NI 324. Autora de “Gangsta” pede para pararem de piratear seu mangá

“Se eu não ganho dinheiro, terei que parar de trabalhar como mangaká”.

Que a pirataria é ilegal todo mundo sabe, mas qual o impacto disso na vida dos artistas japoneses? Há quem pense que nenhum, mas nesta semana Kohske, autora do mangá Gangsta, colocou uma outra luz sobre o assunto ao fazer um apelo na Internet.

Em uma série de mensagens na rede social Twitter, a autora pediu encarecidamente para que as pessoas que traduzem e compartilham seu mangá pela Internet parem com essa prática porque é muito prejudicial para ela, pois até mesmo japoneses estão procurando por eles, gerando prejuízo para ela e seus editores:

Scans traduzidos/ compartilhados têm roubado os meus leitores, a minha renda, e as receitas de publicidade dos editores. POR FAVOR, parem de traduzir e compartilhar na Internet. (Alguns japoneses também estão pesquisando e lendo o seu scan. Realmente decepcionante.)“.

Se eu não conseguir ganhar dinheiro, vou deixar de ser mangaká. Por favor, não esqueça. 😠 Por favor, compre uma cópia de lojas confiáveis.”

Quero sua compreensão, mas não quero discussões estéreis e insultos vulgares. 😞 Eu só quero desenhar mangá para aqueles que me apoiam. (Embora a cópia oficial seja muito cara, obrigada pela sua compra.)

De fato, um Eiichiro Oda e uma Shueisha da vida dificilmente seriam impactados por causa da cultura dos scanlations ocidentais, porém talvez afete a vida dos artistas e editoras menores, como demonstrou a autora de Gangsta. Particularmente, acho difícil que a pratica pare pelo pedido da autora, pois hoje em dia muitos dos que traduzem e colocam na Internet não são fãs de fato.

  • “Por que pagar por algo que eu posso ter de graça?”

Essa é uma pergunta muito repetida, diversas vezes de forma retórica, como forma da pessoa expressar a sua ideia de que não precisa comprar um produto já que “tem de graça na internet”. A resposta para essa pergunta, porém, é bem simples e direta: porque você gosta daquela coisa e quer ter mais dela.

Como Kohske enfatizou, se não há dinheiro entrando, não há razão para o artista continuar sua produção e ele irá buscar uma outra forma de sobreviver. É por isso que se paga por algo que se pode ter de graça, porque se não pagarmos, podemos não ter mais. Artistas são trabalhadores e também precisam pagar suas contas…

  • Sobre Gangsta

Gangsta está em publicação no Japão desde 2010, sendo serializado atualmente na Comic @ Bunch, da editora Shinchosha, e possui 8 volumes até o momento.

O mangá esteve parado por um ano e meio devido a uma doença da autora e só retornou sua serialização em maio de 2017. No Brasil, o mangá é publicado pela editora JBC desde 2015, tendo lançado 7 volumes até o momento.

SinopseWorick e Nicolas são uma dupla disposta a dar uma mãozinha ao submundo de Ergastulum, uma cidade dominada pela máfia, repleta de crime, drogas e prostituição. Mas os dois têm seu preço, e seus segredos! “Alô? Obrigado por ligar para os faz-tudo. Em que posso ajudar?”

14 Comments

  • Roses

    Só queria fazer uns comentários pessoais sobre pequenos pontos que são usados muito nos comentários e defesa de scans. Não para defender uma posição, mas para que possamos pensar um pouco.

    1. “Se não fosse por scans não haveria mercado de mangás no Brasil”
    Não existe qualquer dado ou estudo que comprove essa afirmação. O boom dos mangás pelas editoras (com a Conrad e a JBC) aconteceu concomitantemente com o boom dos scans, inclusive com a criação do Anime Blade (um site de catálogo de scans e scanlators). E ambos aconteceram alguns anos depois de um boom de animes, quando Sakura Card Captor, Sailor Moon, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e demais séries passavam não só na TV paga como nos canais abertos. Nessa época animes passavam na Fox Kids, no Cartoon, na Globo, no SBT, em tudo quanto era lugar, inclusive com um canal só de animes legendados. Ou seja, existe a linha muito clara entre anime e mangás, que ainda hoje é acentuadíssima, mas nenhuma linha entre mangás oficiais e scanlators.

    Numa pesquisa pelo Baka Updates, quando perguntado como você veio a conhecer mangás, 55% respondeu anime, 32% amigos, 10% via sites, 4% via revista. Mais uma vez, o anime sendo a engrenagem principal.

    2. “Lê scan quem não tem dinheiro para pagar”
    Novamente, não existem dados que apontam esse fato. E é especialmente duvidoso quando levamos em conta que são as mesmas pessoas que estão pagando internet de alta velocidade, que aceitam pagar por leitores online, ajudam a comprar material para tradução, etc.

    É claro que com a crise, pode haver uma maior quantidade de pessoas que se encontrem numa situação de não conseguirem pagar e acabar consumindo pirata. Mas não há provas ou dados algum que permita que algo assim seja afirmado. Inclusive, alguns leitores online já divulgaram coisas como “Quais aparelhos são usados para acessar nossos sites?” e o resultado de Smartphones são surpreendentes. Em que mundo uma pessoa tem dinheiro para comprar um aparelho desse, mas é pobre demais para comprar um volume? Obviamente não indica que ela possa comprar 50 volumes, por outro lado, se ela consegue pagar as prestações de um smartphone, ela consegue 1 volume ao mês no mínimo.

    3. “Scans não dão prejuízo”
    Novamente, não há dados que comprovem isso. Mas há dados, sim, que comprovam que a maioria das pessoas que consomem scan não consomem os volumes físicos. Numa pesquisa do site Baka Updates (um site imenso da categoria), ao serem perguntados qual a forma principal de consumo, 7% respondeu via compra de mangás físicos, 91% respondeu que baixava ilegalmente ou lia via scanlators e leitores. Isso significa que se não houvesse scans, os 91% todos consumiriam? Não. Mas o ponto é: Quantos passariam a consumir? Qualquer resposta acima de 1, que sejam 3 pessoas dos 91%, já indica que sim, scan é um prejuízo nesse aspecto, roubando 3 leitores em potencial.

    Em outra pesquisa, foi perguntado como você compra seus mangás, 30% disse nunca ter comprado um. Este não é um número baixo, 1/3 dessa plataforma imensa NUNCA comprou um volume sequer. Uma terceira pesquisa perguntou quantos mangás eram comprados por ano, surpresa, 51% selecionou de 0 a 10 volumes; mais uma prova absurda da completa falta de consumo.

    4. “Scan é uma forma de propaganda”
    Essa é quase que 100% falsa. Pode ser sim, para um grupo reduzido de pessoas, mas a realidade é que a grandíssima maioria das pessoas que consomem scan não compram mangás (ver números acima). Scans só podem ser chamados de propaganda se gerarem venda, o que claramente ocorre de forma muito reduzida.

    Da mesma forma, é possível ver o quão falho é essa lógica quando notamos que algumas séries, que fazem um sucesso absurdo na internet, nunca são licenciadas no Brasil. Se a causa-efeito fosse de fato que scans são a fonte de popularização e que mangás oficiais dependem disso, você veria uma ligação direta entre visualizações em leitores online/downloads e vendas no Brasil. E isso não ocorre, é claro que há coisas em comum, mas igualmente há vários super bem visualizados que nunca pisaram no Brasil e outros que nunca nem foram traduzidos, nem mesmo para o inglês.

    5. Comentários finais
    É importante considerar que os dados acima refletem uma comunidade internacional, predominantemente de americanos e outros países de língua inglesa, há a possibilidade, por mais improvável que seja, de que a realidade brasileira seja completamente oposta. Cada país é uma realidade e cada cultura vê a pirataria de forma diferente. No Brasil temos o “jeitinho brasileiro” de tirar vantagem e em geral pirateamos muita coisa, desde música, filmes, séries, jogos e programas, até produtos falsificados e cópias baratas. E isso não é coisa de gente pobre. Galera compra Apple e usa jailbreak para poder baixar app pirateado. É quase um estilo de vida, quem paga é otário, quem sonega e pirateia é esperto. Então a probabilidade dos resultados darem que no Brasil os leitores fazem questão de comprar se possuem dinheiro para isso é baixíssima.

    No Japão, onde há menor pobreza e onde mangá é mais barato, chegou-se na conclusão de que o problema não é falta de dinheiro ou acesso, é uma escolha de consumo diferente. Quem lê scan os lê pois prefere essa forma de consumo (leitores online, produto digitais). Editoras responderam a isso e ano passado pela primeira vez na história os digitais venderam mais que os físicos, que claramente comprova esse desejo de mudança de mídia. Agora editoras estão criando coisas como os leitores online, os “Netflix” de mangá. Tentando aumentar o acesso e a variedade de formas de consumir, não muito diferente do que aconteceu com outras mídias, que sofrem do mesmo “mal”. Uma empresa coreana até monetizou e oficializou o próprio scan, tendo uma plataforma de scan oficial, traduzida por fãs, mas cujos ganhos vão para autores e donos de direitos.

    Não existe, até onde sei, nenhuma prova de que scans beneficiam os mangás oficiais, até porque a maioria dos dados apontam que se trata de dois grupos de consumidores totalmente diferentes, com o grande diferencial de que scan não trazem qualquer retorno financeiro, logo são “prejuízos” pela ausência de gerar algo. Mas também não há qualquer prova que a extinção de scans traga lucro algum para a indústria de mangá, pelo mesmo motivo. A verdade, ao que tudo indica, é que pirataria é um fruto de constante redescobrimento de formas de consumir que a indústria de mídias não consegue acompanhar no mesmo ritmo, assim sempre tendo “prejuízo” por não estar ganhando em cima desse novo consumo.

    Conclusão, não adianta demonizar a pirataria, é uma questão complexa que não se encaixa no simples certo ou errado. Mas, também, vamos parar de ficar inventando desculpas de como a pirataria na verdade faz bem e gera dinheiro para as empresas. Mesmo que gere algo, jamais será próximo do valor “devido” se todos que consumiram obras piratas pagassem o preço e não chega nem perto do que é gerado aos terceiros (através de doações, propagandas e outras monetizações) que se aproveitam o dinheiro fácil da nova moda sem pagar nada aos autores. Da mesma forma, temos que reconhecer que pirataria não auxilia ou ajuda de forma alguma os autores que vivem dessas obras, pois eles não vivem de fama, vivem de cópias vendidas.

  • Guilherme ferraz

    Concordo parcialmente com a autora, a pirataria mesmo que prejudicial em muitos aspectos, ajuda com a divulgação da obra em diversos países, concordo que se você gosta de uma obra deveria comprar quando lançar fisicamente. É claro que existe uma grande diferença de preços de obras lançadas no Brasil e no exterior, além da falta de tradução, sou obrigado muitas vezes ter importa como livros, mangás, e novels.
    Além de que no meu caso me incentivou a estudar o inglês para poder ler as obras.
    O que eu não consigo suportar e o fato de quem ler em scans, e chamar a obra de lixo, e continua lendo toda semana.

  • Hikari

    Se estiver disponível no Brasil, eu compro. Senão eu pirateio. É a minha filosofia para isso – não vou ter paciência de esperar dois ou três anos para lançarem algo tipo Bloom into You no Brasil.

  • FABIO RATTIS LIMA

    eu justamente compro, para ajudar os autores que gosto. e tbm pra sair um pouco da frente do computador, e ler algo em minhas maos. ^.^

  • Ken-Oh

    O complicado é q ela abordou uma fatia muito pequena do assunto e sabemos como esse assunto abrange pontos muito maiores.
    Ela só fixou no efeito de medio prazo nela, mas por exemplo se Gangsta só veio parar aqui no Brasil e ela e a editora tiram uma grana, foi por conta desse alcance ilegal e creio q o crunchroll tbm.

    Logicamente tbm n vamos tentar aliviar algo errado como é a pirataria, o correto é mesmo após consumir a obra em scan o fã adquirir o produto, principalmente pq é o trabalho do autor e ainda tem o bonus de q isso ajuda o autor estender a obra.

    Agora é foda o público japonês apelar pra isso, porra a obra sai em dia lá, já q obviamente é originaria de lá. Então pq caralhos procurar o scan ? Ae realmente é má fé dos caras.
    Eu tenho o hábito de ler scan, mas utilizo mais pra obras q nunca virão pra cá ( Gintama por exemplo) e os poucos q leio q são publicados aqui faço questão de comprar. Infelizmente a crise tem dificultado bastante, mas os importantes ainda consigo.

  • Minha opinião: ela está equivocada em tudo que disse!
    Se ela realmente quer aumentar a receita de sua obra, tem que desburocratizar o mercado, se não me engano a cada x número de edições publicadas no Brasil tem que fazer um novo contrato o que torna mais caro e mais burocrático de se publicar no Brasil.
    Já as scans nada mais são do que um grandes divulgador dos mangás, uma vez que nenhuma editora investe em propaganda, de onde você acha que vem o número cada vez maior de leitores no Brasil? Se hoje a Panini pública mais de 20 títulos por mês ela deve isso as scans.
    E quem disse que scans dão prejuízo? Um dos mangás mais “pirateados” internet a fora é o Naruto, e também é um dos títulos mais vendidos sendo que foi republicado umas três vezes por aqui, coincidência?
    Quem lê scan e não compra o mangá impresso o faz por um motivo: falta de condições econômicas! Logo esse leitor não compraria a obra licenciada mesmo que o site de Scan fechasse.

    • Roses

      Isso é incorreto, essa burocratização que você está citando está equivocada. Não é uma questão nem com mangás, mas a prática de licença. A licença é um documento que rege um acordo entre duas empresas diferentes, onde se negocia a transferência ou “aluguel” de direitos. Basicamente, a editora brasileira quer lançar no Brasil One Piece, por exemplo, é feito e assinado um documento que rege os direitos que a editora Panini terá, as obrigações e custos. Esses documentos são precisos, com informações como volumes contemplados, formas da mídia, etc. Toda vez a editora (qualquer uma das duas) quiser mudar algo do documento, é feito um renegociamento desse contrato. Então se a Panini quiser lançar em formato digital, é renegociado, para se adquirir os novos volumes, é renegociado. Em outras palavras, o documento é atualizado e reassinado.

      De forma alguma isso é um trabalho feito do zero ou um novo contrato, nem muito menos encarece absurdamente os mangás. Essas editoras sabem que haverá novos volumes, logo os contratos já preveem essas emendas. É como um contrato de aluguel, existe uma validade, regras, acordos, limites, custos, e há também regras que já preveem que o inquilino possa estender o tempo inicial de 1 ano (geralmente esse é o padrão) e as atualizações no preço e ações que devem ser tomadas. Vamos lembrar que essas editoras japonesas licenciam coisas há anos e para centenas de editoras, nesta altura do campeonato podemos assumir que são contratos eficientes e adequados para essa realidade de renegociações.

  • Dá pra compreender o lado dela, só que se a pirataria não fosse tão grande, talvez o mercado de mangás no Brasil não tivesse crescido tanto.

    É verdade que os autores de shonen de batalha (superpopulares) são os que mais lucraram com a pirataria por conta da propaganda gratuita que fez tanta gente implorar às editoras brasileiras que os trouxessem. Esse Gangsta, nunca vi e nem li e só ouço falar.

  • Nikola

    Olha, eu sempre comprei os titulos que gosto, mas, depois de ter problema com o volume 13 de Berserk, precisei recorrer a scans. Tem que levar isso em consideração também e olha que a um tempo atrás eu descia a lenha em quem lia por scans e não comprava determinado titulo (coisa que faço mais para incentivar e ajudar o autor e a editora porque felizmente minha renda permite isso) mas depois dessa experiência com berserk é um pouco complicado criticar scans. Aliás, notei que isso não é exclusividade de um único titulo…

  • netin

    A velha polêmica…

    EU particularmente acho no mínimo anti-ético publicar e ler mangás por sites piratas, mas vai da consciência de cada um. O leitor acima disse que lê mas compra, acho que tá ‘valendo’, o problema é quando lê e depois vem soltar um “Ahh, tão lançando isso só agora?? Já li faz tempo otários”.

  • Mario

    Dependendo de mim ela pode ficar tranquila, não gosto de ler scans, só leio mangás publicados, além da leitura no papel ser muito melhor do que ler em tela.

  • Francine de Matos

    Eu leio scan e todos os que li e foram publicados nas terras tupiniquins comprei para incentivar a obra. Não estou querendo defender a pirataria contudo é importante lembrar que muitas vezes uma obra, seja ela literária ou de qualquer outra espécie, possui uma grande reconhecimento somente quando é disponibilizada em inglês, de modo que de outra forma aquela obra sequer seria conhecida, afinal uma ínfima parte do que é produzido no mundo, seja manga, novel ou webtoon, é traduzido para inglês, e uma parte menor ainda para português.
    Não posso falar muito sobre o mercado editorial propriamente porque não o conheço, mas imagino que se as editoras japonesas disponibilizassem, mesmo que e-books, em inglês das obras publicadas que possuem alguma visibilidade, certamente teriam um mercado em potencial bastante vasto. Eu por exemplo não veria problema algum em pagar alguns dólares por um manga que eu me interesse, principalmente joseis e seinens, em que nosso cenário brasileiro é um tanto quanto deficiente.

    • Victor Lucas Brito de Andrade

      Esse é um caminho que ainda não foi trilhado pelas editoras Japas, é muito mais barato e rentável pagar um tradutor e letrista e lançar tudo em versão internacional no digital, mas isso barraria em licenças que já são internacionais e que faturam muito dinheiro para muito estrangeiro, que por sua vez também fez sua parte com logística, impressão, marketing, distribuição, etc. Recentemente alguns jogos japoneses e chineses tem sido lançados com suporte ao inglês, e muito estrangeiro esta comprando direto deles peals lojas virtuais, coisa que nunca aconteceu antes justamente por falta de acordo dos distribuidores donos das licenças fora so japão. Só não sei até que ponto isso é ou não sustentável e o quanto chega para os autores originais.

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