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Resenha: Sword Art Online – Livro 1 (Light Novel)

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O original daquele sucesso…

Dificilmente você nunca ouviu falar de Sword Art Online. Desde 2012, quando a primeira temporada do animê foi exibida, a série se tornou bastante popular e ainda hoje tem fãs fervorosos, sempre atentos às novas sagas e desejando mais e mais. Volta e meia a obra é lembrada e uma imagem da série aparece em alguma rede social.

Sword Art Online – Allicization. Foto: Crunchyroll

Sword Art Online nasceu originalmente como uma light novel de mesmo nome escrita por Reki Kawahara. Pelo que consta o autor escreveu a história para um concurso, mas sequer chegou a mandar, pois ele tinha excedido o número de páginas permitido. Como tinha apreço pela história, Kawahara montou um site e começou a publicar a obra por lá. Anos depois, quando conseguiu vencer um outro concurso de romance, seu editor leu Sword Art Online e decidiu publicar este também, o que se mostraria no futuro um grande acerto.

Sword Art Online #21. Foto: Kadokawa

Tendo o primeiro livro sido publicado em 2009, Sword Art Online ainda está em andamento no Japão, atualmente com 21 volumes. Além de diversas animações, a obra gerou outras light novels, diversas adaptações em mangás, entre outros produtos. No Brasil, o sucesso não foi menor e vários consumidores pediam a vinda da light novel (numa época em que quase ninguém sabia o que era).

Entre 2014 e 2016, porém, a editora Panini lançou dois mangás, Sword Art Online – Aincrad e Sword Art Online – Fairy Dance, duas obras que adaptavam exatamente o mesmo que a primeira temporada do animê.

Sword Art Online #01. Foto: Panini Mangás

Após esses não vieram mais mangás e a light novel parecia um sonho distante. Entretanto, em meados de 2018, a Panini anunciou a publicação dos dois primeiros livros originais, correspondente ao arco Aincrad (primeira metade da primeira temporada do animê). O volume inicial foi publicado em dezembro do mesmo ano. Lemos a light novel e viemos aqui comentar nossas impressões sobre o livro.

Se você chegou a este texto provavelmente você já sabe o que é uma light novel, mas é possível que existam pessoas que ainda não tenham conhecimento do termo, então é necessária uma explicação inicial. Pois bem, falando muito resumidamente, muito resumidamente mesmo, light novel é um livro com algumas ilustrações. Existem especificidades como ser uma leitura leve, mas o resumo básico é apenas esse.

Light Novel “Toradora!”. Em uma página uma das poucas ilustrações, na outra o texto. Foto: Blog BBM.

Ou seja, se você tem interesse em conhecer a obra que deu origem a Sword Art Online, essa obra é um livro comum e normal, apesar de ter capas que lembram mangás. Hoje em dia é bastante comum que muitos animês sejam advindos de light novels, mas raramente as obras originais aparecem em nosso país.

Agora que vocês sabem o que é light novel, vamos, enfim, falar mais especificamente sobre Sword Art Online^^.

O cientista prodígio Akihiko Kayaba criou Sword Art Online, o primeiro game de realidade virtual on-line para multijogadores. Mas o que os jogadores não sabem é que, uma vez que se entra, não se pode sair até a conclusão desse jogo implacável. E se você morrer dentro do game, morrerá também no mundo real. Kirito está logado no SAO e já sabe que a sua vida está em jogo. Este jogador solo tentará chegar ao último andar do Castelo Aincrad, em meio a tantos usuários que disputam os mesmos recursos.Mas ao conhecer Asuna, vice-comandante da guilda Knights of the Blood, sua trajetória mudará de forma radical. Será que Kirito conseguirá escapar deste mundo virtual? Afinal, apesar de ser um jogo, SAO não pode ser encarado como uma simples brincadeira.

A história de Sword Art Online é bem conhecida. No ano de 2022 é criado um aparelho chamado Nerve Gear, por meio do qual você pode jogar diversos jogos em uma realidade virtual. O aparelho faz com que o cérebro do usuário esteja totalmente no jogo e não exista nenhum estímulo externo que o faça o despertar. O primeiro grande jogo para essa plataforma se chama justamente Sword Art Online e apenas dez mil pessoas conseguiram comprar uma cópia do game em seu lançamento.

A expectativa pelo jogo é muito grande, porém os participantes logo descobrem que não podem se deslogar e ficarão presos naquele ambiente até que consigam chegar aos 100 andares de Aincrad (uma espécie de grande torre em que cada andar é um ambiente próprio, com cidades, florestas, etc), derrotando cada um dos chefes de fase. Para piorar a situação se eles morressem dentro do jogo, acabariam morrendo no mundo real também.

Nesse contexto, conhecemos Kirito, o protagonista da história, um rapaz que já conhecia Sword Art Online por ter sido um dos testadores na fase Beta do jogo. Pouco afeito a grupos e amizades, Kirito torna-se um jogador solo, tornando-se um dos mais fortes do local.

Kirito e Klein (único amigo de Kirito?). Foto: Blog BBM.

A história avança dois anos e conhecemos Asuna, uma forte guerreira que virará o coração de Kirito e modificará o modo de agir do rapaz, fazendo ele ter por quem lutar e o ajudando, inclusive, a ter forças para derrotar o inimigo final. Esse é o resumo básico de Sword Art Online – Aincrad.

Asuna. Foto: Blog BBM.

De modo geral, Sword Art Online possui uma ambientação muito interessante, apresentando os diversos conceitos, as classes, as habilidades, o que se podia e o que se não podia fazer naquele lugar, etc. É nítido que o autor se esforçou para criar um mundo próprio, com um pano de fundo amarradinho e que buscava passar uma sensação de realidade, realidade para os moldes de um jogo virtual, obviamente.

Esse é um mérito que a gente já via desde a época da adaptação em animê, em que todo o local parecia idílico, maravilhoso, nos chamando a querer estar ali, desejando que existisse de verdade um jogo de realidade virtual como aquele. O livro trabalha bem essas questões e igualmente nos faz ansiar por um jogo como esse (mas sem a parte de ficar preso nele^^), porém o espaço dedicado a isso é bem limitado e a gente sentiu que tinha muito mais a explorar e a falar. Sendo um ambiente tão rico, o autor poderia ficar capítulos e mais capítulos, talvez até volumes inteiros dedicando-se a explorar melhor Aincrad.

Se a ambientação é boa, a falta de espaço é justamente um dos problemas do livro. Esse primeiro volume basicamente conta toda a história da primeira metade da primeira temporada do animê (a fase Aincrad), só que ele pula imediatamente do início para o final da história, sem a parte intermediária. Em um momento estamos ainda na cidade inicial, com os jogadores sabendo que ficarão presos e logo em seguida estamos no andar 74 (e se você assistiu a adaptação em animê deve saber que a história termina abruptamente no andar 75, com a descoberta de uma certa coisa, que traz uma reviravolta na história).

Esse salto causa distorções, estranhezas e falta de coesão e coerência na narrativa, pois perdermos diversas informações. Por exemplo, logo no começo Kirito e Asuna estão conversando e em um dado momento eles falam que às vezes esquecem da existência do outro mundo. Isso é bastante natural já que eles passaram quase dois anos dentro do jogo, mas para nós, leitores, se passaram poucas páginas e isso causa um estranhamento por falta de coesão narrativa.

Em uma obra que deveria mostrar os reflexos do comportamento das pessoas dentro de um jogo, esse tipo de situação ficaria mais credível e coeso se tivéssemos visto mais tempo desses dois anos. Isso não é algo que possa ser consertado por livros posteriores ou flashblacks, é um defeito de narrativa da obra.

O mesmo defeito ocorre em relação a Asuna. Ela é uma personagem que surge do nada, já conhecendo Kirito e já sendo muito amável com ele, ao ponto de chorar quando ele quase se mata ao lutar contra um dos chefes. A questão é que a gente não sabe nada sobre ela até esse ponto que não sejam coisas superficiais (de onde ela é, sua habilidades, etc) e todas as suas atitudes soam um pouco confusas e nada coerentes, principalmente porque pouco tempo depois a relação dela com Kirito evolui para um romance.

Sendo um livro narrado em primeira pessoa, coisas assim tinham que ficar mais claras ao leitor, o que não acontece por causa desse longo espaço de tempo que foi pulado. Mesmo o flashback que ocorre depois, com Asuna contando como conheceu Kirito não melhora esse problema da narrativa.

Mas só estamos falando de defeitos. E as qualidades? Onde SAO brilha? Além da já falada ambientação, Sword Art Online empolga bastante nas cenas de batalha. O autor consegue descrever de forma interessante as lutas, o desenvolvimento delas, de modo que somos levados a torcer o tempo todo. É fascinante. Kawahara realmente tem uma habilidade muito grande para contar esse tipo de cena. O problema é que essas cenas são bem pequenas e todo o restante da obra, ainda que interessante, não chega aos pés desses momentos em termos de qualidade.

O que fica claro disso tudo o que dissemos, é que a história tem ares e potencial para ser grandiosa e se estender por muito tempo, porém o autor apressa as coisas e deixa tudo muito vago, existindo problemas de coesão narrativa em boa parte da obra. Em outras palavras, o primeiro livro de Sword Art Online – Aincrad deixa muito a desejar e o segundo não deve ajudar muito a melhorar a imagem, já que ele apresenta apenas histórias extras que aconteceram em Aincrad.

A edição brasileira de Sword Art Online veio no formato 15 x 21 cm (mesmo do livro de Another ou do mangá The Legend of Zelda), com miolo em papel Polén Bold e algumas páginas coloridas em papel couchê. Além disso, a obra teve capa cartonada com orelhas e verniz localizado no título e em outras inscrições da capa e quarta-capa. O preço do livro foi R$ 39,90.

A edição física está realmente muito boa, bastante maleável, o que permite manejar, abrir e ler o livro sem maiores problemas.

Acerca do texto, o livro está bom, mas algumas escolhas editoriais são para lá de questionáveis, a começar pela utilização de honoríficos sem qualquer explicação do que eles sejam e para que servem. Além disso, por ser uma obra com muitos termos técnicos faltou um glossário para explicá-los melhor e não deixar leitores perdidos em certos momentos. Dito de outro modo, a Panini parece ter escolhido publicar o livro destinado para quem já é fã de cultura japonesa (aquela pessoa que acha – provavelmente de forma errônea – que já sabe para que serve o uso de honoríficos), conhece Sword Art Online e é muito fã de vídeo games, ao ponto de conhecer termos técnicos.

Para além disso, porém, a obra possui diversos problemas, contendo até mesmo erro de tradução para lá de simplório. Logo no segundo capítulo, em uma certa passagem diz que há 95 000 usuários, sendo que o correto seria 9 500.

Erro de tradução. Foto: Blog BBM.

O erro é perceptível de cara, seja você fã ou não de SAO, pois são apenas 10 000 pessoas que ficam presas no jogo. Ou seja, mesmo sem comparar com o original já se sabe que ali há um erro de tradução. Foi um erro extremamente bobo que passou batido pela tradutora e nenhum dos revisores da Panini pegou por pura falta de atenção. Abaixo você pode ver uma página da light novel japonesa onde se encontra a passagem com o erro. A parte destacada em vermelho diz exatamente 9 500.

Texto Original: 九千五百 = 9500.

Além do erro de tradução, é possível verificar um ou outro erro de revisão de texto, mas são mínimos, como uma preposição mal colocada, um erro de vírgula aqui e ali, etc. Não chega a ser nada demais, mas sem dúvida não deveria acontecer de jeito nenhum, principalmente em um livro que custa quase quarenta reais.

“após se recuperar”. O correto seria “me recuperar”. Foto: blog BBM.

Na época da exibição da primeira temporada do animê e até mesmo um tempo depois, Sword Art Online era bastante criticado por seu plot e sempre que surgiam essas críticas, aparecia alguém para dizer que a light novel era melhor e que não podia falar que a animação era ruim se não tinha lido a light novel.

Pois bem, para além desse erro de achar que uma mídia não pode ser julgada por si só, quem dizia que a light novel era melhor claramente não tinha lido ela, pois o livro é um recorte fraco e ruim de uma história que consegue empolgar bastante. Em outras palavras, você até consegue se divertir com a light novel, mas em hipótese alguma é possível pensar que ela seja melhor que a adaptação em animê. A estrutura narrativa do animê é bem mais dinâmica, os acontecimentos parecem fazer mais sentido e a relação entre Asuna e Kirito, bem como outros personagens, também é mais desenvolvida.

A obra original só vale a pena para você conhecer a criação que deu origem a toda a franquia, apenas por isso e nada mais. Então só recomendo a compra se você quiser algo assim, pois a light novel está longe de ser algo verdadeiramente bom. Se você busca algo melhor que o animê, eu lamento, mas você não irá encontrar nesse livro.

Por fim, é importante comentar que no Japão Reki Kawahara começou a publicar uma nova série de light novels chamada Sword Art Online – Progressive. Essa série busca recontar Aincrad com mais detalhes, explorando melhor os andares, as lutas, etc. Não conhecemos essa obra, mas se foi bem feita, tem tudo para ser muito melhor que o Sword Art Online original. Não é algo que devamos esperar aparecer no Brasil, mas fica o registro de sua existência. Quem sabe no futuro distante não ganha uma adaptação em animê, né?

TítuloSword Art Online – Aincrad
Autor: Reki Kawahara; Abec
Tradutor: Mie Ishii
Editora: Panini
Dimensões: 15 X 21 cm
Miolo: Papel Polén Bold
Acabamento: Capa cartonada com orelhas
Classificação indicativa: Não há
Número de volumes: 2 no total (Fase Aincrad)
Preço: R$ 39,90
Onde comprarAmazon

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