Biblioteca Brasileira de Mangás

Desmistificando: Há mangás que nunca serão publicados no Brasil?

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hajimeAinda há alguma dúvida?…

Todo mundo tem opiniões de quais mangás são impossíveis e nunca serão publicados no Brasil, mas a grandíssima maioria desses casos são meramente suposições e achismos. Será mesmo que existe algum mangá que não pode ser publicado no Brasil ou em outros países? Na verdade, sim, existem e vários. O motivo é simples: conteúdo ilegal ou imoral no Brasil.

Cada país, independentemente das “leis internacionais e universais”, tem sua própria legislação e moral. Em um lugar certa prática é aceitável para maiores de 12 anos, outros aquilo é considerado inapropriado para todas as idades.

Isso é especialmente verdade quando estamos falando do Japão. Não é segredo como a “perversão” toma níveis às vezes assustadores. E, o que para eles é aceitável para maiores de 18 anos, no ocidente é absolutamente inconcebível. Coisas como lolicon e shotacon (sexo com pré-púberes) jamais serão abertamente lançados no Brasil.

Muitos aparecerão para discutir a legalidade ou não dessas coisas, mas a verdade é que nenhuma editora iria lançar algo desse nível e convidar processos e atenção indesejada, ou, pior ainda, um caça às bruxas. Se no passado os animes infato-juvenis censurados (sim, eram todos já censurados) já eram chamados de “desenhos do capeta”, imagina o que diriam de mangás com pedofilia?

Editora nenhuma quer que seu produto seja chamado de “quadrinho do capeta”, nem quer ser alvo de perseguição ou processos. E se você acha que esse tipo de pressão pública não é grande coisa, saiba que está muito enganado. A percepção e aprovação pública é uma das armas mais perigosas que existe. Se a Globo repetisse todos os dias sobre mangá e pedofilia seria uma questão de tempo até o mercado despencar, até todo padre, educador e “especialista” condenar os mangás.

Isso aconteceu já, na França. Por volta de 1996 mangá e anime foi considerado “inadequado para crianças”, especialistas diziam que podiam causar danos psicológicos seríssimos na mente infantil. A pressão pública foi tamanha que em 1997 não havia mais nenhum anime sendo transmitido. Os animes só reapareceram em 2002, bem aos poucos nos canais fechados, e levaria mais alguns anos até que a cultura japonesa retornasse de verdade e se transformasse no que hoje é um dos maiores mercados de mangá e anime no mundo.

Isso também já aconteceu nos Estados Unidos. Em 2006 a editora Seven Seas Entertainment licenciou o mangá Kodomo no Jikan, que por lá iria ser chamado de Nymphet. A história basicamente é de uma menina do terceiro ano fundamental que é apaixonada pelo professor. Embora cheia de ecchi e insinuações, não é um lolicon de verdade. Mas só esse “pouco” criou tanta controvérsia e auê que o mangá foi cancelado sem nem ter um único volume lançado. Entre as razões do cancelamento, o presidente da empresa afirmou que um dos motivos foi as lojas se negando a receber o produto e cancelando os pedidos na pré-venda. Na época a autora japonesa chegou a comentar como aquele incidente a fez perceber as diferenças culturais entre os países.

No Brasil, considerando que o público de anime mangá já é bem restrito, algo assim acontecer não seria muito difícil. Por isso que você não vai encontrar lolicon, shotacon, toddlercon e todos os gêneros mais “pesados” no Ocidente.

Agora, insinuação já é outra história. Negima! (Mahou Sensei Negima!), por exemplo, tem a história centrada em um menino de dez anos que é assediado por várias mulheres, foi lançado tanto no Brasil quanto lá fora. Como o Ocidente é descaradamente patriarcal e machista, um menino de dez anos “garanhão” não é grande coisa, mas e se fosse ao contrário? Se fosse uma menina de nove anos sendo assediada por dezenas de homens descaradamente, será que a JBC teria publicado?

Outro cheio de ecchi envolvendo criança é o Corpse Party: Musume da NewPOP, que embora tenha de fato várias insinuações sexuais, a menina não é atacada ou assediada sexualmente por pessoas, mas sim exposta ao público. Um meio-termo aparentemente considerado aceitável por aqui.

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O medo desse tipo de coisa é tão grande que no ocidente é muito comum que os mangás sejam censurados ou levemente alterados. Idades são aumentadas aqui, uma conversa censurada ali, insinuação retiradas e até pedaços redesenhados.

No Brasil, dizem que isso não é mais feito – no passado a Panini e Conrad teve alguns casos –, mas, a não ser que você compare página por página de cada mangá já lançado no Brasil com o seu original, quem pode realmente garantir que não há nada estrategicamente alterado? Que nada foi mudado para deixar aquilo adequado para crianças de 12 e 14 anos?

Versões de Pokémon em inglês e japonês, exemplo de censuras para evitar as cenas com insinuações sexuais com menores de idade.

Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂

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