Resenha: “Wotakoi: o amor é difícil para otakus” (volume 1)

Uma comédia das boas

Em meados do ano passado, resolvi testar o serviço de streaming Prime Vídeo, da Amazon, e uma das primeira séries que assisti por lá foi um animê chamado Wotakoi – O amor é difícil para otakus. E eu adorei. Era uma típica comédia que eu ficaria vendo e revendo sempre de tão bom que era.

Naturalmente fui pesquisar sobre a obra original e eu fiquei triste ao saber os dados do mangá que deu vida ao animê. Wotakoi começou a ser publicado no site Pixiv e foi lançado em formato impresso pela editora Ichijinsha. Ele é categorizado como um mangá da demografia josei, ou seja um título originalmente destinado ao público feminino adulto.

Wotakoi #01. Foto: Panini Mangás

Saber que Wotakoi era um mangá josei foi entristecedor, pois quase nunca as editoras brasileiras lançam mangás dessa demografia, de modo que diversas histórias muito boas e interessantes acabam ficando pelo caminho. Daí que foi uma enorme surpresa quando a Panini anunciou o mangá no final de 2018. Não era algo que eu esperasse que acontecesse. Só para se ter uma ideia, desde 2014 não se começava a lançar uma série (mangá de mais de um volume) josei aqui no Brasil.

Fiquei feliz com o anúncio e decidi colecionar independente do preço que fosse custar. Wotakoi começou a sair em nosso país em fevereiro e ganhará um tomo novo a cada dois meses. Lemos o primeiro volume e viemos dar nossas impressões sobre o título.

  • Sinopse Oficial

Apesar de Narumi Momose esconder seu gosto por histórias yaoi, seu namorado descobre tal hobby e termina o relacionamento. Para renovar sua vida, ela decide mudar de trabalho e lá acaba encontrando seu amigo de infância, Hirotaka Nifuji, um viciado em vídeo games, que por pouco não revela o segredo de sua amiga. Então, ela decide sugerir um plano para que ele nunca mais fale sobre o assunto, mas não contava com uma contraproposta: por que não começarem a namorar? Obcecados por seus interesses pessoais, será difícil para eles manterem um relacionamento.

  • História e desenvolvimento

Se você reparar bem, a maioria dos mangás publicados no Brasil têm adolescentes como protagonistas. Os que não são assim, em sua maior parte apresentam protagonistas adultos em mundos de fantasia ou futurísticos. São poucos os mangás que temos protagonistas vivendo a vida de adultos.

Wotakoi é um dos mangás pouco usuais por aqui que colocam adultos como protagonistas, vivendo a vida de adultos normais. Ou nem tanto. Wotakoi, na verdade, é um mangá de otakus, sendo otakus. Eles trabalham, ganham seu dinheiro, vivem sua vida adulta e responsável, mas mantém os seus hobbies vivos.

Narumi desenha dojinshis e os vende no Comiket. Hirotaka vive jogando. Hanako, supervisora de Harumi, gosta de cosplay, e Kabakura, namorado de Hanako, é aquele que vive lendo mangás e vendos animes da moda. Todos trabalham na mesma empresa e são amigos pelas otaquices, saindo juntos para beber, visitando a casa de um deles, etc.

A história centra-se mais na vida de Narumi e Hirotaka, amigos de infância que se encontram no trabalho após muitos anos sem se ver. Ela busca esconder de todos o fato de ela ser uma otaku para viver uma vida normal e não ser ridicularizada pelos colegas, porém logo é desmascarada pelo seu amigo de infância em seu primeiro dia no novo emprego.

Narumi sendo desmascarada. Foto: Blog BBM.

A sorte de Narumi é que seus colegas de trabalho eram todos otakus também, o que permitiu que ela não precisasse mais esconder o seu hobbie. O problema é que ela escondia isso até de seus namorados e o últimos deles, inclusive, a abandonou assim que descobriu a paixão da garota por yaoi. Narumi passaria a vida toda assim? Como não esconder mais seus gostos? Simples, namorando um otaku. Hirotaka ressurgiu em sua vida e os dois começaram a namorar.

Entenderam, jovens otakus? É assim que se pede em namoro nos dias de hoje. Foto: Blog BBM.

Apesar do mangá ter como premissa o amor entre os otakus, Wotakoi é uma obra que se centra na comédia. Você irá rir das mais diversas situações que acontecem, como Narumi não sabendo a cor da calcinha que está usando (gerando mal entendidos), Narumi chorando por Sailor Moon e sendo repreendida por Hirotaka (que acaba chorando por Sailor Moon também^^), Hanako procurando pornografia na casa de Hirotaka, brigas, metaficção, etc. Wotakoi é uma comédia pura e simples, daquelas mais divertidas.

Você já viu uma pessoa tomar banho em apenas 3 páginas? Rs. Foto: blog BBM.

E é isso o que você deve esperar do mangá. Embora vez ou outra exista uma discussão acerca do relacionamento dos personagens, o mangá não é um romance convencional, ele é uma comédia e praticamente tudo é feito para gerar humor e tirar um sorriso da boca do leitor. E isso, meus amigos, Wotakoi faz muito bem.

É importante destacar que como o mangá fala de otakus e para otakus, referências diversas aparecerão. Além do já citado Sailor Moon, você verá nesse primeiro volume referências a Dragon Ball, Macross, e a eventos tipicamente otakus como o também já citado Comiket. Ou seja, para além da comédia, o mangá agradará muito quem gosta da cultura otaku, pois você verá o comportamento deles, o que eles fazem no Japão, etc.

-O estranho e a diferença

Wotakoi possui uma estruturação de narrativa diferente, muito parecida com os quadrinhos 4-koma. Isso é, uma dada coisa acontece em um número reduzido de páginas, ela se conclui ali e já começa uma nova história, em um outro dia ou horário. Ao final da página, há até mesmo uma espécie de “título” para aquela situação, também muito parecido com os quadrinhos 4-koma.

O fato desses “micro-capítulos” dentro dos capítulos serem tão curtos é algo que ajuda no humor e no desenvolvimento do mangá. Então por ser um mangá de comédia, você pode até sentir a diferença em relação a outros mangás, mas dificilmente sentirá um estranhamento muito grande, pois é essa estrutura que ajudará você a achar graça no mangá.

  • A edição nacional

A edição brasileira foi publicada no formato 13,7 x 20 cm, com miolo em papel offwhite e 128 páginas no total, sendo 8 delas coloridas. A edição ainda contou com um postal de brinde. Isso ao preço de R$ 16,90. De modo geral, o acabamento é satisfatório. O papel é bom para a leitura e é possível folhear o volume muito bem e sem percalços. O maior demérito é a questão das páginas coloridas serem também em offwhite. Esse papel não destaca bem as cores, de modo que fica um tom meio estranho e não me agrada muito.

Em relação ao texto, ele também é satisfatório, na medida do possível. A leitura é bastante fluída, mas a editora mais uma vez não colocou notas de rodapé, nem glossário para explicar os honoríficos, de modo que se esse fosse seu primeiro mangá e não conhecesse nada da cultura japonesa, você não iria saber o que eles significam. Por outro lado, a empresa explicou diversos outros termos – alguns mais lógicos e compreensíveis do que os honoríficos – e isso não fez muito sentido para a gente. Por exemplo, qual o sentido de explicar que ainda é comum usar fax no Japão e não explicar o porquê de Hirotaka chamar Narumi algumas vezes de “Narumi-don”? (a gente nunca viu esse termo. É alguma variação de “domo”?).

Como Wotakoi é um mangá de otakus e para otakus a gente até poderia entender que a empresa estava destinando essa obra para os hardcore, mas lá no meio tem a editora explicando coisas extremamente básicas como “moe”. Ou seja, não falar nada sobre honoríficos foi só uma escolha para lá de contestável por parte da editora.

“vivam” onde deveria ser “viviam”. Foto: Blog BBM.

Sobre a revisão de texto, ela ficou relativamente estável, mas deixou passar o erro acima. Ninguém morreu por causa disso, não é algo grave, mas não deveria acontecer de jeito nenhum.

  • Conclusão

Wotakoi é realmente uma comédia das boas. A adaptação em animê já tinha nos mostrado isso e agora o seu original vem para confirmar. Se você gosta de um mangá descompromissado, para ler e rir nos momentos de descanso, Wotakoi é um título imperdível para você.

  • Ficha Técnica

TítuloWotakoi – O amor é difícil para otakus
Autor: Fujita
Tradutor: Karen Kazumi Hayashida
Editora: Panini
Número de volumes no Japão: 6 (ainda em andamento)
Número de volumes lançados no Brasil até o momento: 1
Classificação indicativa: 16 anos
Preço: R$ 16,90
Dimensões: 13,7 x 20 cm
Acabamento: Papel offwhite, capa cartonada; páginas coloridas
Onde comprarAmazon

7 Comments

  • gosto muito da obra mas não achei o mangá em nenhuma banca. isso que eu fui em várias quase todos os dias, isso nunca tinha acontecido. Será q só vendem esse mangá nas livrarias?
    Detalhe: eu moro em Brasília e sempre tive facilidade pra achar os mangás nas bancas daqui.

    • Comprei o meu em uma banca de revista.
      Moro no estado do Espírito Santo.

      Talvez não tenha chegado aí (?)

  • Gabi

    Eu estava louca por uma resenha de vocês e fico muito feliz que tenha saído.
    Estou lendo o primeiro volume beeeem lentamente, mas estou adorando. Cada página é especial e lembra muito a estrutura de One Week Friends e Hetalia. Não vi o anime, mas a história se parece muito com AgreRetsuko, um anime de vida adulta que adoro.
    Fazia tempo que não me empolgava tanto com um mangá…

  • Herbert

    Engraçado como eu assisti o anime e me diverti demais, enquanto com o mangá eu apesar de já conhecer os personagens não tive a mesma sensação e prazer ao ler, ainda que tenha esquecido algumas coisas do começo após tanto tempo do anime. Sei lá o anime me pegou ainda que eu não desse nada pra ele, já o mangá talvez pela estrutura eu sempre sinto na maior parte do tempo que está faltando algo, talvez seja o desenvolvimento e adendos que o anime fez. Essa estrutura do mangá não me faz rir pra mim o anime funciona muito melhor. Não sei se outras pessoas sentem isso também de achar o anime mais divertido que o mangá ou vice e versa, não que um seja terrível e o outro excelente necessariamente mas essas diferenças às vezes fazem uma diferença. Eu senti que o anime amplia a história e acrescenta muito no andamento da narrativa e faz uma construção melhor da piada.

  • Alexsander Luiz

    o mais ”engraçado” de tudo sobre a questão dos honoríficos, é q se eles realmente quisessem destinar o mangá a um público mais acostumado com honoríficos e com a cultura em si, eles não teriam colocado no checklist de fevereiro o selo de “ideal para novos leitores”. Nem tento mais entender a Panini, as vezes ela só queria “poupar” papel, as vezes foi imposição do Japão de q não podia ter glossário no mangá, talvez nunca saberemos… Não sabemos o q se passa na “cabeça” da Panini

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