Resenha: Morte – A Garota do Funeral Marítimo (Light Novel)

Aquele título muito esperado…

O ano era 2015. O mês, Novembro. A editora NewPOP realizava o seu primeiro evento próprio, o NewPOP Day, e na ocasião a editora realizou uma enxurrada de anúncios. Foram títulos e mais títulos, mas sem dúvida alguma a obra mais comemorada da leva foi a light novel Log Horizon. Para mim e para algumas pessoas, porém, uma outra obra havia chamado mais a atenção, era uma light novel completamente inesperada e totalmente desconhecida, mas que tinha uma premissa muito interessante, seu nome era Morte.

O tempo passou, vieram outras obras, outras light novels, inclusive, e nada de Morte ser lançada. O entusiasmo inicial foi amainando como era esperado, porém o desejo de ler a história instigante permaneceu e ficamos pacientemente esperando o momento do lançamento. E eis que agora, em abril de 2019, a empresa finalmente tirou a série de livros da gaveta e começou a publicá-la.

Morte é de autoria de Keika Hanada (que fez Fata Morgana no Yakata, adaptação de um jogo de computador) com ilustrações de Yone Kazuki e foi publicado no Japão entre agosto de 2014 e novembro de 2015, sendo concluído em um total de 3 volumes. Segundo a NewPOP, cada livro se foca em um determinado evento dentro do universo da trama, encerrando-se em si mesmo.

O primeiro tomo, lançado agora pela NewPOP, tem como título Morte – A Garota do Funeral Marítimo e o foco central é a figura de Manon, uma linda garota com olhos de cor violeta, juntamente com um orfanato ligado a uma misteriosa doença. Lemos esse livro e viemos hoje dar nossas impressões sobre a light novel e dizer se nossas expectativas foram concretizadas ou não.

  • Sinopse Oficial

Uma doença rara que atinge uma a cada dezena de milhares de pessoas, inevitavelmente levando-as a cometerem suicídio ainda na adolescência, a armadilha genética, “Morte”; um orfanato cheio de segredos e inquietações, Doceo; e um menino enviado à esta instituição, Sasha. Sasha vivia seus dias em solidão, carregando ódio pelos adultos, até que um dia, à sua frente, surge uma bela jovem chamada Manon. À medida que vai se aproximando dela, começa a suspeitar se o conselheiro de Manon, Doudou, um padrinho horripilante, não seria a causa de seus ferimentos. E a fim de salvá-la, Sasha toma uma grande decisão. Contudo, uma verdade surpreendente estava escondida por trás de tudo. Nesse cenário do orfanato, onde eles se encontram, a indesejada “Morte”, instigadora do suicídio inevitável, está à espreita. Uma história sobre laços puros, em desespero. Existirá algum milagre para este mundo?

  • História e Desenvolvimento

A narrativa da light novel se passa em uma época qualquer não identificada, provavelmente alguma década dos anos 2000. O mundo é o nosso, existindo computadores, smartphones e tudo mais. Na história, porém, há uma doença misteriosa que atinge apenas crianças e adolescentes e que as fazem cometer suicídio antes de se tornarem adultas, a enfermidade é chamada apenas de “Morte”. Trata-se de uma doença genética extremamente rara e que pouco se sabe sobre ela, mas uma vez identificada, a pessoa em algum momento tirará sua própria vida. Em alguns casos, familiares e amigos notarão mudanças com o passar do tempo, em outros os doentes podem tirar a própria vida de uma hora para outra.

Mais sobre a doença “Morte”

O livro nos apresenta alguns personagens, nos fazem sentir muita empatia por eles, porém de antemão a gente sabe que eles irão morrer. É muito interessante que mesmo sabendo o destino final dos personagens, a cada página que passa mais e mais vamos nos afeiçoando a esse ou aquele sujeito e passamos a torcer a cada instante para que ocorra um milagre e eles sobrevivam.

A doença “Morte” não tem cura, mas existe uma lenda de que há um milagre que poderia eliminá-la, mas a obra trata a possibilidade apenas como um mito mesmo, algo irreal, de modo que páginas e mais páginas passam e fica claro ao leitor de que não há como ir contra essa maldição. Os acontecimentos do livro mostram claramente que aqueles personagens encontrarão o seu fim. Um fim que pode não ser tão triste como se pensa, já que a morte pode até ser desejada por esta ou aquela pessoa.

Em Morte – A Garota do Funeral Marítimo conhecemos uma espécie de orfanato chamado Doceo que tem uma relação com a doença misteriosa. Nele, órfãos são criados com o objetivo de serem substitutos dos filhos de famílias que terão a perda do ente querido devido à “Morte”. Cada um deles é criado da maneira que os futuros pais adotivos desejam, tentando moldar até mesmo a personalidades deles, de modo que se pareçam o máximo possível com aquele ser que partirá. As crianças, porém, não sabem dessa relação do Doceo com a doença.

A figura central desse volume é uma garota chamada Manon que tem relação com uma série de fotos sobre o mar que se verá em uma das salas do orfanato, daí o subtítulo da light novel. Ela não é a personagem principal da história, mas é por ela que a obra gira e muitas situações acontecem, com alguém agindo em nome dela ou sofrendo por causa dela.

O livro é narrado em primeira pessoa e começa com a chegada de Alan ao instituto, um rapaz que conhece os segredos de Doceo, e que está ali para se tornar Sasha, uma linda garota, a pedido de uma família. Acompanhamos isso pela visão de Alan, ainda revoltado com a situação, mas nada é explicado nesse início, entretanto essa situação bizarra (um homem transformar-se em mulher a pedido de uma família) já mostra exatamente as aberrações criminosas que estão por trás do orfanato. A situação se adensa quando Alan (Sasha) tem contato com uma garota que estava sangrando devido a um corte no pulso, segundo ela obra de seu conselheiro, Doudou, conhecido na instituição dentre as crianças como um assassino.

Manon

Pelos boatos que se espalhavam no orfanato quem se aproximasse dessa garota, chamada de Manon, acabaria morto por Doudou que teria uma obsessão doentia por ela. Vendo a situação da garota, Alan tentará de tudo para que Manon não tivesse mais contato com seu conselheiro e, após uma série de incidentes, dentre elas uma morte, o rapaz se verá pronto para tomar uma atitude maior e que poderia lhe prejudicar para todo o sempre.

Doudou e sua personalidade doentia… Como Doudou passou a ter uma paixão doentia por Manon a ponto de feri-la e querê-la matá-la? Leia a Light Novel para saber…

Essa é a primeira parte desse volume. A trama vai se adensando, adensando e adensando e logo você descobre quem é o grande vilão da história ou um dos vilões. Na verdade, a light novel mostra a malvadez do ser humano em sua essência, em como você movido pela obsessão pode ser levado a um ato criminoso, apenas em benefício próprio, mesmo que algumas vezes pareça ser com o objetivo de ajudar o outro. Esse tema se mantém na segunda parte do volume e mostra de maneira mais ampla esse mote, com as pessoas por trás do Doceo sendo melhor apresentadas e deixando mais evidente a série de crimes ali existentes. Também é nessa parte que vemos os motivos pelos quais este ou aquele personagem acabaram parando lá.

Nessa segunda parte uma coisa interessante que acontece é um pouco de mudança no estilo da obra, então se você não gostar do início, talvez você seja fisgado por essa segunda parte. Na primeira, ela é quase toda uma trama de suspense, em que as coisas não são claras, quase nada é explicado e tudo o que acontece é suspeito. Na segunda parte, o clima de suspense permanece, mas agora uma história de romance começa a ser contada e perpassa a obra como um todo até o final. Uma história que de antemão você já sabe que não dará certo ou que se tornará em algo doentio, mas mesmo assim você vai acompanhando, até que um certo momento você passa a torcer para dar certo.

Manon atacando Doudou com um guarda-chuva

É necessário comentar que a doença “Morte”, na verdade, não é tão importante assim. O papel dela é servir de base para a construção da história, apresentando os personagens afetados por ela (sejam os próprios doentes, sejam pelas pessoas da família), a existência do Doceo, dentre outras coisas. No entanto, a gente não precisa saber como ela surgiu, os mecanismos que levam as pessoas a se suicidar, nem qualquer outra coisa. Tanto que isso nem chega a ser explorado na história. Há leves menções aqui e ali, mas o livro se concentra nos personagens e no modo como eles são afetados pela doença e, principalmente, pelas índole das pessoas.

Sim, pois, é a índole delas que causará os problemas, seja a pessoa pertencente ao grupo dos bons, seja ela pertencente aos maus. Não importa a situação em que esteja o mundo, o pior é sempre causado pelas mãos humanas e seus desejos absurdos, seja por dinheiro, seja por status. No fim, cabe à sorte decidir se as pessoas terão um bom lugar. Alguns malvados podem se safar, alguns bonzinhos podem ser afetados para todo o sempre, a vida nem sempre é justa, mas há rompantes de felicidade aqui e ali.

O desenvolvimento da light novel pode não ser brilhante, mas Keika Hanada consegue fazer uma história bem amarradinha e que mesmo você sabendo o desfecho mais e mais interessado você fica na trama, esperando o que vai acontecer e se haverá alguma reviravolta. A morte é algo certo, mas será que não haveria como salvar esse personagem? E aquele outro? Esse ou esse? Ele não merece uma segunda chance?

Um ponto que Hanada trabalha na obra e que se destaca bastante é  o que podemos chamar duplicidade, uma característica do livro de mostrar-se dúbio, de apresentar uma coisa e ela ter uma outra faceta. Isso é feito de formas muito distintas e que interligam a light novel como um todo. A própria existência do Doceu já mostra isso. Enquanto é uma instituição respeitada na mídia, é também ao mesmo tempo um orfanato criminoso em que as crianças são moldadas para serem substitutos de jovens que suicidarão. Os personagens também estão envoltos nessa duplicidade, principalmente os jovens do orfanato, cuja função é ser um duplo de um outro, a quem eles deverão imitar.

Só para citar um caso interessante nesse sentido, o já citado Alan está no local para se transformar em Sasha e há toda uma discussão interna sobre como Sasha deveria agir em uma determinada situação, sempre ficando latente a indagação se o modo como tal personagem age dentro de Doceu é ele mesmo agindo ou é o modo como ele foi “configurado” a ser. Claro que você verá personagens comportando-se como eles mesmo, mas ainda assim você terá uma certa duplicidade, alguém que parece bom pode não ser, alguém que é mau por natureza também pode ter atitudes humanitárias e assim por diante.

E se a obra é toda moldada nessa questão da duplicidade, de mostrar que uma coisa que parece ser uma coisa pode ser outra, será que a sinopse oficial da NewPOP destaca o que é a história realmente? E esta resenha que estamos fazendo? Será que estamos sendo sinceros e passando exatamente como é a obra ou estamos utilizando de duplos sentidos o tempo todo? Depois de ler a light novel, você duvidará de tudo!!!.

  • A edição nacional

A edição nacional veio no formato 10,6 x 14,8 cm (padrão das novels pocket da NewPOP), com capa cartonada com orelhas e miolo em papel pólen soft, com algumas páginas coloridas em couchê. Além disso, ainda veio um mini-pôster encartado (daqueles que ficam grudados ao volume), mostrando os personagens da obra. O preço R$ 26,90.

De modo geral, a edição é muito boa. Não notei qualquer diferença no papel utilizado pela empresa nessa light novel. Nas demais, a NewPOP usa o Avena e neste ela usou o Pólen Soft. São bastante semelhantes, ao ponto de eu não distinguir um de outro.

Como é costume nas light novels da NewPOP, a editora colocou uma sinopse na quarta-capa, a classificação indicativa e os gêneros ao quais pertence a obra. Acerca dos gêneros, a empresa colocou “Aventura” e “Fantasia”, mas eu não concordo com eles, acho que a editora errou. “Aventura” a gente até pode fazer um esforço grande e dizer que é passável, mas “Fantasia” não, já que não tem nada disso na obra. Eu colocaria “Suspense” no lugar, pois é isso que a obra é ao meu entender.

Ainda falando desses aspectos mais físicos, nem a capa, nem a lombada possuem a indicação de que se trata do livro 1, apenas na quarta-capa, junto ao código de barras, há essa informação. Isso se deve, provavelmente, ao fato de cada volume possuir uma história independente, com um subtítulo próprio.

Em termos de texto, o início parece meio travado, com frases muito curtas e sequências pouco usuais, parece que ficou muito literal, sem adaptações para tornar a leitura mais fluída. É algo que não costuma acontecer nas novels da NewPOP, mas esse início realmente ficou bastante estranho. Com o passar do livro, porém, o texto melhora e a leitura torna-se mais fácil e natural. Ainda assim há momentos em que a leitura fica esquisita.

Um desses momentos ocorre entre a metade e o final da obra, em que uma adaptação não foi bem feita. Não colocaremos o texto aqui, pois poderia ser spoiler, mas basicamente um certo personagem achava que um outro era uma mulher, quando na verdade era um homem. Após um acontecimento, se referem a esse segundo personagem como “ele”, dando a entender claramente que se tratava de uma figura masculina, porém o primeiro personagem não estranha a situação. Se ele achava que o outro personagem era uma mulher, ele deveria ter estranhado chamarem de “ele”. Isso ocorre mais uma vez isso e nada, até que em um momento, na mesma sequência, o personagem ouve o nome dessa “moça” e começa a entender. Não faz sentido, pois ele deveria ter estranhado desde o primeiro momento quando ouviu se referirem como um “ele”. Eu não sei como eu adaptaria esse problema dos pronomes, mas o modo como a NewPOP fez não ficou bom.

Em termos de revisão, de maneira geral ela está satisfatória, mas há um ou outro erro bem visível, uma aspas não fechada, um tempo verbal colocado errado (em um certo momento, dizem que uma personagem “era” portadora de “Morte”, sendo que o correto seria “é”), entre outras coisinhas do tipo. Ninguém morreu por causa disso, mas a gente gostaria muito que melhorasse mais.

  • Conclusão

Morte – A Garota do Funeral Marítimo é realmente uma light novel muito boa. Ela começa de forma confusa, mas vai avançando, avançando até que de repente você entende a história e não consegue parar. É uma trama que te prende de verdade, fazendo você querer saber como as coisas irão acontecer mesmo você já sabendo como irá terminar. Afinal a obra se chama Morte, não é mesmo?^^.

Apesar de o volume se encerrar em si mesmo, há coisas que ficam no ar para serem explorados posteriormente, especialmente em relação a dois personagens, um pelo qual você se afeiçoará muito mesmo com “pouco tempo de cena” e outro que você odiará. Não há necessidade de saber o que aconteceu com eles, mas é de se esperar que ao menos um apareça nos próximos volumes.

Por fim, vale dizer que essa light novel é totalmente diferente de qualquer outra já publicada no Brasil, pois ela é bem distante do estilo otaku. A obra se passa na Europa e não tem nada ali que remeta ao Japão ou à cultura pop japonesa. Em outras palavras, é um livro universal, uma obra perfeita para você apresentar as light novels aos seus amigos que não se interessam pelo mundo nipônico. Como a história se completa nesse único volume, basta ela para a pessoa ter uma experiência completa, então é uma ótima opção de presente, fica a dica!

  • Ficha Técnica

TítuloMorte
Autor: Keika Hanada
Ilustrador: Yone Kazuki
Tradutor: Tiemi Ogawa
EditoraNewPOP
Dimensões: 10,6 x 14,8 cm
Miolo: Papel polén soft
Acabamento: Capa cartonada com orelhas e pôster encartado
Classificação indicativa: 16 anos
Número de volumes no Japão: 3 (completo)
Número de volumes já lançados: 1 (ainda em publicação)
Preço: R$ 26,90
Onde comprarAmazon

12 Comments

  • Gilson

    Estava querendo começar a ler light novel a um tempo,mas não queria algo muito longo como a maioria das novels que são publicadas no Brasil, e quando a new pop anunciou essa novel de apenas 3 volumes a oportunidades caiu como luva.Apesar de não gostar do começo,pois achei a obra meio lenta e não gostei muito do Alan,mas quando chegou a segunda metade e focou no Dodou(achei o melhor pesonagem da obra),a história me fisgou e não consegui parar de ler até terminar.Ansioso pra ler o próximo volume.

  • Raquel K.

    Ótima resenha. Agora vou ser obrigada a comprar, me convenceu completamente.

  • Caio

    Tenho que comprar a nova novel de Re:zero e essa maravilha também, me Conveceu,e aliás ótimo post o de vocês

  • Diego Souza

    Eu também tinha desistido da compra mas a resenha me fez mudar de ideia novamente…Ótima review Kyon, e continue firme com as de Toradora pq a Light Novel tá muito boa!

  • Estava mesmo querendo ver uma review dessa obra para decidir comprar ou não. Achei interessante a ideia de serem volumes independentes um dos outros, isso anima em comprar um e não ter que depender da NewPOP para ler a continuação, já que a história se encerra no próprio volume.

    Vou dar uma chance.

  • Esse mes peguei as novel da Morte e de Shakugan no Shana. Primeiro vou ler a Shakugan no Shana e depois a da Morte. Só senti falta de marca pagina ou cartão postal. Vou pegar mais uma do re:Zero quando sair – Esse volume do Re:Zero é um dos que mais aguardo para ler… Overlord decidi pegar a versão fisica.

  • Kauê

    Eu tava meio assim em relação a essa novel, ia justamente esperar sair uns reviews pra ser se pegava ou não, mas só esse já me convenceu também. No entanto como cada volume é uma história em si, vou esperar as suas resenhas dos próximos (que eu espero que você faça) pra ver se continuo.

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