Mangá Aberto: os lançamentos recentes da Mythos

Veja como estão os mangás…

Mangá Aberto é uma nova coluna de resenhas aqui do blog em que mostraremos a edição física de um mangá, geralmente um lançamento. O nome advém de um antigo blog em língua espanhola que fazia exatamente isso^^. A ideia é apresentar aos leitores exclusivos do blog o que já fazemos em nossas redes sociais, mostrar fotos do mangá acrescentando alguns detalhes sobre as obras e opiniões.

A postagem de hoje será diferente, pois apresentaremos o primeiro volume dos três mais recentes lançamentos da editora Mythos (A Bruxa Noturna, As Incertezas de Sumi Izumi e O Baile de Máscaras do Miasma). Todos eles ganharão uma resenha da história à parte e hoje falaremos apenas da edição física e das escolhas editoriais da Mythos.

Essa postagem foi feita graças aos exemplares cedidos a nós pela Mythos, a quem agradecemos a parceria. Para nossos leitores, vale dizer que análise será totalmente imparcial e as opiniões serão sinceras, com críticas negativas quanto tivermos que criticar, e positivas quando tivermos que elogiar.


DETALHES SOBRE AS OBRAS


Os três mangás são obras publicadas em revistas (sites) direcionados ao público masculino adulto (são chamadas obras seinens) do selo Zenon Comics, da atual editora Coamix.

  • A Bruxa Noturna é de autoria de Shin Hotani e possui 3 volumes no total. É um slice of life puro, mostrando a vida cotidiana da protagonista (de noite^^).
  • As Incertezas de Sumi Izumi é de autoria de Anu e possui dois volumes no total. É um slice of life de drama pesado, daqueles super-identificáveis para quem tem uma vida difícil.
  • O Baile de Máscaras do Miasma é de autoria de Mizuki Mizushiro e Yoshiki Tanaka e possui 3 volumes no total. É um mangá de ação e fantasia comum.

Os 3 foram anunciados pela editora Mythos no dia 05 de maio de 2023, em uma live em seu canal no Youtube. O lançamento do primeiro volume deles ocorreu entre o final de julho e o início de agosto.


FORMATOS DAS EDIÇÕES BRASILEIRAS


Os três mangás vieram no formato 14,5 x 21 cm. Essas são as mesmas dimensões dos dois primeiros mangás da Mythos (A Feiticeira do Castelo e Bus Hashiru: Os Passageiros do Amor), sendo um pouco maiores que os mangás comuns da JBC e da Panini por exemplo.

Os três possuem capa cartão com verniz localizado, mas Sumi Izumi e Miasma foram publicados em capa cartão simples, enquanto A Bruxa Noturna foi lançado em capa cartão com orelhas. O papel utilizado no miolo dos três foi o offset 90g.


CAPA QUARTA-CAPA E LOMBADA


Desde que as capas dos três mangás foram divulgadas pela editora, creio que só choveram críticas ao design e as fontes escolhidas para os títulos.

De minha parte, porém, eu só vi uma inconsistência em As Incertezas de Sumi Izumi, que achei muito simples, feia, parecendo fontes de mangás e revistas dos anos 1990. O logo de A Bruxa Noturna eu genuinamente achei bonito, enquanto O Baile de Máscaras do Miasma foi um tanto faz.

Em termos de acabamento, os três possuem uma capa cartão comum (do mesmo material da maioria dos mangás publicados no Brasil) com verniz localizado no título e nos personagens. É um acabamento simples, mas acompanhado desse extra que é o verniz.

Assim, movendo os mangás contra a luz você consegue ver essas partes brilhando e se destacando das demais. É uma “firula” que confere um charme bem interessante aos mangás, um algo a mais em relação a outros títulos.

Acerca da quarta-capa (a parte de trás dos mangás) eu achei muito bom todas terem uma sinopse que explica bem o que é a obra, além de uma (ou mais) frase (s) descrevendo-as mais.

Particularmente achei a composição da quarta-capa de A Bruxa Noturna a melhor de todas, tanto pela escolha das cores, quanto pelos quadrinhos e as imagens utilizadas. Ela passa uma mensagem interessante e desperta o desejo do leitor, de comprar aquilo, de um jeito único.

A quarta-capa de Sumi Izumi eu achei mais sem sal, também pela escolha das cores e da composição dos quadrinhos. Ainda assim, pensando bem, e considerando o contexto da obra, ela também é uma quarta-capa bem feitinha, pois faz você ver o que encontrará nesse mangá, um vazio interior, uma depressão, etc.

A quarta-capa de Miasma é mais vibrante (por ter uma ilustração colorida preenchendo-a toda), mas mesmo assim acaba sendo a mais sem graça de todas. Ela também passa o clima da obra, mas parece genérica e vazia demais.

Agora falando da lombada, eu achei que as três são apenas “ok”. Não achei bonitas, mas também não achei feias. A única que merece uma crítica mais negativa é a de Sumi Izumi, pois os elementos não estão todos centralizados e alguns até vazam para a quarta-capa. Fica parecendo que a editora não conseguir fazer a medição correta que o mangá teria e acabou ocorrendo isso.

Por fim, vale também comentar que há uma diferença na orientação das lombadas deles. Miasma seguiu a mesma orientação de Bus Hashiru e A Feiticeira do Castelo, enquanto A Bruxa Noturna e Sumi Izumi tiveram suas inscrições viradas para o outro lado.

Não existe certo e errado nessa questão de orientação da lombada. O nosso comentário foi apenas para constatar a situação, como uma curiosidade.


CAPAS INTERNAS


As capas internas de A Bruxa Noturna possuem histórias em quadrinhos e uma ilustração extra das protagonistas na parte em que corresponde às orelhas. Gostei das ilustrações, especialmente da Maya (a personagem principal) vestida de bruxa.

As capas internas de As Incertezas de Sumi Izumi possuem ilustrações de um currículo da protagonista, em uma delas ele sendo preenchido e em outra manchada com café. Embora pareçam não querer dizer muita coisa, elas refletem bem o conceito da obra.

As capas internas de O Baile de Máscaras do Miasma são as mais simples por assim dizer. Em ambas temos apenas as repetições das ilustrações dos personagens da capa e da quarta-capa, mas agora em um tom preto e branco. Em uma das capas internas ainda há o índice do mangá. Particularmente, não gostei.


PAPEL


O papel utilizado nos três mangás foi o offset 90g, o mesmo papel branco utilizado pela editora NewPOP na maioria de seus mangás. Particularmente, eu não gosto muito desse papel por questões técnicas (reflexão da luz, ser pior para a leitura, etc), mas objetivamente falando o papel está bom nos três títulos, com nenhuma ou quase nenhuma transparência.

Em comparação com os dois mangás anteriores da editora (que também utilizavam um papel offset), o papel dos novos mangás parece estar melhor, talvez seja mais grosso. Então, como um todo, o papel está ok e tende a não desagradar tanto assim os consumidores.

Bus Hashiru x A Bruxa Noturna
Bus Hashiru X As Incertezas de Sumi Izumi
Bus Hashiru x O Baile de Máscaras do Miasma

Importante dizer que O Baile de Máscaras do Miasma possui quatro páginas coloridas e elas foram impressas em outro papel, o couchê (aquele mais brilhoso, que “parece plástico”), e, no meu entender, ficaram muito bonitas.


ACABAMENTO GERAL


Os três mangás da Mythos possuem miolo apenas colado, mas a encadernação de todos eles é muito boa, permitindo ler, abrir e folhear o mangá muito bem, sem qualquer problema e sem qualquer medo. O verniz localizado dá mesmo um charme a mais à capa dos três mangás e, no todo, o acabamento deles é bom.

O destaque dessa leva fica para o A Bruxa Noturna, pois as orelhas fazem com que ele pareça mais consistente e bem acabado que os demais títulos da editora. Se eu fosse a editora, lançaria todos os títulos vindouros com acabamento semelhante a ele.

Há que se ressaltar a quantidade de páginas de cada mangá e outras diferenças de acabamento entre eles. Sumi Izumi possui apenas 130 páginas, por isso é mais fino que os demais e, provavelmente, também por isso, custa menos que os outros, R$ 31,90. Já A Bruxa Noturna possui 162 páginas e custa R$ 37,90, novamente tendo o destaque de ter orelhas. Por fim, O Baile de Máscaras do Miasma também custa R$ 37,90, mas ele vem com 198 páginas, sendo quatro delas coloridas em papel couchê.


TEXTO


Os textos dos mangás da editora Mythos (os três recentes e os dois primeiros) ficam num misto de “muito bom” com “pra que isso?”. De um lado, a editora faz adaptações sensacionais, com certas gírias e modificações que determinam um texto muito fluído e natural. Por outro lado, no entanto, a editora mantém honoríficos japoneses que fazem justamente o contrário, deixando o texto desagradável em relação ao idioma e totalmente anti-natural.

Embora essa frase possa parecer enfática demais, ela representa a mais pura verdade, pois são partículas que simplesmente não deveriam estar presentes em textos de língua portuguesa, não somente pelo quesito tradução/adaptação, quanto (e principalmente) pelo quesito acessibilidade.

*** disclaimer***

No meu entender, não existe nenhum argumento plausível para deixar honoríficos japoneses em mangás e todas as justificativas dos “fãs” do seu uso são inevitavelmente bobas, como aquela desculpa de que eles fazem parte da cultura japonesa (como se o resto da língua não fizesse, né?) ou de que se perderia muita coisa ao traduzir (como se toda a tradução não tivesse milhares e milhares de perdas).

A não ser casos extremamente específicos, como no caso da Nino-san em Arakawa Under The Bridge, onde é preciso manter o honorífico para fazer sentido o nome e a piada, na maioria das vezes todos os honoríficos podem ser adaptados para a língua portuguesa com maior ou menor precisão.

A gente pode citar o caso de Spy x Family. A Yor chama sua filha postiça de Anya-san no original japonês. A tradução oficial em anime (tanto legendada, quanto dublada) faz uma adaptação que não é muito boa, fazendo-a chamar de Senhorita Anya. Embora, a adaptação possa ser realmente isso, para o ambiente linguístico do português brasileiro ele não faz um sentido claro. Ele coloca uma distância muito maior entre a Yor e a Anya do que existiria normalmente, como se fossem completamente desconhecidas ou como se a “mãe” não nutrisse algum sentimento pela filha. A adaptação da Panini no mangá é muito melhor nesse sentido, pois a Yor chama a Anya apenas de Anya mesmo. É algo mais informal, mas sem ser muito carinhoso, mantendo assim mais ou menos o aspecto da relação entre as duas que é bem visível tanto no mangá, quanto no anime.

Então, honoríficos podem ser adaptados e eu não acho que existam razões para se mantê-los. Na verdade, existem mais razões para não tê-los. Sim, pois, eles não fazem parte da língua portuguesa, não são “coisas” ou “objetos” intraduzíveis, e eles atrapalham a leitura do texto, fazendo-o ficar menos coeso e menos coerente. Além, claro, de ser pouco acessível.

Diferente de uma palavra “difícil” da nossa própria língua (ou mesmo de uma comida japonesa, de um objeto ou de algum conceito) em que ela pode ser apreendida pelo contexto, os honoríficos são só elementos, são só coisas jogadas no texto em português, sem sentido prático. Assim se você vir a palavra japonesa “bakke” em um mangá e não sabe o que é, o contexto irá te dizer que é uma alguma espécie de alimento. Agora se você vir um honorífico, não tem contexto e nem nada que diga qualquer coisa. É só umas letrinhas ali sem sentido.

Sim, sem sentido, pois tê-los não vai fazer você ter a mesma experiência de leitura do japonês. Se você não estiver 100% dentro da cultura local, eles não fazem diferença e você não perceberá o modo como os personagens estão se tratando apenas pelo uso deles. E se você consegue, saiba que você é apenas uma das pouquíssimas exceções. A maioria das pessoas conseguirá ver as relações entre os personagens apenas se a obra não tiver honoríficos e for bem adaptada.

***

Agora, voltando a falar do texto da Mythos, eu não sei as razões que levaram a editora a manter honoríficos nos mangás, mas, como ficou claro, eu não concordo com o uso deles e acho que a empresa devia abolir em suas próximas publicações.

Entretanto, como não dá para se mudar o passado, é importante ressaltar os pontos positivos e dizer que a editora colocou glossário nos seus três novos mangás e que explicam aos leitores os honoríficos e outras coisas mais. Pois, sim, isso acaba sendo importante.

Em A Feiticeira do Castelo, a editora usou honoríficos e em nenhum dos quatro volumes havia glossário. De modo que se alguma pessoa viu o título, se interessou, e nunca tinha lido um quadrinho japonês, ela deve ter ficado perdida em muitos momentos ou achou que os honoríficos fossem só uma parte do nome (tipo quem acha que o Daniel, de Karate Kid, se chama Daniel-san).

Em Bus Hashiru: Os Passageiros do Amor e nos três mangás recentes, a editora já colocou o glossário, bem explicadinho, para ao menos essa confusão não ocorrer. Continuo dizendo que não deveria haver honoríficos nos mangás da editora, mas já que ela usou, ao menos o glossário é importante, então isso devemos elogiar.

O texto dos mangás da Mythos não são o que a gente quer (no sentido de coerência e acessibilidade), mas ao menos o glossário é de grande ajuda.


REVISÃO DE TEXTO


Eu não recordo de encontrar erros de revisão em A Feiticeira do Castelo e em Bus Hashiru. Se houve, passaram despercebidos por mim em minhas leituras. Nos volumes #01 dos três novos mangás da Mythos, eu também não encontrei erros de revisão em A Bruxa Noturna e nem O Baile de Máscaras do Miasma, mas encontrei em As Incertezas de Sumi Izumi.

Encontrei três erros de diferentes. Vejam a seguir:

Faltou uma vírgula ou um “e” depois de “sair”
A personagem “Izumi” é chamada aqui de “Azumi”
Esqueceram de separar o “e” a palavra “fluxo”

Esse número é bastante alto, principalmente para um mangá tão curto quanto esse. Então fica aqui o alerta para a editora dar mais atenção a esse aspecto e não deixar passar nada.


ONOMATOPEIAS


Como a Mythos é uma editora nova no mundo dos mangás, é importante também dar uma olhada em outros aspectos aos quais não costumamos falar em postagens desta coluna, como é o caso das onomatopeias.

As onomatopeias são fonemas que reproduzem efeitos sonoros (como um estouro) e, no caso das japonesas, outras coisas como sentimentos. Via de regra, as editoras brasileiras mantém as onomatopeias originais (em japonês) e colocam uma legenda ao lado, normalmente discreta.

A Mythos segue exatamente esse mesmo esquema. Foi assim nos seus dois primeiros mangás e também foi nos três mais novos. Você não notará diferenças significativas entre o trabalho da Mythos e o trabalho da Panini, por exemplo.


OUTROS ELEMENTOS E CONCLUSÃO


Falando de coisas mais técnicas, os três mangás possuem Ficha Catalográfica, item utilizado por todas as boas editoras atualmente. Salvo engano, trata-se de um item obrigatório em livros, mas não sei se também é para mangás. De todo modo, eu realmente sempre acho muito bom quanto tem esse tipo de coisa, pois é mais um elemento para fixar o tipo de mídia que a gente quer que os quadrinhos japoneses sejam.

Para além disso, os três mangás da Mythos possuem alguns extras por assim dizer. Além do glossário (que comentamos antes), os três títulos possuem uma prévia do próximo volume.

A prévia de Miasma e Bruxa Noturna até mesmo colocam a data de lançamento (agosto) do próximo número, coisa rara de se ver no Brasil. De memória, lembro apenas alguns volumes de Ultraman, da JBC, com esse tipo de coisa. Achei isso muito legal.

***

Para terminar, a gente agradece novamente à Mythos por nos ter enviado os mangás e torcemos para que nossas críticas sejam levadas em consideração, assim como os elogios. No todo, eu achei o trabalho da editora bom e a escolha dos títulos foi muito certeira, com dois deles me deixando sem palavras do quanto eu gostei.

Nos próximos dias sairá também resenhas das histórias, para que eu possa comentar um pouco mais o que achei das obras.


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