Biblioteca Brasileira de Mangás

O preço de “Guardiões do Louvre” é justo?

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Ou quando comparar e quando não comparar preços?

Semana passada, o primeiro mangá da editora Pipoca & Nanquim, Guardiões de Louvre, de Jiro Taniguchi, começou a ser vendido em pré-venda na Amazon e, com isso, conheceu-se o seu preço, R$ 59,90. Um valor extremamente elevado para a grande maioria dos consumidores de mangás no Brasil.

Não bastasse custar quase sessenta reais, a obra possui uma quantidade de páginas muito limitada, apenas 136, e isso foi o estopim para começar a pipocar em alguns recantos da internet – inclusive nos comentários deste blog – questionamentos sobre o preço ser caro ou barato, justo ou injusto.

Discussão sobre o preço de uma publicação ser justa ou não, não chega a ser uma novidade. A gente já viu filme parecido, por exemplo, quando a editora JBC começou a publicar mangás em acabamento diferenciado e choveram pessoas para criticar os preços da empresa, dizendo que era um absurdo mangá custar mais de 60 reais.

Recentemente, o preço de Innocent, da Panini, também foi alvo de críticas por custar dois reais a mais que publicações similares da mesma editora, porém não demos muita bola para este caso, pois uma obra mais desconhecida custar dois reais a mais em um cenário de crise não é nada fora do normal, entretanto o caso de Guardiões do Louvre merece uma postagem especial que você verá agora.

A ideia original era apenas discutir se o preço do mangá era justo ou não, mas o post tomou outras proporções e virou um texto em que falamos sobre mangás, consumidores e justiça dos preços. O que falaremos aqui já foi disposto em outros textos do blog muitas vezes nos últimos dois anos e dificilmente terá algo de novo para quem nos acompanha por todo esse tempo. Mesmo assim, peço que leiam, pois a discussão é importante. Então sente-se confortavelmente, pegue a pipoca para apreciar a argumentação ou as pedras para tacar na gente e vamos ao texto, pois ele é longo…

Parte 1: Nem tudo é feito para você

Sabe aquela máxima de que nem tudo gira ao seu redor? De que o mundo tem preocupações muito mais importantes do que você? Pois então, a mesma lógica vale para o mercado de mangás. Nem todos os produtos foram feitos pensando em você como consumidor. Embora essa seja uma realidade que todo mundo tem em mente, muitas vezes algumas pessoas quando veem os preços dos mangás (ou de certos mangás), acabam tendo um lapso de memória e esquecem dessa máxima, criticando as editoras pelos preços praticados e achando até mesmo que elas estão prejudicando os leitores, querendo faturar mais do que deveriam.

Se em algum momento você já pensou algo assim, vamos lembrar, antes de mais nada, que mangá é um produto supérfluo destinado apenas a  uma parcela privilegiada da população que pode pagar por eles. Sim, pois mesmo aquele mangá mais barato, a R$ 12,90, é muito caro para boa parte do povo brasileiro (são 5 kg de arroz a menos na mesa). A diferença entre o público de My Hero Academia Smash (R$ 12,90) e Ayako (R$ 129,90), o mangá com preço mais elevado de nosso mercado, é que o público de Ayako é uma parcela mais privilegiada ainda e que pode bancar uma publicação mais cara e luxuosa.

Dados destinados a anunciante existente no antigo site da JBC. A empresa informa que seu público pertence às classes A e B.

Claro que nada impede que um estudante de ensino médio, vindo de uma família pobre do subúrbio, possa comprar um ou até dois mangás dos mais baratos por mês, mas esse estudante não é o público alvo. Os mangás não foram feitos pensando nesse tipo de cliente.

Uma comparação que pode ser feita é em relação a automóveis. Os chamados carros populares não são “populares” de verdade e só quem pode comprar um carro zero é a classe média para cima. Esse é o público desses carros. Um carro de luxo, porém, não tem como público a classe média e sim as pessoas verdadeiramente ricas. Se você é classe média e quer um carro de luxo, você terá que ralar e muito e, talvez, mesmo assim, nunca consiga um. Não porque a montadora é ruim e quis te prejudicar cobrando mais do que deveria e sim porque ela fez um carro destinado a outro perfil de consumidor, mais abastado.

De modo análogo, se uma editora lança um mangá a R$ 129,90 e você não pode pagar por ele, esse preço não é um absurdo, a editora não enlouqueceu, não está metendo a faca, não está roubando, não está te contrariando. Ela não está fazendo nada de ruim contra você^^. Ela apenas está destinando aquele produto para um outro público, público este do qual você não faz parte (pelo menos não ainda). E não tem nada de errado com isso. Empresa nenhuma tem obrigação de lançar um produto pensando “em todo mundo”.

A grande questão é que existem mangás e mangás e públicos e públicos. Um título atual da Shonen Jump como My Hero Academia ou Black Clover são obras populares e, prioritariamente, destinadas a um público mais jovem, adolescente ou recém entrado na faculdade, por isso precisam ser o mais barato possíveis para que a maior quantidade de gente possa comprá-los. Por essa razão que em geral esses mangás populares são publicados no Brasil em acabamentos mais descartáveis, com papel jornal de péssima qualidade, para baratear o produto.

É também por isso que um mangá como Zetman, vendido a R$ 17,50, em formato pocket e com papel jornal, era muito caro para a época em que foi lançado, mesmo tendo mais páginas que o normal e algumas coloridas em couchê. Ele não cumpriu sua função de ser uma obra das mais baratas possíveis. Todas as críticas ao preço eram bastante justas ao meu ver.

Por outro lado, um mangá como O cão que guarda as estrelas foi uma obra que teve um preço dura e injustamente criticado pelos consumidores exatamente por não entenderem esse caráter de existirem mangás diferentes para públicos diferentes. O cão que guarda as estrelas era uma obra desconhecida, para um público seleto, e que foi publicado em um acabamento melhor, com capa com orelhas e um papel de mais qualidade (Lux Cream), além de um formato ligeiramente maior (15 x 21 cm), isso pelo preço de R$ 23,90. Porém pelo número de páginas ser mínimo, apenas 132, não faltaram pessoas para dizer que era um roubo, inclusive algumas da “imprensa especializada” pff.

O que acontece é que as pessoas não conseguem entender um fato básico de uma publicação cultural. Muitas vezes para um livro ou mangá ser lançado e gerar lucro para a empresa, ele precisa ser destinado a poucos, ter uma tiragem pequena e consequentemente um valor mais elevado, independente do formato adotado (padrão ou luxo). O preço maior de O cão que guarda as estrelas se deve a isso.

Do mesmo modo, é perfeitamente normal que uma obra mais adulta como Ayako, ou de um autor mais de nicho como Shigeru Mizuki ou Jiro Taniguchi tenham um preço de capa maior do que títulos populares. Nem todos os mangás são feitos para todo mundo. As pessoas conseguem perceber isso facilmente com gêneros (um não gosta de romance e rejeita todos os desse gênero, outro passa longe dos battle shonens, etc), mas preços e acabamentos ainda não, ocorrendo o tal “lapso de memória” que falamos mais acima. O blog BBM espera que se você está lendo até aqui, você tenha começar a mudar a sua percepção sobre esse assunto e passe a evitar criticas desnecessárias às editoras. Mas vamos seguindo que ainda tem muito mais texto para conseguir te convencer^^.

Parte 2: os preços são justos? (A)

O fato de que nem tudo é feito para você, não extingue a possibilidade do preço de algum produto não ser compatível com o que oferece. Pode haver sim mangás com preços muito, muito injustos e nós citamos acima o caso de Zetman. A gente imagina o porquê de esse mangá ter ficado tão caro (provavelmente houve alguma disputa pelo título e a licença ficou com um valor muito alto), mas uma explicação não muda o fato de que o valor do produto é bem mais elevado do que deveria ser.

O problema é que, muita vezes, dizer que um certo valor é justo ou injusto passa muito pela subjetividade, é algo pessoal. Nem todos dão o mesmo valor a certas características dos produtos. Por isso, para muita gente um preço justo é apenas aquele mais baixo possível e não se importam com o tipo de papel e acabamento, contanto que a publicação seja barata. É por isso também que muita gente prefere o padrão Panini “de luxo” do que obras com acabamento realmente diferenciado. Para elas o custo-benefício dessas publicações é melhor.

Não há nada de errado nisso. Se não podemos pagar por algo mais caro, claramente iremos preferir aquele produto em formato mais básico e mais economicamente viável para nós. Se eu não tenho dinheiro obviamente vou preferir sempre comer um sanduiche de salada caseiro que custa dois reais na venda da esquina do que gastar dez reais no Subway.

Entretanto, essa subjetividade acaba gerando distorções (por exemplo, a não compreensão de que existem públicos diferentes e que nem tudo é feito para você) e criando até mesmo consumidores conspiracionistas, que ficam hateando as editoras por causa dos preços altos das publicações diferenciadas.

Uma coisa é você achar um dado mangá caro, outra bem diferente é ficar fazendo comparações absurdas e criando teorias sem sentido para tentar provar que aquele valor praticado pela editora não é um justo. Hoje isso se prolifera de tal forma que chega a ser assustador o quanto as pessoas se esforçam para serem haters.

Você já deve ter visto, por exemplo, alguma pessoa dizendo nas redes sociais aquela balela de que as empresas estariam elevando seus preços de propósito, pois sabem que os consumidores comprarão com 50% de desconto em megastores como Amazon e que esse preço com desconto é que seria o valor justo.

Amazon e editoras estão tramando contra os consumidores?

Esse é um típico exemplo de conspiracionismo sem sentido, pois (ainda que alguma empresa de algum outro tipo de publicação possa realmente estar fazendo isso) não existe qualquer indício que permita a um consumidor de mangás sensato pensar em tal tramoia. Os preços dos mangás em formato padrão, por exemplo, têm subido de forma regular desde antes da entrada da Amazon no Brasil, o que joga por terra qualquer tentativa de ver um conluio das editoras com a Amazon. Por sua vez, os mangás em formato diferenciado têm um quê de ineditismo e não se pode dizer que eles estejam custando mais do que deveriam, ainda mais quando você vê que todos eles possuem valores muito próximos.

O grande problema desse conspiracionismo é que as pessoas que acreditam nisso não estão abertas a enxergar de verdade o que está por trás dos preços. É muito mais cômodo ficar chamando editoras de mercenárias e crendo em hipóteses absurdas do que ver que tal ou qual publicação foi destinado a um outro público, com uma outra faixa de renda, que é um título para poucos, etc.

Se você está lendo esta postagem e, por alguma razão, tem algum pensamento parecido, a gente espera que a argumentação apresentada até aqui tenha começado a mudar a sua visão. Se você é um consumidor novato, não se sinta mal e saiba que é bastante normal achar preços absurdos e acreditar em teorias da conspiração, afinal não é todo mundo que tem conhecimento sobre o mercado e sobre como funciona a política de preços.

Muitos anos atrás eu mesmo achava que as editoras (de livros) cobravam mais do que deveriam pelos seus produtos, visto que eu sempre encontrava livros sendo vendidos em promoções na Submarino a 9,90 quando eles custavam R$ 99,00. O tempo e o conhecimento me fizeram entender o porquê dos preços e o que acontece para uma obra ser vendida com 90% de desconto.

Hoje, a gente não consegue ver injustiça na maioria dos preços dos mangás praticados pelas editoras, seja um básico de R$ 12,90, seja um de luxo R$ 129,90. Os únicos que a gente questiona de verdade são os mangás que a Panini recentemente reajustou por causa das baixas vendas. Os R$ 19,90 por Ninja Slayer em papel jornal , por exemplo, é algo totalmente fora da realidade do mercado. A gente entende as razões, mas não deixa de ser um valor muito, mas muito caro pelo que oferece. Falaremos mais sobre isso…

Parte 3: os preços são justos? (B)

A gente falou que Ninja Slayer vai passar a ter um preço muito caro pelo que oferece. A gente diz isso, pois será o primeiro mangá em papel jornal com média de 200 páginas, sem qualquer uma delas ser colorida, a custar R$ 19,90. É um valor alto demais para um acabamento tão simplificado, são cinco ou seis reais a mais que um mangá no mesmo formato.

Ninja Slayer nitidamente não era um mangá para todo mundo e que, portanto, deveria ter tido uma tiragem reduzida indo exclusivamente para livrarias e lojas especializadas desde o começo. Era o mais sensato a se fazer. Provavelmente grande parte do fracasso do mangá se deve a isso.  Mas a estratégia comercial da Panini era sempre vender tudo nas bancas, então com certeza isso nem passou pela mente dos dirigentes da editora.

Só que um preço de um mangá ser bem maior do que outro com o mesmo tipo de acabamento não necessariamente quer dizer que a obra que está com preço maior não é um preço justo. Os fãs de Ninja Slayer estarão pagando um valor a mais por um erro da editora, mas em outras situações não é isso o que acontece. Às vezes ser mais caro é o único meio de uma dada publicação aparecer no Brasil.

Um grande exemplo atual que a gente pode dar é o mangá Nonnonba, de Shigeru Mizuki, lançado em março pela editora Devir. Ele veio em um formato muito semelhante a GITS (17 x 24 cm e capa normal com sobrecapa), diferenciando-se pelo papel utilizado (Nonnonba usa o Munken, GITS usa o Lux Cream) e número de páginas. GITS tem 352. Nonnonba tem 423. O preço de Nonnonba é R$ 89,90, o de GITS é R$ 64,90.

Ao ver esses preços e compará-los, o consumidor conspiracionista (ou mesmo um consumidor novato que não está acostumado a ver tanta variação de preço) poderia dizer que a Devir está metendo a faca e cobrando muito mais do que deveria pelo produto. Afinal, segundo essa pessoa, seria um absurdo um mangá custar 25 reais a mais que o outro só pela diferença de 71 páginas. Entretanto, o Blog BBM vem mostrar a sensatez a vocês^^. O motivo de Nonnonba ser bem mais caro é a popularidade. Ou, antes, a falta dela.

Existe uma diferença de popularidade entre GITS e Nonnonba. GITS é conhecido até por uma parcela do público que compra hqs americanas e odeia mangás. Pode até se dizer (embora não exista uma pesquisa que aponte isso) que boa parte do público desse mangá, não consome mangás regularmente. Nonnonba, por outro lado, é nicho dentro do próprio nicho de consumidores de mangás. Mais que isso, é nicho, dentro do nicho, dentro do nicho, dentro do nicho. Uma obra pouco conhecida, de um autor pouco conhecido do grande público.

Assim, um mangá popular como GITS pode ter uma tiragem maior, visto que a expectativa de vendas é alta. Já Nonnonba é um mangá que venderá para poucas pessoas, então a tiragem deve ser baixíssima, fazendo o preço aumentar bastante.

A gente sempre está falando disso neste texto, mas para quem não entendeu ainda aqui vai uma explicação: a tiragem de uma obra diz muito sobre o valor do produto. Quanto mais volumes são impressos, menos a editora paga por unidade e, consequentemente, menor será o preço de capa. É por isso, por exemplo, que muitas fotocopiadoras diminuem o preço da “xerox” a partir de uma certa quantidade de cópias. É a mesma lógica utilizada pelas grandes gráficas que trabalham com mangás. Mas isso não é uma lógica exclusiva de gráfica e copiadoras. O que é feito em larga escala tende a ter um menor preço. Por isso, por exemplo, que produtos sem agrotóxicos são mais caros no Brasil, pois não são feitos em grande escala. O mesmo vale para produtos de dietas especiais, sem lactose ou sem glúten. Em geral, são mais caros por não serem feito em larga escala.

Será que nesta foto se encontra toda a tiragem de um volume de CdZ – Kanzenban?

O valor de Nonnonba é muito alto perante os outros mangás com características semelhantes, só que sabendo que a obra é de Shigeru Mizuki – um artista renomado, mas que não é de conhecimento do grande público consumidor de mangás – o preço não soa nada absurdo. Afinal é um mangá para pouquíssimas pessoas e deve ter tido uma tiragem mínima. Nenhuma editora sensata faria uma tiragem enorme para um mangá de um autor praticamente desconhecido.

Em resumo, o preço de Nonnonba é muito caro para mim e para vários de vocês que estão lendo essa postagem, mas tendo todo esse referencial, não dá para mim e nem para vocês que estão lendo dizer que os R$ 89,90 são injustos. A questão é que quem tem bom gosto e aprecia esses títulos mais diferenciados e de nicho acaba tendo que pagar o pato por uma certa obra não ser popular o suficiente para vir mais em conta.

É claro que ainda tem o fator da escolha editorial. A Devir escolheu lançar o mangá em um formato grande e mais luxuoso, destinando-o a uma parcela mais rica da população. Poderia, talvez, ter escolhido um formato mais simples e que barateasse um pouco o produto, mas ainda assim provavelmente sairia por um valor elevado.

Vale, por fim, dizer que cada editora possui custos diferentes (algumas pagam mais conta de luz do que outras, tem mais funcionários do que outras, etc) e esses custos impactam nos preços dos mangás. Por isso que a NewPOP consegue fazer um mangá em offset a R$ 16,00, enquanto Panini e JBC cobram R$ 15,90 por papel jornal.

Parte 4: Guardiões do Louvre tem um preço justo? E por que a resposta é um “sim”?

Como dissemos no início do texto, a ideia inicial da postagem era apenas discutir se o preço de Guardiões do Louvre era justo. Acabou saindo do controle e virou esse monstro. A verdade é que o preço é justo e não tem muito o que se falar a respeito.

Consideramos o preço justo por todo o acabamento que ele receberá. Em primeiro lugar, ele virá em um formato grande (a editora comentou que seguirá a edição francesa que, segundo a Amazon desse país, possui as dimensões 23,5 x 33 cm, mas a empresa não confirmou se a versão brasileira terá exatamente essas dimensões ou se terá um centímetro a mais ou menos), além disso terá miolo em papel couchê 150g, será capa dura e será todo colorido. Esses detalhes já justificam o preço e mostram (ou deveriam mostrar) para boa parte do público consumidor que, na verdade, o mangá está é mais barato do que deveria.

Mas ele só tem 136 páginas, como pode ser justo pagar R$ 59,90 por tão poucas páginas? Vamos tentar explanar mais detidamente^^. Jiro Taniguchi é um autor renomado, mas ele é para um público de nicho. O grande público não tem interesse em mangás em que literalmente não acontece nada. As obras do autor são contemplativas e quem está acostumado com títulos de ação ou romance simplesmente tende a se afastar desse tipo de mangá. Logo, uma editora que se arrisca a lançar um mangá de Jiro Taniguchi no Brasil tem que fazer uma tiragem pequena ou pelo menos bem menor do que de um título da Shonen Jump.

Além disso trata-se de um formato luxuoso e de grandes dimensões. O formato 23,5 x 33 cm torna Guardiões do Louvre como o mangá com maior dimensões já publicado no Brasil. Nenhum outro tem o tamanho dele. Embora tenha só 136 páginas, a quantidade de papel utilizada é superior à quantidade utilizada em qualquer volume de Cavaleiros do Zodíaco – Kanzenban ou de Fragmentos do Horror.

Vamos colocar na conta que o papel utilizado em Guardiões do Louvre é de melhor qualidade (couchê) do que o dos dois títulos citados acima e possui uma alta gramatura: 150g (trata-se do primeiro mangá publicado no Brasil a ter uma gramatura de papel tão alta. Até então, 90g era o limite máximo que tinham chegado e, mesmo assim, com o offset). Fora isso, ele será todo colorido, coisa que nem CdZ, nem Fragmentos são.

Vamos recapitular então:

Se ele sair perfeitinho da gráfica, ele terá maior qualidade física do que esses dois mangás, ambos também publicados em capa dura. Para o caso de você não acompanhar de perto o mercado de mangás: Guardiões do Louvre custa R$ 59,90, Fragmentos do Horror R$ 54,90 e CdZ R$ 64,90. Em outras palavras, Guardiões do Louvre deve ter mais qualidade física e está na média do preço de publicações parecidas. Eu não sei como conseguiram fazer um produto tão barato. São só 136 páginas? Legal, mas são 136 páginas em uma qualidade que deve ser excelente e que provavelmente nenhum outro mangá já teve no Brasil. Quero ter o produto em mãos para poder julgar melhor, mas olhando pelas descrições o preço está em conta e está barato pelo que oferece.

Infelizmente eu não conheço a história. Ter qualidade física não indica que a obra seja boa e valha a pena comprar. Mas O homem que passeia, outra obra do autor lançada recentemente no Brasil pela editora Devir, muito me agradou e é por meio dele que eu estou “avaliando” a minha capacidade de gostar de Guardiões do Louvre. Podem ser só 136 páginas, mas se tiver a mesma qualidade de história que em O homem que passeia, são 136 páginas que valem bem mais do que as 200 de outros títulos. Se a obra for ruim, paciência…

Parte 5: resumo

O resumo desta postagem é o seguinte. Se você acha Guardiões do Louvre caro porque não pode pagar pelo produto você está certo em dizer que está caro. Não importam as características da obra e o que levou a editora a colocar esse preço, você continuará não tendo dinheiro para comprá-lo, então está caro para você. Embora possa ter parecido o contrário, não quisemos mudar sua opinião nesse sentido.

O objetivo da postagem foi colocar luz sobre questões que ficam obscuras para a maioria do público, de modo que mesmo que você considere o preço de Guardiões do Louvre ou qualquer outra publicação caro, você não fique criticando as editoras por colocar esse preço, considerando os preços injustos, e nem crendo em teorias da conspiração que se difundem nas redes sociais.

Por fim, o preço de Guardiões do Louvre, a nosso ver, é justo por ser uma obra de um autor de nicho e pelo que oferece em termos de acabamento, estando na média do mercado de mangás.

***

*Não gosto de escrever textos “defendendo” um produto que nem foi lançado. Quando CdZ – Kanzenban teve o preço anunciado alguns leitores me disseram para escrever um texto dizendo se o valor cobrado era justo ou não. Eu recusei, pois primeiro tinha que ter o produto em mãos. Hoje eu fiz o contrário, mas há uma razão para isso. Em 2016, a gente não tinha uma base de comparação clara. Não havia mangás em acabamento diferenciado. Só se conseguia comparar com livros ou com outros quadrinhos e ambas as comparações eram bastante injustas por serem produtos muito diferentes, de origens diferentes e para públicos diferentes. Hoje, a gente tem uma base de comparação mais forte, pois uma dezena de produtos destinados a uma parcela mais rica da população otaku já foi publicada. Pelas características dessas obras, a gente consegue hoje dizer que o preço de Guardiões do Louvre é justo em comparação com esses outros e está na média do mercado. Claro que se o produto for lançado e vier cheio de erros e defeitos, mudarei de opinião de imediato.


Extra: Lista dos mangás e obras do mundo otaku com maior valor agregado

Em negrito os que são em capa dura


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