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Desmistificando: Por que capa e lombada dá tanto problema?

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Erros e não-erros das editoras…

Você já deve ter visto várias reclamações e pessoas comentando como tem uma capa ou lombada com problema, ou uma editora falando sobre aprovação de capa atrasada ou ainda o pessoal reclamando de capa espelhada. Mas por que que capa dá tanto problema?!

Existem vários motivos e dificuldades que tornam a capa um alvo para os problemas! Vamos tentar falar de alguns deles e entender melhor como a coisa funciona!

Aprovação de capa

O que é a “aprovação de capa”? É meio que um padrão no mundo que a licenciante (a dona dos direitos daquela obra) tenha direito de veto quanto à capa e design do título. É parte do contrato que a editora brasileira mande a capa para ser aprovada por eles. Se por um lado algumas empresas confiam na escolha e dão OK rapidamente, por outro algumas são extremamente “chatas” e julgam saber melhor como devia ou não ser e pedem várias alterações.

E quando falamos de “capa” não estamos apenas falando de uma face, mas todos os dois lados, orelhas e lombadas. Isso também, é claro, inclui os textos e selos, posicionamentos, tudo, tudo. Qualquer tipo de alteração feito após essa aprovação faz com que tudo precise ser aprovado de novo!

Isso significa que aquela capa que você acha horrível foi aprovada pelos japoneses. Capas espelhadas receberam um “” dos japas, sim, mal gosto dá em todo lugar. O porquê dessas capas espelhadas, isso já é assunto para outro post.

Criação das capas

Qualquer pessoa pode então pensar: Por que não fazer as capas com antecedência? Porque não fazer todas de uma vez? Para responder isso, temos que pensar um pouco como a capa é feita e onde estão os entraves!

Uma capa tem vários elementos, a imagem, o logo do título, os logos das editoras e selo, os autores, o número da edição, além de vários outros possíveis. Mas antes de encaixar e fazer o design de tudo isso, a editora precisa calcular a dimensão total da capa.

Parece algo fácil, você sabe qual o formato que vai lançar aquilo, basta multiplicar por dois, certo? Errado, e a lombada? Como se calcula a lombada? Aqui vem um dos primeiros entraves! A lombada é calculada em cima do número de páginas e tipo de papel (levando em conta a gramatura).

O que significa que cada volume terá que ser calculado independentemente e que mudanças mínimas no papel podem dar muito problema!

Para piorar as coisas, o rapaz que estiver fazendo a capa terá que fazer um modelo tal que se adeque às variações de lombada, aquele modelo tem que servir para o volume de 150 páginas e para o de 250. Dependendo do tamanho de fonte que ele usar, pode ficar grande demais e passar em alguns volumes, que o força ou a aceitar esse “resquício” da lombada na capa ou mudar a formatação. Daí nasce vários problemas de lombada, como você pode ver.

No caso de mangás, você sabe com antecedência mais ou menos quantas páginas cada volume vai ter antes mesmo de traduzir (mais ou menos porque às vezes algumas páginas do original são propagandas ou extras sobre o autor e outras obras que não são incluídos na versão brasileira), já em novels a coisa não é assim, só esperando a tradução para ter uma ideia exata do quanto aquilo vai dar!

Depois de montar tudo, um segundo entrave é a sinopse. É uma questão óbvia que a pessoa que criar as sinopses terá que ler o mangá, correto? Ou seja, fazer as sinopses com muita antecedência levando como base meios “alternativos” é receita de falar besteira, né?

Percebe como antecedência não funciona muito bem? Depois de tudo isso, vem a hora de aprovar aquilo, aí já viu…

Erros de impressão

A impressão é outra etapa que dá problemas, todo maquinário da gráfica tem uma margem de erro (e isso é perfeitamente normal), logo existe sempre o perigo da capa ser impressa descentralizando a lombada e criando aqueles defeitos, por isso mesmo as editoras costumam deixar uma pequena margem sem texto nem nada.

Analise você mesmo as lombadas dos seus mangás e você vai perceber pequenos erros em vários deles (ou clique na imagem ao lado e analise cada lombada). A maioria não incomoda e é de milímetros, você nem percebe e leva um tempo para notar as pequenas descentralizações verticais e horizontais, mas quando as palavras vão parar na capa ou a lombada tem uma cor berrante, fica gritante o erro e todo mundo nota logo.

Uma estratégia  interessante de contornar essa margem de erro são as capas contínuas, como Fate stay night (no topo), Blood-C, Orange e Gate 7. Dessa forma mesmo com a leve descentralização é difícil de notar que um pedaço da lombada moveu para a capa ou vice-versa.

Mas será que não tem como isso não acontecer jamais? Como dito, isso é uma margem de erro do maquinário usado. Qualquer gráfica no mundo inteiro tem margem de erro, a questão é qual é essa margem. Existem máquinas mais precisas e máquinas menos, quanto mais precisa a tecnologia for, mais cara ela custa, logo se cobra mais para utilizá-la.

Uma comparação boba, qualquer um hoje em dia baixa um programa de tráfego ou localização que te diz “onde” você está. Mas a imprecisão é tanta que ele não sabe em qual faixa de trânsito você está e às vezes pega até a rua errada, quanto custaria um GPS que saiba onde uma formiga está? Na casa das dezenas de milhares de dólares.

Aí você tem que se perguntar: preciso mesmo de toda essa precisão? É mesmo necessário que a empresa invista em uma gráfica mais de ponta para que a lombada tenha erros de menos de um milímetro, encarecendo o produto?

Seriam essas lombadas acima algo inaceitável? Não são erros aceitáveis em troca de um produto mais em conta? É claro, a coisa tem um limite.

 Erros de criação

Mas, às vezes, os erros não têm nada a ver com impressão, são erros na hora da criação. Em geral um símbolo esquecido, um logo que não foi colocado, às vezes uma leve mudança no tamanho da fonte. Realmente deslizes.

Alguns deles talvez frutos da não comparação com os volumes anteriores, outros frutos de impressões para revisão fora do tamanho real (que causa a diferença de espaços e tamanhos muito difícil de se perceber) ou ainda de revisões em cima apenas de provas digitais. Com certeza algo que não devia passar e que merece um esforço de melhora de todas editoras. Sim, de todas elas, esse tipo de erro já aconteceu com todas as editoras de mangá brasileiras.

   

***

Espero que esse breve texto tenha servido para ilustrar e explicar as muitas complicações envolvendo capas e lombadas. E que as informações sirvam de ferramentas para críticas e reclamações mais acuradas, cientes das consequências e motivos. 🙂

As imagens ilustrativas foram tiradas das páginas do Facebook: O Mercado De Mangás Que Deu Certo e Cartas na Mesa. Ou dos sites e canais das respectivas editoras.
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