Desmistificando: Qual a diferença de uma Light Novel e um livro?

512322O que significa ser uma Light Novel? É diferente de um livro? Sim, é!

Light Novels, ou Ranobu, ou ainda LN, são livros de bolso (bunkobans) voltados para jovens com uma leitura mais leve. A escrita utiliza poucos kanjis, alguns com furigana (uma pequena legenda de como se lê aquele caractere que fica ao lado dela, em fonte menor) e frases simples e curtas. A propaganda japonesa é que você pode lê-los onde quiser, quando quiser, uma leitura causal e descompromissada.

Para nós brasileiros seria a diferença entre ler um Machado de Assis e ler uma história infantojuvenil da série Vagalume. Embora seja mais difícil de perceber a “leitura leve” em português, ainda assim é possível perceber a diferença de narração, os parágrafos curtos e a enorme quantidade de narrações diretas (falas e pensamentos dos personagens).

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Exemplo de onomatopeia e uso de recursos gráficos.

Outra característica importante é que as LN são parte integrante do mundo otaku, dos mangás e animes. E por isso mesmo toma emprestado várias coisas desse mundo, como as onomatopeias (on’yu), estilo de narração e recursos gráficos.

Ao lado, por exemplo, você vê um caso claríssimo dessa liberdade de formatação, mas existem em níveis mais leves também. Outros recursos amplamente utilizados são o uso de negrito, aumento de fonte, vários tipos de aspas e outras formas de destaque, uso de símbolos como corações, estrelas, notinhas musicais, uso de diferentes fontes tipográficas e uso livre de espaçamentos, quebras e linhas de separação.

Confira abaixo vários exemplos de diferentes obras e editoras, clique na imagem para ver versões maiores:

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As referências aos animes e ao mundo otaku também são muitas, embora uma grande quantidade se perca na tradução (por ser difícil de identificar devido à escassez de obras que temos acesso).

Algumas delas são tão conectadas a esse universo otaku que parecem literalmente a descrição de um anime, até aquelas cenas típicas de anime e mangás aparecerem, como as poses de olhar distante no horizonte com o vento carregando os cabelos. Dá para notar isso também pela quantidade de discursos diretos e diferentes tipos. Não é incomum que haja diferenciação entre falas, pensamentos, “mensagens psíquicas” e gritos, por exemplo, similar a como há diferenças nas formas dos balões nos mangás.

Somado a todas essas características e recursos, as LN são em sua maioria ilustradas no estilo mangá, que podem ser feitas pelo mesmo autor ou um ilustrador. Atualmente há até artistas especializados nisso, o que não é trabalho fácil, já que envolve a criação do “character design” (design do personagem) que depois pode acabar sendo utilizado nas versões mangás e anime.

Essa pressão de já criar designs de personagens que serão utilizados em toda a franquia, caso a obra faça sucesso, também é um detalhe especial desta mídia. Em outras áreas da literatura os autores geralmente não se preocupam tanto com isso e as formas e personagens são criados depois com o anime, filme ou mangá, como é o caso de Number Six.

No Japão essas obras podem ser tanto serializadas em revistas de mangás ou revistas próprias, quanto podem ser lançadas direto em volumes. Inclusive, a maioria das editoras que trabalham com elas são as mesmas que publicam mangás, sendo o grupo Kadokawa o maior deles. Muitas LN dão início a enormes franquias, mas podem também ser apenas parte de uma preexistente, como as de Samurai X.

As LN deram uma alavancada em 2000 com a popularização do estilo, e nos anos seguintes as vendas e fama estouraram, chegando a 20% do total de venda de livros no Japão. Recentemente a Kadokawa chegou a mostrar números que ultrapassavam as vendas de mangás pela editora.

Enquanto isso elas começavam a aparecer timidamente no Ocidente, principalmente aquelas ligadas a mangás e animes de fama. Atualmente existe uma quantidade significativa de novels lançadas nos EUA, mais de 60 títulos. Mas ainda consiste num público limitado e raramente dá as caras nas listas de mais vendidos, a exceção é No Game No Life que recentemente figurou em primeiro nos mais vendidos da semana.

No Brasil as light novels vieram timidamente, acompanhando séries de grande sucesso, como as de Death Note, e só mais recentemente a editora NewPOP passou a trabalhar com elas por si mesmas. Confira aqui nosso guia de novels lançadas no Brasil.

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Dois comentários para encerrar:

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Embora pareça excesso de preciosismo de nossa parte, vale lembrar que por mais que a gente faça diferenciação entre light novels e livros, todas as light novels são livros. É necessário comentar isso por causa das acepções que a palavra “livro” tem em língua portuguesa: uma como sinônimo de história/romance/obra de ficção e outra como suporte, isto é, volume (físico ou digital).

Assim, em termos de história, light novels não são livros “comuns” (história/romance/ obra de ficção), mas em termos de suporte (livro físico, palpável, ou mesmo digital) LN são livros, sim. Do mesmo modo, mangás são “histórias em quadrinhos” (tipo de arte cultural), mas não são “revistinhas em quadrinhos” (suporte).

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Por último, vale a pena comentar que, embora a gente diga “novel” (do inglês, romance), novels são livros “normais”. Harry Potter, por exemplo, é uma novel, mas não uma light novel.

Outro ponto muito importante é que nem todo livro lançado no Japão é uma light novel, nem muito menos todo livro conectado a uma editora de mangás ou obras desse meio são necessariamente LN. Dois exemplos disso no Brasil são as obras: Another e NO.6 (Number Six), embora sejam constantemente confundidos com LN.


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂

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