Desmistificando: O que significa ser “tankoubon” e que outros existem?

formatosQuase um guia de formatos…

Em qualquer site por aí que costuma falar de mangá – e até aqui mesmo na BBM – você lê o termo “tankoubon” por todo lado, mas nem todos sabem o que realmente significa e acabam achando que é a mesma coisa que “volume de mangá”. É com o intuito de corrigir essa definição que trazemos hoje uma lista dos vários tipos de edições japonesas!

A primeira coisa que você deve entender é que várias dessas definições não valem apenas para mangás, mas para qualquer tipo de livro. Da mesma forma, só porque a maioria dos mangás é lançado primeiro como “tankoubon”, isso não significa que são todos assim, Nausicaaä, por exemplo, só foi lançado em formatos grandes. Dito isto, vamos lá:

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Principais formatos e edições

I. Tankoubon (Tanko)

“Tankoubon”, do japonês 単行本(volume encadernado/único), começou a ser usado para  se referir a obras completas, é um termo mais específico que “Hon” (livro). Foi só depois de um tempo que os mangás passaram a usar o mesmo termo para se referir aos seus volumes. Segundo algumas teorias, foi escolhido usar o termo para fazer contraposição com as publicações em revistas.

Ao contrário do que se prega comumente no Ocidente, tankoubon não tem um tamanho padrão, nem em dimensões, nem de páginas. Além disso atualmente no Japão não se tem usado mais o termo para identificar os volumes de mangás, ao invés é usado “Comic” (コミック) . Por exemplo, fazendo compras pelas lojas onlines você encontrará:

  • BLEACH―ブリーチ― 71 (ジャンプコミックス) コミック
  • BLEACH bleach 71 (Jump Comics) Comic

Note as informações de nome, numeração, selo e tipo de publicação. No caso de livros de volume único teremos:

  • クロの戦記 (オーバーラップノベルス) 単行本
  • Kuro no Senki (Overlap Novels) Tankoubon

Já neste é especificado o tipo “tankoubon”.

Então qual a utilidade desses tipos específicos de “hon”? Basicamente é uma forma de categorizar publicações diferentes, igual no Brasil temos os volumes únicos, séries completas, livros de bolso, etc.

E por que no Ocidente se usa tankoubon se fazem anos que os japoneses já pararam de chamar assim oficialmente? Porque a comunicação entre Japão e Ocidente é super lerda e demora anos para passar algo de um lado ao outro. Algo que já virou história há anos vive sendo usado por nós como se fosse o cotidiano japonês, como os termos “shounen-ai” e “shoujo-ai”.

Fora que é muito mais “estiloso” e “genuíno” chamar de tankoubon do que comic. Qual a graça de chamar os mangás de comic? Cadê o japonês disso? Alguém pode achar que é piada, mas é sério. Até hoje ocidentais insistem em chamar drama de “dorama”, “eu assisto doramas” é muito mais cheio de pompa e otakismo do que “eu assisto dramas”. Quem liga pro correto? Honoríficos estão aí para mostrar que o importante mesmo é falar o máximo de palavras japonesas possível e o resto que se lasque (inclusive o próprio Japão e japonês).


II. Bunkobon (Bunko)

Outro formato que aparece bastante no Japão para light novels é o bunkobon, do japonês 文庫本 (brochura), não confundir com bunkoban.

()Aliás, vamos abrir um enorme parênteses aqui: Qual a diferença entre o “bon” e o “ban”? “Bon” é uma das leitura do kanji (caractere japonês) “hon” (livro), já “ban” é uma das leituras do kanji “han” (edição). Enquanto um é um tipo de livro o outro é um tipo de edição de um tipo de livro. Você ainda pode encontrar alguns “ben” por aí, que vem do kanji “hen” (compilação). Boa sorte não se confundindo. Fecha parênteses.

Os bunkobons são livros de brochura, geralmente menores e mais econômicos, de forma a torná-lo mais barato e fácil de carregar. Similar aos nossos livros de bolso. As light novels Fate/Zero e No Game No Life, por exemplo, da NewPOP têm as dimensões de um bunkobon (mas o acabamento por aqui é mais chique que o original).


III. Bunkoban (Bunko)

Do japonês 文庫版 (edição bunko), usado para especificar o formato pocket de certas versões de mangás. Comparados ao volumes “normais”, bunkos possuem um formato menor, com mais páginas, além de capa mole e papel mais humilde. A ideia assim como o outro bunko é ser rentável.

No fundo é a mesma coisa dita de formas diferentes, na verdade são tão similares que acabam se confundido e virando apenas bunko. Vale a pena ressaltar que você vai ver o “bunkoban” ligado ao termo “comic”, algo como “bunkoban comic” que por sua vez pode também comumente ser chamado de “bunkobon”. Atualmente entretanto tem sido feito a divisão de que os algo-bons são relacionados aos “livros” (hons) e que os algo-bans são versões dos “comic”.

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Existem centenas de séries que foram relançadas em bunko, mas esse relançamento só ocorre depois da finalização da obra. É claro que existem exceções, como Golgo 13. Atualmente no Japão Gantz está sendo relançado em formato bunko, veja a diferença entre eles:

  • Gantz ― Comic ― ~230 páginas, 18 x 13 x 2,4 cm  
  • GantzBunko ― ~440 páginas, 15,4 x 10,6 x 1,9 cm  

Note como o bunko tem mais páginas, mas a espessura bem menor. Mas como?! Oras, gramatura bem menor! Lembra que a ideia é torna bem barato? Reduzir tamanho, gramatura e aumentar o número de páginas é a estratégia padrão do mundo todo (não só da JBC, rs).

Outro exemplo atual ainda em lançamento no Japão, 07 Ghost:

  • 07 Ghost ― Comic ―  ~200 páginas, 18 x 13 x 2 cm
  • 07 Ghost ― Bunko ― ~370 páginas, 15,4 x 10,6 x 1,7 cm

Esses valores obviamente variam de acordo com o volume, aqui peguei 2 volumes quaisquer de cada série para exemplificação, o mesmo vale para os próximos (os dados são da Amazon.jp). 🙂


IV. Kanzenban

Do japonês 完全版 (edição completa), é uma versão maior que o tankoubon, com mais páginas, geralmente um bom tipo de papel e gramatura (não necessariamente melhor) e alguns mimos. Geralmente a versão kanzenban tem todas as páginas coloridas lançadas nas revistas, capítulos extras ou complementares, entrevistas e outros extras.

  • Rurouni Kenshin ― Comic ― ~180 páginas, 17,6 x 11,4 x 1,6 cm
  • Rurouni Kenshin ― Kanzenban ― ~260 páginas, 20,8 x 14,6 x 2,4 cm 
  • Monster ― Comic ― ~220 páginas, 17,8 x 13 x 2,2 cm
  • Monster Kanzenban ― ~430 páginas, 21 x 14,8 x 2,6 cm
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Comparação entre os volumes kanzenban e tankoubon de 20th Century Boys.

41JeNIu1VkL._SX350_BO1,204,203,200_V. Aizouban

Mais um formato especial, o aizouban é o formato mais caro e especial que um mangá pode receber. Vem do japonês 愛蔵版 (edição preferida ou edição de colecionador), são recheados de extras, material exclusivo, capas exclusivas, papel de alta qualidade e ainda geralmente limitados.

O tamanho varia muito, aqui alguns exemplos:

  • Dragon Ball Aizouban ―~350 páginas, 25,8 x 18,8 x 3 cm  
  • Fruit Basket Aizouban ― ~370 páginas, 18,2 x 13 x 3 cm  
  • Hikaru no Go Aizouban ― ~200 páginas, 21 x 14,8 x 2,2 cm

VI. Shinsouban

Do japonês 新装版 (nova edição), é o nome dado para os relançamentos e reimpressões. Geralmente com capas novas, às vezes reorganizados e revisados, como é o caso de Sailor Moon, que teve extras retirados e volumes reorganizados passando de 18 para 12 volumes.

É exatamente a mesma ideia dos relançamentos do Brasil, é a reimpressão de obras que já foram lançadas tempos atrás. Constantemente esses shinsoubans são impulsionados por novas versões de animes, filmes, jogos/games ou pela morte ou aniversário do autor/série.

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VII. Mook & Soushuuhen

Do japonês ムック (mukku), nome dado às publicações que se confundem com revistas, o nome vêm de “magazine” + “book“. No mundo dos mangás atualmente quem usa os Mooks para mangás é a Jump:

https://i0.wp.com/t.imgbox.com/aclgZtOF.jpg?resize=189%2C271Soushuuhen

Soushuuhen, do japonês 総集編 (compilação ou omnibus), é uma delas. Uma versão grande em B5 (17,6 × 25,0 cm), com muitas páginas, extras, pôsteres e entrevistas, mas com papel de baixa gramatura.

O Soushuuhen é uma invenção da editora Shueisha e apenas mangás muito famosos são lançados nesta versão, como Naruto, One Piece, HunterxHunter, Jojo’s Bizarre Adventure, dentre outros. Atualmente eles estão relançando Dragon Ball neste formato.

  • One Piece ― Comic ― ~200 páginas, 18,2 x 11,4 x 1,9 cm
  • One Piece ― Soushuuhen ― ~560 páginas, 25,4 x 17,8 x 3 cm

VIII. Conveni-ban & Wide-ban

O termo vem de “convenience store” (loja de conveniência), do japonês コンビニ版 (conbiniban). São volumes maiores com muito mais páginas, de caráter mais descartável, ideal para a venda em lojinhas. Existem diversas marcas e nomes a depender das editoras, wideban (abaixo) é considerado parente deste aqui, embora possa ser um animal próprio.

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Nome dado a edições “wide” (do inglês, largo), em japonês ワイド版 (waidoban). Costuma ter o tamanho A5 (14,8 × 21 cm), o número de páginas costuma ser baixo se comparado aos anteriores, mas existem casos bem volumosos.

Um caso de wideban mais luxuoso foi Nausicaä, no Brasil a versão também veio numa qualidade bem acima do padrão.


IX. Shinsho

O formato Shinsho (新書) vem de shinshoban (新書判) que é uma padronização de formato japonês chamado “B40”, que equivale a 10,3 × 18,2 cm, bem similar ao Naruto Pocket (11,4 x 17,7 cm) ou aos comics padrões japoneses (18 x 13 cm).

Preste atenção que aquele “ban” vem de outro kanji han (selo), é diferente do ban de edição ( x 判). Esta não é uma edição, mas um formato, um padrão.

É geralmente usado em publicações temáticas sobre animes, jogos e mangás.


X. Meio-tankoubon (Meio-tanko)

Incluindo ele por desencargo de consciência, é o apelido brasileiro para as publicações que representavam a metade do tankoubon original japonês. Vale a pena comentar que alguns meio-tankos têm mais ou menos páginas que a metade do original. Alguns foram no passado divididos em 3, por exemplo.

Obviamente isso não existe no Japão, como tankoubon não tem um número específico de páginas, a série é chamada de tankoubon tendo 30 ou 300 páginas.

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Relação do formato e número de volumes

Cada versão é um caso próprio, não existem regras gerais que ditam qual o tamanho que cada formato deve ter, logo a quantidade de volumes final vai depender da obra original e suas características (o tamanho dos capítulos originais, por exemplo, é de suma importância).

Aqui vão alguns exemplos para se ter uma ideia da variação de número de volumes:

Maison Ikkoku

15 Volumes (Tankoubon)
10 Volumes (Wide-ban)
10 Volumes (Bunkoban)
6 Volumes (Conveni-ban)
15 Volumes (Shinsouban)
7 Volumes (Conveni-ban)

Versailles no Bara

12 Volumes (Tankoubon)
10 Volumes (Bunkoban)
2 Volumes (Aizouban)
4 Volumes (Conveni-ban)
9 Volumes (Kanzenban)
5 Volumes (Bunkoban)
6 Volumes (Conveni-ban)

Ao no 6-go

3 Volumes (Tankoubon)
3 Volumes (Bunkoban)
2 Volumes (Shinsouban)
2 Volumes (Kanzenban)

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Essa foi a nossa coluna de hoje. Espero que esta listagem exagerada tenha servido para ilustrar um pouco a variedade de versões e relançamentos que existe no Japão no mercado de mangás e novels. Além de te permitir entender um pouco o que são realmente esses termos que o pessoal usa para todo lado, hehe.


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂

20 Comments

  • […] Por último, vale a pena fazer um adendo que existem várias versões de vários nomes diferentes no Japão, um número considerável delas se tratam apenas de reorganização e relançamento, sem de fato alterações ou inclusões. Dentre elas, as que possuem mais alterações são as Shinsouban (como Sailor Moon, Kimba e Negima), Kanzenban (como CdZ e Slam Dunk) e Aizouban (ainda inédito no Brasil). Conheça mais sobre elas aqui. […]

  • Bruno

    Daria pra fazer uma parte dois desse post, dessa vez focado nos formatos brasileiros, nesse já foi citado o meio Tanko, mas temos outros tipo o Pocket, Big, a NewPOP tem uns Mangás maiores tipo Street Fighter, que no momento não sei dizer as medidas e por aí vai

    • Roses

      As dimensões e selos são apenas formatos mesmo, cada um faz como quiser. Os acima são edições e livros, não formatos.

      No Brasil seria a edição de bolso, edição de colecionador e edições padrões. Dentro de cada um vai haver formatos e números de páginas próprios. Big é um selo, não formato. Quando você diz formato Big você quer dizer Formato do selo Big.

  • Eddie

    Uma curiosidade que me bateu um dia desses!
    Tava olhando na pagina oficial da Panini Mangás no facebook e lendo uns comentários, até que vi um leitor pedindo para lançarem Konjiki no Gash!! e a editora respondeu que já tinha enviado uma solicitação do pedido para a “central”(Panini Italiana) mas até agora não obteve resposta. E também teve o evento de lançamento de One-Punch Man onde disseram que Black Rock Shooter foi uma sugestão da Panini Italiana!
    Minha curiosidade é se os contratos dos mangás publicados no Brasil pela Panini são pagos com Euros, ou no caso de Euro para Dólar ao invés de Real para Dólar, caso fosse, isso influenciaria nos preços baixos dos mangas se comparado com as concorrentes? talvez eu esteja viajando um pouco demais, mas é um caso a se pensar! 🙂

    • Roses

      A central não é necessariamente a Panini Italiana, o pessoal que cuida de mangas na verdade são empregados da editora Mythos, que presta serviços para a editora Panini, é terceirizado. Quando eles dizem central basicamente estão dizendo que estão enviando para a Panini, a sede brasileira tem autonomia, mas ao mesmo tempo tem que mostrar resultado e justificar escolhas para a Italiana.

      É impossível saber onde e quem faz o licenciamento ou em que moeda, a não ser a Panini nos diga.

      O que posso lhe dizer é que a moeda usada num contrato é uma das muitas variáveis. As partes do contrato é quem decidem qual moeda será utilizada. Comumente se usa dólar por ser uma moeda franca, mas nada impede de ser em euro, real ou iene.

      Em todo caso, todas as moedas estão conectadas, especialmente euro e dólar, a queda absurda de uma geraria uma queda na outra fatalmente. No fundo é claro que teria leves diferenças, mas num mercado internacional a flutuação costuma ser semelhante.

      Fora isso, até onde sei, os copyrights são sempre porcentagens fixas, dessa forma o valor que será em qualquer moeda vai variando de acordo com o preço dela em relação ao Brasil, mas continua sendo o mesmo.

      O que se faz na hora de “comprar” licenças é pagar adiantado uma fração dos royalties, isso é fixo, e vai sim causar grande diferenças.

      Em todo caso, cada contrato é uma animal e cada editora terá um, impossível saber com certeza. 🙂

  • Leandro Rocha Almeida

    Melhor que todos esses formatos só Attack On Titan Colossal Edition, 5 volumes em 1 com papel brilhante semelhante ao de HQs. Bem coisa de ‘murica mesmo.

    • Roses

      Hum, 10:32 minutos desse vídeo, mostra uma página com um balão vazio na base… Grande merda toda a qualidade, se vem com balões não traduzidos. Não julgue um livro pela capa, nem pelo papel… Qualidade física é apenas uma das variáveis. Eu particularmente acho que conteúdo completo >>>>> qualidade física.

  • gilberto94819

    Qual é o papel utilizado nas publicações de tankos nos EUA e Japão? Bem que poderia ter um desmistificando sobre o material utilizado para a impressão de mangás em outros países.
    *Essa capa de 20th é linda, dá vontade de comprar.

    • Roses

      Os papéis usados são os mesmo do Brasil. A única exceção é que a Kodansha e a Shueisha tem um papel exclusivo do tipo jornal para suas revistas e tal. Quando você vende mais de 10 milhões de edições por mês, coisas assim são possíveis. Mas tirando isso, vai variar o formato, gramatura, etc. não só entre editoras como entre obras da mesma editora, igual ao Brasil. Existem mangás japoneses com gramáticas bem baixas e transparência, outros são altíssimas. Depende da estratégia utilizada em cada produto.

      O mesmo vale para os EUA, os tipos de papéis não são brasileiros, são internacionais, é aquilo que se usa no mundo, tofo mundo usa offset como padrão.

    • João

      O da JBC é inspirado em um formato americano, imperialista, capitalista e opressor.

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