Em busca da lua cheia…
Não é necessário viver apenas de novidades. Às vezes, passar em um sebo e ver a coleção completa de um mangá antigo é tão bom quanto comprar um título novo e acompanhar o lançamento da obra mês a mês. Daí que, anos atrás, não pensei duas vezes ao me deparar com a coleção de Full Moon – O Sagashite.
De autoria de Arina Tanemura, Full Moon – O Sagashite foi publicado no Japão entre 2001 e 2004 na revista de mangás shoujos Ribon, da editora Shueisha, sendo concluído em um total de 7 volumes. No Brasil, o mangá foi lançado pela editora JBC entre maio de novembro de 2009, concluindo a obra em poucos meses.
Full Moon o Sagashite (Em Busca da Lua Cheia) conta a história da jovem Mitsuki Koyama, uma garota de 12 anos que tem o sonho de ser cantora, mas que está prestes a morrer de um câncer na garganta. Vivendo com a rígida avó, a garota é apaixonada por um amigo de infância chamado Eichi (que tinha o sonho de ser astronauta) e que um dia acabou indo morar nos Estados Unidos, fazendo os dois perderem contato. Antes de se separarem, porém, fizeram uma promessa, cada um deles deveria alcançar o próprio sonho, assim os dois estariam mais próximos de se reencontrar.
Quando a garota recebe a visita de dois Shinigamis (deuses da morte que vieram prepará-la para o fim), Tokuto e Meroko, a vida da garota sofre uma virada. Sabendo que morreria muito brevemente, a garota decide alcançar o seu objetivo e um dos shinigamis, Tokuto, decide ajudar a garota a realizar o seu sonho de ser cantora e usa seus poderes para transformar Mitsuki em uma menina mais velha e sem problemas de saúde por um tempo. Assim, ela se torna a Full Moon, uma garota de 16 anos, com uma voz que encanta a todos.
O mangá é uma obra dramática, mostrando muitas histórias entristecedoras e que cativam o coração de muitos leitores. Embora a música tenha um papel fundamental na história, sendo importante para a apreciação dos personagens e tudo mais, a obra não se concentra exatamente na idealização da carreira de Mitsuki. Superficialmente, a gente até poderia pensar que tudo o que acontece é apenas o início da carreira de Full Moon até o seu sucesso, mas na verdade a trama é sobre as pessoas e a relação delas com o amor, os sofrimentos, a vida e a morte.
Todos os personagens da trama estão envoltos nesses temas, com histórias mostrando o modo como eles reagiram e se postaram diante de certos acontecimentos fortuitos. O amor de Mitsuki por Eichi (e o dele por ela), por exemplo, soa bastante estranho por serem ainda crianças, mas a construção da história mostra bem os conflitos internos e as consequências de uma determinada decisão para o cérebro de pessoas tão jovens.
O passado dos deuses da morte também é bastante intenso e cada vez que uma parte da história deles é contada, mais e mais sentimentos afloram nos leitores. No mundo desse mangá – é preciso explicar com um pequeno spoiler para se entender bem a intensidade do mangá – se tornam shinigamis apenas aquelas pessoas que cometeram suicídio. Só saber disso já dá para você antever o quão doloroso deve ter sido a vida das pessoas para chegarem a tal ponto.
Arina Tanemura consegue mexer com as nossas emoções como poucas autoras conseguem, falando desse tema de uma forma franca, leve e emocionante e fazendo-nos ter muita pena dos personagens, desejando-lhes que tivessem tido sorte melhor. A obra parece um grande compêndio para dizer que, apesar de todos os problemas, a vida vale a pena e a morte não é uma solução que ninguém deveria chegar.
Na verdade, até surpreende a grande abordagem que a autora faz do tema, levando-se em conta que a obra foi publicada na Ribon, uma revista de mangás shoujos destinada a um público mais infanto-juvenil.
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O mangá, porém, sofre de alguns problemas de narrativa visíveis. Muitas coisas vão surgindo do nada, sem a autora conseguir amarrar a história corretamente. Por exemplo, chega um momento em que descobrimos sobre o passado distante da avó de Mitsuki, só que isso acontece sem uma preparação prévia, sem que tivéssemos aquele impacto do “então era isso”. O final, quando um certo personagem reaparece vivo, também é questionável, pois vai contra tudo o que a história tinha pregado até então. Foi só um artifício para dar uma conclusão feliz à narrativa.
Mas apesar dos problemas, no fim Full Moon – O Sagashite é uma boa narrativa, bastante emocionante, intensa e com histórias que podem nos levar às lágrimas facilmente. Recomendo essa obra para todos, mas principalmente para quem está iniciando no mundo dos mangás agora e ainda não se importa ou não percebe os aspectos narrativos mal trabalhados.
Ficha Técnica Título Original: 満月をさがして Título Nacional: Full Moon - O Sagashite Autor: Arina Tanemura Tradutor: Rica Sakata (vols. 1 a 5) / Karen Kazumi Hayashida (vols. 6 e 7) Editora: JBC Dimensões: 13,5 x 20,5 cm Miolo: Papel jornal Acabamento: Capa cartonada simples Classificação indicativa: Livre Número de volumes no Japão: 7 (completo) Número de volumes No Brasil: 7 (completo) Preço: R$ 10,90