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Desmistificando: Quais as maiores dificuldades na tradução do japonês?

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E quais os erros mais comuns?

No post sobre tradução perguntamos se havia interesse em entender um pouco mais as dificuldades específicas ao lidar com a tradução do japonês, como houve um (*depressão*), aqui apresentaremos uma lista de características do japonês que podem dar muita dor de cabeça aos tradutores.

Mas, antes de começar, temos que deixar claro que difícil ou fácil é algo muito subjetivo e que depende da língua para a qual está sendo traduzido. Ou seja, as dificuldades estão intimamente relacionadas às diferenças entre as duas línguas em questão, o que é mais fácil ou difícil vai depender do ponto de vista.


Estrangeirismo e Gairaigo


Uma das coisas mais engraçadas no japonês é a quantidade absurda de palavras estrangeiras que são usadas em todas as áreas, desde as mais técnicas ao dia a dia. Essas palavras estrangeiras emprestadas são chamadas por eles de Gairaigo.

Existem várias delas vindas do português, inglês, alemão, holandês e chinês, mas, seja de onde vieram, todas elas são adaptadas para o alfabeto japonês e aqui já começa o primeiro problema.

Podemos simplificar que existem duas formas de lidar com palavras emprestadas, uma é manter ela da forma original, às vezes até com a gramática original. Em português temos “Design” e “Marketing”, em inglês temos “Naïve” e “Data/Datum”, os exemplos são muitos.

A outra é adaptar para os fonemas e gramática daquela língua, criando uma palavra semelhante, baseada de alguma forma naquela outra. Exemplos em português são muitos: Líder, Time, Azeite, Abajur, X-burguer… Na verdade não é 08 ou 80: “Design” pode ser escrito como é em inglês, mas não é falado com a pronúncia deles.

Quando os japoneses passaram a exportar tais palavras para sua língua, eles tiveram um outro problema: a diferença de formas de escrita além dos fonemas disponíveis limitados. Ou seja, tiveram que adaptar tudo mesmo, não tinha como deixar original. E adaptaram de tal forma que o “inglês japonês” é um dialeto próprio e bem complicado de ser aprendido.

Em todo caso, a princípio não é muito difícil lidar com as Garaigos, basta pegar um dicionário de japonês que tem lá a grandíssima maioria delas, pelo menos as “normais”.

Mas… E quando o autor decide pegar emprestado uma palavra que não existe ainda no japonês? Ou se trata de um nome ou termo inventado estrangeiro? Aqui vem um dos maiores desafios de um tradutor, ele tem que inverter a lógica e tentar adivinhar qual devia ser o nome original no alfabeto romano.

Isso é agravado mais ainda pelo fato do japonês não dar a menor mínima para como era escrito originalmente, mas se focar na pronúncia, pior, no que eles conseguem ouvir. Dessa forma:

“Love” vira “Rabu”: Já que não possuem o O aberto (“ló”), nem o V, nem conseguem diferenciar o R de L ou identificam a vogal fraca no final da palavra.

“Valeska” vira “Waresuka”: Note como o V agora tem som de U (“uá”), além do problema do L e o S que agora ganhou vogal (no caso a vogal neutra deles, o “u”).

“Qamar” vira “Amaru”: Outro curioso, onde não conseguem interpretar o tipo de Q da pronúncia árabe (é feito bem no fundo da boca), sendo totalmente ignorado.

“Car” vira “Kaa”: Talvez você esperasse um “karu”, mas o R às vezes é tão fraco que ao invés do R, eles ouvem apenas o prolongamento da vogal. Similar ao que o pessoal aqui do Nordeste faz com os R, lá eles têm “dóó” e não “dor”, ou os velhos “fazê”, “falá”, etc.

“Coup d’etat” vira “Kuudetaa”: Da coleção palavras irreconhecíveis, note que a grafia original não vale nada e a expressão francesa de “golpe de estado” vira uma única palavra.

É relativamente mais fácil encontrar as palavras de origem inglesa, é uma missão quase impossível quando se trata de línguas muito diferentes como o árabe, dinamarquês, grego, persa, etc.

É por causa disso que cada país vai usar nomes diferentes, no caso de Lúcifer e o Martelo, por exemplo, os nomes utilizados pela JBC, pelo anime, pelo Crunchyroll Manga e pela editora americana são totalmente diferentes a ponto de serem irreconhecíveis.

Pior que às vezes nem o autor sabe como é romanizado, ele apenas ouviu de alguém e usou, por exemplo, ou ele mesmo utiliza mais de uma forma em momentos diferentes, como Log Horizon com seu Theldesia e Serdesea, ambos leituras oficiais de “serudeshia”.

Veja que não é uma questão de certo ou errado, mesmo que o autor romanize de uma forma X, isso não invalida as outras formas de se escrever aquilo. Não há problema algum se alguém quiser traduzir Dragon Ball e colocar o nome de “Vedita” em vez do “Vegeta”, o original mesmo é “Bejiita”. O importante é a criação de um padrão e de uma identidade para aquela mídia, em outras palavras, eleger um nome e seguir até o final.

Isso tudo é um verdadeiro caos e independe da fluência do tradutor, acaba sendo uma questão de muita pesquisa, muito dicionário e, às vezes, puro chute. De todos os erros mais comuns, esse é o mais perdoável, principalmente quando o autor só decide mostrar o nome romanizado lá na frente.

Infelizmente para as editoras, é também um dos assuntos que mais causa polêmica e drama desnecessários, um assunto onde muitos “fãs” são intolerantes e xiitas, fazendo verdadeiras jihads contra uma simples escolha pessoal de termo que em nada interfere no conteúdo final da tradução. Sim, porque Aladim ou Aladdin não faz a menor diferença, não é como se tivessem chamado de Joãozinho…


Efeitos Sonoros


Já comentei sobre isso várias vezes, então vou apenas citar mesmo: o Japão possui diversas onomatopeias e efeitos sonoros, alguns super específicos, que são impossíveis de traduzir. Sem contar que podem ser muito difíceis para um ocidental entendê-las também. O tradutor acaba tendo que priorizar ou o som original, a naturalidade ou o sentido. Por causa da variedade e dificuldade de entendimento, há muitos tradutores que falham miseravelmente em traduzi-las.

Para entender mais sobre este tópico leia: As mimeses e onomatopeias japonesas.


Kanjis e suas Funcionalidades


Não podemos ignorar o poder dos kanjis e suas propriedades, são uma parte muitíssimo importante da expressão textual japonesa e também causa de vários problemas. De fato, uma mesma “palavra oral” pode ser escrita com diversos caracteres, é como se no texto eles fossem excessivamente mais específicos.

Peguemos “kaku” como exemplo, significa escrever ou desenhar, mas na grafia, o “kaku” de desenhar é “描く” e o de escrever, “書く”. Mas se o autor gostaria de uma palavra ambígua, que possa tanto ser escrever quanto desenhar, ele pode simplesmente escrevê-la com o hiragana “かく” ou criar um conjunto de kanjis novos para ser lido como “kaku”. Ele poderia até juntar os dois e te indicar que a leitura é “kaku”.

Isso foi feito em Lúcifer e o Martelo, no título original Hoshi no Samidare, “hoshi” é escrito como “惑星” que deveria ser lido como “wakusei”, em vez disso o autor indicou que deveria ser lido como “hoshi”. Criando um título intraduzível: o significado de um com a leitura de outro.

Os casos de manipulação de kanjis são inúmeros no Japão, é uma das grandes ferramentas para criar metáforas ou sentidos únicos. Infelizmente essa manipulação às vezes não pode ser traduzida ou é um grande desafio.

Um dos casos mais interessantes envolvendo kanjis e mangás que já vi aconteceu na obra Boku to Kanojo no XXX, onde o autor escreveu o diálogo de um dos personagens com a pronúncia correta, mas os kanjis errados. De forma que lendo e interpretando apenas os sons era possível entender as falas, mas os kanjis passavam uma mensagem totalmente insana, embora com certa lógica ou temática.

Numa tentativa falha de tentar te fazer entender como pode uma coisa dessa, é similar a eu escrever “coração?” com a intenção de que você leia “qu’oras são?” (que horas são?). Ou algo mais fácil: “maldita” como “mal-dita”, “sossego” como “só cego”.

Quando o autor decide usar isso em larga escala e sair fazendo trocadilho e piada então… Coitado do senhor tradutor.


Área e Espaço Ocupado pelas Palavras


Talvez o leitor se pergunte imediatamente como isso é um problema de tradução? No texto sobre traduções a gente acabou não tocando neste assunto, mas no estudo de tradução você tem um conceito de “invariância”, ou seja, preservação e retenção de certos aspectos durante a passagem de um a outro:

Se você leu aquele meu texto imenso, deve ter notado que me prendi mais às duas primeiras e cheguei a comentar um pouco sobre as traduções literais (que envolvem as outras). Numa tradução de verdade, é impossível preservar tudo perfeitamente e vemos um esquema de prioridade (que também chegamos a comentar) a depender do tipo de texto e objetivos.

Mas voltando ao nosso tópico, o problema aqui é exatamente as três últimas. Por causa da diferenças entre as línguas é quase impossível ter invariância lexical, estrutural e espacial. Ainda mais quando lembramos que um kanji pode ser uma palavra completa e que não há o uso de espaço entre palavras no japonês. Uma frase de três caracteres japoneses apenas pode se transformar em uma de 15 em português (contando espaços).

E como isso afeta o light novel, mangá e anime? Nos livros, romances e novels a consequência é mais comparativa, um japonês pode escrever vários volumes com a mesma quantidade de páginas que no Brasil se transformará em vários com valores diferentes.

Só que no mangá e anime a coisa é outra, em ambos o espaço para a tradução é limitado e o número de páginas (minutos) é constante. No anime essa limitação vem do espaço na tela e no tempo disponível para ser lido, no caso de dublagens há o tempo para aquilo ser falado e encaixado. No mangá a limitação vem na forma dos balões, caixas de narrações e outros.

Imagine você que um personagem pergunte “Que lugar é aquele?” e o outro responda “É o aeroporto”. Em japonês basta dois caracteres para responder o que no nosso deu 13, logo o balão original será adequado para essa frase de dois caracteres, fazendo com que não haja espaço para colocar tamanha palavrona ou frase. Tenho certeza que você, leitor de mangá, já viu isso acontecer o tempo todo, balões minúsculos com uma frase imensa, ou frases minúsculas nadando num balão gigantesco. Ou aqueles balões com tanto hífen que você corre de medo.

Volume 1, Éden.

Isso é especialmente complicado nesta língua nossa com advérbios longos, os velhos “mentes”. O tradutor então passa a ter que substituir os “Exatamente!” com “Isso!”, os “Isso é verdade mesmo?” com “Sério?”, “Definitivamente!” com “Com certeza!”. Às vezes sumindo com sujeitos, usando verbos mais curtos, simplificando a frase e outros. Mesmo com todo o cuidado de um tradutor, ainda haverá aqueles balões com a fonte tipográfica diminuída pra caber e uma certa variação nas quantidade de branco dentro dos balões.

Isso também traz grandes consequências no visual e edição, a L&PM, por exemplo, utiliza uma configuração em que o tamanho da fonte se adequa aos espaço da caixa de texto e, por isso, cada balão deles tem um tamanho de fonte absurdamente diferente (veja o exemplo ao lado de Fim de Verão). A ferramenta serve exatamente para criar um valor padrão de branco dentro dos balões e melhor adaptar o texto ao espaço disponível. Em quadrinhos americanos e europeus isso fica lindo e padronizado, mas nos mangás isso vira o samba do crioulo doido. É por isso que as outras editoras ao invés trabalham com número padrão de tamanho de fonte, com leves variações de acordo com as variações de espaço disponível e características originais.

Este tópico é geralmente algo que claramente divide os tradutores em amadores e profissionais, não são poucos que deixam passar essas três últimas invariâncias ou sequer reconhecem a responsabilidade de se adequar ao espaço e mídia para a qual se está traduzindo. Também prova que tradução é mais do que apenas falar ou ser fluente em japonês.

Vale a pena notar também que nas produções nacionais essa bagunça de espaço vazio nos balões não é para ocorrer, já que eles seriam criados baseado já no tamanho do texto do roteiro. Isso ajuda a dar um ar mais harmonioso para a obra e melhor utiliza o espaço disponível para ilustrações, paisagens, etc.

Um último comentário também neste assunto é que essa variação e balões com espaçamento branco excessivo ajuda na percepção das odiadas transparências nos mangás (que poderia passar batida se fossem balões justos). Olha esse exemplo acima do volume 4 de Vagabond, vê como tradução e adaptação de obras japonesas são super complexas e intrincadas? Várias coisas que parecem desconexas são intimamente envolvidas.


Variedade de Palavras


O japonês pode ser muito pobre em alguns aspectos, por exemplo, na quantidade de fonemas, mas em outros… Por causa do que explicamos lá em cima sobre kanjis e como eles carregam sentidos diferentes, é possível criar dezenas de palavras parecidas e ao mesmo tempo únicas. Uma das minhas categorias favoritas é “chuva”, com mais de 50 palavras, vejamos algumas:

De fato, em se tratando de natureza e condições, os japoneses possuem centenas de palavras intraduzíveis, algumas que acho bonitas ou que preciso urgentemente (por favor, não me julguem, haha):

Embora essas palavras não tenha sinônimas na nossa língua, é possível descrevê-las ou criar locuções e frases. O problema todo é que nem sempre isso é uma coisa boa na tradução. Imagine um japonês falando que está chovendo com “sobae ame”, imagina um diálogo assim: “nossa que chuva localizada enquanto que o entorno está claro!”. Quer coisa mais não-natural?! Geralmente o tradutor vai ter que adaptar e se virar com coisas como “nossa, está claro, mas aqui está chovendo!” ou acaba sendo simplificado mesmo “nossa que chuva isolada!”. (Isso sem contar o problema de espaço que acabamos de comentar, né?)

Outro problema é quando a palavra original é muito vaga ou pode se referir a várias coisas diferentes. Um caso típico é “mushi”, que significa ser vivo rastejante ou inferior, pode ser usado para insetos, vermes, lesmas, aranhas, cobrinhas e todo tipo de animalzinho. É super comum os mangás terem a tradução “inseto”, só para mais adiante aparecer como um verme ou algum outro bicho, dando aquela ideia de que o autor não sabe biologia. O mesmo é muito comum com vírus, bactéria e protozoários, a quantidade de bactérias-vírus nas traduções não é brincadeira…


Falta de Sujeitos e Troca de Narrador


O japonês é uma língua de tópicos, para uma frase estar completa em japonês, basta um verbo, por exemplo. Eles não tem o que nós chamamos de “sujeito” (embora a partícula “ga” possa ser chamada de partícula de sujeito). Numa frase como “watashi wa Roses”, “watashi wa” não é um sujeito, mas o tópico, é como se eu dissesse “quanto a mim, Roses” e não “eu sou Roses”.

Talvez assim fique difícil de perceber a diferença, então vamos tentar esta frase: “neko wa ashita”, se usarmos a lógica de sujeito a tradução seria “gato é amanhã”, o que convenhamos não faz sentido. O correto é “quanto ao gato, amanhã”, essa seria uma resposta comum a uma pergunta do tipo “quando seu cachorro vai ao veterinário? E o gato?”.

Para ajudar ainda mais, o “watashi wa” é como um destacador, um esclarecedor, do que está se falando. Assim como nós brasileiros dizemos coisas como “na minha opinião, acho ruim” ou “Brasil, um país em crise”. De fato, como já comentamos, eles não são obrigatórios nas frases, basta o verbo.

Como o verbo japonês não tem conjugação de número, pessoa e gênero, não dá para saber quem é o falante só de olhar para ele como é possível às vezes em português (“sou” obviamente é do sujeito “eu”, mas já “disse”, poderia ser de “você”, “ela”, “ele” e “a gente”). Para piorar, moças podem se expressar usando seu próprio nome, o que no Ocidente chamamos de “falar na terceira pessoa”.

Tudo isso que descrevemos aqui facilita e muito um dos erros mais comuns e graves de tradução do japonês, quando é traduzido um diálogo sendo falado pela pessoa errada. No caso de mangás, um dos auxiliares mais importantes são os rabinhos dos balões, por isso também que não é incomum se colocar caricaturas e legendas de quem está falando dentro deles. É muito fácil se desligar e traduzir como se fosse o diálogo do outro personagem.

Felizmente, existem algumas características que ajudam a decifrar na própria linguagem, já que no Japão existem algumas diferenciações na forma de uma mulher ou homem falar, embora várias sejam neutras.

Este é um erro que geralmente passa batido aos leitores, embora possa ser a causa de uma certa confusão. Recentemente dei bastante de cara com ele lendo os mangás no Crunchyroll Manga.


Falta de Plural


Assim como não há várias conjugações  dos verbos, substantivos também não têm gêneros ou número. Dessa forma, quando não há numerais ou valores atribuídos a eles, é difícil de saber se trata-se de um ou mais daquele substantivo.

No caso de mangás, isso é particularmente fácil de identificar por causa do desenho. Por exemplo, o tradutor traduz “te trouxe uma flor”, mas o desenho ilustra três flores, ou seja, o correto deveria ser “te trouxe umas flores”. É fácil de notar o erro e corrigi-lo.

O pior é quando não há imagem daquilo ou se trata de um livro (novel/light novel), nesses casos às vezes dá para identificar o erro no contexto ou na mudança súbita de singular para plural entre os parágrafos.

Geralmente é algo que passa batido para os leitores quando não estamos prestando atenção, mas ao prestar atenção, é muito incômodo a quantidade de vezes que esse tipo de coisa passa pelos tradutores e revisores, até mesmo nas traduções de notícias.

A caráter de curiosidade, é bem engraçado quando os autores japoneses às vezes escrevem títulos ou nomes em inglês ou outra língua e esquecem de conjugar. Um dos casos mais famosos é “Dragon Ball”, que deveria ser “Dragon Balls”, já que são esferas do dragão. Dentro do volume o autor chama toda a coleção de apenas dragon ball, o “s” nas traduções foram colocados pelos tradutores.

O mesmo acontece bastante com nomes de raças e coisas criadas pelo autor, os tradutores se viram para criar plurais daquilo para a versão traduzida.


Ordem das Sentenças


Por último, comentar sobre a ordem das sentenças! No português temos o que chamamos de SVO (sujeito-verbo-objeto) ou VO, no japonês, bem… é V, OV ou falso SOV (a depender do estudioso). O que basicamente significa que o verbo é a última coisa da frase.

Por si só isso já é um problema para se traduzir, mas no caso de mangás a coisa piora, já que a frase pode ser separada entre balões ou até páginas diferentes. Já leu aquele mangá em que o personagem está narrando um pensamento durante várias páginas enquanto ilustra e relembra?

Imagina uma moça relembrando a juventude e terminando tudo com “sinto falta”. Na lógica brasileira, “sinto falta” seria a primeira coisa na nossa frase (deixando o sujeito oculto). Mas por causa da ordem japonesa a coisa acaba ficando vaga e tem que ser adaptado, a frase “sinto falta da escola, dos amigos, das provas, dos professores” acaba sendo adaptada para “a escola, os amigos, as provas, os professores… Sinto falta de tudo isso”.

Ás vezes dá para fazer a inversão de balões sem causar nenhum problema à história, outras vezes não tem jeito mesmo e vai ter que ficar essas frases artificiais ou simples enumeração de itens.

Particularmente é uma das coisas que mais me incomoda nas traduções, talvez agora você também passe a reconhecer esse tipo de coisa acontecendo, pois tem em quase todos os mangás que já foram traduzidos no Brasil.

O ruim disso é que fica essa ideia de algo “vago”, quando o autor não está divagando, mas falando uma frase mesmo. Tradutores bons de verdade, conseguem dar um jeito na maioria desses problemas e deixam tudo bem fluido e natural, mas tradutor ruim… É de doer, fica parecendo que o autor é incapaz de formar uma frase completa.


Outros


Existem outras dificuldades que podem dar dor de cabeça, vou enumerar para os curiosos:

Quem sabe agora você consiga reconhecer mais facilmente os erros nas traduções e valorizar as editoras e tradutores que não os cometem! É sempre bom ter uma visão crítica daquilo que se consome, você não  precisa ser fluente em japonês para perceber erros e inconsistências (embora provar é outra história), se o seu mangá tá confuso e cheio de contradição, é muito provável que foi mal traduzido.


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Como sempre sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂

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