Resenha: Children of the Sea (volume 1)

Antes tarde do que mais tarde…

Volta e meia aparece no Brasil algum mangá mais desconhecido do grande público que logo chama a atenção e nos faz querer conferir para ver se ele é tão bom quanto parece. É claro que existem mangás desconhecidos e mangás desconhecidos: alguns não passam de títulos ultraconvencionais que apenas não tiveram a sorte e a competência de se tornarem famosos, enquanto outros são obras de grandes mestres da narrativa. Children of the Sea pertence a esse último caso.

Anunciado pela Panini em dezembro de 2017, o mangá era uma das obras mais conhecidas de Daisuke Igarashi e as pessoas que a conheciam (poucas, na verdade) diziam que ela era muito boa e indispensável para os fãs de quadrinhos japoneses. Completo em 5 volumes com média de 300 páginas por edição, Children of the Sea começou a ser publicado em meados de 2018, mas o preço elevado, R$ 32,90, assustou demais e ele acabou relegado por mim e muita gente.

Children of the Sea #01. Foto: Panini Mangás.

No fim de 2018, porém, acabei ganhando o primeiro volume, li a obra e agora – já perto do mangá ser concluído no Brasil – venho dar minhas impressões iniciais sobre o título. Será que vale a pena de verdade?

  • Sinopse Oficial

“Eles foram criados por dugongos”. Nas férias de verão, Ruka conhece Umi e Sora, dois meninos de origem estranha e misteriosa. Fascinados pelas crianças que nadam como se voassem pelas águas do mar, Ruka e muitos adultos estabelecem uma complexa relação com elas. Enquanto isso, um fenômeno inexplicável ocorre em vários locais pelo mundo: peixes começam a desaparecer. Tem início a aventura marinha das crianças que mexerá com os cinco sentidos!

  • História e desenvolvimento

Children of the Sea é um mangá que mistura um pouco de fantasia com um pouco de mistério, possuindo elementos sobrenaturais em meio ao “mundo real”. Na obra acompanhamos a jovem Ruka que acredita ter visto um espírito em um aquário quando era criança, porém ninguém acreditava nela. Em suas férias, no entanto, ela conhecerá dois meninos, Umi e Sora, que teriam sido criados por animais marinhos chamados dugongos e, por conta disso, precisam sempre estar em contato com a água. Com eles, Ruka descobrirá que o espírito que ela acreditava ter visto era sim muito real e os dois podem ter alguma coisa a ver com isso.

Ruka. Foto: Blog BBM

O mangá ainda nos apresenta um outro elemento que se mostrará interligado a essas crianças, o fenômeno do desaparecimento maciço de diversas espécie de peixes, o que vem causando um certo rebuliço entre os pesquisadores e cuidadores. Afinal como esses animais começaram a sumir de repente, em todo o mundo, sem qualquer explicação? Eis um dos grandes mistérios do mangá.

O desenvolvimento do mangá nesse primeiro volume é impecável para uma obra que visa colocar elementos sobrenaturais em um mundo “normal”. Ele vai apresentando uma vida cotidiana, comum, como se nada tivesse acontecendo e aos poucos vão sendo adicionados os elementos estranhos, esquisitos, que irão formar a “fauna sobrenatural” da história, os peixes começando a desaparecer misteriosamente de um aquário, isso se espalhando por outros lugares, o surgimento de fogos fátuos, etc.

Umi. Foto: blog BBM

De igual modo, Ruka vai conhecendo Umi e Sora, e de tempos em tempos vão sendo descobertos coisas estranhas em relação a eles, o fato de terem sido criados por animais marinhos, de terem uma espécie de doença, o brilho que eles parecem emanar em um certo momento, etc, etc. A narrativa ainda apresenta depoimentos de pessoas para um documentário em que elas falam de suas experiências com o mar que parecem sobrenaturais. No todo, a técnica narrativa é brilhante, pois uma coisa leva a outra que leva a outra, até que se chega a um momento em que tudo parece coincidir para um lugar.

Os personagens são interessantes e únicos, cada um aparentando viver sua vida normal, mas ao mesmo tempo envolto em algo que está para acontecer ou já está acontecendo, mesmo que eles não saibam disso. Nos próximos volumes, como as páginas finais deixaram ver, as coisas tendem a ficar mais complicadas.

Children of the Sea possui uma narrativa bem ágil. Embora sejam 300 páginas, elas passam voando sem que você sinta de tão bem feita que é a história, a utilização dos quadrinhos, etc. Há, porém, quem ache o ritmo arrastado, mas decerto isso é só porque a pessoa não está acostumada com o estilo do autor ou não entendeu a proposta do mangá.

De modo geral, porém, Children of the Sea tem tudo para agradar aqueles que gostam de uma boa história sobrenatural, que fala sobre a natureza, sobre a humanidade, etc. Pois é isso que você irá encontrar em Children of the Sea uma narrativa sobre um interessante mistério acerca da natureza, um mistério acerca do mar e de tudo o que o preenche e o cerca. É uma história que aparenta não estar acontecendo nada, mas ao mesmo tempo muita coisa está sendo dita, mesmo que não seja em palavras…

  • A edição nacional

Possuindo uma média de 300 páginas por volume, a edição nacional veio no formato 13,7 x 20 cm, com miolo em papel offset, capa cartonada com orelhas e verniz localizado. Isso tudo ao preço de R$ 32,90. A edição está bem feitinha, bem maleável e confortável de ler. O tratamento dado pela editora está realmente muito bom e não tem nada a reclamar.

Em relação ao texto, ele também parece bem feito, sem erros de revisão e coisas do tipo. A leitura também é bastante fluída na medida do possível. O único demérito é a editora não ter colocado mais uma vez uma explicação para os honoríficos.

  • Conclusão

Estamos em uma época em que os preços dos mangás estão ficando cada vez maiores e acaba sendo difícil dar uma chance a um título mais desconhecido com essa nova leva de preços. Children of the Sea não chega a ser uma obra totalmente nesse estilo, visto que era desejado por uma parcela minúscula do público otaku, mas ainda assim era um título que quase ninguém tinha ouvido falar e ao ser lançado ao preço de R$ 32,90 se tornou um daqueles descartados logo de cara para muita gente.

Children of the Sea, porém, é muito bom, mantendo um clima de mistério sobrenatural interessante e apresentando uma trama coesa que se desenvolve muito bem e nos chama a querer continuar a leitura da história. O mangá de Daisuke Igarashi é uma daquelas coisas únicas que dificilmente aparecem no Brasil e que merecem, sim, sua atenção devido à qualidade da história e ao bom desenvolvimento. Se tiver dinheiro sobrando, não deixe de adquirir.

  • Ficha Técnica

TítuloChildren of the Sea
Autor: Daisuke Igarashi
Tradutor: Lídia Ivasa
Editora: Panini
Número de volumes total no Japão: 5
Número de volumes lançados no Brasil até o momento: 4
Classificação indicativa: Impróprio para menores de 14 anos
Preço: R$ 32,90
Dimensões: 13,7 x 20 cm
Acabamento: Papel offset, capa cartonada com orelhas; páginas coloridas
Onde comprarAmazon / Americanas / Buscapé / Submarino

4 Comments

  • Rafael Morais Silva

    Terminei a leitura esse fim de semana, título magnífico e deslumbrante. Voltei pra comentar pois criei interesse graças a essa resenha, e esperei uma boa promoção da Amazon pra adquirir todos os volumes de uma só vez.

  • Mateus Yuri Passos

    Olha, esse é um mangá que só melhora. Ansioso pelo volume final!

  • André Alves

    aproveitei os descontos da amazon “leve 4 pague 3” para comprar children of the sea, aguardando para leitura agora.

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