honoríficos são uns resquícios das traduções de fãs que eram abarrotadas de termos japoneses desnecessários pelo simples fato de ser “estiloso” e diferente. Chegando a virar algo pretensioso, uma forma de ser diferente, de exibir seus “conhecimentos” da cultura japonesa, de tirar onda de japonês.

Os honoríficos também eram fáceis de ser reconhecidos nos animes, pois estavam atrelados aos nomes dos personagens. Reconhecer vários “eu” e “você” é muito difícil, mas o nome do personagem é muito fácil, notar que tem algo que vive aparecendo no final então… Se a gramática japonesa fosse um pouco diferente, poderíamos viver numa realidade onde nenhum mangá jamais tivesse honoríficos.

Então por que as editoras usam isso, oras?! Porque há um público que pede. Só isso. Não é porque é certo, não é porque é fiel, não é porque mostra um lado da cultura japonesa. É porque um público leigo acha que isso é legal, adota isso na vida dele e quer ver em tudo quanto é publicação.

Ou seja, são termos artificiais desnecessários que em nada contribuem para o entendimento da complexa hierarquia e formalidade japonesa. Resquício de uma vontade de se “japonizar” e fortificar a “cultura otaku”, que no fundo só acrescenta confusão e uma noção falsa da cultura japonesa. Ainda mais quando não há glossários e notas.

O irônico é que uma tradução e adaptação bem-feitas passariam muito melhor a relação entre os personagens que a inclusão desmotivada de termos artificiais. Afinal “este servo” ficou muito melhor do que se os tradutores tivessem deixado “boku” com uma nota “boku é uma forma de dizer ‘eu’ que denota inferioridade perante os outros e humildade ao se referir a si mesmo”. E ficou tão melhor que até hoje “este servo” é reconhecido por todos os fãs de Samurai X.


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂


Existem muitos outros “eu” e “você”, além de complicações envolvendo a gramática japonesa. Aqui foi selecionado as partes de interesse de forma a simplificar e tornar inteligível para quem não conhece a língua. A realidade é muito mais complicada e com diversos outros usos.

34 Comments

  • rodrigogsn

    Eu costumava acessar o blog só para saber os lançamentos do mês/semana, mas esse post contém informações valiosíssimas, e o debate da Roses com os comentaristas deve ajudar a esclarecer muitos pontos para todos que se interessam pela parte mais técnica da indústria de mangá. Pena que faz tempo que já foi postado! To atrasado

    Eu nunca li ou vi o original de Yu Yu Hakusho, mas gostava muito da versão de anime dublada, pois os personagens (notavelmente o Yusuke, protagonista) falavam de uma maneira muito natural, como se o português fosse a língua deles. Era de certa forma irrelevante que os personagens morassem no Japão, eu me sentia familiarizado com eles pois eles falavam a “mesma língua” que nós.

    Além disso, eles abusavam de gírias e expressões brasileiras (ou que fazem sentido para brasileiros) em vários momentos. O Yusuke falou mais de uma vez em momentos de perplexidade, “Para o bonde que Isabel quer descer!” ou “Rapadura é doce mas não é mole não”. E a forma como ele se expressava mostrava certo regionalismo ou maneirismo. Parecia algo super humano. Me leva a crer que o original queria passar também esse sentimento de informalidade/familiaridade no personagem, mas com certeza não foram essas as expressões utilizadas na transmissão original, já que o contexto cultural é outro.

    Um exemplo de algo que já vi em mangás também: um personagem incomodado por não estar se fazendo entender pergunta para o outro “Você fala PORTUGUÊS, por acaso?!”. Ou um estudante que diz que vai se dar mal na prova de PORTUGUÊS. É um mangá ambientado no Japão, com personagens japoneses, mas o sentido não era falar da língua japonesa em si, era dar significado ao seu idioma nativo. Já vi isso em outras mídias também, em outras línguas.

    • Kurisu

      Bela tentava, fake do Del Greco. Ninguém aqui vai cair na sua.

  • Breno

    Não se preocupe, vc não foi nada arrogante, eu que deveria ter refletido melhor no post. Esse hábito de querer vencer as discussões pode ser muito bom, pq assim nós extraímos o máximo de conhecimento, nosso e da pessoa com que estamos conversando, assim elevando o nível da conversa. Sua argumentação e desenvoltura me impressionam, também é muito fácil de entender. Me senti um aluno do 8º ano conversando com um PhD XD.
    Vou acompanhar o blog bastante daqui pra frente. (;

  • Breno

    Pra mim vc parece que tá chamando as pessoas que pedem pra usarem honoríficos de idiotas ou modinhas. O público pede porque está familiarizado com esses termos por causa das fansubs, não é pra ser “legal”. E além disso, os honoríficos ajudam a entender as relações dos personagens entre si ou como eles estão se sentindo em relação a uma pessoa em determinados momentos. Claro, fica escroto se não traduzirem “kisama”, mas por exemplo “naruto-kun” é algo que é bom ser mantido pq vc percebe que a Hinata é tímida falando com o Naruto. Nesse caso o glossário tbm não pode faltar.

    • Roses

      Não sei onde você achou qualquer frase onde eu chamei de idiotice ou coisa de idiota. Chamar de modinha também não fiz, inclusive acho que quem usa o termo “modinha” é muito arrogante, passa a ideia de que algo que tenha fama ou esteja na moda automaticamente é algo ruim. Como se para algo ser bom ele tivesse que ser inacessível, exclusivo ou desconhecido. Então eu não uso esse vocabulário, me incomoda.

      Há várias coisas que são feitas em fansubs e scanlations e nem por isso o pessoal pede ou as editoras praticam. Nem muito menos as pessoas abertamente utilizam no seu dia a dia ou pelo menos no meio digital e tribo. O honorífico não foi apenas um processo de familiarização, mas um de adoção. A comunidade otaku adotou essa característica do idioma japonês em especial e faz questão de usá-lo. De certa forma, usa porque gosta, porque acha legal.

      Os honoríficos em nada ajudam a entender a relação entre os personagens para um brasileiro, de fato o que você consegue entender deles e o que japoneses compreendem de fato muitas vezes não batem.

      A utilização de KUN, por exemplo, varia de sentido de acordo com idade dos envolvidos, ambiente e formalidade de frase. Você consegue me explicar o valor do KUN que a Hinata usa? Ela está sendo formal ou informal? Ela está sendo íntima? Forçando intimidade por causa da timidez? Está sendo excessivamente formal por causa da timidez? E quais as consequências de utilizar KUN para o Naruto? Como um rapaz deveria se sentir ao ser endereçado como KUN? O Naruto deveria se incomodar? A reação dele ao ser chamado de KUN revela algum sentimento quanto a Hinata? A indiferença dele é porque o honorífico é algo comum? Ou a indiferença dele ao KUN indica que ele não tem sentimentos profundos?

      Honestamente, você acha que consegue responder tudo isso com certeza e segurança? A grandíssima maioria depois de perguntas desse tipo se enrola e perde toda a segurança, o motivo disso é que o entendimento dela sobre o que é KUN é superficial e artificial.

      Então o que o KUN realmente te passa sobre a relação deles? Foi o KUN que lhe disse que a Hinata é tímida ou o próprio fato dela ser tímida e agir dessa forma, se expressar dessa forma? Existe realmente qualquer valor de timidez no KUN? Qualquer um que use KUN é por ser tímido?

      Esse é só um exemplo, mas vale para todos os outros, o CHAN, por exemplo, que é usado como algo super “meigo”, tem acepções e situações de uso que indica na verdade desprezo ou pena, podendo significar que a pessoa é gay, afeminada, infantil ou com deficiências.

      As palavras, todas as palavras, tem significados próprios em cada situação, em cada expressão. Eu dei um exemplo em outro texto com a palavra vermelho. Estar vermelho de raiva, vermelho de sol, vermelho de vergonha, vermelho sangue e vermelho de ferimento são coisas totalmente diferentes que utilizam uma mesma palavra. Uma frase como “Sai ao sol e fiquei vermelho” só pode significar estar queimado. Já a frase “ela disse que me amava e fiquei todo vermelho” só pode significar vergonha.

      Não importa a frase que eu te dizer com a palavra vermelho, você e eu conseguimos interpretar pois somos fluentes em português. Ninguém precisa me por uma nota dizendo “aqui vermelho é utilizado como uma metáfora para xxxx”. Você saberia me dizer se a frase é formal ou não, se é rude, em que situações aquilo deve ser usado ou não, como as pessoas poderiam reagir e o que aquilo indica sobre essas pessoas. Isso que significa entender e saber uma palavra.

      Há formas brasileiras de se mostrar que alguém está tímida, você imediatamente identifica a timidez nas pessoas ao seu redor. Uma boa tradução te passaria os sentimentos e relações sem qualquer dúvida, você seria capa de me responder todas aquelas perguntas sobre formalidade e relação entre eles.

      O KUN por outro lado, não passa nada pois você não tem as ferramentas para interpretá-lo. As notas são explicações superficiais para aquele momento é situação e passam de forma leiga uma tradução simplificada. E como seu entendimento do que é KUN muitas vezes está errado ou equivocado, ao invés de auxiliar no entendimento apenas altera e “corrompe” o sentido original.

      Entende o problema da manutenção de termos e gramática estrangeiros em traduções?

      Um último complemento, essa noção equivocada de significados é na verdade algo muito comum e cria coisas muito engraçadas, como palavras iguais com sentido totalmente diferente em duas línguas diferentes. Uma das mais bizarras em JP é kosento (cosent – consentimento) que lá é o nome das tomadas de energia. Tem outras como Naïve (inocente) que virou gentil, Mansion (mansão) que significa apartamento ou condomínio e Smart (esperto) que significa elegante.

      Veja que não é um problema dos honoríficos, mas um problema causado por qualquer uso de termos e gramática estrangeiros. Você vai sempre entender aquilo de forma “abrasileirada” com grandes riscos de não ter nada a ver com o original.

      Só esse fato completamente desmente a declaração de que ajudem a entender a história, já que você não entende ou tem fluência no uso deles.

      🙂

      • Breno

        Olha realmente impressionante seu argumento, mas eu usei aquele exemplo pq no mangá as crianças da turma do Naruto raramente usavam honoríficos entre si. A Hinata falar “Naruto-kun” por si só, não quer dizer que ela é tímida, mas dá pra entender que ela fala isso por causa da timidez, porque nenhum outro colega falaria “Naruto-kun”, ela o trata diferente. As garotas que gostavam do Sasuke usavam “Sasuke-kun” (repetindo, não que isso signifique algo). Tbm tem algumas situações, como quando um personagem está com raiva do outro, acaba retirando o uso do honorífico temporariamente. Realmente, não muda nada colocar ou não, mas eu acho legal esses detalhes que às vezes realmente condizem com o que o personagem tá sentindo. Acabei exagerando falando que os honoríficos ajudam a entender as relações.
        Entendi vc mal, desculpe.

        • Roses

          “Olha realmente impressionante seu argumento” *alarme tocando* Uoo Uoo Uoo Elogio avistado! Elogio avistado! Como reagir— Como reagir— Uoo Uoo Uoo We going doooown! Mooooommy— *Vencida pelo elogio*

        • Roses

          P.S.: Você claramente tem uma noção um pouco mais clara do que e como se usa os honoríficos. O seu comentários sobre a retirada deles, por exemplo, é prova disso. Embora a retirada não tenha a ver com raiva, mas com ser rude, se você quer ser rude, grosso, você os retira. Mas é bem o que você disse mesmo. Agora vem a minha pergunta, nas falas em que isso acontece (onde o honorífico é retirado para passar informalidade ou grosseria) as editoras colocam uma nota? No mangá em que todos os personagens falam com honoríficos existem notas do tipo “A falta de honoríficos é uma forma de mostrar grosseria”? Eu NUNCA vi um, até aí não li todos os mangás do Brasil, mas juro que nunca vi nada parecido. Assumindo de fato que isso não ocorra, como uma pessoa que apenas entende o honorífico via as notas entenderia esse aspecto do honorífico que nós comentamos aqui?

          Imagine que você não sabe NADA de honoríficos, nunca leu nada sobre ou pesquisou, você seria capaz de entender essa diferença?

          Pense na situação que o japonês está dizendo “Fulano não para de falar”, mas ele está dizendo isso de forma rude, em japonês ele não usou honoríficos, além de ter feito a terminação de forma crua e grossa. Será que uma tradução dessa passa a intenção original? Claramente teríamos que adaptar e alterar, só não ter o honorífico não é o bastante para um brasileiro entender, teria que virar “Fulano não cala a boca” ou “Fulano fala demais, não dá descaso” ou “Fulano não cala a porra da boca” ou “Maldito fulano não para de falar” de acordo com a formalidade e grosseria do original.

          A adaptação das frases sem honoríficos é a mesma lógica da adaptação de frases com! Só que em alguma obras você só vê um pedaço desses honoríficos mantidos. Qual a lógica de se manter apenas alguns? Como você mesmo exemplificou a ausência deles é parte integrante da ferramenta linguística, numa metáfora esquisita a escuridão e a sombra são partes integrantes do que é luz/iluminação, você não pode compreender a luz sem compreender o que é escuridão e sombra, sem entender que a luz é absorvida em diferentes graus e faixas.

          Voltando aos honoríficos, o que ocorre é o uso parcial daquilo de forma artificial, você grava aquilo, mas é incapaz de entender e interpretar, pouco sabem o que significa a ausência de honorífico, poucos sabem o que significa quando se troca o honorífico de repente, o que significa quando se usa dois alternados num mesmo diálogo (sim, isso é possível!!! Sabe quando você está falando bem e mal de uma pessoa? Do tipo “Ele é tão insuportável, mas é tão lindo!”. A pessoa falaria as partes boas num honorífico e as ruins em outras. Será que uma tradução como “Suzaku-chan é sempre tão prestativo, mas Suzaku-san nunca olha pra mim!” é a melhor frase e mais clara que dá para fazer no português? Ou uma como “Ai, Suzaku é tãão prestativo! Só que ele finge que não existo!!!!”.

          Sinceramente eu gosto muito de honoríficos e estudo japonês nas horas vagas, sem dúvidas é algo super interessante. Mas a discussão dificilmente é se honorífico é algo legal, mas sim se honoríficos são uma ferramenta ideal na tradução para um leitor normal que não têm qualquer conhecimento de japonês. Se honoríficos não comprometeriam a leitura para quem não quer aprender japonês. Afinal mangás não são quadrinhos para se aprender japonês e devem ser acessíveis para todos e todas as idades.

          É menos uma pergunta de se EU gosto é mais se essa é a melhor escolha para todo mundo. Sei que a vontade de ser egoísta é grandes, mas acessibilidade é algo que te beneficia também! Quanto mais algo é acessível e universal, maior a quantidade de leitores em potencial. Enquanto se algo fica específico e inacessível demais, menor a quantidade de leitores. É por isso que revistas “normais” apresentam estudos com um linguajar normal e as científicas podem ser super difíceis de entender. Se você é um botânico, você quer ler o texto em formato acadêmico, mas se a intenção é alcançar muitas pessoas e conscientizar sobre certa coisa, você terá que lançar em formato leigo. Da mesma forma, mangás deveriam sempre ser para leigos, não para alguém que saiba algo de japonês. 🙂

          No mais, obrigada pelos comentários e desculpa se às vezes passo uma arrogância e até chegando no ofensivo, é na verdade o modo como me expresso via argumentação e tal, fui criada e estimulada a sempre escrever para “vencer o argumento” e um dos pontos chaves é exatamente essa “arrogância”, essa “certeza esmagadora”. Peço desculpas também se passou um ar ruim e espero que nesses comentários eu tenha conseguido clarificar o meu ponto de vista de forma saudável…?

  • Alison

    Gostei da matéria, mas acho que não é tão simples assim. Não creio que algumas editoras mantenham os honoríficos pra “agradar público”, até porque existem pessoas que não gostam deles. Tradução já é um treco complicado, porque você está pegando algo de uma cultura e jogando dentro de outra completamente diferente. Então surgem aí “conflitos” entre culturas e geralmente fazem uso de uma dessas duas opções pra resolver isso: ou você “adapta” a tradução para o público que vai ler ou você traduz da forma que está no original fazendo com que o leitor tenha que buscar uma leitura externa pra compreender completamente a obra.

    Só que tem uma coisa que a tia Dondoca do meu primário sempre me ensinou: leitura é lidar com o desconhecido. Ela me dizia que, se eu fiz uma leitura e não aprendi nada de novo, então a leitura não valeu a pena. E, com o passar dos anos, eu percebi que concordo com a tia Dondoca.

    Eu sou meio contra “adaptação” de tradução porque você acaba perdendo características da obra original (e aqui eu não estou me referindo somente a honoríficos, estou falando sobre adaptações no geral, inclusive em livros), uma hora ou outra a adaptação “não vai colar”. No caso dos mangás, o repertório de honoríficos japoneses é muito maior do que as formas de tratamento brasileiras, então com certeza uma hora ou outra essa adaptação soará estranha, como já mencionaram, ou você terá que apagar uma característica dessa obra original pra poder adaptar. Não é incomum japoneses fazerem “piadas” ou trocadilhos com honoríficos.

    Foi como eu disse: leitura é lidar com o desconhecido e, por incrível que pareça, o tradutor não tem obrigação de colocar uma nota de página explicando esse “desconhecido”. Muitas vezes quando estou lendo livros do próprio Brasil eu tenho que ficar com um dicionário do lado porque eu não entendo tudo, então por que seria diferente com leituras de outros países? Cabe ao leitor buscar uma leitura externa caso queira entender melhor essas coisas. Isso é excludente? É, com certeza! Mas, afinal, qual leitura não é excludente? Quantas pessoas, por exemplo, conseguem ler um Guimarães Rosa?

    • Roses

      Alison, tradução é adaptação. Não existe um tradução fiel, simplesmente porque línguas não se equivalem. Toda tradução tem perda de conteúdo, achar que manter termos artificiais é “evitar perda” é inocência, porque por mais que os termos estejam ali, você como brasileira e não fluente em japonês não consegue realmente entender o que são aqueles termos, o que eles representam dentro da cultura japonesa e o que realmente significam. A prova disso é como as “notas” dos termos variam de volume para volume. Exatamente porque é feito uma nota necessária para aquele volume e não para explicar exatamente todas as variações daquele termos, as explicações gramaticais, etc. Piadas com honorífico podem ser adaptadas, as piadas com eu e você são, você já viu alguma nota sobre variação de “eu” nos mangás?

      Alguém comentou como “adaptar” o -sama em Aoharaido, que seria estranho chamar de senhora. A piada não é com sama. A frase toda da menina foi dita numa forma de falar respeitosa e sama é parte disso. Só manter sama é uma perda de conteúdo. Como dava para adaptar isso? Só bastava fazer a menina falar de forma bem educada e exagerada. O fato de ficar só o “sama”, mudou a piada, oras. Isso foi uma adaptação também, infiel e diferente do original. Foi uma forma artificial de passar a piada.
      Isso não acontece apenas em japonês, é qualquer língua. Filmes da Disney têm um mol de piadas, a tal ponto que vale a pena assistir em português e em inglês de tão bem feitas que são ambas as duas versões. Um tradutor que só consegue traduzir via notas é um mal tradutor, é uma pessoa que não consegue adaptar, que não consegue se expressar na própria língua.
      Quando você vai estudar tradução, uma das primeiras coisas que te dizem é que você nunca traduz o texto, você traduz o sentido. Não importa qual foi a piada original, o importante é que o autor fez uma piada do tipo x, seu trabalho é passar a graça e não descrever a piada. O autor original queria que o leitor risse naquele pedaço, o seu trabalho é manter isso, é fazer o leitor rir!

      Um exemplo bonitinho é “Nightmare” (pesadelo, mas que dá para ler “night” – noite e mare – égua). A piada era que a água era um pesadelo, “this mare is a nightmare”. Como o tradutor adaptou? “Esta égua não dá trégua”. Como jamais deveria ser feito? “Esta égua é um pesadelo” *Pesadelo em inglês é Nightmare que blábláblá.
      Esta história de que tem que manter o original intocado, é uma grande ignorância, é uma inocência, uma ilusão de que isso seja possível ou pior, de que isso seja importante.

      Novamente, pegue os filmes da Disney, você ri de todas as piadas, cantas as músicas e elas são muitas vezes completamente diferentes do original. Mas mesmo diferentes, o objetivo, a intenção do autor foi preservada. A intenção de uma música é soar bem, é a rima, e daí que foi adaptado? Ninguém cantaria as músicas se fossem traduções literais, seriam um lixo, sem ritmo, com cada estrofe de um tamanho. Pense nisso.

      • Olá, gostaria de deixar uma observação. Apenas através desta resposta de comentário que eu pude entender o ponto da crítica nesta postagem. Acredito que fiquei um pouco perdida no texto, por mais explicativo que tenha sido, no final senti falta de uma conclusão, de uma colocação que explicasse melhor esta crítica.
        Eu mesma não posso dizer que sou muito boa em composição de textos, mas como reli o texto algumas vezes, acredito que possa ser uma dúvida que não se restrinja apenas a mim.
        Quanto ao conteúdo da crítica, entendi que a perda do conteúdo original na tradução é realmente inevitável, e que o real trabalho de um tradutor é transmitir o “feeling”/”mood”/sentimento, mais aproximado possível ao do contexto original. E entendo também o sentimento de quem está acostumado com as explicações, que fazem agente se sentir mais próximo do conteúdo original, embora muitas vezes confunda mais que ajude. O que me deixa em um certo conflito, pois gosto das curiosidades que foram acrescentados no final de muitos dos mangás mais atuais.
        Mas acho que certamente haveria uma forma de conciliar as coisas.
        De qualquer maneira essa “perda de conteúdo original” sempre me estimulou a procurar conhecer outras línguas. Quem sabe um dia eu consigo aprender japonês adequadamente, rs. xD

        • Roses

          Thaís, a verdade é que eu fiz na faculdade vários cursos de tradução não-obrigatórios e estudei várias dessas coisas à fundo. Mas quando escrevo textos para pessoas leigas, eu fico com medo de soar muito… “científica”. Talvez às vezes de menos. No texto eu pulei tudo quanto é explicação sobre tradução e apenas discuti de onde veio eles e por que ficaram. Inclusive, se ler com atenção, eu não digo descaradamente que é “errado”, tentei de forma leiga mostrar o lado ruim de se ter. Já nos comentários, eu engajei um pouco mais de forma séria aqueles que pareciam interessados ou cometessem algumas dos “atos falhos” que me dão arrepios. Haha. Desculpe se você merecia um texto mais sério! Quem sabe se há interesse, posso conversar um pouco sobre tradução, mesmo que apenas 5 fossem ler e entender de verdade?

  • Gostei muito da ideia da matéria, nunca tinha pensado nisso!! Na verdade, causa pra mim certo estranhamento em não usar os honoríficos, mas se desenvolverem uma técnica de traduzir boa (como as piadas com o nome do Kuro… em Tsubasa) capaz de dar muito certo.
    Faz muito sentido colocarem os honoríficos por causa do público apenas, até pra ficar “mais próximo do original” ou “não ficar muito abrasileirado”. Mas em shoujos acho ficaria algo muito estranho porque as nuâncias do relacionamento e dos diálogos entre os personagens estão no centro da história, mas depende do que tentarem fazer kkk
    Uma ideia pra um post: o que leva as editoras a trazerem/não trazerem os extras que os mangakas falam com o leitor no final?? Parece que umas obras tem no original e não traziam… @.@’

  • Anna

    Gostei muito da matéria, achei interessante, mas acho que os honoríficos são importantes e não acho que dificulte a leitura. O primeiro mangá que li tinha vários honoríficos e não prejudicou em nada o meu entendimento, apenas fui glossário do mesmo jeito que um novo leitor abre um mangá e tem aquele aviso que é uma obra japonesa e por isso se lê de trás para frente.
    E em alguns casos, se não colocassem o honorífico perderia o sentido, como em uma cena de Aoharaido em que um personagem está arrependido por provocar a amiga e pede desculpas, chamando ela de Futaba-sama e ela começa a rir. Como iriam traduzir isso? Sra. Futaba? Para chamar uma adolescente de 15 ou 16 anos? Iria ser bizarro.
    No mais, concordo com o que foi dito e achei legal colocar as várias formas de se tratar uma pessoa em japonês com a respectiva tradução do lado.

    • Lis

      Não sei porque não li esse mangá, mas pelo que você falou as pessoas envolvidas são amigas e uma riu justamente pelo fator ‘inusitado/engraçado’ da outra tê-la chamado de ‘-sama’. Então Sra. Futaba seria bem adequado pra situação (justamente porque é deslocado)

      • Roses

        Algo como “cara Futaba” ou “querida Futaba” também funciona, é uma forma de se endereçar a alguém que não soa muito casual. Se alguém viesse e dissesse “Me perdoe, cara Roses” eu ia achar exagerado e rir.

        • Anna

          Sim, realmente cara Futaba seria uma boa adaptação, tem muitos exemplos e dei apenas um que me lembrei no momento. De qualquer forma, é tudo questão de opinião e em questão de opinião não há certo e errado, há apenas preferências e eu nem posso opinar bastante porque além de não ter lido o original em japonês, não sou tradutora.

        • Roses

          Anna, “certo e errado” não é algo que funciona aqui. É igual comentar sobre uma filosofia certa ou errada. Existem preferências, formas de se fazer algo, mas existem formas erradas, sim.

          Para começo, toda tradução tem um objetivo: uma tradução para um livro de língua, onde você ensina e explica coisas da outra língua, você deve explicar e colocar notas, tentar ser o mais literal que der. Se tiver escrito “The book is on the table”, traduzir como “na mesa tem um livro” não é aceitável, por mais que signifique a mesma coisa que “o livro está na mesa”.
          No caso da tradução de um livro de entretenimento, o objetivo é entreter. Ler glossários, ler notas, ter piadas explicadas, piadas artificiais, nada disso é engraçado.

          Pegando meu exemplo anterior:
          “This mare is a nightmare” tem seu objetivo seguido quando é traduzido para “Esta égua não dá trégua”, fica engraçado, correto? Essa era a intenção do autor ali.

          Agora traduzir para “Esta égua é um pesadelo”, é literal, mas perdeu totalmente o sentido original de ser engraçado.

          Isso não é uma questão de opinião, é uma questão de respeito ao original, de fidelidade ao original. Um tradutor não deve ser fiel às palavras, mas ao sentido. Se a personagem está brava, ela deve falar como um brasileiro fala bravo “Não acredito que você fez isso de novo!” ao invés de “Você tornou a repetir isso!”. Uma boa tradução é uma tradução envolvente, e isso só ocorre quando é bem adaptado, bem feito, bem expressado, quando é natural, claro e fluído.

          “Me perdoe, Futaba-sama.
          *-sama só é usado em casos de extremo respeito, por isso o personagem ri” não é nada disso. Se você tem que explicar uma piada, você falhou na tradução.

          Eu acho muito interessante como tem gente que defende para ficar “mais próximo do original” ou “respeitar a intenção do autor”. A intenção do autor não é usar a palavra x ou y, é fazer o leitor rir ali, fazer o leitor se chocar lá, fazê-lo ficar com raiva aqui, é envolver. O autor escolheu as palavras certas para aquilo acontecer em japonês, cabe ao tradutor respeitar a intenção dele e fazer a mesma coisa com as palavras certas para o português.

  • Binho

    Ótima matéria como sempre. 🙂

    Pessoalmente eu prefiro os honoríficos. Por quê? Porque acho mais próximo do original (mesmo que você tenha mostrado tantos argumentos para mostrar que, sim, é uma forma preguiçosa de tradução). Sem falar que isso acaba sendo melhor do que algumas gírias ou como foi citado ali em cima “Kenshinzinho”. Realmente causa estranhamento. Como você mesma disse “este servo” em Kenshin ficou espetacular, mas poderíamos mesmo esperar tamanho comprometimento por parte das editoras de fazer algo próximo a isso (que não cause absurdos estranhamentos) sempre? Eu acho muito difícil.

    A verdade é que o mangá hoje em dia é feito para um determinado público, mesmo cativando outros, ainda é um nicho fechado de vendas em sua maioria, por isso acredito que acatar as preferências desse nicho seja a atitude mais inteligente por parte da editora. Outra situação que agrava isso é que geralmente os leitores também são consumidores da versão animada, e na versão animada esses tratamentos são constantes.

    No mais, é a minha opinião sobre o assunto. Não quer dizer que não tenha gostado do texto, muito pelo contrário, foi informativo demais e é um desmistificando muito interessante. Parabéns. :3

  • Bruno

    Tem mais algumas palavras, se não me engano “Kimi” também significa “você”

    e também tem o “Washi”, que sei que homens mais velhos usam (não sei se mulheres usam)

    a gente só aprende um pouco dessas palavras assistindo Anime, porque ouvimos como eles falam, mas em mangá a gente não tem acesso nenhum ao original

  • Eu tenho raiva da “não” tradução algumas vezes em alguns casos. Muita legenda de fansub coloca mugiwara em vez de Chapéu de Palha pq é mais legal, mas como assim mais legal? É a tradução literal! Isso me incomoda, poréeem a tradução dos sufixos da JBC tb me incomoda. Kenshizinho dava um arrepio toda vez q eu lia ou em Magi qdo chamam a Morgiana de Gigi. Uma dúvida q tenho: é literal? Tem como traduzir isso pra nossa língua?

    • Bruno

      Eu acho que não tem como traduzir literalmente, mas tem muita palavra que pode ser usada, Senhor, Mestre, Majestade por aí vai

    • Roses

      Não existe tradução literal para nenhum honorífico. Fora que existem diferentes momentos que são usados. Um japonês pode colocar “chan” no nome para tirar sarro de alguém, chamá-lo de infantil; pode usar para mostrar grande intimidade; pode usar como forma de carinho. A verdade é que muitas vezes eles usam chan no lugar de outros apenas por soar melhor no nome.

      Cabe ao tradutor deixar a tradução fluida e natural em casa situação e, muitas vezes, isso significa simplesmente tirar o chan e não colocar nada no lugar. E isso estaria errado? Não, pois no Brasil não usar nada no nome é uma forma íntima. Outra forma de passar intimidade é apelidos. Como sua família te chama Priscilla? Pri? Priscillinha? Qual a diferença entre um conhecido e um amigo no Brasil? Apelido! Conhecidos não te chamam por apelidos, eles não têm intimidade. Inclusive, se um atendente de chamar de “Priscillinha” não incomoda?

      • Esse “incômodo” é algo pessoal mesmo, n digo que é certo ou errado, mas preferiria sem nada ou deixasse o chan mesmo com uma nota explicando o significado. Nem sei dizer porque incomoda xD

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