Resenha: O esquecível “Tsumitsuki”

Esquecível mesmo

Talvez você não tenha percebido, mas eu gosto muito de mangás. Não apenas do ato de colecionar, de montar uma “mangateca” ou coisa assim, mas também (e principalmente) do ato de ler. Daí que toda vez que alguma editora anuncia um título mais desconhecido, um sininho começa a tocar na minha cabeça e a minha atenção acaba indo para esse mangá. Claro que isso depende do estilo da obra, mas em geral eu gosto de adquirir esses mangás sem uma bagagem de fãs.

Essas leituras de mangás desconhecidos nos fazem ter experiências diversas e, não raras vezes, encontrar boas pérolas escondidas, melhor do que várias obras famosas e aclamadas pelos consumidores. Entretanto, naturalmente também é possível adquirir títulos que são bem abaixo da média.

Hoje falaremos de um desses títulos horríveis, horrorosos e espantosos: Tsumitsuki – Espírito da Culpa.

Tsumitisuki – Espírito da Culpa é de autoria de Hiro Kiyohara e teve seus capítulos pré-publicados no Japão entre 2008 e 2009 nas revistas Young Ace e Ace Assault, editora da Kadokawa Shoten, sendo compilados posteriormente em um único volume. Foi o primeiro encadernado do autor que ficaria famoso posteriormente pela adaptação em mangá do livro Another. No Brasil, foi justamente o mangá Another (e seu enorme sucesso por aqui) o grande responsável pela vinda de Tsumitsuki.

Ele foi anunciado durante a palestra da editora no evento Fest Comix, em maio de 2014, sendo publicado por aqui em julho do mesmo ano. E o que prometia ser uma obra interessante – visto que o tema era conhecido e  do qual o autor dominava – mostrou-se como uma grande decepção.

A obra é um mangá de terror sobrenatural em que coisas obscuras acontecem com os personagens e transformam a vida deles para sempre. Basicamente, no mundo desse mangá existem seres chamados de Tsumitsukis, que seriam espécies de “espíritos” que buscam se apossar das pessoas que se sentem culpadas por alguma coisa. Esses monstros acabam, em algum momento, devorando seus hospedereiros de dentro para fora, fazendo com que eles possam se materializar e sobreviver. Para piorar a situação, os seres humanos que se deixam ser “capturados” por Tsumituskis já não possuem salvação e se não forem detidos acabarão atacando outros humanos, causando males ainda maiores. E aí entra o protagonista da história, Kuroe, um caçador de Tsumitsukis, que tem como função justamente dar cabo dessas pessoas possuídas pelos espíritos da culpa.

Embora exista uma certa continuidade narrativa (entre o capítulo 1 e o 4 se passa um ano, por exemplo), a obra é episódica com cada capítulo sendo centrado em uma garota que, em algum momento, acabará sucumbindo para um desses espíritos. Ou seja, temos a apresentação dos personagens, o drama envolvendo eles, a aparição de Kuroe, e um certo desenvolvimento até que o capítulo se conclui com a eliminação do Tsumitsuki.

As “culpas” apresentadas são de diferentes naturezas, ora envolvendo familiares, ora bullying na escola, dentre outras coisas. O problema é que o mangá não é nada além disso. Os dramas mostrados no mangá parecem simplesmente jogados a não há um aprofundamento maior em nenhuma das histórias, de modo que não conseguimos sentir empatia por eles.

O autor parece que não sabe conduzir bem a narrativa, pois ao invés de desenvolver mais (e melhor) as histórias, quer apenas surpreender o leitor com acontecimentos que não chegam a ser surpreendentes. Uma das histórias, por exemplo, é de uma moça com problemas familiares e que deseja matar o pai. Toda a questão envolvendo o “Espírito da Culpa” desse capítulo é sobre isso, porém, no final descobre-se que o grande dilema envolvendo ela era a mãe e que a garota é que havia esquecido disso. A questão é que foi muito apressado. Passam-se uma ou duas páginas de preparação e então se revela a verdade. Se fosse bem desenvolvido, teria sido um baita de um plot twist, mas do jeito que Kiyohara fez só pareceu algo jogado e que não surpreendeu.

Não é apenas isso que é ruim. Os personagens também não se destacam muito. As moças das histórias aparecem tão rapidamente que a gente não consegue se apegar a nenhuma delas e mesmo Kuroe que aparece mais vezes é um personagem vazio demais para termos qualquer afeição por ele. Ainda que ele tenha um capítulo próprio, sua história é apenas mais uma e também não dá para sentir empatia.

Em resumo, Tsukimituki é um mangá que não tem alma. Ele não consegue passar uma mensagem (até tenta, mas é tão ruim que não dá para captá-la) e também não serve como entretenimento, terminando por ser um título totalmente esquecível. No final, Tsumitisuki se mostra um mangá bem sem sal, bem qualquer coisa. Ele não chega a ser o pior mangá já lançado no Brasil (e nem concorre para isso), mas fica distante da prateleira dos bons mangás. Então, é um título recomendado apenas e tão somente para quem deseja ter tudo do Hiro Kiyohara porque (embora ainda não fosse o que seria depois) a arte dele continua belíssima. Para os outros consumidores, melhor deixar esse título para lá…

Ficha técnica

Título Original: ツミツキ
Título NacionalTsumitsuki - Espírito da Culpa
Autor: Hiro Kiyohara
Tradutor: Edward Kondo
Editora: JBC
Dimensões: 13,5 x 20,5 cm
Miolo: Papel jornal
Acabamento: Capa cartonada simples
Classificação indicativa: 16 anos
Número de volumes no Japão: 1 (completo)
Número de volumes lançados: 1 (completo)
Preço Sugerido: R$ 13,90

4 Comments

  • Tenho aqui e realmente, bem esquecível mesmo. Fazem uns anos que li, mas tá lá no canto dos mangas que me arrependo de ter pego da coleção. Talvez me livre um dia.

  • Título muito bem colocado. Usando eu como exemplo, eu li o Feridas e o Só Você Pode Ouvir meses antes de ler o Espírito da Culpa, mas eu tenho memórias bem mais vívidas com os dois primeiros em um nível que só lembrei como era a proposta de Tsumitsuki após ler a postagem

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