BBM Lista – 4 práticas “Inusitadas” de editoras estrangeiras…

… que podem soar bem estranho para nós brasileiros

O modo como se lança mangás no Brasil não é o mesmo do resto do mundo. Aqui, por exemplo, sobrecapa é considerado um “luxo”, um artigo extra, até desnecessário para muitos. Na Espanha, na França e na Argentina, por outro lado, a maioria dos mangás hoje em dia têm sobrecapa. Mesmo no Japão, sobrecapa não é algo à parte, ele faz parte do produto e todos têm.

Pensando nessa diferença de forma de publicação, a gente resolveu listar algumas práticas de editoras estrangeiras que são “inusitadas”, que vocês talvez acharão estranho ou até mesmo desejarão no Brasil.

  • Kamite e as capas em japonês

A editora mexicana Kamite (principal concorrente da Panini por lá) lança alguns mangás com capas um tanto quanto inusitadas, mantendo o nome original dos mangás, coisa impensável no Brasil e que não vimos acontecer em nenhum outro país ocidental.

“Ué, mas tanto aqui, quanto nos EUA algumas obras são lançadas com o título original”, dirão alguns. Bem, isso é meia-verdade. Os mangás com títulos em inglês ou algum outro idioma que utiliza o alfabeto costumam manter o nome original, porém com os nomes em japonês o que as editoras locais podem fazer é lançar um mangá com o nome romanizado (isto é, passando do japonês para o alfabeto romano). Assim, o mangá ハイキュー!! se transforma em Haikyuu em alguns países. O que a Kamite faz é diferente, ela lança o mangá com o nome original, com os caracteres em japonês. Vejam abaixo algumas capas.

Como vocês podem notar há até uma romanização em tamanho menor, mas o que se destaca, o que chama a atenção é o título em japonês. A romanização, com exceção do Sankarea, não foi nem a editora mexicana que colocou, ela vem da versão original nipônica. Ou seja, em alguns mangás a editora usa a capa japonesa e apenas coloca o seu logotipo (ou nem isso). Não são todos os mangás que a empresa faz isso, porém. Alguns ela faz conforme prática normal, traduzindo o título, utilizando o nome da marca internacional, etc.

Pelo que a gente pesquisou, porém, nesses mangás com o título em japonês, a empresa costuma colocar uma faixa de propaganda com o nome da obra para vender. Por exemplo, em O Cão que Guarda As Estrelas há até o nome traduzido em destaque, porém em Sakura a faixa não dá tanto destaque assim.

De todo modo, ainda acho um pouco surreal pensar que alguns mangás são lançados com o título em japonês. Aqui no Brasil, o máximo que tivemos foi a editora Darkside Books colocando o nome de forma muito discreta na capa de A Menina do Outro Lado, ainda assim foi feito todo um trabalho na capa, alterando todo o original, o que não foi o caso dessas versões mexicanas.

Além das obras acima, a Kamite publica diversos outros mangás interessantes no México, como Guerreiras Mágicas de Rayeart, Clover (do CLAMP), Aku no Hana, entre outros.

  • J-POP e o Aviso da Tradução

Depois de vermos uma editora mexicana mantendo o título original em japonês, agora veremos uma editora italiana que explica o processo de tradução de seus mangás e light novels. Se você pegar qualquer obra da editora J-POP, verá logo no início de boa parte delas uma espécie de glossário explicando a romanização escolhida, o modo como você deve ler as palavras, etc. Se você for na Amazon Itália e pesquisar pelos títulos em formato digital poderá ver na prévia coisas assim. Vejam um exemplo:

Re: Zero – Livro 1 (Light Novel). Fonte da Imagem. Amazon Itália

Notem que a editora explica até mesmo o modo como os nomes são grafados (parágrafo final), seguindo o modo normal italiano em que o nome vem antes do sobrenome (ao contrário do japonês em que o sobrenome vem primeiro).

Esse é um excesso de zelo bem interessante e algo completamente pouco usual no Brasil. A gente já viu vez ou outra a explicação de uma tradução (ou falta dela) em meio aos mangás, mas dedicar uma página inteira para falar do sistema de sons e o modo como foi escolhido romanizar é algo que não cheguei a presenciar em nenhum mangá ou light novel nacional.

Não é algo que eu ache necessário, mas também não me desgosto da existência disso. Se alguma editora brasileira tivesse essa preocupação com o leitor novato, eu elogiaria a atitude.

A J-POP publica light novels famosas como Re: Zero, Sword Art Online e Danmachi, inclusive em formato digital. Nos mangás, ela detém títulos como Tokyo Ghoul, Pokémon e diversos outros. É uma das três grandes editoras italianas desse ramo, ao lado da Panini e da Star Comics.

  • O primeiro volume a preço promocional

É bastante comum no Brasil diversas coleções começarem com o volume 1 a preço promocional, seja quadrinhos como o Príncipe Valente, recém lançado pela Planeta DeAgostini, sejam outros itens como figures, miniaturas, etc. Nos mangás, porém, é algo raro de acontecer e, geralmente, quando acontece o valor promocional é bem próximo do real, tipo Bestiarius, cujo volume 1 saiu a R$ 15,90 e o 2 foi a R$ 16,90.

Em outros países, no entando, preço promocional do primeiro volume é preço promocional de verdade. Na Espanha, por exemplo, a editora Norma lançou os dois primeiros volumes do mangá Akatsuki no Yona pela metade do preço. Na ocasião, a empresa deixou claro que era preço de lançamento, então se a obra fosse reimpressa viria custando o valor normal. Ainda na Espanha, a Planeta deAgostini todo ano faz uma promoção chamada Promo-Shonen (ou Promo-Manga) em que volta a vender o volume 1 de diversas séries a preços baixíssimos. Já comentamos sobre isso em uma postagem no passado (clique aqui para ler).

Ainda nesse tópico de promoção do volume 1, a Itália também não fica atrás e vez ou outra aparece um mangá sendo vendido a preços baixíssimos. Não muito tempo atrás, por exemplo, o mangá Ataque dos Titãs teve o volume 1 relançado no país com uma capa nova e saindo a apenas 1 Euro ( o preço normal dos mangás é acima de 4), também comentamos sobre isso aqui no blog (clique aqui para ler).

Esses são apenas alguns casos, mas existem vários nos diversos países em que se publicam mangás. Sem dúvida, qualquer um desses exemplos seria muito bem vindo por aqui. Eu adoraria comprar o volume 1 de Ataque dos Titãs com uma nova capa e saindo a 1/4 do valor de capa (o que daria uns 4 reais pelo preço atual da edição brasileira). Também seria muito legal comprar o volume 1 de uma série já com 50% de desconto independente do lugar em que eu morasse, etc. Mas isso é algo bem utópico. Não vejo chances de algo assim acontecer no Brasil.

  • Editoras francesas e os ebooks de graça

Para terminar o post e ainda nesse tópico de preço promocional, recentemente a gente viu a JBC vendendo alguns de seus ebooks com 50% de desconto em todas as plataformas em que atua. Achei algo sensacional e que eu espero que se repita mais vezes. Os mangás digitais em língua portuguesa ainda são coisa nova por aqui e essa foi a primeira grande promoção que vimos. Infelizmente, eu não pude comprar nenhum, pois nenhuma das séries eu estava colecionando fazia parte da promoção. Quem sabe da próxima, né?

É claro que como todo bom consumidor de mangás eu nunca estou satisfeito e quero mais e mais. No caso eu gostaria de uma promoção em que um determinado ebook seja distribuído gratuitamente. Volta e meia acontece na França algum evento e as editoras locais que lançam mangás digitais costumam colocar o primeiro volume de algumas séries totalmente de graça. Os seguintes também ficam a preços promocionais, tornando mais atrativo a compra. É uma forma realmente de dar um bom incentivo para o início de uma nova coleção.

Não é algo exclusivo da França. Já vimos acontecer coisas assim nos Estados Unidos. Os dois países são grandes centros de consumo de quadrinhos, então o que a gente pode desejar é que o nosso mercado cresça, ao ponto de alguma editora local conseguir fazer uma promoção dessas, em que poderemos adquirir o primeiro volume em ebook sem pagar nada por isso.

Na última promoção que vi na França, adquiri o primeiro volume de Après la Pluie (After Rain) e Le Pavillon des Hommes (Oooku) ambos da editora Kana. Infelizmente ainda não consegui ler, pois o meu francês ainda é risível de tão fraco. Consigo ler notícias sobre mangás apenas porque usam palavras e sintaxes muito parecidas entre si, então não existe muita dificuldade e quando há, não é nada que uma pesquisa rápida não resolva. Agora ler um mangá… isso é bem mais difícil pela minha falta de vocabulário e contato maior com a língua, mas eu chego lá.


Você conhece alguma outra prática “inusitada” de editoras estrangeiras? Deixe nos comentários aí para a gente saber :).

20 Comments

  • Victor Lucas Brito de Andrade

    Achei muito interessante incluir o processo de romanização no manga. Seria muito interessante, embora fosse gerar uma discussão e reclamações intermináveis para as editoras. Imagino que isso foi deixado de lado no nosso pais, primeiro pelo motivo anterior, mas também pela proximidade fonética que temos com a romanização inglesa, que misturamos ao misturar com a nossa própria leitura tônica fica bem próximo ao japonês, ao pé da letra deveria ser revista, nossas réguas de acentuação, por exemplo, são diferentes o que deixa muitas palavras com a leitura incorreta (assumindo que o propósito seja reproduzir a tonicidade original), mas não vai e com o processo atual vamos ficar cada vez mais presos ao chama do nome internacional™, é engraçado como isso mexe com a tradição e foi mudando sem nem percebermos. A forma como recebemos esse material, via TV inicialmente criando o padrão próprio, temos uma geração Sakúra card captor, e outra geração Sákura de Naruto exigência da base de fãs. O Keitarô que foi citado no outro comentário é mais um dessa lista, acaba que é uma escolha de tradução, mas reflete também nossas preferências. No francês isso deve ser mais sério, pois a acentuação é essencial para expressar a pronuncia adequada, literalmente não da para ler ser a existência dela, e talvez diferente de nós eles se importem mais com a gramática e a própria língua e inclusão de estrangeirismos.

  • Muitas editoras francesas disponibilizam os primeiros capítulos de suas obras gratuitamente para os leitores. Essas promoções de descobertas tão são frequentes por lá, geralmente são dos dois primeiros volumes de uma obra pelo preço de um ou o primeiro volume possui um preço promocional, eu vi isso acontecendo bastante com shoujos…não me lembro a editora agora.
    O/

  • Eu já vi várias editoras francesas deixando o primeiro capítulo digital das obras gratuita para que os consumidores conheçam a obra.
    Existem promoções de descoberta por lá também, geralmente são os dois primeiros volumes pelo preço de 1.

  • Sindaatarien

    Seria mesmo maravilhoso se tivéssemos no Brasil, o mesmo tratamento que outros países dão aos mangás! Mas parece que as editoras aqui ainda estão engatinhando nesses quesitos…

  • SIRIUS BLACK

    Honestamente, eu não sou nada fã da sobrecapa por dar mais trabalho pra conservá-la e mantê-la intacta por ser um material mais frágil do que o próprio mangá, e que é a sua identidade. Contudo, eu sou radicalmente contra a idéia do mangá com sobrecapa ser considerado um artigo de luxo, visto que qualquer mangá ordinário e medíocre no Japão vem com ela, sem exceção. Ver isto como um artigo de luxo só têm servido pra encarecer ainda mais o mangá, e por isso mesmo eu a considero extremamente dispensável.

    Achei a prática das editoras estrangeiras, no mínimo, interessante. A prática da editora Kamite agradaria, em cheio, aos puristas que detestam que os nomes dos mangás sejam traduzidos e até mesmo, romanizados.
    Sobre o aviso de tradução da J-POP, eu já vi algo parecido acontecer na adaptação do nome do Keitarô, personagem de Love Hina, em que eles explicaram as várias opções que tiveram pra adaptar/traduzir o nome dele e somente este que eu citei mais atrás é que deu certo.

  • Um detalhe interessante é que nós dois sites mexicanos que eu testei comprar, o frete só é informado algum tempo depois de fazer o pagamento dos pedidos, o que te deixa no escuro.
    No meu caso, comprei o XxxHolic #1 da Kamite por 150,00 pesos mexicanos (saiu por R$31,00 reais já com o imposto) e depois de 1 dia e meio recebi o valor do frete por e-mail. Eles trabalham com envios pelo FedEX e o frete ficou por assustadores $42,00 dólares no frete econômico. Acabei desistindo da compra pelo valor do frete, que não compensa.

    A outra loja é a https://globalcomics.com.mx/shop/category/manga-14
    Eles trabalham do mesmo jeito com relação ao frete, porém só recebem pagamentos por transferência bancária, então eu não prossegui com a compra e nem sei como funciona o frete deles.

  • Pois é, deixar o título como no original faz com que o produto não seja consumido por um novo público e se torta até algo de nicho. Não que mangá já não seja haha.

    Eu gosto de ver o nome em japonês na capa, mas acredito que o maior destaque deva ser do título romanizado ou traduzido.

    Vejam o site, sim, pois tem um acervo bem grande. Eu conheci um outro site que vende mangás do México também, mas não me lembro e não salvei o endereço/página.

  • Sempre reflito sobre muitas dessas coisas…
    Sobre os mangás mexicanos, eu conheci essa prática da Kamite na semana passada quando eu procurava mangás espanhol, em especifico os do CLAMP (como XxxHolic que me recuso comprar o meio tanko da JBC pq já passou da hora de relançar). A Kamite tem uma proposta muito firme de lançar os mangás como saíram no Japão. O XxxHolic mesmo tem até a borda das paginas coloridas como no original.
    Isso é muito legal pois traz a “experiência completa” do produto. Agora, quanto as capas sem traduzir o título, eu acho legal, mas é ruim pois na maior parte das vezes parece só preguiça, já que não existe um trabalho de edição na capa.

    Inclusive, se quiserem dar uma olhada, tem um site mexicano de mangás que é o https://www.mangabreria.com e lá tem os mangás da Kamite, Panini e até Televisa (sim, eles tem uma editora de mangás e quadrinhos em geral). Os preços são bons na conversão do peso mexicano para o real, mas o frete dá uma dor no bolso que é fogo! Até desisti de comprar, mas quem quiser…

    Enfim, eu queria muito que aqui as sobrecapas de tornassem indispensáveis nos mangás e sem serem compreendidas como artigo de luxo (o que poderia reduzir o custo se todas as editoras aderissem e se o público consumidor aumentasse), além, é claro, de termos mais promoções para primeiras edições e reimpressões seria bem legal!

  • Bruno

    Comprei o Thermae Romae 1 na Itália por 1,90 euros. O curioso é que esse preço era válido até determinada data apenas e estava numa faixa igual essa desse Cão que guarda as estrelas. O caixa ainda queria me cobrar o preço normal (acho que era 5,90).

  • Altryz

    Kyon ou qualquer outro leitor, saberiam me dizer sites onde posso visualizar as capas dos mangás? As originais mesmo. Existia um site (https://mcd.iosphe.re/) que tinha um grande acervo e funcionava muito bem, disponibilizando as capas em boa resolução, mas pelo visto ele encerrou suas atividades. Ficaria grato se pudessem recomendar sites desse tipo.

    • Você tá falando um igual a esse site aí em que tinha a capa, a lombada e a quarta-capa também? Se for isso, eu acho que não existe. A gente usava muito ele e jamais encontramos algo assim. Foi uma pena ter saído do ar.

      —–

      Se você quiser apenas a capa, existem várias maneiras de você conseguir. Vou listar algumas:

      1) Aqui no blog você pode conseguir as capas japonesas dos mangás publicados no Brasil. Algumas estão em péssima resolução, outras estão melhores. Ainda não está totalmente pronto, com todas as capas em todos os títulos, mas você pode ver cada título na nossa lista abaixo:

      https://blogbbm.com/manga/

      2) Lojas japonesas e sites das editoras japonesas

      A melhor maneira é procurar nas lojas japonesas ou nos sites das editoras. Uso muito a Amazon Japão.
      Para pesquisar é só colocar o nome do mangá em japonês (os kanjis, não a romanização).

      Para pesquisar em sites das editoras japonesas algumas vezes é até mais fácil, basta colocar o nome do mangá (os kanjis) no Google junto com o nome da editora e um dos resultados muitas vezes te leva à página do mangá. Por exemplo se você digitar “進撃の巨人 #28 Kodansha” no Google o primeiro resultado é o número mais recente de Ataque dos Titãs.

      3) Outra forma é usar as wikias, mas aí depende bastante do quão popular e nova é a série. Muitas vezes só tem capas em péssima resolução. Outras vezes nem capas têm. Para encontrar as wikias é só colocar o nome do mangá romanizado ou em inglês junto com a palavra wikia.

      4) Capas de lançamentos você também pode ver no fórum da Manga Helpers: https://mangahelpers.com/forum/threads/volume-covers-thread-part-1.2998935/page-96

      Existem outros meios, mas esses são os mais intuitivos.

      • Altryz

        Obrigado pelas sugestões, @Kyon_45 e @JMB, irei salvar esses links aqui.
        Tomara que o acervo do MCD não tenha sido perdido e que alguém retome o site.

    • JMB

      Um que eu uso bastante é o Comic Vine (que não se resume só á capas, como também tem acervo de personagens e tal). Fora que lá as capas costumam ter uma ótima resolução.

  • Mateus Yuri Passos

    Os mangás da Zarabatana tinham as capas com o texto apenas em japonês e a 4a capa em português… (ponto super fora da curva, mas achei interessante que ao menos uma editora brasileira usou essa estética da capa em japonês)

  • RPM Souza

    “Eu adoraria comprar o volume 1 de Ataque dos Titãs com uma nova capa e saindo a 1/4 do valor de capa”
    Pode esquecer, aqui já é difícil comprar a preço de capa, com desconto então…

    As novas promoções da loja da Panini Brasil são de fazer inveja no resto do mundo: meio frete grátis!!!

    • JMB

      “Meio frete grátis!!!!”

      KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

      Se tem uma coisa que as editoras brasileiras sabem fazer é nos dar motivos para gargalhadas (mesmo que depois a gente chore)!

    • SIRIUS BLACK

      Né? Qual país não queria ter pensado nisso antes e tê-la colocado em prática? É uma revolução. -q

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