Biblioteca Brasileira de Mangás

O Grande Guia dos Manhwas e Manhuas no Brasil

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Mais um guia para vocês conferirem!

Não somos os únicos que fomos inspirados e produzimos mangás nacionais, os países do Extremo Oriente também fizeram isso e os que se tornaram mais famosos foram a Coreia do Sul e a China com seus os Manhwas e Manhuas, respectivamente.

Manhwa é como um coreano lê os kanjis de mangá, equivale ao mangá da Coreia do Sul. Já Manhua é a forma como os chineses leem e pode ser usado para se referir a três tipos muito diferentes: o mangá de Taiwan, o mangá chinês (ou da China continental) e o mangá de Hong Kong. Embora chamemos tudo de chinês, cada um desses lugares tem sua própria língua ou dialeto e influências e características diferentes.

O sucesso dessas variações de mangá é limitado, mas existem vários autores que conseguiram se sobressair e fizeram grande sucesso no Japão e no mundo. Tanto que várias obras são serializadas ao mesmo tempo em ambos os países, ou passaram a ser serializadas depois no Japão ou, mais ainda, os autores se mudaram para as revistas japonesas mesmo!

Neste guia não incluiremos essas obras de coreanos e chineses lançadas originalmente em outros países, já que os direitos estão com empresas japonesas (ou outra estrangeira), independente de serem lançadas paralelamente na Coreia do Sul ou China, mas são elas:

Caso queira saber mais sobre as obras (sinopse, capas, etc), basta clicar no nome da obra que você será redirecionado a uma página específica sobre ela.


ABRIL


Manhua: Quando Digimon explodiu em popularidade no Brasil, naturalmente algumas empresas foram atrás de materiais da franquia e a editora Abril foi uma delas, publicando alguns quadrinhos de Digimon. Pela capa do primeiro volume, dá para perceber que se trata de Digimon Adventure de Akiyoshi Hongo e do chinês Yu Yuen Wong.

Todas as fontes que consultamos dizem que a obra é um mangá chinês, o que o tornaria o primeiro manhua a ser lançado no Brasil. Por aqui foram lançados apenas 8 volumes de poucas páginas e não foi concluído pelo que se sabe. No original foram apenas 5.


Conrad


A primeira editora brasileira a investir nesse nicho, trouxe algumas obras numa primeira leva entre 2004 e 2006 e depois mais uma porção a partir de 2009, quando já havia sido comprada pelo grupo IBEP. Em 2015, a empresa trouxe ainda uma webtoon.

Chonchu, o guerreiro maldito

Manhwa: Numa época que tamanho não assustava as editoras, a Conrad trouxe Chonchu de Kim Song-Jae e Kim Byung-Jin. Seus 15 volumes foram lançados entre 2004 e 2006, mas, infelizmente, acabou sendo mais um dos muitos manhwas abandonados na Coreia, ainda incompleto.


Ragnarök

Manhwa: Um dos piores títulos já trazidos ao Brasil, só veio parar no país por causa do sucesso do game na época. Recheado de propaganda da Level Up (que deve seu sucesso ao game Ragnarök), os 20 volumes da série de Lee Myung-Jin chegaram às bancas entre 2004 e 2005.

Mais uma vez, outro quadrinho sem conclusão na Coreia.


Angry

Manhwa: Obra de Yoo Kyung-Won e Kim Jae-Yeon, tinha uma temática diferente do estilo aventura que saia por aqui, sendo mais voltado para a comédia romântica. Saiu durante 2006 totalizado 6 volumes.


Model

Manhwa: Model foi o segundo manhwa para o público feminino no Brasil (o primeiro foi Tarot Café) e foi lançado de forma louca, vários números ao mesmo tempo, que na época mostravam como a Conrad estava indo mal.

A obra de Lee So-Young teve 7 volumes lançados, completando a série, durante 2009.


Banya – o mensageiro

Manhwa: Obra de Kim Young-Oh, foi lançado em sua totalidade entre 2009 e 2010, no total 5 volumes.


Dangu

Manhwa: Ao mesmo tempo que Banya, saiu também Dangu de Park Joong-Ki, este de 9 volumes, lançado entre 2009 e 2011.


Gui – o guerreiro fantasma

Manhwa: O último os 3 últimos lançamento de manhwa da Conrad, Gui de Orebalgum e Kim Young-Oh (mesmo autor de Banya), também de 5 volumes e lançado entre 2009 e 2010.


Melodia infernal

Manhua: O último manhua lançado no Brasil, foi uma obra de dois volumes minúsculos lançados durante 2009 do autor Lu Ming. A história meio psicodélica tinha até uma arte bonita (se você ignorasse os deslizes de 6 dedos tocando violão), mas não chamou tanta atenção.


Surtada na dieta

Webtoon: O primeiro de sua laia no Brasil, foi lançado em 2015 pela editora. Originalmente foi um quadrinho digital coreano, conhecido como webtoon, que durou 100 capítulos e foi compilado em 3 volumes. Aqui no Brasil o primeiro foi chamado de Quero Emagrecer, volume 1. Os outros não chegaram a ser lançados.

Como todo webtoon, a produção é colorida e produzida em meio digital, o que lhe dá uma cara toda sua. Os autores são Neonb e Caramel e por lá saiu como Dieter. Foi concluído em 2011.

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A Conrad foi a última editora a abandonar esse nicho, embora o motivo dela pode ter sido seus problemas financeiros. Seus últimos lançamentos em 2009 trazia para o Brasil obras mais amadurecidas do mercado coreano, ao contrário das muitas outras iniciais. Só em 2015 a editora relembrou do Extremo Oriente e trouxe a webtoon, mas parece que não pretende concluir a obra.


 Panini


Uma das maiores editora da época e da atualidade, investiu durante 2006-2007 em algumas obras coreanas e chinesas, nenhuma delas conhecidas por ter dado bons resultados:


O Tigre e o Dragão

Manhua: Dos autores chineses Wang Du Lu e Andy Seto, foi o primeiro e único manhua publicado pela editora. Saiu entre 2006 a 2007, totalizando 11 volumes (embora originalmente tenham sido apenas 5). Este manhua é a história do filme de mesmo nome que na época tinha feito bastante barulho por aqui. O quadrinho por outro lado…


Dejà Vu

Manhwa: Dejà Vu foi um manhwa com uma proposta um pouco diferente, é composto de várias histórias do mesmo autor, mas por artistas diferentes que juntos contam a história de reencarnação em busca da felicidade. O volume inclui alguns outros contos também. Originalmente lançado em 2004, deu as caras no Brasil em 2007, volume único.

O roteiro ficou a cargo de Youn In-Wan (roteirista também de Defense Devil), enquanto a arte foi feita por Byun Byung-Jun, Kim Tae-Hyung (autor de Planet Blood), Lee Vin, Park Sung-Woo, Yoon Seung-Ki e Yang Kyung-Il (artista de Defense Devil).

É interessante analisar um pouco como esta antologia marca uma época muito específica na vida dos artistas coreanos. A dupla Youn & Yang, por exemplo, estava em seu ápice na Coreia do Sul em 2004 com sua obra Shin Angyo Onshi e, em 2007, com a conclusão dela, os dois embarcariam para as revistas japonesas, onde trabalham até hoje. Muitos autores seguiram um caminho parecido, abandonando a carreira ou indo trabalhar do outro lado do mar, no Japão.


Kil-Dong: Crônicas de um guerreiro

Manhwa: Obra de Oh Se-Kwon, foi lançada no Brasil entre 2007 a 2008 quando ainda estava sendo publicada na Coreia, no total 6 volumes foram lançados até simplesmente desaparecer sem avisos. Anos depois a editora confirmou o que todos já sabiam, a série havia sido cancelada e nunca veríamos o último volume por aqui.

Curiosamente algo similar aconteceu nos Estados Unidos, mas devido a falência da editora TokyoPop que abandonou a série no volume 5.

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Com essa série de fracassos e más vendas a editora Panini encerou completamente seus investimentos nas variantes de mangás. Defense Devil, lançado a partir de junho de 2014 foi a coisa mais próxima de cultura coreana que a editora arriscou desde então.


Lumus


A editora Lumus começou a sua carreira como “editora de Manhwas” em 2006, com uma proposta diferente e até distribuição nacional (que na época era ainda mais rara). Começou lançando dois títulos sozinha:

Planet Blood

Manhwa: Obra incompleta de 11 volumes foi mais um dos muitos manhwas em hiato eterno na Coreia do Sul. Por aqui a obra de Kim Tae-Hyung teve todos seus 11 volumes lançados entre 2006 e 2007


Priest

Manhwa: Obra um pouco mais conhecida e chamativa por causa de suas páginas negras, acabou gerando um filme em 2011 (que não tem quase absolutamente nada a ver com o original).

No Brasil a série de Hyung Min-Woo foi lançada entre 2006 e 2008, totalizando 16 volumes.

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Após iniciar seu trabalho com Planet Blood e Priest, a Lumus passou a trabalhar em parceria com a NewPOP.


NewPOP & Lumus


Neste momento ambas as empresas novatas no mercado uniram forças para trazer outras obras coreanas:

Tarot Café

Manhwa: Primeira obra coreana no Brasil para o público feminino, foi feito pela autora Sang-sun Park. Teve todos os seus 7 volumes publicados entre 2007 e 2008. Com uma história no mínimo confusa, o quadrinho chamava atenção pelo esoterismo e aspecto gótico da arte.


Ark Angels

Manhwa: Da mesma autora veio outra obra sua, Ark Angels, de apenas 3 volumes em 2009. Esta já tinha um jeito infantil e “fofinho” e aparentemente não emplacou.

Após a conclusão de Ark Angels a Lumus sumiu do mapa e acabou virando uma empresa de assessoria e revisão, até desaparecer por completo. Chegou a trabalhar na revisão de obras da NewPOP e da Savana.


NewPOP


Após a publicação dos dois anteriores a NewPOP abandonou os manhwas, embora tenha lançado um novel (livro) baseado em Tarot Café dois anos depois da conclusão do manhwa.

Tarot Café: A Caçada Selvagem

Livro: Baseado no mundo de Sang-Sun Park e escrito por Chandra Rooney, o livro de volume único foi lançado em 2010 pela editora e foi uma das primeiros novels dela junto com Gravitation.


Savana


Uma editora que prometia mudanças e qualidade, decepcionou trazendo títulos cheios de erros de revisão, transparência e má impressão. Além de Aflame Inferno, a editora havia prometido outro manhwa, Jack Frost, mas este nunca deu as caras.

Aflame Inferno

Manhwa: Um dos primeiros licenciamento da novíssima editora Savana, Aflame Inferno teve seu primeiro volume lançado em 2009, mas nunca chegou a ser continuado já que a editora desapareceu.

A obra original de Lim Dall-Young e Kim Kwang-Hyun, Autores de Freezing, já era conhecida pelos leitores devido a publicação também no Japão, por lá foi concluído com 6 volumes.


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É fácil notar duas coisas: 1. Todo autor se chama Kim… 2. A maioria das obras lançadas no Brasil foram lançadas em datas bem próximas em um período bem específico, mas por que isso?

Por volta do ano 2000 a 2009 houve um boom na cultura coreana, apelidado de “Onda Coreana” ou “Hallyu”, foi nesse momento que a exportação da cultura coreana deu uma acelerada fenomenal. O resultado disso foi uma explosão de quadrinhos, games, músicas, filmes e dramas; várias das bandas famosíssimas de KPop como Big Bang e Super Junior datam desse período.

Um dos motivos iniciais dessa explosão foi a ajuda governamental da Coreia do Sul que investiu, deu descontos e quase deu de graça produtos na esperança de criar novos mercados e expandir a área de entretenimento, algumas coisas deram muito certo, como o KPop, outras…

Nesse momento de preços legais e descontos, as editoras brasileiras aproveitaram e trouxeram várias obras ao Brasil. A primeira de todas foi a Conrad, seguida pela Panini, NewPOP e Lumus, sendo essa última uma editora especializada em manhwas.

Só que passado o boom inicial, os quadrinhos coreanos se mostraram uma grande furada. Por causa do mercado frágil coreano, muitas das obras licenciadas eram abandonadas ou entravam em hiato eterno a la CLAMP ou então eram finalizadas de forma apressada.

Na verdade, como esses licenciamentos aconteceram no começo/meio do Hallyu, foram trazidas obras mais antigas, de autores inexperientes e qualidade bem inferior aos mangás. Por esse motivo as obras não deram muito certo e todo mundo deixou os manhwas e manhuas de lado. E assim se criou mais uma “verdade do mercado”, manhwa não vende.

Do lado chinês, a situação foi um pouco parecida, mas não houve tanta agressividade por parte dos governos para vender e incentivar a exportação de quadrinhos, logo nunca houve de fato uma “onda chinesa” e manhuas.

Depois que as últimas duas a desistirem passaram por problemas financeiros e falência, isso acabou dando ainda mais força a essa “verdade”, pior ainda, virou mau agouro, rs.

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No exterior, manhwas também não foram tão bem assim, mas eles sobreviveram. Existe uma porção deles sendo lançada nos Estados Unidos e Europa, nos EUA cerca de 10 editoras trabalham ou trabalharam com manhwas e mais de 250 obras já foram licenciados por lá. Embora a maioria desses seja absolutamente genérica, há alguns manhwas reconhecidos internacionalmente e de enorme sucesso por lá.

Atualmente a Coreia mudou sua tática, pararam de tentar (e fracassar) em imitar o esquema de revistas para migrar para algo digital (embora ainda existam revistas), os webcomics ou webtoons coreanos. Seu jeitão único é fácil de reconhecer, várias imagens juntas que formam longas sequências verticais de imagens que parecem juntas formar uma só. Esses, sim, tem feito imenso sucesso, ao ponto dos próprios sites começarem a traduzir as obras mais famosas e disponibilizar no ocidente (parecido com o que o Crunchyroll faz).

Essa digitalização já chegou também nas áreas chinesas, mas por lá a coisa é mais parecida com os “leitores online de mangá” piratas que conhecemos. A diferença sendo que são como revistas digitais em que os capítulos são lançados periodicamente, depois, se houver sucesso, ainda podem ser publicados em papel como acontece no Japão.

Um desses sites de webtoons coreano, o Line Webtoon, inclusive, permite que fãs também traduzam e ajudem em versões “informais” legais através de uma plataforma própria para várias línguas, uma verdadeira monetarização da vontade das pessoas de trabalhar de graça. Atualmente o site já tem várias obras traduzidas para o português graças ao trabalho escravo de fãs.

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Com tudo isso em mente, fica a pergunta: Será que manhwa e manhua não vende mesmo? As obras famosas e mais populares não venderiam no Brasil? Dá quase para ouvir as editoras responderem “Não, não vende!”, tamanha é a falta de interesse nesse nicho.

Enquanto isso, aos fãs da cultura coreana, só resta se contentar com os autores coreanos de Freezing e Defense Devil e torcer para que eles criem uma oportunidade de volta dos manhwas coreanas. Pelo menos tivemos a webtoon Surtada na dieta, da Conrad, que no fundo foi a anormalidade do mercado.

Aos fãs dos manhuas, senta e chora que a coisa tá feia!


Se você notou a falta de algum manhua ou manhwa por aqui dê uma olhada aqui e aqui. Obras religiosas e bibliográficas acabamos ignorando, mas se encontram nessas páginas. Caso não estejam nos fale nos comentários.

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