Relembre uma pouco lembrada obra de Hiromu Arakawa, a autora do cultuado Fullmetal Alchemist.
Hero Tales é um mangá que foi publicado entre 2006 e 2010 pela revista Shounen Gangan, da Square Enix, sendo concluído em um total de 5 volumes. O título conta com desenhos de Hiromu Arakawa (autora de Fullmetal Alchemist e Silver Spoon), roteiro de Ryo Yashiro, além de Kusanagi pela concepção de cenário e história de Huang Jin-Zhou. No Brasil, a editora JBC publicou o título em meados de 2012, finalizando a publicação no mesmo ano. A obra ganhou ainda um anime em 2007 que contou com 26 episódios.
Enquanto os fãs esperam pelo relançamento de Fullmetal Alchemist, por que não descobrir um mangá da autora diferente e que pouca gente se lembra? Vamos conhecer um pouco mais dessa história?
IMPRESSÕES
A HISTÓRIA
Em Hero Tales acompanhamos a história dos lendários Hokushin Tenkun, pessoas escolhidas pelas sete estrelas Hokushin para serem bravos guerreiros. Cada um deles possui a marca da estrela em alguma parte de seu corpo, sendo que existem duas estrelas funestas que são temidas por trazer uma grande destruição por onde passam, as estrelas opostas: Hagun e Tonrô.
O protagonista, Taito Shirei, não é ninguém menos que o guerreiro escolhido para ser o Hagun, todavia ele ainda é apenas uma criança,mas já possui uma força descomunal. Vivendo num templo com sua irmã, seu pai e avô, o garoto se vê sob pressão para completar seu teste de maioridade, que só estaria completo quando alguém mais experiente que ele o derrotasse. Uma tarefa que parecia improvável, acabou acontecendo quando seu avô chamou um jovem da capital chamado Ryuko, excelente manejador de bastão e também um guerreiro escolhido. Nesse dia, o protagonista herdou a espada Kenkarambu. Foi então que um estranho e enigmático homem apareceu, e depois de uma série de acontecimentos fantásticos, roubou a espada do garoto.
A partir da descoberta de Hagun a trama se desenrola e mostra a aventura dele para descobrir um pouco mais sobre seu potencial, resgatar a espada que herdou, das mãos de um canalha qualquer e, de quebra, salvar o império Ken das mãos da corrupção. Com o tempo é descoberta a identidade de muitos outros guerreiros com o poder das estrelas, e o grupo Taito, Laira (a irmã do protagonista) e Ryuko encontram várias pessoas e situações inusitadas.
TEMAS
A princípio é necessário dizer que o título entrega uma história de aventura, fantasia e ação que são seus temas principais, apesar de possuir também outros focos temáticos como romance e drama.
Como aventura, o mangá funciona bem. A ação é muito fluída, as cenas passam toda a tensão que precisa para você acompanhar os movimentos e as nuances das lutas e do nível de poderes. A história conta com uma boa experiência em termos de artes marciais, pois temos várias armas brancas utilizadas, juntas do velho sistema de energia vital (que todos conhecem de Dragon Ball, o chamado ki). Inclusive, o próprio personagem Ryuko é um artista marcial único.
A mitologia da história (fantasia) é sem dúvida alguma um diferencial interessante, pois apresenta uma riqueza única de detalhes. Tudo se desenvolve de modo a se descobrir cada vez um pouco mais sobre as estrelas de Hokushin e os escolhidos. Parece que tudo gira em torno das crônicas de Hokushin e isso dá uma grandiosidade a cada segundo, uma vez que sugere que tudo ocorre por um bem maior, como se tudo fosse predestinado pelas estrelas.
O romance é pouco explorado no início do mangá, apenas quando entram novos personagens é que esse tema acaba tomando um pouco mais a atenção, e mesmo assim não é muito explorado. Tanto que o ápice do romance está no penúltimo volume em míseras quatro páginas.
Já o drama permanece a história inteira, sempre há situações complicadas com os quais os personagens precisam lidar, em alguns momentos é um aliado muito interessante para você notar a “filosofia” ou “mensagem final” da história, o problema é que tem outros momentos que o drama é exagerado demais e fica passando aquele sentimento de enrolação e isso acaba sendo um demérito para a obra.
ENREDO E PERSONAGENS
A história em si tem alguns diferenciais importantes. Podemos dizer que ela é bastante original no que se propõe, apesar de alguns clichês básicos. Nota-se que a obra foi muito bem planejada, mas algumas soluções rápidas acabam estragando essa impressão. Isso se dá pelo ritmo da trama que acaba sendo, em alguns momentos muito rápido e em outros muito lento. Apesar disso, nos momentos de tensão, o roteirista conseguiu cumprir o objetivo e deixar o leitor apreensivo.
Podemos dizer também que todo o conceito da história é muito criativo. Como foi dito, a mitologia é rica, os conflitos criados são interessantes, e tem toda uma narrativa sobre o destino, se é ou não possível modificá-lo. Além disso, as nuances entre escolha e consequência tomam boa parte da mensagem do mangá. O final não deixou muitos buracos, só alguns personagens e menções que ficaram sem aprofundamento. Contudo, no geral, foi uma boa conclusão para o título.
Os personagens são parte do clichê, o protagonista é o típico cabeça-dura idealista, que tem uma solução simples para tudo mesmo que as coisas não sejam bem assim… De qualquer forma, o clichê não o torna menos carismático. Sua irmã, Laira, é aquela garota que serve como ponte para trazê-lo à realidade, com uns socos aqui e outros ali. Ryuko é um pouco sério, e no início muitos diriam que ele não é carismático, mas de todos na trama ele é talvez o personagem que mais se desenvolveu. Muitos outros podemos citar, como o apaixonado Hôsei, a assustadora Rinmei, o poderoso Keirô e o odioso Shimmei. Todos são personagens com diferenciais, e muito carismáticos. Cada um com sua própria história e seus próprios sentimentos e ideais. Inclusive a história dos antagonistas são muito diferentes, dá até impressão de que também houve um toque da Arakawa na criação do enredo, pois alguns momentos se assemelham muito ao mangá mais famoso da autora.
ARTE E CENÁRIO
E aqui falamos de Hiromu Arakawa. Como eu disse, parece que a trama teve alguns toques dela, mas isso não tem como ser confirmado, já os desenhos são inquestionáveis. Só vendo o estilo dos personagens, você já nota que é a arte da autora e ela conseguiu deixar muito fluída a ação do mangá. O impacto que precisa passar com a imagem sempre é passado de forma excepcional. Como já era de se esperar, não há do que se reclamar sobre os desenhos da autora que parece ter se encontrado em histórias com artes marciais (visto que uma das suas atuais publicações, Arslan Senki, tem um tema parecido).
Seu pano de fundo sendo um império antigo após a Dinastia Xia faz com que a história fique mais interessante e enriquece os detalhes, na arte de Arakawa fica tudo muito bonito.
VEREDITO
Com um desenvolvimento muito envolvente, Hero Tales possui um universo extremamente intrigante, boas lutas e personagens carismáticos. Só o que podemos concluir é que a sua premissa é muito bem concretizada, com uma grande ajuda da mitologia criada para o mangá. O tipo de história que explora muito bem os personagens, mas que tem um ritmo rápido demais para expandir o mundo e focar muito no que está fora do que é principal. Ela dá os detalhes fundamentais para que você entenda, mas não se aprofunda demais nas situações. Quando o faz, são aquelas que não merecem tanto aprofundamento (dramas exagerados). Basicamente, a história traça um caminho e segue ele sem curvas.
Se ela é indicada? Depende do que o leitor procura… Se você procura uma história com um mundo rico, bons personagens e boas lutas com aquele velho teor de artes marciais, você vai gostar do mangá. Apenas tenha em mente que a obra não alcançou todo seu potencial, pois algumas soluções rápidas estragaram o prazer que seria conhecer mais daquele mundo e de seus diferenciais.
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BBM