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Desmistificando: Todos os mangás são traduzidos do japonês?

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Se usa original ou outras versões?

Infelizmente, não, nem todos são traduzidos da língua onde originalmente foram lançados. Vários mangás no Brasil foram ou são traduzidos do inglês ou francês. Alguns exemplos: Fairy Tail, Tenjho Tenge, Peach Girl, Street Fighter, Tokyo Toy Box, dentre vários outros, principalmente os mais antigos.

Mas como saber qual foi e qual não? Infelizmente as editoras geralmente não são transparentes nesse aspecto (assim como raramente revelam gramaturas dos papéis que usam), vira uma questão de sair atrás de quem traduziu e descobrir com que língua ele trabalha. Atualmente parece que as editoras têm trabalhado apenas com tradutores de japonês, mas aqui e ali elas aparecem com tradutores de inglês e outras línguas.

E será que isso só acontece no Brasil? Não! A Europa toda é cheia de mangás traduzidos do francês (causa de muita crítica), em especial na Itália, Espanha e Portugal. Isso também vai acontecer com mangás e livros na África e Ásia, embora na Ásia às vezes se usem as versões em chinês ou coreano. E mesmo na literatura mundial esse é um ato comum, a própria Bíblia passou por uma lista de adaptações e línguas até chegar no português.

Mas por quê? As editoras tupiniquins dizem, às vezes, ser “exigência japonesa”, o que pode ser apenas uma forma de economia por parte dos japoneses, já que eles precisam enviar os mangás físicos ao Brasil e isso tem um custo e trabalho envolvido. Coisas muito antigas às vezes você acaba nem tendo mais aqueles volumes para enviar, o que aumentaria o inconveniente. Assim mandar fazer de uma versão ocidental pode ser mais acessível e prática monetariamente falando.

Por outro lado, pode ser bom para a editora também, tradução em inglês é mais barata que em japonês! Segundo o SinTra, Sindicato dos Tradutores, traduzir do japonês é por volta de 30% mais caro. Uma editora querendo economizar pode simplesmente utilizar um tradutor de inglês, que é igual mato e nasce em todo lugar, rs.

Outro ponto importante é a falta de profissionais capacitamos naquela língua, sabe o quão difícil e caro é achar um tradutor de japonês na África? Isso entretanto não é um grande problema no Brasil por causa da enorme quantidade de imigrantes japoneses que temos no país. Demos muita sorte, hein? Por outro lado, quadrinhos vietnamitas, coreanos e chineses podem ser um desafio maior… Ainda assim, graças à nossa população de mais de 200 milhões de pessoas, é difícil encontrar uma língua sem nenhum tradutor capacitado. Então essa justificativa de falta de tradutor não cola por aqui não. Acaba sendo uma questão de estar disposto a pagar.

Qual o problema de não ter sido traduzido do original? Tradução por si só já é um troço complicado, exige adaptações e sacrifícios para tornar a leitura natural. Isso é normal e acontece em qualquer tradução, sendo que piora quanto mais as línguas forem distintas.

Agora, imagine uma tradução de uma tradução? Na verdade o segundo tradutor não está traduzindo o mangá daquele autor, mas a interpretação e adaptação de um outro tradutor. Coisas que talvez não pudessem ser adaptadas com perfeição para o inglês, podem para português, mas, como você acaba traduzindo do inglês sem ter a menor ideia do que era originalmente, não é possível resgatar aquilo e você passa a se distanciar consideravelmente do original. Fora que, isso aumenta as chances de erro, não só há a chance do erro do tradutor brasileiro, há também os erros do tradutor americano ou seja lá qual for a língua intermediária.

Outro ponto muito perigoso é a questão da censura, as versões em inglês são famosas pelas censuras, não só de arte como de texto. Alguns mangás americanos mudam e muito quando comparados aos originais, principalmente quando eles também foram traduzidos primeiramente do francês, uma tradução de uma tradução de uma tradução! Se a versão brasileira for traduzida de algo assim, que qualidade podemos esperar da nossa versão?

O ideal, é claro, é que seja traduzido do original sempre, mas isso não garante de forma nenhuma qualidade. Afinal, uma boa tradução depende de bons tradutores, de tradutores fluentes, capazes e habilidosos, tradutores que saibam traduzir e não apenas saibam japonês. Antes uma boa tradução do inglês do que uma má do japonês?

Vale a pena comentar que editoras, como a JBC, possuem os “revisores de tradução” que idealmente comparam as versões traduzidas do inglês com a versão original japonesa, mas não temos como saber exatamente como isso funciona.  As coisas começam a deixar de ser preto e branco, seria essa tática correta se tiver o revisor de japonês? Uma boa forma de economizar? E você, o que acha sobre isso? 🙂


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos!


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