Resenha: Your Lie In April #01

A mentira em abril que só chegou em maio…

Quem acompanha de perto o nosso mercado de mangá sabe que boa parte dos títulos licenciados em nosso país aparecem depois de terem sido adaptados para desenho animado no Japão. Embora exista muita gente que apenas veja os animês e não ligue para (ou, na maioria das vezes, tem preconceito com) os mangás, a verdade é que as adaptações animadas acabam sendo um grande alavancador de popularidade de uma série. Não fossem essas adaptações muitos mangás nunca seriam descobertos pelo “povão otaku” e dificilmente chegariam ao país já que, sem essa popularidade, dificilmente despertariam o interesse das editoras.

Um desses mangás é Your Lie In April (ou Shigatsu wa kimi no uso), de Naoshi Arakawa. Antes de sua adaptação animada, ocorrida entre 2014 e 2015, pouca gente conhecia a obra e, praticamente, ninguém desejava a vinda do título ao país. Com a animação e seu respectivo sucesso as coisas mudaram e o título tornou-se um dos mais pedidos e aguardados entre os fãs de obras dramáticas, tornando-se uma questão de tempo até aparecer em nosso país.

Publicado entre 2011 e 2015 na revista Shonen Magazine, da editora Kodansha, e concluído em 11 volumes, o título é mais um desses slice of life dramáticos que chegam ao país para se juntar a títulos como Ano hana, Orange, 5 cm por segundo, entre outros. Anunciado em dezembro de 2016 pela editora Panini e prometido para abril, Your Lie In April só começou a chegar às bancas de revista e lojas especializadas no início de maio e imediatamente adquirimos o volume.

De posse dele, lemos o título e viemos dar nossos pequenos pitacos sobre a obra^^:


Sinopse oficial


Kousei Arima é um pianista prodígio que, devido a duros treinos impostos por sua mãe e instrutora, fica traumatizado e se torna incapaz de tocar piano após o falecimento dela. Amargurado, o garoto mantém distância da música mesmo depois de anos, ignorando até mesmo o incentivo de seus amigos. Até que um dia ele conhece Kaori, uma violinista animada e cheia de personalidade, em um encontro que mudará sua vida.


História e desenvolvimento


Your Lie In April, muito superficialmente, pode ser visto como apenas mais uma história de superação, dessas que existem aos montes por aí, nas mais diversas artes. A fórmula é a mesma sempre com ligeiras variações de uma obra para outra: o protagonista possui um passado triste e isso o afeta nos dias atuais, aí, de repente, surge alguma coisa (um fato insólito, acontecimento natural ou aparecimento de outros personagens) e essa coisa faz o protagonista, com o tempo, superar os seus medos do passado. A obra de Naoshi Arakawa se encaixa perfeitamente nisso.

O título mostra o drama de Kousei (seu passado e sua dificuldade em tocar ao piano) e, de imediato, fica claro que o mangá buscará apresentar sua redenção, fazendo com que seus medos sejam extirpados com o tempo e ele possa ser capaz de novamente “ouvir” o som do piano e poder aproveitar a música clássica de que tanto gosta. Para tanto, ele contará com a ajuda da violinista Kaori, uma garota super animada e que ama a música. Neste primeiro tomo vemos os dois se conhecendo, se relacionando e formando uma boa amizade, ao ponto de Kaori, após muito esforço, conseguir convencer o garoto a tocar de acompanhante em um concurso em que a garota participará. Eis o clichê em sua essência^^.

Essa “história de superação” não é o único clichê da obra. Your Lie In April está recheado deles. Os amigos de infância que são taxados como um casal, um propenso triângulo amoroso, um personagem mulherengo, a amizade capaz de vencer qualquer coisa, etc. Porém é um clichê extremamente agradável que, mesmo se utilizando de uma fórmula padrão, consegue se destacar e nos apresentar bons personagens que nos cativam pela sua simplicidade e personalidade. Todos os “lugares comuns” são utilizados tão bem que mesmo você já tendo visto uma coisa ou outra milhares de vezes, você ainda consegue se importar.

E se importar com os personagens é que nos faz ver Your Lie In April além da superfície dos inúmeros clichês desde o primeiro volume. O título tem algo mais a ser explorado do que simplesmente a superfície da história dramática. Os personagens, por mais comuns que sejam, emanam um brilho diferente, difícil de explicar, que prende o leitor e nos faz vê-los como se fossem únicos, originais até.

O protagonista Kousei é um personagem sensacional por si próprio, pois ele é mostrado como um ser humano normal, como eu ou você. Embora seja retratado como um protagonista padrão (o personagem bonzinho, sempre disposto a ajudar todos), a gente vê as inúmeras imperfeições dele ocasionadas por acidentes (tirar uma certa foto sem querer), por sua personalidade (busca esconder uma verdade de Kaori com vistas a proteger seu amigo e não magoar a menina) ou por seus traumas do passado (parar de tocar piano para as crianças do nada). Ele não é o “herói” todo poderoso, pelo contrário é um ser humano cheio de falhas como qualquer outro, um ser humano normal. Obviamente, toda a história está alicerçada em seu talento (ele é um prodígio do piano), mas até esse alicerce é frágil, já que faz parte da essência de sua “história de superação” e o mangá inicia justamente mostrando o momento em que ele sucumbiu aos traumas e parou de tocar. A “graça” de Kousei é justamente velo como um “herói caído”, alguém capaz de ser melhor, de progredir, de prosperar, mas que está cheio de amarras, cheio de correntes que o prendem, necessitando de alguém que o ajude a se libertar. E é aí que entra Kaori.

Kaori, co-protagonista, é a tábua de salvação de Kousei. Ela vem para mostrar a ele que a música clássica pode ser algo divertido. No primeiro volume isso se mostra de modo claro quando ela se apresenta em um concurso e faz uma apresentação despreocupada, muito diferente das apresentações que ele fazia quando mais jovem. Ela é quem move Kousei, mas não só pelo “poder de sua música”. Ela tem uma personalidade forte que impulsiona e obriga o rapaz a fazer coisas que ele não gostaria, como tocar para crianças ou mesmo ser acompanhante dela. As “correntes” que prendem o rapaz são fragilizadas pela força da garota, pelo algo mais que ela tem, diferente dos outros amigos do raapz. Se essas forças serão suficientes para libertá-lo tão rapidamente é uma questão para os próximos volumes.

Ainda falando sobre os personagens, os coadjuvantes Tsubaki e Watari pouco apareceram, mas já têm suas personalidades definidas. Watari é típico aluno esportista mulherengo e por quem todas as mulheres, inclusive Kaori, parecem se apaixonar. Tsubaki, por outro lado, é a personagem amiga de infância de Kousei, sempre ao lado do rapaz e zelando para que ele possa melhorar de seu trauma. As coisas tendem a mudar um pouco nos próximos volumes, mas essa característica de zelo decerto permanecerá ao longo da trama.

O primeiro volume só apresenta esses quatro personagens. Ele é uma introdução à “história de superação” de Kousei e, na verdade, é um volume bem leve, com mais cenas de humor do que o conhecido drama, notabilizado pela versão animada. Na verdade, o primeiro volume praticamente não teve cenas dramáticas, apenas um choro enigmático de Kaori e uma ou outra menção ao passado do rapaz que serviram para conduzir a história e fazer com que os laços de Kaori e Kousei começassem a ser feitos e ela conseguisse obriga-lo a enfrentar seus medos.

Se o animê é fiel ao mangá, os próximos volumes da versão em quadrinhos deverão começar a mexer com o drama de verdade e colocar elementos bem mais pesados e que incrementarão de modo drástico a história, levando as pessoas mais sensíveis (e muitas insensíveis^^) ao choro.


A edição física


A edição nacional veio no formato 13,7 x 20 cm, padrão da Panini, e miolo em papel jornal ao preço de R$ 13,90. O título teve ainda capas internas coloridas.

O volume não tem problemas de encadernação, é bastante maleável, mas é difícil dizer que a edição da Panini é totalmente agradável para leitura. O papel de Your Lie In April é muito acinzentado, tendo um aspecto envelhecido logo após aberto, com páginas que nitidamente parecem sujas.

Embora isso acabe sendo normal em mangás em papel jornal, comparado com o de outros mangás da editora que saíram este mês, como One Week Friends e Lovely Complex, nitidamente em Your Lie In April foi usado o pior tipo possível, ou com o pior aspecto. Nos dois mangás citados, o papel jornal é mais branquinho, quase totalmente sem “sujeira” e é muito agradável apreciar os desenhos e a história em si.

O papel de Your Lie In April também é mais fino que os demais mangás da editora. Deem uma olhada na foto abaixo, comparando o mangá com a primeira edição de One Week Friends:

À esquerda: One Week Friends #01; À direita Your Lie In April #01

Na comparação acima você pode notar que One Week Friends é um pouquinho mais fino do que Your Lie In April o que indicaria que YLIA tem um melhor papel. Só que o primeiro tem 62 páginas a menos que o segundo O_o. A diferença não deveria ser tão pouca.

O mangá de Naoshi Arakawa tem 224 páginas, enquanto One Week Friends tem só 162 . Na verdade, se você retirasse a capa e as primeiras dezesseis páginas de Your Lie In April você teria exatamente a grossura de OWF. Ou seja, o papel de OWF é mais grosso e nitidamente muito melhor do que o de Your Lie In April, pois as 162 páginas de OWF equivalem em espessura a mais de 200 de YLIA.

Chega até a ser curioso essa diferença, visto que ambas as séries são publicadas em papel jornal, são da mesma editora e foram impressas na mesma gráfica, a Cunha-Fachini. Difícil entender. Só consigo pensar que por One Week Friends ter bem menos páginas que os mangás normais, ele recebeu um papel jornal melhor, mas isso é só uma especulação que provavelmente nunca terá uma resposta.

A edição física de Your Lie In April não é de todo ruim, você consegue ler sem problemas, mas poderia ser muito melhor.


Veredicto


Se você é um entusiasta de slice of life ou obras dramáticas, Your Lie In April é uma leitura obrigatória. Embora o primeiro volume foque-se mais no humor, o título apresenta um toque de drama próprio e conforme você se afeiçoa aos personagens, mais a parte dramática se fará sentida. O título consegue ser muito bom, tanto quanto sua adaptação animada. Já se você prefere mangás de luta, batalhas e ficção científica e odeia obras melodramáticas, definitivamente Your Lie In April não é para você.

Infelizmente, a edição nacional deixa a desejar e pode incomodar os leitores mais criteriosos (e alguns menos criteriosos também, no caso eu mesmo^^). Porém, dado que o título é muito bom não é possível deixar de recomendá-lo para os fãs de obras dramáticas.

Ficha Técnica

Título: Your Lie In April

Autor: Naoshi Arakawa

Editora: Panini

Acabamento: Papel jornal

Número de volumes: 11

Preço: R$ 13,90

Onde comprarAmazonFnacSaraiva

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16 Comments

  • Não sei se só foi na minha edição, mas o mangá veio com aroma de limão (não sei se foi proposital da editora ou da gráfica) mas gostei.

  • Juro que não tinha lido seu post ainda para evitar ao máximo fazer um parecido. Mas não deu outra, concordamos na questão do papel, e olha que ambos estamos longe de ser aqueles leitores modelo “hur dur papel”, então isso mostra que realmente o papel deixou um pouco a desejar.
    ————————————————————
    “levando as pessoas mais sensíveis (e muitas insensíveis^^) ao choro.” A pessoa que não chorar em nenhum momento com YourLie é porque não tem coração. Eu li esse volume 1 já quase chorando só de lembrar do que ainda vai acontecer… 😛

  • Roses

    “com páginas que nitidamente parecem sujas.”
    Olhando pela foto, me dá a impressão de ser sujeira de tinta. Igual quando você lê jornal e vai ficando tinta no dedo e conforme você vai segurando as pontas vai ficando digitais. Não que eu esteja dizendo que foi dedos, mas pode ser alguma parte do maquinário que estava excessivamente suja de tinta que foi manchando conforme manuseava as páginas. Puro chute.

    • Rose, baseado no meu volume a questão ficou bem suja realmente. Muitas manchas de impressão da página anterior. Não sei se o maquinário estava mal regulado ou limpo, mas o meu volume está de uma forma que fazia tempo que eu não via num mangá.

  • Roses

    “A mentira em abril que só chegou em maio…” XDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDD

    • Por questão de estilo eu deixei todas as inicias das palavras do título em maiúscula (Your Lie In April), então na abreviação eu tinha obrigatoriamente que deixar tudo em caixa alta também.

  • Peguei meu volume semana passada, mas ainda não me sobrou tempo para ler. Não sei se foi só impressão minha, mas o papel também é inferior ao usado em Akame, pelo menos achei isso quando coloquei os dois lado a lado na estante.

    Sou um grande fã do anime, já assisti umas três ou quatro vezes e estava pronto para importar o mangá até que a Panini anunciou. Estou empolgado para a primeira leitura, apenas não sei como lidarei com as partes musicais, que no anime são fantásticas, mas acho que isso não vai influenciar muito.

  • Já comigo, foi o contrário; gostei bastante do papel usado; também acho o de Lovely Complex muito bom. Em todo caso, o tratamento da Panini me agradou, pra mim tá perfeito! Não é o melhor do mercado, mas de longe será o pior.

    Ou talvez, eu esteja tão feliz com a publicação deste título que por mais que eu tente, não consigo enxergar algum ponto negativo. Espero este mangá desde 2012~2013! 😀

  • TDA

    Comprei o meu hoje assim que saí do trabalho (chegou hoje a tarde na comic shop que frequento) e ainda nem tirei do saquinho, mas só pelas fotos já vi que o maldito papel tá de mal a pior e isso se confirma na conclusão do texto. É uma pena, pois a história é muito boa e merecia uma qualidade um pouquinho melhor. Enfim, tenho que ver como será o meu “prazer da leitura” quando chegar a hora.

    Agora sim vou poder tirar a prova se o anime é melhor que o mangá. Já tenho uma opinião sobre isso, pois além de assistir ao anime li alguns capítulos do mangá online, mas estava esperando a edição física ser lançada para conferir e ter uma opinião mais embasada.

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