Biblioteca Brasileira de Mangás

Propaganda, por que não?

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Uma reflexão sobre o assunto

Uma prática muito comum no mercado de livros (de forma contida) e revistas é colocar propagandas dentro dos volumes e, na opinião desta redatora, isso igualmente poderia existir nos mangá de forma ampla. Talvez você tenha lido o que acabei de dizer e já tenha se preparado para jogar pedras pela simples ideia de colocar “propaganda” no seu idolatrado mangá. Mas vamos por partes…

O que é propaganda

Para começar eu queria definir exatamente o que seria “propaganda” para efeito de claridade. Por propaganda eu me refiro a qualquer menção e divulgação de outro produto dentro do mangá, seja da editora, de outros mangás ou coisas totalmente alheias feitas e incluídas apenas para a edição brasileira (desconsiderando qualquer propaganda que o autor tenha adicionado no original).

Por que usar propagandas

Existem dois grandes motivos a depender de dois grandes casos:

As propagandas de terceiros. Ajudam a baratear ou viabilizar certas obras, já que agregam um valor a mais ao lucro da empresa. Isso é algo que vimos muito na Conrad e na JBC. Hikaru no Go, por exemplo, trouxe várias propagandas de aulas de Go no Brasil. Outras comuns que vimos no passar dos anos foram de eventos, lojas online e aulas diversas de temática japonesa.

Independentemente de críticas e revoltas isoladas de alguns leitores, a época de ouro dessa prática foi durante os anos 2000, quando a Conrad afirmava ter tiragens na casa dos 100 mil volumes com Dragon Ball. De fato, na época haviam menos opções e algumas delas com tiragens astronômicas se comparado ao números atuais, afinal tudo isso passava na TV aberta e angariava muitos fãs. Esse presumido número de vendas maior atrai o interesse de mais empresas que escolhem fazer propagandas nas edições.

Por isso, supõe-se que independentemente de querer ou não colocá-las, há poucos interessados. Acaba sendo algo mais raro em situações específicas (como foi o de Hikaru no Go e as aulas de Go e Bakuman e as aulas de desenho).

As propagandas internas. E são essas que realmente me interessam aqui. No blog já comentamos, por exemplo, sobre a lógica e utilidade das propagandas nas capas falando de autores e outros. E você já deve ter ouvido de casos tristes onde editoras (cof JBC cof) alteravam o texto original para colocar referências de suas obras já publicadas, que por si só é propaganda também (veja um caso de Chobits aqui). Só que no passado as editoras faziam muito outro tipo, elas divulgavam outros mangás que estivessem publicando.

Checklist no volume de Naruto de maio de 2008.

A Panini chegou a ter checklists em quase todos os seus volumes, com a previsão do que iria sair naquele mês ou no próximo. Mais recentemente a prática reapareceu em 2016 em alguns volumes esparsos, sendo o segundo volume de Lovely Complex um deles, mas tal não persistiu. A NewPOP também fez isso aqui e ali com Madokas e Tezukas.

A JBC às vezes coloca propagandas de séries já publicadas, como em Fullmetal Alchemist onde aparece uma página de divulgação de Zetsuen no Tempest. Outro exemplo são as páginas de catálogo e propaganda que quase todos os produtos pockets da L&PM possuem, mangás inclusos. Até a Nova Sampa publicou mangás em 2017 que continham propaganda de dois tipos, de uma loja (Liga HQ, à época já falecida) e dos mangás da própria editora. Porém, são exceções, na prática a maioria dos volumes não apresenta nenhuma propaganda de outra série ou informações de publicação e retorno. Algo que em geral encontro bem mais nas edições americanas (vale lembrar que compro poucas séries e não posso afirmar que isso seja praticado por todas as editoras de lá, mas que a prática existe, isso é inegável).

Imagina o seguinte: a Panini consegue o próximo volume de Kimi ni Todoke, que estava, digamos, 8 meses pausado à espera de novos volumes no Japão. Qual seria a melhor forma (sem usar a internet) de avisar o seu cliente? Uma ótima tática é adicionar em outra publicação de mesmo público uma página de propaganda com a capa ou uma imagem da série, com uma chamada e uma data. Não é nada de outro mundo ou um bicho de sete cabeças, é uma questão de direcionar seu já cliente a outras obras que ele deve ter interesse, baseado em temas em comum ou demografia e gênero temáticos.

Não muito diferente daquelas lojas online, como a Amazon, que possuem aquelas caixas de “outros compradores também se interessaram por” ou “veja também”. Se você compra coisas na internet, com certeza já se utilizou daquilo, especialmente quando estamos dando aquela pesquisada geral em marcas e tipos. Outros exemplos são as sugestões da Netflix, as propagandas do Google e do Facebook. Esse tipo de propaganda direcionada é muito poderosa, já que se trata de algo específico para aquele público que já consome aquele tipo de produto. As chances de você lendo Ore Monogatari ver uma propaganda de HAL e se interessar são muito grandes!

Os americanos, inclusive, não são os únicos que usam isso, os próprios japoneses fazem isso de forma massiva! Quase todo tankoubon possui nas páginas finais propaganda de outras obras daquele autor ou da revista em que foi publicado. Nas orelhas dos volumes também, você encontrará lista e mais listas de obras com seus volumes disponíveis. Não é nada inovador, muito pelo contrário, é uma ferramenta típica e eficaz.

Capa aberta do volume 36 japonês de Naruto com propaganda de outras obras da editora na orelha direita.
Propaganda no volume 4 de Mirai Nikki (Diário do Futuro) da série anterior do autor, Hanako to Guuwa no Tera.

Por que quase não se usa

Só quem saberia responder isso com certeza seriam as próprias editoras, mas consigo imaginar alguns empecilhos:

Organização. Se você vai colocar uma propaganda em um volume, não só tem que saber quando esse volume com a propaganda sairá, como também quando o volume divulgado sairá com bastante certeza (exceto a propaganda de séries já lançadas, claro).

Vamos ser sinceros, atualmente nesse aspecto todas as editoras andam tropeçando. Não tem uma que não teve um punhado de atrasos, coisas remanejadas, periodicidades irregulares, etc. Isso sem contar as completamente desaparecidas e que não dão satisfação, como a L&PM, Nova Sampa e Alto Astral. Numa situação dessa, vai acabar igual ao passado onde houve a divulgação do lançamento de Seton 2 que nunca saiu, dos volumes adiantados de Vagabond pela Conrad que nunca saíram, até série nova foi anunciada para nunca dar as caras! Ou de propaganda de loja que já faliu!!!

Interesse japonês. Difícil saber até onde os japoneses poderiam interferir nisso, mas imagino eu que a Shueisha poderia achar ruim ter uma propaganda de The Deadly Seven Sins (da Kodansha) em seu My Hero Academia. Até aí, isso significa que seria limitado a obras daquela mesma editora, seria uma restrição, mas não uma impraticabilidade.

Talvez o autor se incomode com a propaganda de outro autor. Certo, mais uma vez uma restrição, mas que não impediria a editora de anunciar outros volumes e séries daquele cara, como é feito em UQ Holder! e Knights of Sidonia.

Aumento de páginas. Nem sempre há sobras, folheando vários mangás você percebe que não há espaço para uma página de propaganda. E para se adicionar uma página é preciso inserir um novo “caderno” (que geralmente consiste em grupos de 4, 6 ou 8 folhas).

Outra alternativa é sacrificar alguma página do original, como aqueles extras ao final, que é algo que realmente é feito nos EUA. E sendo completamente honesta, vários daqueles posfácios são extremamente datados e inúteis, às vezes ininteligíveis se não houver várias notas (há até quem simplesmente não os leia). Mas não vou entrar no assunto de ser certo ou errado, embora mantenha em mente que até mesmo os japoneses quando relançam esses volumes retiram vários desses extras pelos exatos mesmo motivos, absolutamente datados.

E tem mais uma alternativa, mande junto do volume uma propaganda em forma de marca-página ou panfletinhos. Ao invés de colocar o marca-página de Ore Monogatari e Aoharaido nos próprios volumes, por que não invertê-los? Não só estimula os colecionadores a comprar uma outra série que talvez ele não colecionasse, como serve de propaganda direta para o público ideal.

Edit: Cassius Medauar, gerente da JBC, através de seu twitter, confirmou que propagandas (assim como qualquer conteúdo extra) precisam passar por aprovações e precisam ser da própria editora japonesa. Ainda afirmou que é política da editora fazer tais propagandas quando sobram páginas.

No fim das contas, eu consigo compreender como uma editora pequena pode ficar mais restrita e não ter o que anunciar naquele volume. Entretanto, não consigo de forma alguma entender como uma empresa que lança 20 volumes ao mês não se utiliza dessa ferramenta em nenhuma de suas formas, como se esperasse que o público descubra as coisas sozinho.

Em pensar que no passado havia muito mais propaganda e interesse em manter o leitor informado, ninguém precisava de sites para acompanhar os lançamentos ou acompanhar empresa no Facebook. Imagino eu que devia estar agradecendo então por tornarem a coisa tão travada e insatisfatória que seja necessário um site como o BBM, com catálogos, calendários e checklists… Rs!

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