Resenha: Atelier of Witch Hat #04

As bruxinhas de chapéu são atacadas novamente…

O uso de magia proibida deixou marcas em todo o mundo e para que não se esqueça dos problemas causados por ela e não se repita os erros do passado, os testes para os bruxos são realizados em locais que sofreram a influência dessa magia. O volume 4 de Atelier of Witch Hat é centrado em um desses testes e novamente o grupo dos chapéus com aba, aqueles que se utilizam da magia proibida, aparecem novamente para causar problemas para Qifrey, Coco e as demais bruxinhas de chapéu pontudo.

No início do volume 3 foi decidido que Agathe, a garotinha invocada e soberba, finalmente teria a permissão de fazer o segundo teste, entretanto o desenrolar daquele tomo não trouxe o desafio em si, pois outras coisas aconteceram e esse ponto da história não pôde ser explorado pela autora, mas agora no volume 4 o teste finalmente começou.

Todavia, Agathe terminou por não ser a protagonista aqui. Embora tenha seus momentos importantes durante o volume, quem tomou para si o centro dele foi Riche (a garota que está na capa), outra das aprendizes de Qifrey, e o seu jeito único de usar magia. Basicamente, enquanto o normal dos outros bruxos e bruxas é seguir e imitar a magia dos outros para conseguir se aprimorar, Riche tem a premissa de utilizar apenas as magias que ela própria cria. Isso não é algo novo e já vinha sendo trabalhado em tomos anteriores, mas aqui essa característica da garota foi explorada de forma mais enfática, pois conhecemos um pouco mais de seu passado e de seus desejos.

O que acontece é que Qifrey inscreve Riche para fazer o teste junto com Agathe e apesar de inicialmente contra a vontade, Riche aceita participar. Ocorre também que além das duas, uma terceira figura participa do teste, um aprendiz de um outro bruxo. E ele é um personagem interessante nesse momentos, pois pode-se dizer que ele é ponto de oposição a Riche. Tendo falhado no segundo teste duas vezes antes, o rapaz busca seguir fielmente o que as pessoas bem sucedidas fizeram, de modo que ele possa passar sem problema, seguindo as “respostas corretas”.

Ou seja, o rapaz tem para si a ideia de que existe um jeito de se usar a magia e que deve se seguir esse jeito para tudo dar certo, para que se possa se tornar um bruxo sem maiores percalços. No teste, isso até dá certo por um tempo, mas um contratempo termina por colocar por terra a ideia desse bruxinho. Daí que Riche consegue se sair melhor, usando a magia de seu próprio jeito ela consegue lidar com todos os contratempos do teste e até ajuda o pequeno bruxinho. É uma oposição clara entre duas maneiras de ver o mundo, duas maneiras de encarar a magia. Enquanto um acha que existe uma “resposta certa”, outro acha que cada um pode seguir o seu caminho.

Se olharmos com atenção, a oposição entre Riche e o garoto é muito parecida com os bruxos dos chapéus pontudos e os chapéus com aba. Enquanto os primeiros zelam pela magia, para que se faça um bom uso dela, para que traga felicidade as pessoas, os chapéus com aba se utilizam da magia proibida e têm planos obscuros para o futuro.

Até o momento, a obra tem deixado claro os perigos da magia proibida e o quão ruim foi o uso dela no passado, com tragédias inenarráveis. Entretanto, o grupo de chapéus com aba, por mais temidos que sejam pelos chapéus pontudos, parecem ter um apreço pela magia e pelo que ela pode oferecer. Eles chegam a dizer que a magia é um veneno em um certo momento, mas no todo parece que eles querem um algo mais e isso fica claro nesse volume. Para eles, os chapéus pontudos eram criminosos do passado e atualmente mentem para a população, e a magia proibida seria a grande salvação.

Dito de outro modo, é como se cada grupo tivesse uma visão diferente, assim como Riche e o garoto. Um acha que existe um caminho “certo” para a magia, o outro acha que ela pode ser mais livre. No volume o garoto, após certas intempéries, entende o lado de Riche e consegue se soltar um pouco, mas essa compreensão parece que não há entre os dois grupos de bruxos, e dificilmente possa haver.

Em primeiro lugar, porque os chapéus com aba sempre foram vistos como um grupo bem ruim, de modo que dificilmente eles teriam realmente algo de bom. E os acontecimentos mostram exatamente isso. Eles querem que a magia seja “livre” e utilizam-se de todos os meios para conseguir seu objetivo, chegando até mesmo a transformar pessoas em seres horrendos com uma pequena magia.

Em segundo lugar, porque a magia proibida é algo que pode ser terrível e mesmo se os chapéus com aba não queiram, supostamente, realizar más ações, a verdade é que ninguém garante que quem a usar queira o uso para o bem. Por exemplo, uma das magias que foram proibidas é a magia medicinal, que cura as pessoas, isso é uma magia totalmente benéfica para os seres humanos, mas por qual razão foi proibida? Ainda não há na história nada informando isso, mas é de se imaginar que esse tipo de magia deve ter tido usos bem maléficos no passado.

Esse tipo de dualidade que estamos falando até aqui é presente em toda a obra e de diversas maneiras. Coco a Agathe, por exemplo, são pessoas bem opostas, com visões até certo ponto diferentes sobre a magia, uma é mais alegre, ou é mais centrada, uma vem de uma família leiga ao universo da magia, outra vem de uma famosa família de bruxos, uma quer fazer felicidade com a magia, outra só quer ser adulta, etc, etc e etc. Ainda assim, as duas aprendem uma com a outra e até se modificam em certos aspectos.

De certo modo, até a ajuda que Qifrey dá a Coco é bem dual. De um lado, ele não apaga a memória da garota e ainda a transforma em aprendiz, de modo que um dia ela possa reverter a magia que causou o petrificação de sua mãe. De outro, ele quer manter ela por perto para não perder uma pista dos chapéus com aba. O bruxo tem um desejo pessoal bastante forte, conseguir recuperar algo que ele perdeu. Até o momento, não é dito nada sobre o que seria isso, sendo um dos mistérios para o próximo volume.

Existe isso?

Mas voltando a falar do tomo 4, o teste dos aprendizes de bruxos acaba ficando incompleto, pois eles são atacados pelos chapéus com aba e é aqui que aquela dualidade a respeito deles aparece. Eles são malvados, eles são o grupo do mal e isso não há dúvida, entretanto o que eles fazem e o que eles dizem parece confluir para um uso diferenciado da magia, tal qual Riche deseja, com a diferença de que Riche utiliza-se do que é permitido, enquanto os chapéus com aba, fazem uso de magia proibida.

O final do volume é bem enfático quanto a isso. O representante dos chapéus com aba que atacam as crianças no teste deseja que Coco (que é tida por eles como a grande salvação, embora não se saiba o porquê disso) utilize-se de magia proibida e por isso ele as atacou, para que Coco tenha um motivo. Ocorre que uma das magia proibidas faz acontecer uma certa coisa que, para a visão das crianças, é terrível e a personificação do mal da magia proibida, mas para o representante mostra o quão ruim foi ter proibido diversas magias, pois todos os estudos e segredos se perderam, de modo que só o uso “na prática” pode oferecer resultados.

As duas visões são bem claras e se combatem, se repelem. Existe um certo e um errado? A obra coloca duas visões distintas, mas deixa claro o que é a verdadeira magia, aquela feita para fazer as pessoas felizes. O modo como os chapéus com aba agem destoa bastante disso, ainda que eles pareçam amar a magia. Mas como se desenvolverá isso no futuro? Será que Agathe, Riche (ou mesmo Coco) conseguirão reverter os acontecimentos do volume 4? E sem usar magia proibida? O jeito de pensar de Riche, por exemplo, poderia facilmente fazê-la se convencer de a usá-la, entretanto, tudo o que aconteceu no volume parece que a faria repensar as coisas.

No momento, é tudo teoria. Devemos aguardar os próximos volumes. No Japão, a obra se encontra no volume 6, em breve será publicado o quinto tomo no Brasil.

  • Ficha Técnica

Título Originalとんがり帽子のアトリエ
Título NacionalAtelier of Witch Hat
Autor: Kamome Shirahama
Tradutor: Lídia Ivasa
Editora: Panini
Dimensões: 13,7 x 20 cm
Miolo: Papel Off White
Acabamento: Capa cartonada com sobrecapa
Classificação indicativa: 12 anos
Número de volumes no Japão: 6 (ainda em publicação)
Número de volumes lançados: 4 (ainda em publicação)
Preço: R$ 24,90
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