Resenha: Astra Lost In Space #01

Uma espécie de Planet Survival?

Estudantes que se perdem no espaço por causa de uma espécie de anomalia não é novidade, sendo a animação Planet Survival uma das mais características desse tipo de obra. Daí que quando Astra Lost In Space surgiu no Japão foi inevitável lembrar dessa animação, pois a sinopse parecia bastante com o anime dos anos 2000. Logo ficou claro que havia semelhanças, sim, mas as obras seguiam por rumos bem diferentes.

Astra Lost In Space é de autoria de Kenta Shinohara (o mesmo criador de Sket Dance) e foi publicado no Japão entre 2016 e 2017 no site Shonen Jump +, da editora Shueisha, tendo seus capítulos compilados em um total de 5 volumes. O título foi tão bem visto no oriente que chegou a ganhar o Manga Taisho Award em 2019 e, entre julho e setembro de 2019, a obra teve sua adaptação animada exibida na televisão japonesa.

Embora não tenhamos visto a animação, pelos comentários das pessoas ficou claro que, como costuma acontecer com obras da Shueisha, Astra tinha virado uma questão de tempo a aparecer no Brasil. Faltava saber por qual editora ela apareceria.

Surpreendentemente veio pela Devir, sendo o primeiro mangá da Shueisha a sair por essa empresa no Brasil. Sua filial portuguesa já publicava obras da editora japonesa desde 2012 e agora chegou a vez do nosso país.

O primeiro volume foi publicado no último dia de abril. Compramos ele, o lemos e viemos comentar um pouco sobre a obra para vocês. Será que ele faz jus ao prêmio que ganhou no Japão ou é só algo qualquer coisa? Falaremos a seguir^^.

  • Sinopse Oficial

No futuro as viagens espaciais se tornarão uma coisa corriqueira. Um grupo de estudantes do segundo grau formado por Kanata, Aries e mais 7 adolescentes está partindo para um “Acampamento Planetário” – uma excursão de cinco dias ao planeta McPa, sem a presença de adultos. Tudo parecia bem até uma grande esfera brilhante aparecer diante deles. Em um instante eles são absorvidos e voltam a aparecer flutuando nas profundezas do espaço sideral. Uma nave espacial abandonada que estava na região em que eles apareceram pode ser a única chance de voltarem para casa.

  • História e Desenvolvimento

Em 2061, a Terra não é mais o único planeta potencialmente habitável conhecido, viagens ao espaço são normais, com naves avançadas, que não precisam de combustíveis comuns, e que são capazes de voar na velocidade da luz, existindo espaço-portos em que as pessoas se dirigem para conseguir viajar. Esse é o mundo de Astra Lost In Space.

Na história acompanhamos um grupo de nove jovens que irão fazer uma viagem da escola para um certo planeta, onde deverão permanecer por alguns dias como uma espécie de teste, um acampamento em que apenas os estudantes irão permanecer. O grupo é escolhido de forma aleatória, de modo que usualmente os integrantes não se conheçam e precisem aprender a conviver um com outro.

Essa viagem é corriqueira e feita com diversas turmas, mas com esse grupo as coisas sairão de forma diferente. Após terem contato com uma esfera estranha no planeta em que deveriam ficar, eles são jogados para o espaço, a uma enorme distância de onde estavam originalmente. O que aconteceu? Que esfera era essa?

Para a sorte deles, havia uma nave por perto, mas dada a localização em que se encontravam, eles provavelmente morreriam de fome e sede em alguns dias. Seriam necessários três meses para conseguirem voltar para casa, mas dadas as condições isso seria impossível. Felizmente, alguém dá a ideia de procurarem planetas potencialmente habitáveis em que possam abastecer a nave de água e alimento e, com isso, ir seguindo viagem pouco a pouco, até conseguirem retornar. Após examinarem os mapas, eles conseguem traçar uma rota e a história então verdadeiramente começa.

Astra Lost In Space é um mangá de aventura com pitadas de humor e um pouco de drama aqui e ali. Esse primeiro volume é para conhecermos um pouco os personagens e a situação dramática em que eles se encontravam. O destaque vai para Kanata e Aries (os dois que estrelam a capa do volume) como os maiores responsáveis pelo humor da obra até aqui. Kanata é aquele cara com uma tragédia no passado e que quer ser forte, desejoso de ser o líder da expedição e tudo mais, mas acaba constantemente desrespeitado, em várias tiradas da obra. Ainda assim, ele tem iniciativa e faz várias coisas para ajudarem a todos.

Aries, por sua vez, é a personagem mais kawaii da obra, por sua personalidade avoada que causa empatia e riso. Não avoada ao estilo Mihoshi (de Tenchi Muyo), e sim mais ao estilo Sakura (cardcaptor) ou Kobato. Aries costuma não entender direito algumas situações e/ou não escutar deliberadamente algumas coisas, fala palavras erradas, etc, tudo isso contribuindo para o bom clima da obra, com o humor na medida certa e no lugar certo.

Além dos dois, outros personagens também ganham destaque como as irmãs Quitterie e Funicia, mas especialmente a primeira, em que vemos o seu passado e o modo como ela afastava as pessoas à sua volta mesmo não querendo. De resto vemos personagens legais, personagens chatos, personagens introvertidos, personagens extrovertidos, etc, formando um grande e variado séquito.

Isso não quer dizer que o mangá seja perfeito. Muitos desses personagens são aqueles “tipos”, feitos apenas para a história andar, personagens que se não existissem, a história seria mais complicada do que o autor gostaria. Nós temos o gênio capaz de pilotar uma nave e de fazer um aparelho que descobre se um alimento é venenoso ou não. Nós temos uma pessoa com visão fotográfica, uma que adora biologia e assim por diante, quase como se fossem escolhidos a dedo por alguém, por um algum ser criador^^. A obra meio que não disfarça a necessidade de ter eles.

Mas Astra Lost In Space se destaca bastante pelos ambientes apresentados. Nesse primeiro volume, eles conseguem visitar um planeta novo e encontram toda uma flora e fauna diferenciada, em que eles têm que aprender a lidar, descobrir o que é e o que não é comestível, como funcionam as plantas, etc. O autor consegue apresentar uma variedade de criaturas e plantas bastante generosa, bem ao estilo que Akihito Tsukushi faz com o seu Made In Abyss, existindo bastante do exótico e do inusual que se esperaria de um planeta desconhecido em obras de ficção.

Sobre o desenvolvimento da trama, ela é daquelas bem simples, mostrando as dificuldades e alguns mistérios. Entretanto, inicialmente parece ser apenas a aventura dos nove jovens em busca do seu retorno para a casa, com um clima ameno na maior parte do tempo, mas enigmas rondam toda a situação. O aparecimento da esfera é um deles, a existência de uma nave logo após eles serem jogados no espaço é outro, fora outras coisas que acontecem. Há um algo a mais por trás e nesse volume já vamos entendendo isso aos poucos. O que fica claro é que existe alguém que queria fazer algo com eles ou com algum deles. Será que um dos nove presentes é um inimigo? E, se é, por que é? Há alguém os manipulando e os vigiando? São cenas para os próximos volumes.

Não vimos a animação, então não sabemos como a obra se desenrola, os acontecimentos posteriores, mas esse volume em si já nos mostra algo bom, já nos faz ter teorias, e nos dá vontade de continuar a ler. Então recomendamos bastante.

  • A edição nacional

A edição brasileira do mangá veio no  formato 12,5 x 18,9 cm (o mesmo tamanho de The Ancient Magus Bride) e capa cartonada com sobrecapa. Não há páginas coloridas, mas há um mini-pôster de brinde. O preço sugerido é R$ 28,00.

Trata-se de uma edição padrão da Devir, com um acabamento muito bom, sendo bem maleável e permitindo o folheamento e a leitura do mangá sem o menor problema. O papel é algum tipo da família dos offwhites, daqueles mais “cremeados”. Não há informação do nome da marca, mas trata-se de um papel um pouco mais claro do que o usado em The Ancient Magus Bride, mas nada branco ao estilo offset, sendo bom para a leitura.

Quanto ao texto, notei algumas vírgulas má colocadas e uma preposição fora de lugar, mas nada gritante que tirasse a imersão da leitura. Quanto à adaptação, ela me pareceu muito boa, com a editora colocando diversos trejeitos para cada personagem, de modo que conseguimos distinguir vários deles apenas pelo jeito de falar.

Por fim, como é comum nos mangás da Devir, as onomatopeias são todas traduzidas para o nosso idioma, o que torna a leitura mais ágil. Alguns consumidores, entretanto, não gostam disso, mas para nós não existe problema, então consideramos o trabalho da editora muito bom.

  • Conclusão

Viajar pelo espaço e ver planetas desconhecidos, com fauna e flora intocadas e novas, é um desejo de muitos humanos que amam a exploração, que amam novidades, que desejam o desconhecido. Muitas obras de ficção terminam por satisfazer esse desejo, mostrando ambientes diversos, inóspitos ou não. Astra Lost In Space é mais uma dessas obras.

Trata-se de um mangá bem atrativo para quem gosta de aventuras, mas tendo um clima mais leve, com humor e situações que, mesmo havendo perigo iminente, podem ser resolvidas em pouco tempo. Existe uma parte de drama ao falar do passado dos personagens, mas ainda assim é leve e que, no fim, terminam por trazer um clima de tranquilidade, quando tudo é resolvido.

Astra Lost In Space é um mangá que todo mundo pode gostar, mas é especialmente recomendado para quem quer fugir daqueles mangás de batalha ou de histórias de romances, e quer focar em uma aventura mais light.

  • Ficha Técnica

Título Original: 彼方のアストラ
Título NacionalAstra Lost In Space
Autor: Kenta Shinohara
Tradutor: Arnaldo Oka
Editora: Devir
Dimensões: 12,5 x 18,9 cm.
Acabamento: Capa cartonada com sobrecapa
Classificação indicativa: 14 anos
Número de volumes no Japão: 5 (completo)
Número de volumes lançados no Brasil: 1 (ainda em publicação)
Preço: R$ 28,00
Onde comprar:  Amazon / Livraria da Travessa

5 Comments

  • Julio Correia

    Espero que venha Sket Dance depois desse… é uma obra muito boa e já passou do tempo de vir para o Brasil. Se Astra for uma porta pra isso… Seria bom demais.

  • Leonardo

    O problema da edição da Devir é a qualidade do tratamento das imagens. Parece que se perde resolução no tratamento, sei lá, é cheio de efeito moiré nas reticulas. Tem hora q parece um scan da internet. Isso acontece muito na NewPop tbm e vem acontecendo na Panini ultimamente, tem edições de Boruto que são péssimas.

  • kuattto

    É muito bom…e a história só melhora nos próximos volumes.

Comments are closed.

Descubra mais sobre Biblioteca Brasileira de Mangás

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading