Resenha: Citrus (volume 1)

Convenções forçadas, mancadas diversas, sofrimentos e um mangá interessante ainda que com problemas, esse é o novo lançamento da editora NewPOP

Embora atualmente publique diversas obras populares e que pudessem sair por qualquer empresa, a NewPOP sempre se destacou por trazer obras fora da caixa, de gêneros pouco ou nada explorados pelas concorrentes. Entretanto, até 2017 faltava um gênero a ser lançado pela empresa, o yuri.

Resumidamente falando, yuri é um gênero de obras que mostra uma relação amorosa e/ou sexual entre duas mulheres. Em meados de 2017 e no início de 2018, a NewPOP publicou dois volumes únicos, Sunset Orange e Philosophia, que pela primeira vez trazia esse gênero ao país. Porém, logo a editora deu um passo a mais, com a publicação de Citrus, um dos mais populares mangás yuris da atualidade. E é sobre ele que viemos falar hoje.

De autoria de Saburouta, Citrus começou a ser publicado no Japão em novembro de 2012 na revista Comic Yuri Hime, da editora Ichijinsha, sendo concluído em agosto de 2018 na mesma revista. Seus capítulos foram compilados em um total de 10 volumes.

A obra ainda ganhou uma adaptação em animê que foi ao ar entre janeiro e março de 2018 e teve um total de 12 episódios, todos eles disponíveis oficialmente no Brasil pela plataforma de streaming Crunchyroll.

Cartaz do animê na Crunchyroll

Uma curiosidade sobre o mangá é que a obra teve duas edições diferentes no Japão, uma no formato pocket 12,5 x 18 cm e outra no formato 15 x 21 cm, cada uma delas com uma capa diferente (veja aqui).

Licenciado para os mais diversos países, cada um deles escolheu uma versão diferente para publicar. No Brasil, a NewPOP licenciou a versão pocket.

Anunciado pela editora em meados de 2018, a empresa começou a lançá-lo em dezembro do mesmo ano. De opiniões diversas, com muitos amando e muitos odiando, Citrus é um marco no Brasil por ser o primeiro mangá yuri com uma quantidade considerável de volumes, e seu sucesso pode abrir portas para outros títulos do mesmo naipe. Mas será que vale a pena comprá-lo? Diremos a seguir…

  • Sinopse Oficial

Yuzu é uma garota colegial que ainda nem teve a experiência do primeiro amor, mas devido ao casamento de sua mãe, acabou sendo transferida para um colégio feminino. Logo em seu primeiro dia de aula na nova escola, ela reclamava por não conseguir um namorado e teve um encontro desastroso com Mei, a presidente do Conselho Estudantil. Depois disso, por um acaso, Yuzu presenciou-a beijando seu belo professor. Mei acaba se tornando sua irmã por afinidade e passam a dividir um mesmo quarto. Sem mais nem menos, Yuzu tem seu primeiro beijo roubado por ela…

  • História e desenvolvimento

O primeiro mangá yuri da editora NewPOP foi Sunset Orange, lançado em meados de 2017,  e ele não é nada mais que um mangá de romance escolar dos mais convencionais possíveis, uma pessoa se apaixona por outra, acha-a inatingível, não crendo ser possível haver um relacionamento entre elas, até que de repente essa outra pessoa demonstra estar apaixonada pela primeira. Isso não chega a ser spoiler, pois sendo uma obra de romance convencional é algo que você começa a ler e já espera acontecer.

Sunset Orange é um volume único, então as coisas tem que se desenvolver bem mais rapidamente, com poucas cenas e situações para nos apresentar os personagens, os conflitos e o desenvolvimento. Citrus, por outro lado, é uma série mais longuinha e precisa de tempo para haver um aprofundamento maior, então as coisas vão acontecendo aos poucos. Mas, assim como Sunset Orange, Citrus mostra de primeira que é um mangá de romance que tem como pano de fundo o ambiente escolar e a vida estudantil e muitos dos lugares comuns desse gênero acabarão tendo um lugar na obra.

A protagonista da história é Yuzu, uma jovem que se vê obrigada a mudar de escola devido ao novo casamento de sua mãe. Desejosa de conseguir um namorado em sua nova escola, ela terá a surpresa e o desgosto de ser apenas feminina. Não só isso, é uma escola tradicional e rígida, com regras sobre vestimentas e o que se pode ou não levar para o colégio.

Vocês contam ou eu conto?

Logo em seu primeiro dia, ela acaba tendo um confronto com a presidente do conselho estudantil, Mei, que lhe toma o celular, um dos itens proibidos pelo regulamento. Mas o rolo envolvendo as duas não terminará por aí, Yuzu ainda verá Mei sendo beijada por um professor da escola e, no final, ela descobrirá que a presidente é filha do novo marido de sua mãe e que a partir daquele dia, elas iriam morar juntas e dividir o mesmo quarto O_o.

Mei

Entretanto, como dito anteriormente, Citrus é um mangá yuri e o que se espera da obra é que tenha romance ou algo do estilo entre duas mulheres. Isso acontece bem rapidamente, Yuzu tentará forçar Mei a contar o que houve no colégio, no caso do professor, mas esta decide acabar com a situação, agarrando Yuzu à força e dando-lhe um beijo.

A história de Citrus basicamente versará sobre o amor de Yuzu por Mei. Nesse volume inicial, veremos Yuzu ficar confusa e ir descobrindo aos poucos esse sentimento que ela nunca havia experimentado até então. Diferentemente do Sunset Orange em que o amor já está consolidado, em Citrus a protagonista vai começando a enxergar um novo horizonte.

“Citrus” também tem humor

Além do romance, a obra mistura toques de humor (como quando a garota chama de vovô, o avô de Mei e ele não tem a mínima ideia de quem seja a garota) e drama de uma maneira bastante convencional, mas que em geral agrada e faz com que continuemos a acompanhar a obra. Um destaque interessante nesse sentido é a expressão triste que Mei faz mais de uma vez, como se estivesse sofrendo por ser quem é e pelas atitudes que precisa tomar, o que faz Yuzu sentir compaixão pela garota.

De modo geral, Citrus é um mangá agradável de ler, pois ele bebe muito bem da fonte das histórias de ambiente escolar e os conflitos ali existentes, porém a obra possui elementos questionáveis e que certamente incomodam muita gente. Na verdade, o grande elemento questionável é um só, Mei.

Mei é uma personagem feita claramente para desagradar. Ela não é malvada, mas toma atitudes que a faz parecer muito cruel, ganhando o ódio de muitos leitores. O melhor exemplo disso é o já mencionado beijo forçado que a garota dá em Yuzu. Sem pensar duas vezes, ela vai e do nada rouba um beijo da garota que ela conhecera há poucas horas. Uma atitude totalmente intempestiva e condenável.

Não se limita a isso, porém. O modo como ela trata Yuzu em muitos momentos, com certo desprezo, faz com que Mei seja vista como uma personagem indesejável, quase como uma vilã. A garota, porém, possui um drama próprio, drama este relacionado ao seu pai.

Mei é neta do dono da escola em que estuda e deve ser a herdeira do local, para tanto ela faz de tudo para ser exemplar e irrepreensível. O verdadeiro herdeiro, obviamente, deveria ser o seu pai, mas ele não liga para isso e está sempre viajando o mundo, ao ponto de ela não o ver há 5 anos. Nitidamente, Mei sente falta da figura paterna – no primeiro volume há até mesmo uma cena em que ela chama pelo pai enquanto dormia – e tudo isso condiciona para suas atitudes.

Ainda assim não se trata de um drama que redima a personagens de seus atos. Mei é a personagem que faz parte do núcleo principal, não é antagonista, e mesmo assim não consegue muito a simpatia dos apreciadores do mangá, ao menos nesse começo.

Quanto à Yuzu, ela apresenta outros problemas. Embora se apresente como alguém descolada, ela é completamente inocente, boba demais, ao ponto de um simples beijo ser capaz de virar o seu coração. É a partir do beijo roubado por Mei que os sentimentos da garota começam a mudar e aos poucos, ainda que não saiba exatamente, ela irá se apaixonar por sua nova “irmã”.

É claro que aí a crítica também vai para Saburouta. Hoje em dia realizar uma história em que um beijo roubado é o “engatilhador” de um romance não é nada apropriado. Além das questões humanas envolvidas (obras passam mensagens sub-repticiamente e a história “mostra” ao leitor que se ele quer se apaixonar basta beijar alguém à força ou esperar que alguém lhe beije à força), esse ponto do mangá chega a soar inverossímil, pois é difícil nos dias atuais achar essa situação credível. Digamos que essa trama inicial seja um atentado ao imaginário romântico.

Citrus consegue sobreviver a isso porque a “química” entre Yuzu e Mei é muito interessante e a obra se desenvolve bastante para além disso, com vocês verão nos próximos volumes, inclusive com um ou outro questionamento à atitude da Mei.

Em outras palavras, Citrus é um mangá bom, vale a pena a leitura, mas ele tem seus gargalos e pode não ser apetecível a todos, por causa de um ou outro personagem ou uma ou outra situação mais incomoda.

  • A edição nacional

A edição brasileira veio no formato 12,7 x 18,1 cm, teve miolo em papel offset e algumas páginas coloridas no início. As capas internas do mangá também foram coloridas, como é padrão nos títulos da NewPOP. O acabamento é aquele de sempre, bem maleável e fácil de folhear, não há nada a comentar. Está muito bom como é de costume.

Em relação ao texto, com exceção da sinopse – que está meio esquisita -, tudo está muito bem fluído, bem adaptado para o nosso idioma, sem frases estranhas e japonesices desnecessárias. A revisão do texto também está muito boa, não havendo nenhum erro em todo o volume.

  • Conclusão

Citrus é o primeiro mangá yuri não volume único a ser lançado no Brasil. Esse é um dado marcante e importante, pois o sucesso da obra pode trazer mais e mais títulos desse gênero para o nosso país. Não sou leitor assíduo desse gênero e foram poucas as obras que eu tive a oportunidade de acompanhar, seja animê, seja mangá, então eu só consigo ver a obra como um romance e recomendá-lo (ou não) como um romance.

O mangá de Saburouta não é outra coisa a não ser um título de romance que se passa em ambiente escolar e isso não é nenhum demérito. Você verá situações clichês sim, mas verá humor e drama que farão a obra ter o seu toque único. Então para quem gosta de histórias de romance, Citrus é um título que vale a pena conferir.

Entretanto, a obra possui  elementos que a coloca sob impasse, que é a personagem Mei, bem como as suas atitudes. Elas tendem a não ser agradáveis a muitos leitores e isso pode decepcionar alguns entusiastas com essa obra. Ainda assim, acho que se você gosta de uma história de romance, você deveria dar uma chance pelo menos ao primeiro volume.

  • Ficha técnica

Título: Citrus
Autor: Saburouta
Tradutor: Karen Kazumi Hayashida
Editora: NewPOP
Número de volumes total no Japão: 10
Número de volumes lançados no Brasil até o momento: 1
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos
Preço da versão: R$ 18,00
Dimensões da ed. física: 12,8 x 18,1 cm
Acabamento: Papel offset, capa cartonada e capas internas coloridas
Onde comprarAmazon / NewPOP Shop

2 Comments

  • Daniel Guimarães

    De fato Citrus, tem momentos questionáveis e as vezes repugnantes, mas não tiram o valor da obra que vai fluido e conquistando com o passar dos capítulos e concluindo um final aceitável. Sendo o primeiro Yuri a ser com mais de um volume no Brasil que sabe pode-se contar com a vinda de outras obras interessantes com Yagate Kimi ni Naru, Now Loading, Blooming Sequence – Mahwua(esse pouco provável que apareça por aqui, mas não custa sonhar). Por fim e sempre bom ver obras de demografias diferentes saindo por aqui, torcendo para que obras gender,bender aparecem também que tenha um bom enredo como Prunus Girl.

    • FRANCINE DE MATOS

      Gender bender poderia vir mesmo. Alem de Prunus Girl temos Private Prince, Boku Girl que são história bem divertidas também nesse mesmo estilo.

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