Desmistificando: Por que os nomes dos autores variam?

Vamos falar de romanização!

Já foi procurar sobre certo mangá e seu autor e achou diversas versões do nome do cara? Algumas até invertidas? Ou você sempre viu o nome de um autor ser grafado de um jeito, mas quando uma editora trouxe para cá o nome estava diferente e achou que estava errado? E quando as editoras mesmo escrevem de formas diferentes?! Pois é, tudo isso tem explicação.


Romanização


Como você deve saber, no Japão eles usam um sistema de escrita diferente do nosso, por isso, nós – e demais países e línguas – utilizam técnicas chamadas de romanização ou transliteração, que significa basicamente passar dos caracteres de uma língua para os de outra, no caso da romanização, para o alfabeto romano. Existem várias formas de fazer essas romanizações e que acabam gerando pequenas diferenças. Abaixo algumas variações comuns:

Oda Eiichiro ou Eichiro (One Piece)
Miura Kentaro ou Kentarou ou Kentaroh (Berserk)
Karuho Shiina ou Shina ou Siina ou Sina (Kimi ni Todoke)
Tamura Ryuuhei ou Ryuhei ou Riuuhei (Beelzebub)
Oogure Ito ou Ogure Ito ou Oh!Great (Air Gear, Tenjho Tenge)
Miu Ootsuki ou Otsuki (Calling)
Tugumi ou Tsugumi Ohba ou Oba ou Ooba (Death Note)
Taniguchi Jiroh ou Jiroo ou Jirou ou Jiro (Seton, Gourmet)
Koshke ou Kosuke ou Koosuke (Gangsta.)

As romanizações foram criadas por estudiosos, buscando formas de se representar palavras e sons de uma língua para o nosso alfabeto. Por causa disso existem várias, algumas muito diferentes. No Brasil damos preferência àquelas com representações fonéticas. Por exemplo, a sílaba “し”, que preferimos gravar como “shi” (mais próximo da pronúncia original), mas pode ser também gravada como “si”. Ou “つ” que pode ser “tsu” ou “tu”.

Para entender um pouco por que existe essa variação, ajuda se compararmos com a nossa sílaba “ti”, que embora seja grafada dessa forma é lida majoritariamente como “tchi”. Dessa forma, assim como poderia muito bem ter sido “ta, te, tchi, to, tu”, japonês romanizado tem a versão “ta, ti, tu, te, to” e “ta, chi, tsu, te, to”. Lembrando que nada disso altera como deve ser lido, é apenas uma representação, uma grafia.

Logo, dessas pequenas variações e formas de se representar os sons, nasce diversas formas de se grafar os nomes dos autores (e dos personagens também, afinal isso vale para quaisquer palavras). É válido comentar que por mais que a romanização tente ao máximo facilitar a leitura por um ocidental, a leitura nunca será como a original, pois há vários detalhes que não são representados, como tonicidade e entonação nas sílabas e palavras.

Por causa disso tudo que os próprios autores adotam uma forma padrão para seus nomes utilizando uma dessas formas de romanização, alguns até estilizam como é o caso de Oh!Great e Koshke.

O mesmo acontece com coreano e chinês, mas com suas próprias romanizações e especificações, aqui um exemplo de uma autora coreana:

Neonb ou Neon_B ou NeonB ou Neon-B (Surtada na dieta)

Vale a pena abrirmos um parêntese aqui: no Brasil sempre usamos as romanizações que facilitam a leitura para os falantes de inglês. Sim, usamos as romanizações feitas para eles. Existem formas de facilitar a leitura para nós brasileiros, mas estamos tão acostumados com os nomes já na internet (que vêm todos das traduções e notícias em inglês) que as editoras nem ousam fazer diferente.

Como seria um nome numa romanização para brasileiros? Nós veríamos coisas como “Ussaji Drop”, “Aquira”, “Aorraraido”, “Bacumam”, “Blood+ Iácou Jôshi”, “No Café Quitijôdi”, “Denxa Otoco”, “Genxiquem”, “Inu-iáxa”, “Campai”, “Caquiô e seu diário de conquista da terra”, etc – reconheceu todos? Talvez lendo isso você tenha dado gritos horrorizados, chamado todo o panteão cristão e sentindo-se extremamente aliviado que as editoras não façam isso.

Mas elas fazem, você só não sabia! Quer ver? “Tóquio”, por exemplo, é a romanização brasileira, que na inglesa é “Tokyo”. E ele não é o único, temos também vários outros, como Quioto (Kyouto), Missoshiro (Misoshiru), Sobá (Soba), Tofu (Toufu), Soja (Shouyu), Gueixa (Geisha), Xitaque (Shiitake), Jiu-jítsu (Juu Jutsu), Xogum (Shougun), Biombo (Byoubu), Decasségui (Dekasegi), Quimono (Kimono), Samisém (Shamisen), Cabúqui (Kabuki) e, o maior caso de todos, Japão (Japan/Nippon).

Aí fica a pergunta qual é o problema de usar uma romanização brasileira? Por que “Inu-iáxa” te causa horrores, mas “Jiu-jítsu” e “Soja” não tem problema? É tudo uma questão de costume e preconceito de muita gente – preconceito esse alimentado pela falta de informação e pelas meias-verdades da internet.


Nomes invertidos


Agora, por que os nomes são invertidos às vezes é outra história! No Japão e na Coreia o nome da família é escrito primeiro, seguido do nome próprio. Assim alguns na hora de romanizar mantêm essa ordem, outros invertem para seguir a ordem ocidental. Ambas as formas são corretas e não há regra alguma de como se proceder nesse aspecto.

Inclusive no passado, quando os japoneses estavam migrando para o Brasil, houve vários casos engraçados de irmãos de mesmo nome e sobrenome diferente, criado exatamente por essa diferença entre culturas.

Caso queira saber qual é qual, o único jeito é pesquisar, às vezes só em japonês. Mas em geral as editoras sempre invertem no Brasil.

Existe uma forma alternativa que é utilizada bastante em inglês que é manter a ordem que for originalmente, mas sempre escrever o sobrenome todo em maiúsculo, exemplo: Steve JOBS e FUSAJIRO Yamauchi.

***

Por isso, não vale a pena se estressar com nomes, tanto dos autores quanto dos personagens; não há certo, nem errado, os próprios criadores trocam a forma de escrever e não chegam num consenso, não é algo que importe muito para eles. O importante, é claro, é que a editora brasileira decida uma grafia e ordem e mantenha-a até o final!


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂


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7 Comments

  • Alison Varjolo

    Eu prefiro ler o “ō” como “ou” e não como “o” (tipo “Kentarou” e não “Kentaro”) já que o mácron em cima da vogal indica o prolongamento dela. Se eu falar “Kentaro”, a pronúncia da palavra até muda porque eu acabo falando “Kentáro”.

    Mas é tudo uma questão de qual pronúncia/escrita eu ouvi/vi primeiro, aí eu acabo acostumando. Palavras aportuguesadas em nossa língua existem um monte, tipo bife, clipe, esporte e etc, e essas não me causam estranhamento porque eu as vi primeiramente escritas nessa forma.

    Há casos em que a letra/sílaba já está tão infiltrada em nossa cultura que realmente não se torna necessário romanizar aportuguesadamente, como é o caso de Akira. Não é incomum vermos nomes aqui no Brasil como Kátia, Karlos e tal. E há outros casos onde optamos por usar a palavra original mesmo, como marketing (ninguém nunca apareceu com um “marquetim” até hoje, embora comicamente exista a palavra marqueteiro), que é o caso onde as palavras japonesas geralmente entram.

    • Roses

      Só um coisa, o Marketing tem K por ser a palavra em inglês mesmo, não tá aportuguesado. Já marqueteiro é uma palavra nossa com influência estrangeira.

      Outro exemplo é o Design e Designer, essas palavras ainda são muito novas e acabam se mantendo intocada. A internet também mudou bastante como lidamos com anglicismo, já que a maioria das aportuguesações de palavras acontecem na língua oral, depois passam para o escrito.
      Exemplos mais antigos você vê uma aportuguesação muito rápida, como Xburguer, Time e Líder.

  • Bruno

    Oh!Great é o melhor de todos, o cara conseguiu fazer trocadilho e mitar com o próprio nome

    • Roses

      Não sei se Ogure Ito é o nome verdadeiro dele, pode ter muito bem ter sido no sentido inverso, ele achar um trocadilho e usar como pseudônimo. Uma enorme quantidade de autores japoneses usam pseudônimos, alguns conhecidos por mais de um.

  • Gabriel Campos

    ”O importante, é claro, é que a editora brasileira decida uma grafia e ordem e mantenha-a até o final!”, uma pena a jbc não conseguir fazer isso em somente 5 volumes de Orange!

  • “Jiu-jítsu”, “Soja” e outros me causa “horrores” também! fora ao brasileirismo! 😛

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