O dia em que uma autora de mangás criou uma personagem autora de mangás

Inspirou-se em si mesma?

Acontece frequentemente em obras de ficção (sejam livros, quadrinhos ou obras áudio-visuais), ao ponto de se tornar tão comum que muitos já dizem tratar-se de um clichê: volta e meia aparece um personagem que é autor. Mais do que isso, muitas vezes ele é o protagonista.

Mas por que os artistas criam esse tipo de personagem? Alguns de vocês provavelmente podem pensar que é apenas porque eles conhecem bem essa profissão e não precisariam pesquisar muito a respeito, porém isso não é verdade. Colocar um autor como protagonista pode ser uma questão temática necessária para a história como é o caso de Opus.

Algumas vezes, porém, a razão é apenas a suposição mesmo^^. Em Spicy Pink, a protagonista da história é uma criadora de mangás shoujos chamada Sakura e a autora da obra, Wataru Yoshizumi, contou nos paratextos que criou a personagem apenas porque conhecia a profissão^^.

Segundo ela, como seu novo mangá seria publicado na revista Chorus (destinada ao público feminino adulto) ela achou que a personagem principal deveria estar inserida no mercado de trabalho e ela pensou que a profissão de mangaká seria a mais ideal, pois assim ela não precisaria pesquisar muito :). Só que se engana quem pensa que isso tornou a tarefa da autora mais fácil. Ela mesma foi traída por sua ideia.

Como conhecia a profissão, Yoshizumi não conseguia criar de forma livre e também não queria colocar experiências pessoais na obra, sejam elas positivas, sejam negativas. Então, ela tentou criar personagens o mais diferentes possível da realidade, para que ninguém achasse que eram inspirados em mangakás reais (na obra, além da protagonista, há outras autoras de shoujo que aparecem).

Em Spicy Pink há até uma meta-linguagem a esse respeito, quando em um determinado as personagens, todas mangakás, discutem sobre um programa de televisão que mostrava a profissão delas e tudo parecia não condizer com a realidade. É como se a autora tivesse usado a própria obra para avisar aos leitores que ficção é ficção e não necessariamente reflete a realidade. Uma bela sacada da autora não acham? Então, no fim, tudo deu certo, mas a lição é clara: nem sempre o que é fácil pode ser tão fácil quanto se pensa…

Spicy Pink foi publicado entre 2006 e 2008, sendo concluído em um total de dois volumes. No Brasil, o mangá foi lançada pela editora Panini em 2010. Hoje, a obra encontra-se esgotada na maioria das lojas.


Essa foi mais uma postagem de curiosidades em que relatamos alguns fatos engraçados e/ou interessantes que aparecem nos paratextos dos mangás. Você pode conferir todas as que fizemos neste link. Para curiosidades em geral você pode clicar aqui.

Para quem não sabe, paratextos são, resumidamente falando, elementos à parte do texto principal de uma obra. Ou seja, são os comentários dos autores, as entrevistas que eventualmente aparecem, o prefácio e o posfácio, etc. São desses elementos que tiramos as curiosidades destas postagens.

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