Conheça uma das atuais obras de Hiromu Arakawa
Hiromu Arakawa é uma famosa autora de mangás, conhecida no Brasil especialmente por Fullmetal Alchemist, atualmente sendo republicado pela editora JBC. No momento, Arakawa possui duas obras em simultâneo, Arslan Senki, em que é apenas desenhista, e Gin no saji (Silver Spoon), em que é roteirista e desenhista. Salvo engano, os dois mangás estão parados no Japão no momento em que este texto é publicado.
Ambas as séries ganharam animações nos últimos anos e tornaram-se famosas em nosso país, sendo volta e meia pedidos pelos consumidores às editoras de mangás no Brasil. Porém nenhuma das duas séries apareceu em nosso país ainda e não há qualquer expectativa de que apareçam em breve, visto que, embora sejam conhecidas, não dispõem da fama de outras obras.
Em outros países, porém, os dois mangás já são publicados. Arslan Senki é publicado na França, Itália, Espanha e Alemanha. Já Silver Spoon é publicado apenas nos três primeiros.
Este último título é de minha grande predileção desde que vi a animação e sabendo que dificilmente essa obra virá para o Brasil comecei o processo de importação dos volumes. Escolhi a versão espanhola publicada pela editora Norma. Com o primeiro volume em mãos, resolvi realizar uma resenha dele, e apenas dele, e apresentar a vocês um pouco sobre esse mangá.
Sinopse
A escola de Capacitação Agrária de Oezo se encontra em uma paisagem idílica, localizada em plena natureza. Ali vive e estuda Yugo Hachiken. Está prestes a começar uma história trabalhada sobre a terra com suor e muitas lágrimas.
História e desenvolvimento
Quando você tinha 15 anos já sabia o que queria ser quando crescer? Em caso positivo, sabia o que era preciso para alcançar seu objetivo? Conseguiu realizá-lo? E você que hoje tem 15 anos já sabe o que quer ser quando crescer e o que fazer para realizar o seu sonho? Ter um sonho acaba sendo um clichê muito utilizado nos mangás, especialmente os shonens (mas não restrito a eles). Em Death note, Light Yagami quer ser o deus do novo mundo; em Love Hina, Keitarô quer passar na Toudai; em Ataque dos Titãs, Eren quer derrotar os gigantes; em Noragami, Yato quer construir seu templo e ter muitos seguidores, e em Fullmetal Alchemist, Ed e Al querem recuperar os seus corpos, etc.
Exemplos mais existem vários pelo mundo dos mangás, mas em Silver Spoon o “ter um sonho” é colocado de uma forma diferente, como se, de certa maneira fosse algo ruim, apresentando um protagonista que não sabe o que quer fazer da vida, mesmo sendo bastante responsável. Isso não chega a ser uma novidade, já que existem obras várias em que o protagonista não quer nada com nada, mas nesse mangá a situação muito diferente.
Yugo Hachiken é um estudante padrão japonês. Ele estuda muito, é inteligente e sempre tira excelentes notas. Possui um espírito competitivo em que ele precisa ser melhor do que os demais colegas em todas as disciplinas. Mas sua padronização termina aí. Diferentemente de outros estudantes que já possuem um sonho definido, Hachiken não sabe o que quer fazer no futuro e se irrita pelas pessoas cobrarem isso dele. Durante o primeiro volume inteiro, o rapaz será questionado sobre seus “sonhos para o futuro” e se sentirá um pouco inferiorizado por causa disso, mas Silver Spoon não é um mangá depressivo, nem de longe.
Nesse primeiro volume, a obra nos apresenta vários questionamentos interessantes como a falta de importância das notas escolares, mostrando que na vida real as notas não fazem a menor falta e o que importa realmente é o conhecimento específico para uma certa atividade, e a diferença existente entre o modo de pensar de pessoas do campo e da cidade. Hachiken representa o típico cidadão urbano que é totalmente alheio ao modo de produção, aquela pessoa que come carne e não sabe como os animais são mortos, ou aqueles casos extremos de pessoas que acham que o leite vem do supermercado^^.
Hachiken vai descobrindo as “maravilhas” desse mundo rural. Por onde as galinhas põem os ovos? Como alguém pode achar natural matar uma galinha como se não fosse nada? Cavalos são assustadores mesmo? Essas e outras coisas são discutidas durante o volume por meio de um clima slice of life interessante que mistura comédia e um pouco de drama, sempre alicerçada na quebra de expectativa, feita para nos fazer rir e refletir.
Quebra de expectativa: comédia e drama
A tônica do mangá começa desde a primeira cena da primeira página. Silver Spoon começa com Hachiken perdido em seu primeiro dia de colegial, na escola agrária de Oezo, após perseguir um bezerro. Ele acaba sendo salvo por Mikage Aki, uma de suas futuras colegas de classe, e a partir daí começa a história de adaptação de Hachiken à sua nova vida. Estudante promissor e podendo estudar em qualquer preparatório, o rapaz preferiu uma escola rural, mesmo não tendo qualquer ligação interiorana.
Como dito, o mangá mistura cotidiano escolar, ambiente rural, um pouco de drama e bastante comédia. Hachiken está sempre atrelado em toda essa mistura, ajudando seu colega ruim em matemática, sofrendo ao ter que acordar às cinco da manhã para aulas de práticas e tirando notas altas, mas sempre menores que outros estudantes. A comédia é o ponto principal, sempre alicerçado na quebra de expectativa de Hachiken. Por exemplo, quando acabam as práticas matinais e ele acha que não precisará acordar mais às cinco da manhã, ele termina por entrar no clube de hipismo obrigando-o que acordar às quatro^^. Ou quando ele acha seus colegas burros (por tirarem nota baixa em matemática, por exemplo) e logo depois descobre que eles têm conhecimentos agrários super avançados que ele não consegue sequer acompanhar. Esse tipo de situação se repete aos montes e só a leitura em si mostrará o quão cômico é o mangá.
A quebra de expectativa também é levada para o lado do drama. Por ser o único a não ter um sonho definido, ele acha que a vida de todos os seus colegas será bem mais fácil, pois eles já têm um perfil traçado e o que fazer para o futuro, como cuidar de fazendas, ser veterinário, etc. O problema é que isso nem sempre é uma verdade. Um de seus novos colegas quer ser veterinário, mas mesmo sabendo tudo o que é preciso, ainda assim não é garantia de o sonho dele possa ser realizado, por um motivo ou outro.
Isso se mostra mais claramente com o conflito com o personagem Komaba. É para ele que Hachiken esbraveja que “tudo na vida dele é fácil” por já ter uma vida traçada, mas logo ele descobre que Komaba tem um destino complicado também. Mas Silver Spoon é um “mangá família” e os conflitos entre os personagens acabam sendo resolvidos facilmente e a amizade prevalece, após um simples pedido de desculpas.
Por ter acompanhado a versão animada, eu sei que o drama tende a aumentar, tanto em relação a Hachiken (os reais motivos por ele ter escolhido viver na escola agrária), quanto em Komaba e alguns outros personagens que se verão em situação difícil. Mesmo assim creio que a obra não irá (tanto) para o lado do melodrama e conseguirá manter a harmonia interessante que houve nesse primeiro volume…
Edição física e escolhas editoriais
Silver spoon, da editora Norma, possui o formato 12 x 18 cm, miolo em papel offset e sobrecapa. O offset utilizado parecer ser o mesmo usado pela JBC em títulos como Card Captor Sakura e Chobits ou pela L&PM em seus mangás. Em outras palavras, o mangá é bastante parecido com as edições nacionais, com a diferença de ser pocket (pouco usado no Brasil) e de possuir sobrecapa (ainda bastante raro por aqui). Se você já viu um mangá da L&PM ou uma edição de Sailor Moon é só imaginar isso, mas com sobrecapa e você terá o mangá espanhol.
Internamente as escolhas da editora Norma são interessantes. Diferentemente dos mangás nacionais em que você vê uma monte de notas de rodapé ou um glossário no final, a edição espanhola não possui nada disso, limitando a colocar apenas duas notas de rodapé o mangá inteiro e somente onde era impossível traduzir ou deixar sem nota. Outro ponto muito positivo para a editora é que ela não usa honoríficos.
Por fim, em relação às onomatopeias, a Norma utiliza o padrão adotado aqui, deixa ela no original e coloca uma legenda ao lado.
De um modo geral, eu gostei bastante da edição desse mangá, tanto fisicamente, quanto os detalhes editoriais. Será que a Norma não quer abrir uma filial no Brasil, não?^^.
Veredicto
Comprar uma versão importada é algo para poucos e, em geral, não vale a pena. Mil vezes melhor comprar uma edição brasileira em papel jornal a R$ 13,90 do que gastar quarenta reais ou mais em um volume em offset estrangeiro. Obviamente os volumes espanhóis possuem mais qualidade que os brasileiros, mas o valor é alto demais para investir. Se mangá já é para quem tem dinheiro sobrando, mangá importado é só para ricaços mesmo.
Porém, quando é sua série favorita e você quer te-la, importar é a única solução. Silver Spoon é um mangá que dificilmente aparecerá por aqui, então ir comprando as versões estrangeiras aos poucos é a única coisa que resta. Silver Spoon é um título que eu acho que vale muito a pena adquirir, pela história em si e por todo o conhecimento adquirido ao longo das páginas.
A autora mostra um conhecimento empírico da vida rural (a própria Oezo é baseada em uma escola agrária que a autora estudou), passando as coisas com tanta naturalidade que, mesmo se ela tiver inventado alguma informação, a gente sequer desconfiaria. As informações sobre amamentação dos leitões, o tratamento dentários dos cavalos, etc, tudo parece muito bem fundamentado. É uma obra que, realmente, vale muito a pena por essa e outras coisas…
Ficha técnica
Título: Silver Spoon
Autor: Hiromu Arakawa
Editora: Norma (Espanha)
Acabamento: Papel offset + sobrecapa
Número de volumes: 13 (ainda em andamento no Japão)
Preço: EUR 7,50
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Sempre que leio algo sobre Silver Spoon fico intrigado com as frases “…e não há qualquer expectativa de que apareçam em breve…” “não vai sair aqui” e não consigo entender, visto que é uma autora muito amada por ter criado uma das series de maior sucesso no país que é Fullmetal Alchemist. Ta ok, é um mangá de vacas, não é tão famoso como outras obras porem ele é bom e muita coisa ruim já veio parar aqui. Quem conhecia Limit, Ga-rei ou UQ Holder antes de serem publicados pela JBC? Eu acho que as editoras são meio imprevisíveis e que a qualquer momento ele possa ser anunciado, mas sei lá
Eu pensava mais ou menos como você, mas não há como pensar mais desse jeito mais. Silver Spoon pode até ser anunciado um dia, mas tudo indica que não vai ser. O que é esse “tudo”?
Bem, para um mangá fazer sucesso, ele tem que vender também para quem não é fã da obra, para quem o desconhece, mas Silver Spoon tem potencial quase nulo de vendas:
-O mangá é slice of life o que já diminui o número de potenciais compradores, já que as pessoas preferem os títulos de lutinha, mistério, sobrevivência.
– Ainda nesse tema, Silver Spoon enfrenta os mesmos problemas de mangás shoujo e demais obras de nicho: quanto mais volumes, mais difícil trazer. Ele já vai ter 14 volumes, não me parece obra uma que uma editora irá arriscar.
-O mangá não tem capas chamativas. É daí que vem o “mangá de vacas”. Quem não conhece o mangá e vê as capas, se afasta. Potencial nulo de fazer novos compradores.
-O nome Hiromu Arakawa pode não ter tanta força assim quanto você pensa. Já tivemos uma obra dela aqui, o Hero Tales, e não parece ter feito o menor sucesso. Hoje o titulo é completamente esquecido e na época de lançamento também não teve a menor repercussão. Então, é só FMA que faz sucesso, nada garante que Silver Spoon repetirá o sucesso de FMA.
– Eu não sei até que ponto a editora brasileira tem conhecimento dos mercados estrangeiros, mas sei que elas acompanham. Silver Spoon não vendeu muito bem na europa. Pelo que sei, na Espanha mesmo foi um fracasso.
-Hoje, a JBC não tem arriscado mais. Então, eu duvido que Silver Spoon apareça por ela nos próximos… 5 anos. Quanto à Panini… acho mais difícil, ainda. Eles publicaram na Itália e se o título tivesse feito sucesso lá e a empresa pudesse trazer para o Brasil já teria trazido.
[…] tão comum nos mangás brasileiros. Também é assim na edição espanhola de Silver Spoon (confira resenha aqui), mas eu não tinha me tocado disso até ver Ristorante Paradiso. Ao que parece, a Espanha já […]
Já conversamos algumas vezes sobre Silver Spoon. Realmente é uma obra que gosto demais, conheci com as animações e virei fã, ela consegue abordar de forma muito boa o cotidiano e alguns dramas pesados, como o caso do cara que precisava ser jogador de baseball.
Infelizmente não vai sair aqui, eu ficaria surpreso demais de isso acontecer. Convenhamos, tirando grandes fãs e o pessoal mais “hardcore” na coleção, o público geral vê Silver Spoon como “o mangá de vacas da autora de FMA”. E isso não venderia.
Sobre a questão da importação, concordo em tudo com você. Importar é poucos, e eu acho que tem que ser a última opção, para coisas mais certas. Eu quero importar JoJo, pois não vai vir. Fora ele, não importaria mais nada.
Esses que dizem “vou importar FMA ao invés de comprar o brasileiro” apenas falam com seus perfis fake, mas todo mês vão na banca buscar o volume novo.
Grande post Kyon.
Na verdade eu acho que essas pessoas só querem motivo pra criticar e não estariam satisfeitos com nada, ainda que a edição brasileira viesse em capa banhada a ouro com a melhor gramatura, melhor papel e um preço acessível eles ainda assim diriam que as edições estrangeiras são melhores.
Particularmente eu não acho que seja tão difícil assim ver esta série por aqui um dia.
Quando ela terminar de ser lançada, acredito que teremos o seu lançamento em terras brasileiras.
E se o fim da série culminar próximo ao fim da republicação de fullmetal, acharia isto um “timing” perfeito.
Ainda espero vê-la por aqui, sonho nosso…
Quem dera isso aqui no Brasil…