E tudo mudou…
Sem dúvida, não há mangá em publicação que me divirta mais do que Lovely Complex. Cada volume é uma chuva de risadas a cada nova passagem. Aya Nakahara, autora do mangá, parece dominar com maestria a técnica de fazer a pessoa rir de um jeito simples.
Entretanto, uma pulga sempre estava na minha orelha, como essa história se desenvolverá em dezessete volumes, sem perder o fôlego e sem ser repetitiva? Ao fim do volume 7 finalmente o casal Otani e Risa se uniu, de uma forma tão fácil que a gente até desconfiou que fosse esmola demais, mas veio o volume 8 e eles realmente se tornaram um casal. E a autora conseguiu usar isso para continuar com a comédia^^.
Para quem não conhece, Lovely Complex conta a história de Risa Koizumi – uma adolescente bem mais alta do que a média – e Otani – um adolescente mais baixinho do que todos os outros. Juntos como representantes de classe, eles são vistos aos olhos dos outros como uma dupla de comediantes, por viverem brigando e implicando um com o outro por causa da altura.
Entretanto, os dois se tornam grandes amigos, descobrem gostos em comum e se sentem bem um com a presença do outro. Logo os sentimentos de Koizumi começam a se modificar e a ver Otani de um modo diferente. O mesmo, porém, não ocorre com o rapaz. Ao menos não inicialmente. Somente no volume 7 é que os dois conseguem ficar juntos.
O oitavo volume é dividido em dois momentos distintos, primeiro a apresentação deles como um casal e segundo o aparecimento de uma nova personagem e a comédia se faz presente em todos eles, pois a autora sabe quebrar as expectativas do leitor, mesmo quando o leitor já está calejado e imagina o que está por vir.
No primeiro momento a gente vê que apesar de um gostar do outro, as provocações e as brincadeiras que eles fazem entre si continuam como antes e todo o romantismo que tenderia a existir simplesmente não acontece. Otani tem vergonha de demonstrar seus sentimentos (dizer claramente que ama Risa) e Risa não consegue agir docilmente, então tudo permanece do mesmo jeito, mas com os dois agora oficialmente namorados. É claro que há conflitos, inseguranças e tudo mais, mas o que se destaca é a comédia.
O segundo momento a coisa muda e temos o aparecimento de uma nova personagem, Mimi, vizinha e amiga de infância de Otani. Mimi, tal qual Risa, é alta e assim como ela gosta de Otani. Sim, isso mesmo. O primeiro sentimento a passar pela cabeça é que a obra irá pelo velho caminho do triângulo amoroso sem sentido e a obra nos instiga a pensar isso, pois apresenta uma personagem “malvada”, possessiva, pronta para acabar com Risa no primeiro momento de descuido e ela deseja roubar o namorado da garota.
Esse segundo momento tem um pouco menos de humor, mas ainda assim ele aparece muito bem, com cenas hilariantes envolvendo Risa, Otani e a nova garota. Ainda que uma ou outra piada se repita, você consegue achar graça com o jeito desajeito de Risa e com o jeito “anta” do Otani.
O bom é que os meus medos se dissiparam no final do volume, pois já acaba com a possibilidade de Lovely Complex virar um clichê ambulante com a presença de um triângulo amoroso sem sentido. Ao menos é isso o que parece, embora a autora sempre possa surpreender. No mais há uma coisa que eu não gostei e precisa ser explanada, os problemas de narrativa.
Problemas da narrativa
Em um narrativa seriada (não episódica) você consegue perceber facilmente quando um artista faz uma história mais longuinha e cria, de antemão, todos os detalhes do início ao fim. Os acontecimentos da obra vão se encaixando peça após peça e todos os personagens que vão aparecendo no decorrer da narrativa não surgem do nada, são previamente preparados. No mundo dos mangás publicados no Brasil, os únicos títulos completos que me vêm à cabeça no momento são Lúcifer e o martelo e Prophecy em que você lá no último ou nos últimos volumes coisas que tinham sido previamente preparadas desde o início…
De igual modo, você consegue perceber quando um artista não pensou em todos os detalhes. Esse é o caso de Aya Nakahara em Lovely Complex. A autora inseriu a personagem Mimi meio do nada, unicamente para dar continuidade à história, ainda que seja apenas neste volume. Antes deste tomo não houve qualquer menção a uma vizinha do Otani e tampouco sobre suas características. Para a obra ser perfeita narrativamente falando, a autora deveria ter colocado diversas pistas sobre a existência dessa garota. Afinal ela é alta como Risa, gosta do rapaz e lhe dá leite todos os dias. Em algum momento da história, isso deveria ter sido mostrado.
É a mesma “tática” de obras como Dragon Ball, por exemplo. Goku derrota um vilão forte, aí aparece um mais forte, depois um mais forte ainda e outro e outro, tudo para que a história não acabe e tenha um conflito a mais. O aparecimento de Mimi em Lovely Complex é exatamente para isso, criar um conflito e fazer a história andar, quando os elementos que você tinha acabaram. Com o casal junto você não teria como manter o conflito e aí aparece um novo personagem para “colocar um gás” na história…
Eu tenho o pensamento de que quase 100% das obras que as pessoas consideram “o melhor mangá já feito”, na verdade são no máximo “divertidos” e um dos motivos é esse sobre o planejamento de uma história. Lovely Complex é sensacional, te diverte muito, faz você rir o tempo todo, mas não é perfeito. Ele tem suas falhas. Obviamente, por ser uma obra de comédia e, principalmente, por ser um slice of life e tratar da vida escolar esse aparecimento de personagens do nada pouco influem na qualidade do entretenimento, porém empobrece um pouco a qualidade da narrativa e faz com que ele não seja um título 10/10, não seja o “melhor mangá já feito”.
A conclusão…
Lovely Complex continua sendo o mangá com que eu mais dou risada, mas sempre fica aquela interrogação sobre até onde a obra vai sem ser repetitiva. Se a autora utilizar-se desse expediente de novos personagens nos próximos volumes, o mangá tende a se tornar cansativo bem antes de seu final (estamos chegando na metade da obra). Porém eu tenho motivos para ser otimista, pois até agora todas as minhas preocupações ao longo do mangá foram dissipadas completamente pela autora e espero que ela continue assim^^.
- Leia as resenhas dos outros volumes de Lovely Complex, clicando aqui.
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