Basta uma editora fazer um reajuste de preço ou lançar um material mais caro que chove pessoas dizendo que a editora está tentado se aproveitar de seus leitores para enriquecer.
O problema, na verdade, é que muita gente humaniza as editoras, dão sentimentos, opiniões e papéis para elas. E isso é absolutamente errado. Editoras de mangás não são suas amigas, nem muito menos inimigas. Editoras são empresas e tudo que uma empresa faz é prestar serviços ou prover produtos em troca de retorno financeiro que irá impulsionar a empresa a investir e continuar a fazer aquilo que lhe sustenta e paga seus funcionários.
De fato, a maioria das empresas querem leitores que voltem a consumir os seus produtos, querem fidelizar seus consumidores. E por isso que o “preço” é um assunto complicadíssimo, pois tem que ser um valor que dê lucro, mas que seja “justo” na visão do leitor. Um produto caro afasta consumidores e diminui os lucros, um produto barato tem que vender bastante para valer a pena ou também diminui os lucros. O preço “certo” é uma criatura misteriosa muito difícil de atingir e vai depender da experiência e mercado.
Reajustar o preço é um tabu enorme. Os leitores estão sempre exigindo mudanças e melhorias, em contra partida quando tais são feitas e se cobra um valor maior (afinal custou mais) o leitor fica irado.
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E de onde vem essa de “enriquecer”? A ideia de que uma empresa é um bicho-papão que quer tirar todo seu dinheiro é absurda. Te garanto que o Cassius Medauar não vai trabalhar de Mercedes-Benz, a Beth Kodama não vai vestida com glamour, diamantes e marcas caríssimas, nem o Júnior Fonseca mora numa mansão.
Na verdade, dar lucro à editora é algo que te favorece – sim, você, leitor e colecionador de mangás. Quanto mais lucro a editora ganha, maior o investimento e até maior a possibilidade da abertura de novas empresas no ramo em busca de uma fatia desses lucros.
Ou seja, quanto mais lucro, mais variedade de mangá, mais obras disponíveis. Não é isso que os clientes vivem pedindo? Quando foi que ganhar lucro virou algo ruim? Seriam as editoras obrigadas a trabalhar voluntariamente e cobrar o mínimo do mínimo para que você, leitor, possa ler mangá? Está achando que isto é scanlation ou ONG?!
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O curioso é que poucas pessoas enxergam o lado da editora. Digamos que a editora esteja lançando um volume e acaba de reajustar para 17 reais e ganhe 2 reais de lucro. Desde esse momento até o próximo reajuste quem vai sendo comido pelos aumentos de preço, dólar e inflação é exatamente esse lucro. Digamos que em um ano por causa de todos os aumentos nos custos o lucro tenha ficado de apenas um real, chega uma hora que a empresa precisa aumentar sua parcela de lucro para continuar a investir e funcionar. Ou seja, na realidade a empresa não está aumentando seus lucros, mas reajustando para receber a mesma parcela de lucro que recebia há um ano. Já parou para pensar nisso?
Se a empresa repassasse cada variação de custos ao cliente final todo volume, você ia acabar com aumentos e diminuição de centavos e reais toda a edição, criando um caos nos preços. Ao invés disso eles “seguram os preços” – já ouviu alguém dizer isso? –, que quer dizer exatamente isso, sacrificar um pedaço de seus lucros para manter a estabilização do preço de capa.
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Por isso, sempre que houver um reajuste, analise quanto tempo faz desde o último, se as competidoras também têm tido reajustes, se o mercado está sofrendo algum aumento de imposto, inflação ou dólar e/ou se as edições mudaram de alguma forma antes de crucificar a editora.
Tenho certeza que ninguém quer ver outra editora falindo como a Conrad, deixando dezenas de obras órfãs que só voltarão ao mercado anos depois, se voltarem!
Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂