Resenha: Ultramarine Magmell (volume 1)

Talvez você não saiba, mas a palavra “Mangá” no Japão é um hiperônimo para histórias em quadrinhos. Ou seja, essa é a palavra que os japoneses usam para descrever esse tipo de arte de uma forma geral. Assim, um gibi da Turma da Mônica ou do Tio Patinhas seria um mangá para o nativo japonês. Aquela HQ americana do Super Homem? Mangá também. Tintin? Asterix? Persépolis? Mangá igualmente. E assim por diante. Não tem nada de semelhante entre esses tipos de obras, mas é tudo história em quadrinhos, portanto são todos mangás pela perspectiva japonesa da coisa.

O uso, porém, fez com que os ocidentais assimilassem a palavra “Mangá” de uma maneira diferente, como se fosse sinônimo das histórias em quadrinhos produzidas no Japão e esse é o significado que a palavra tem no ocidente agora, até registrada em dicionários, inclusive. Aliás, por aqui mangá representa hoje não só histórias em quadrinhos produzidas no Japão, mas também um tipo específico de histórias em quadrinhos, ao ponto de dizermos que existe mangá francês, mangá brasileiro, entre outros, por conta da estética e da imitação parecida.

Toda essa introdução foi para falar que hoje a gente vem comentar sobre um mangá produzido originalmente fora do Japão, um mangá chinês, falamos de Ultramarine Magmell, de Di Nianmiao. Com forte inspiração em obras japonesas, esse Manhua (nome como os chineses chamam as “história em quadrinhos”) começou a ser publicado em 2014  na internet totalmente colorido, em um formato feito que serve perfeitamente para ser lido em dispositivos mobile. A obra logo despertou interesse e, segundo contou o autor, a sua editora recomendou o título para a Shueisha que viu potencial e começou a lançar a obra na terra do sol nascente.

Ultramarine Magmell é publicado no Japão também por meio digital no site da Shonen Jump +, mesmo de Fire Punch e Spy x Family, e atualmente teve oito volumes lançados, sendo que destes apenas quatro saíram em formato impresso até o momento. Ao contrário da versão original chinesa, a que sai no site da Shonen Jump +, é em preto e branco e tem os quadros reorganizados como um “””mangá normal”””. Clique aqui para ver o primeiro capítulo em chinês e aqui para ver o primeiro capítulo em japonês.

Apesar de lançar a obra no Japão também, o autor comentou que não sentiu nenhuma diferença em seu modo de trabalhar desde que a Shueisha entrou na parada, com ele desenhando no seu próprio ritmo. A única modificação é que agora ele contratou alguns assistentes fixos^^.

A aposta na obra foi tanta que entre abril e junho de 2019, ela ganhou uma adaptação em anime no Japão (disponível no Brasil pela Netflix), mas pareceu não agradar muito, mesmo assim o simples anúncio da animação fez o título ser licenciado em vários países, o Brasil entre eles.

Na França, o título começou a sair em abril de 2019 pela editora Ototo e atualmente quatro tomos já foram lançados. Em meados do ano, o autor, inclusive, esteve presente no país para participar da Japan Expo, um dos maiores eventos do país (e do ocidente inteiro). Na Alemanha, a obra é publicada pela Panini desde abril de 2019 e agora em janeiro será lançado o volume 4. Na Itália e na Espanha, o título também sai pela Panini, no primeiro tendo começado em junho e no segundo em julho. Na Itália, foi publicado o volume 4 em dezembro, e na Espanha o volume 4 sai em janeiro. No México, mais uma vez pela Panini, começou a sair no final de novembro, início de dezembro.

No Brasil, também pela Panini, a obra começou a sair nos primeiros dias de dezembro, sendo lançado na CCXP, em São Paulo. A editora gentilmente nos enviou o primeiro volume da obra, o que resultou nesta resenha para vocês. Mas e então, como é Ultramarine Magmell? E qual é a nossa opinião sobre o título? Vocês verão a seguir…

  • Sinopse Oficial

Súbito, um novo continente apareceu no centro do mundo – Magmell. Com o surgimento da nova terra e seus seres e recursos desconhecidos, a humanidade se viu em uma nova Era dos Descobrimentos! E, nesse antro de ambições, o menino You trabalha resgatando exploradores.

  • História e Desenvolvimento

Ultramarine Magmell é uma obra de aventura e fantasia daquelas bem convencionais, com diversos dos clichês do gênero, tendo um protagonista superpoderoso, mas com uma aparência débil, e que causa espanto nos inimigos e nas pessoas à sua volta, por causa de sua força. Ou seja, é uma estrutura que a gente já viu várias e várias vezes e que é uma fórmula de sucesso (o início de Dragon Ball, por exemplo, não é outra coisa senão exatamente isso) e feito para agradar muita gente.

Mas ao contrário de Dragon Ball e outras obras de fantasia, o protagonista não é nenhum personagem que sai em busca de aventuras, ele é alguém que está ligado aos aventureiros, sempre os salvando em momentos difíceis.

O potencial é claro desde o início, mas como é especificamente a história? Basicamente, na obra surgiu, de repente, um novo continente no meio do oceano, cheio de criaturas únicas e desconhecidas. Uma nova fauna e uma nova flora toda por explorar. Esse continente foi chamado de Magmell, a terra sagrada, e seu surgimento se tornou um marco no mundo, alterando até mesmo a forma de contagem dos anos, tendo começado a Era Sagrada, assim que ele surgiu.

A obra inicia-se no ano trinta e cinco da Era Sagrada e agora o planeta era um novo mundo. A partir do momento que Magmell apareceu, exploradores de todo o mundo partiram para o lugar em busca de descobertas, aventuras, fama, dinheiro e tudo mais. O problema é que Magmell é um local para lá de perigoso, muitos dos que vão lá terminam em apuros e boa parte deles morrem. Para auxiliar essas pessoas, existem os Angler’s, especialistas em buscas e resgastes em Magmell.

O nosso protagonista, o carinha que está na capa do primeiro volume, se chama Inyo e ele é um Angler, um dos mais poderosos do meio. Não sabemos sua origem e nem qualquer outra informação dele, apenas sabemos seu nome e que é um sujeito extremamente poderoso, apesar da aparência modesta. Além disso, é um sujeitinho “espirituoso” que está sempre com um sorriso no rosto ou pronto para fazer alguma brincadeira.

Além da força física, ele dotado de grande conhecimento sobre Magmell, sabendo da existência de todo tipo de criatura, planta e tudo mais. Por isso é o mais hábil dos Angler’s e digno de nota entre os pesquisadores.

Inyo não atua totalmente sozinho, porém. Se em campo é ele que está sempre a postos a salvar seus clientes, ele tem ajuda de uma garota chamada Zero (a garota presente na capa), diretamente do centro de comando, que vê e rastreia coisas que acontecem em magmell por meio de uma máquina voadora (também presente na capa do primeiro volume). Zero também é aquele “personagem tipo”, sempre preocupada com o tamanho dos peitos de outra garota.

Protagonistas…

O primeiro volume é uma introdução à história, nos apresentando os personagens e o mundo de Ultramarine Magmell. Cada um dos capítulos iniciais é quase como se fossem independentes – embora tenha uma continuidade narrativa – com uma história com começo, meio e fim. Alguém vem pedir ajuda a Inyo e o rapaz vai lá para Magmell resolver ou tentar resolver a situação. São histórias simples, básicas, mas às vezes com alguma reviravolta interessante.

Entretanto, as coisas não podem ficar assim para sempre e tramas maiores precisam acontecer. Ainda neste primeiro volume aparece algo estranho, com a presença de uma espécie de casulo advindo de Magmell, um casulo que tende a ser algo mais misterioso do que a própria Magmell, segundo fala de um dos personagens. Ainda não há como saber como isso se desenvolverá no futuro e se existe uma grande história por trás da existência do novo continente, mas tudo leva a crer que sim…

Dada a premissa de uma obra de aventura, Ultramarine Magmell é surpreendentemente bom. Apesar de mudanças aqui e ali, o título é totalmente clichê de história de aventuras, os personagens são bem aqueles “tipos” que você reconhece bem de outras obras e as piadas são bem óbvias, mas é totalmente agradável e bem feito. O autor consegue fazer uma narrativa bastante fluída e harmônica, de modo que, mesmo sendo um tipo de narrativa que a gente já viu um monte de vezes, a emoção aflore e você se satisfaça com a história ali contada.

Aquele humor tradicional (1)
Aquele humor tradicional (2)

O autor tem influências de grandes nomes japoneses e ele é um daqueles hábeis que conseguem transformar essas influências em técnica para criar uma narrativa que consiga agradar ao leitor, do mesmo modo que as narrativas japonesas o agradaram.

Em resumo, Ultramarine Magmell não é nada inovador e nem nada do tipo, é um entretenimento daqueles simples, mas bem feitos e que vale a leitura para quem gosta de obras de aventura e fantasia. Se você está atrás de uma história assim, pode comprar Ultramarine Magmell sem medo. pois as chances de você gostar são grandes.

  • A edição nacional

A edição nacional veio no formato 13,7 x 20 cm, com miolo em papel Offwhite e capa cartonada simples, sendo coloridas as capas internas. O preço é R$ 22,90.

Trata-se de uma edição bem simples, sem páginas coloridas ou qualquer outro detalhe extra, mas a encadernação está um primor de qualidade, totalmente maleável e permitindo a leitura sem o menor entrave. É possível até mesmo abrir o volume por inteiro sem que ele feche sozinho, uma das coisas que a gente mais aprecia em quadrinhos. O trabalho da Panini foi excelente.

Em termos de texto, não encontrei erros de revisão e a leitura está bastante fluída sem qualquer gargalo linguístico. Então sem problemas nesse sentido também.

  • Conclusão

O anime de Ultramarine Magmell parece que deixou marcas não muito agradáveis no público otaku. Entretanto, o mangá chinês está longe de ser ruim, apresentando uma narrativa bem divertida e bem feita. O autor conhece bem as técnicas narrativas dos quadrinhos e faz a história ficar dinâmica, ao ponto de apesar de ter uma quantidade considerável de texto em alguns momentos, a leitura do volume ser bastante rápida.

Repetimentos que a obra não é nada de outro mundo, é clichê, mas aquele clichê aprazível. Quem gosta de histórias de aventura e fantasia pode, sem medo, dar uma chance ao quadrinho, pois existem grandes chances de você gostar.

  • Ficha Técnica

Título Original: 拾又之国 (chinês) 群青のマグメル (japonês)
Título Nacional: Ultramarine Magmell
Autor: Di Nianmiao
Tradutor: Luciane Yasawa
Editora: Panini
Dimensões: 13,7 x 20 cm
Miolo: Papel Offwhite
Acabamento: Capa cartonada simples
Classificação indicativa: 16 anos
Número de volumes no Japão/China: 8 (ainda em andamento)
Número de volumes lançados no Brasil: 1 (ainda em andamento)
Preço: R$ 22,90
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ESTA RESENHA FOI FEITA A PARTIR DE UM EXEMPLAR CEDIDO A NÓS PELA EDITORA PANINI, A QUEM AGRADECEMOS IMENSAMENTE.


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