O melhor dos piores mangás de sobrevivência?
Em 2013, a editora JBC iniciaria a publicação de um grupo de obras bastante diferentes entre si, mas que tinham uma temática em comum: sobrevivência. Dentre obras boas e ruins, a temática pareceu agradar bastante uma parcela do público consumidor e deve ter feito sucesso, pois foram vários lançamentos entre 2013 e 2015.
Hoje falaremos de um dos títulos mais interessantes dessa leva (para o bem e para o mal) O senhor dos espinhos, de Yuji Iwahara, um mangá que recebeu muitas críticas negativas na época em que foi lançado, mas que não é tão ruim como muitas pessoas propagam…
O senhor dos espinhos foi serializado entre 2002 e 2005 na revista Comic Beam, da editora Enterbrain, sendo concluído em 6 volumes. Embora não tenha sido um sucesso estrondoso o mangá foi lançado em diversos países do ocidente como Estados Unidos, Espanha, Itália e França (neste último em duas edições, uma delas com mais de 100 páginas coloridas por volume).
Mas como é O senhor dos espinhos? O que ele tem de bom e de ruim? Veremos com mais detalhes agora…
O texto a seguir terá todos os spoilers do mundo, mas se você NÃO conhece a obra recomendo ler mesmo assim, pois pode fazer você querer conferir o mangá (ou não) exatamente por causa desses spoilers.
- Sinopse
Em um futuro não muito distante surge o vírus Medusa. Completamente incurável, todas as pessoas infectadas aos poucos têm sua pele enrijecida e escurecida, tomando a aparência de uma estátua. Sem meios de combater a doença naquele momento, 160 pessoas são sorteadas e colocadas em sono criogênico, para aguardar por uma possível cura. Os sorteados acordam em meio a um mundo completamente diferente. As instalações onde eles repousavam foram invadidas por uma densa vegetação e criaturas com aspecto jurássico habitam as sombras. Confusos e ainda ameaçados pelo incurável vírus Medusa, os sobreviventes se reúnem e tentam escapar do prédio, em busca de ajuda e respostas.
- História e desenvolvimento
O senhor dos espinhos não é outra coisa senão um mangá de mistério e ação. A estrutura inicial básica é aquela conhecida, um grupo de personagens encontra-se em um lugar e algo estranho acontece. A partir dali eles terão que descobrir o que está acontecendo e, ao mesmo tempo, tentar sobreviver. Essa é uma estrutura clichê que já vimos em diversas oportunidades, desde filmes de terror até desenhos animados. E como toda obra de mistério, ela pode ser bem construída ou ser um completo desastre, a depender da competência das pessoas envolvidas.
O senhor dos espinhos é meio que um misto dos dois, apresentando diversos plot twists geniais, ainda que muitos deles previsíveis, mas com um desenvolvimento para lá de questionável, para não dizer ruim em certos momentos.
O mangá começa muito bem apresentando-nos a protagonista Kasumi (sua insegurança e seu drama por ter deixado a irmã gêmea para morrer sem ela) bem como os outros personagens, a criança, o senador, o sujeito mal encarado (chamado Marco e co-protagonista da história), etc. Todos eles formam um séquito interessante de sobreviventes que buscam entender e averiguar o que estava acontecendo.

O primeiro volume é alucinante, com muita aventura, ação e drama. Até o volume 3, O senhor dos espinhos se mostra uma história das mais sensacionais que você terá a oportunidade de ler. O clima de mistério em um mundo caótico lembra demais histórias clássicas da literatura como Viagem ao centro da terra, especialmente pela presença de criaturas jurássicas, e nos convida a acompanhar mais e mais as aventuras, nos instigando a perguntar que tipo de mundo é aquele, que tipo de criaturas são aquelas e, principalmente, quantos anos terão passado desde que os personagens começaram a dormir em sono criogênico.
O desenvolvimento do mangá vai, aos poucos, aclareando e adensando o mistério e, ao mesmo tempo, criando outros. Os objetivos da organização por trás da Medusa, o inimigo de Marco, entre outros. Uma sacada interessante do mangá é mostrar que os únicos sobreviventes podem não estar ali por acaso e terem sido escolhidos a dedo. Há um dos cientistas desenvolvedores do sono criogênico, há um hacker detento que se mostrará um espião da cia (Marco), o já referido senador, etc. Até mesmo Kasumi, a protagonista da história, tem um motivo para estar lá, embora ela não saiba inicialmente. Não se trata de nada inovador, mas o fato de a série buscar passar um motivo para a presença de personagens importantes (e que geram conflito no mangá) agrega bastante valor à obra.
A partir do volume 4, a qualidade do mangá diminui bastante, embora o ritmo alucinante permaneça. Os mistérios começam a ser revelados de forma mais sistemática nesta parte e, infelizmente, eles não são tão bons assim como se poderia esperar. Não pela revelação em si, mas sim pelo que acontece depois. A descoberta de que a Medusa é uma doença “da alma” e não do corpo é simplesmente genial, é uma ideia muito boa, que reconfigura tudo o que sabíamos até então da história e dando perspectivas interessantes para o futuro, mas o conjunto da revelação não é totalmente harmônico. Chega a ser insatisfatório por certos acontecimentos futuros.
A gente descobrirá que todos os monstros que existem são produtos da Medusa fabricados a partir da mente de uma pessoa, mostrando que os monstros são uma materialização do que está na alma do infectado e isso estará relacionado a alguns dos pontos principais do final do mangá que foram mal desenvolvidos. Para começar uma das personagens morre. Só que, já sabendo o que é a medusa, ela a materializa e a transforma em um pássaro O_o. O grande problema disso é que a pessoa não sabia como funcionava essa materialização até aquele momento (e nem teria como saber) e tal elemento só foi usado como uma daquelas tentativas de salvar as pessoas do nada. Em outras palavras, Iwahara utilizou de um péssimo recurso de narrativa ao não preparar a personagem para o que ela iria fazer.
Mas isso é só o início das coisas questionáveis. Teremos uma “garota fantasma” e descobriremos que o grande vilão, na verdade, será um sujeito que abdicou do seu corpo e implantou sua mente no computador, tudo isso interligado com a Medusa.
O final é a síntese do que é o mangá, um misto de genial com um toque de “é só isso?”. A grande responsável por todos os monstros do mundo será, inconscientemente, a própria irmã gêmea de Kasumi e ainda descobriremos que Kasumi está morta desde o início e na verdade ela é uma manifestação da medusa de sua irmã O_o. Mas páginas depois o mangá termina do nada, com o mundo quase destruído e os personagens lá, olhando para o nada e dizendo que aquilo é começo de tudo, quase indicando um mangá cancelado. O genial contrastando com o questionável.
Nem tudo é ruim, no fim das contas. Yuji Iwahara quis amarrar o máximo de coisas possíveis e eu respeito essa tentativa, embora não tenha saído totalmente perfeito. O fato de todos os personagens tentarem proteger Kasumi mesmo sem a conhecer foi uma explicação um tanto quanto boba, clichê até, mas ao menos teve uma e eu acabei gostando do resultado.
De resto, eu acho que teve muita reviravolta e uma trama um tanto quanto elaborada demais e que exigiria um desenvolvimento perfeito, o que acabou não ocorrendo. Entretanto, a minha visão sobre o mangá era bem pior no passado. Releituras do mangá me mostraram que O senhor dos espinhos era muito melhor do que eu imaginava, com sacadas geniais e que me divertiram mesmo não sendo uma leitura inédita. Porém isso não redime o mangá de seus diversos e diversos erros e escolhas questionáveis. Ainda assim, é um título que eu indico bastante e que sempre relerei de tempos em tempos…
- A edição nacional
O mangá foi lançado no formato 13,5 x 20,5 cm, miolo em papel jornal e capa cartonada simples. A edição ainda teve páginas coloridas em couchê. A edição é muito boa, bastante maleável e sem qualquer problema de encadernação. Embora lançado em 2013, o papel do miolo é um jornal de 52g muito bom e minha edição se encontra em excelente estado até hoje. Não parece ser aquele papel excepcional usado pela JBC um ano depois, mas ainda assim é um papel que nos permite ler e apreciar a história sem muitos problemas.

Em termos de adaptação a JBC fez um trabalho bastante competente, praticamente perfeito, não existindo nenhuma frase que soasse estranho. De igual modo não houve qualquer honorífico ou palavra japonesa desnecessária, tornando a leitura bem mais fluída. Em resumo, não há o que reclamar da edição brasileira de O senhor dos espinhos.
- Veredicto
O senhor dos espinhos tinha uma história bastante promissora e que, na verdade, empolgava bastante em seus primeiros volumes. Os mistérios pareciam bem construídos e os personagens, ainda que extremamente clichês, conseguiam cativar a nossa atenção. Mas com o passar dos volumes a história foi se perdendo e terminou de uma maneira até que frustrante.
Ainda assim, como eu disse, a releitura do mangá me mostrou que O senhor dos espinhos era muito melhor do que eu imaginava, possuindo sacadas realmente geniais. E se o mangá diverte e entretém, ele deve ser indicado e recomendado. Então se você gosta de mangás de sobrevivência e de mistério, eis uma história que você pode gostar…
- Ficha Técnica
Título: O senhor dos espinhos
Autor: Yuji Iwahara
Editora: JBC
Acabamento: Papel jornal + páginas coloridas em couchê
Número de volumes: 6
Preço: R$ 12,90
Onde comprar: Amazon
Acompanhei na época do lançamento e gostei do mangá, como já dito, longe de ser uma obra espetacular, mas cumpriu muito bem o objetivo de entreter e me prender na leitura.
Foi um dos que comprei totalmente no escuro e não me arrependi, recomendo bastante pra uma leitura sem tantas expectativas.
Olha, eu gostei da iniciativa da JBC de fazer umas apostas em uns bagulhos meio desconhecido, mas desses os piores (que li, pelo menos) são O Jogo do Rei (que o autor teve a cara de pau de por o nome,ou pseudônimo, dele no protagonista fodão!) e O Senhor dos Espinhos. Possivel
Sério, o que era aquela menina sem braços e pernas? Tão aleatório quanto bizarro. As criaturas foram justificadas de maneira porca, e a história da petrificação foi no mínimo besta. O vilão não possuía profundidade nenhuma. E o protagonista? Hacker bombadão da CIA que foi preso por fazer uma baguncinha na Califórnia! (risos) A outra protagonista podia ser muito bem substituída por um saco de batata, causaria mais empatia até.
Possivelmente o único mangá da JBC que me arrependo amargamente de comprar, mais ainda de perder tempo lendo… Os outros são Ikkitousen, vide “UM ROMANCE HISTÓRICO CHINES E UM DOS MAIS IMPORTANTES DE SUA HISTÓRIA retratado por colegiais de mini saia brigando até rasgar a camisa da outra”, e todos os que cheguei a comprar da AltoAstral… Aliás, um abraço NovaSampa e AltoAstral!
Eu gostei muito de O Jogo do Rei. Lembro que um amigo me emprestou a coleção certo dia, peguei para ler sem muita pretensão e me viciei. Não conseguia parar de ler, tanto que li tudo em um único dia.
Gosto muito do estilo sobrevivência, então a história me prendeu rápido. O autor ainda colocou uma pitada de mistério, gore e terror, uma combinação perfeita. Tirando alguns furos na construção do universo da obra, o erra fatal foi o final. Uma pena que o mangaka não soube finalizar a história, que poderia ser excelente se tivesse um final bom – ou pelo menos com lógica.
Esse O Jogo do Rei é um daqueles mangás que só adaptam uma parte da novel pelo que vi, e tem continuações que adaptam o resto, a JBC que não lança mesmo. Resumindo: ler a novel é melhor que o mangá.
Lembrando que tem um filme (anime) de 2010 da obra.
Faltou o nome original – Ibara no Oh (Ibara no Ou / King of Thorn).
Filme bem medíocre… Não que adaptar mal uma obra ruim dessas seja um defeito, mas ele consegue ser ridiculamente ruim até mesmo em comparação ao mangá (que na minha opinião não teve nada de “genial” ou sequer empolgante). Se bem me lembro ele utilizava de um 3d bem porco em algumas cenas também…
Tenho intenção de comprar.