Resenha: “Sem Sorte para Amar”

Sem sorte mesmo

Você é feliz na sua vida amorosa? Você ainda está em busca da sua cara metade? Você acha que a pessoa certa ainda não chegou? Você nunca teve um bom relacionamento? Ou no passado você foi assim? Independente da sua situação atual, provavelmente você vai adorar Sem Sorte para Amar, de Ai Mizutani, mangá lançado pela editora NewPOP em novembro de 2022 e que fala exatamente da situação de algumas pessoas de não conseguirem encontrar a sua cara metade.

A obra acompanha Nako, uma jovem garota que não tem muita sorte nos seus relacionamentos, sempre escolhendo e se apaixonando por figuras que, de uma maneira ou de outra, terminarão por se mostrar pessoas não tão boas assim.

A grande verdade, entretanto, é que Nako é uma garota extremamente romântica, no sentido de se iludir facilmente e do tipo que sonha existir um homem predestinado a ela. Ou seja, ela é muito ingênua e que acaba afetada pelos próprios sentimentos, não vendo com facilidade os defeitos das pessoas e até tentando-os ignorar, buscando uma outra explicação para certa coisa.

Sem Sorte para Amar é semi-episódico, com cada capítulo apresentando uma história com começo, meio e fim bem definido. Assim veremos Nako conhecer alguém, se apaixonar por ele, não ver seus defeitos inicialmente, se apegar a uma fé cega, até que ela começa a enxergar e termina o relacionamento. Existem variações diversas ao longo do mangá, mas num geral em cada capítulo a gente vê a protagonista achar ter encontrado o homem da sua vida e no fim não ser nada disso.

Todas as situações apresentadas são muito bem humoradas, tornando o mangá incrivelmente divertido. O leitor não irá gargalhar, mas ficará o tempo todo com um sorriso no rosto a cada situação apresentada. Talvez você fique mal pela protagonista em algum momento (afinal, a gente tá vendo ela querendo ser feliz e não conseguindo), talvez você fique com raiva dela (afinal ela se mostra o tempo todo como uma boba apaixonada e que não enxerga o óbvio), mas no todo acabará se divertindo com as situações, lembrando de coisas que você mesmo viveu, que queria ter evitado ou que viu em pessoas próximas e não pôde fazer nada^^.

Apesar de cada capítulo apresentar uma história, a obra é contínua, com acontecimentos passados sendo relembrados e existindo até capítulos que continuam os precedentes. Ou seja, por mais que cada capítulo seja quase-que-totalmente à parte, a história da personagem (e das pessoas com quem convive) vai sendo feita em ordem cronológica, de um modo que faz com que o leitor vá, cada vez mais, conhecer e se afeiçoar à protagonista.

Sendo assim, existem algumas coisas que podem incomodar em certo momento da obra. Conforme ela vai chegando em seu final, alguns acontecimentos parecem fazer com que o mangá vá para um caminho tortuoso, ruim, esbarrando no clichê sem sentido, no clichê que a própria obra havia abandonado no começo. Felizmente, a autora dá a volta em todo mundo e entrega o que sempre prometeu. E, acreditem, isso não acontece apenas uma vez^^. A autora maneja uma história, nos prega uma peça e nos entrega uma gloriosa obra.

Eu não estou aqui dizendo que Sem Sorte para Amar é um dos melhores mangás já feitos, longe disso, ele tem seus percalços, o que estou dizendo é que a autora pega um tema, o desenvolve bem e em todas vezes em que ela parece que vai escorregar, ela na verdade só estava preparando o bote, ela só estava desenvolvendo sua história de uma outra maneira. Isso é algo que muitos mangás aclamados falham, mas Ai Mizutani consegue deixar Sem Sorte para Amar redondinho, sendo um título jeitoso, organizado, bom.

Ou seja, o que faz Sem Sorte para Amar se destacar e ser uma boa obra é toda a quebra de expectativa que ele tem. É um mangá de romance e com humor com várias e várias historietas que tendem levar para o clichê batido, mas a narrativa subverte isso. Desde o início, por exemplo, a gente imagina que a protagonista ficaria, no final, com um certo personagem até a gente descobrir uma certa coisa. Depois, entretanto, o que achávamos ter descoberto não era tão verdade e aquele final ultra clichê que tínhamos imaginado lá no início parecia ter chance de ocorrer de novo, mas novamente a autora subverte as expectavas e nos manda a mensagem de que ela sabe bem o que está fazendo.

Sim, pois, o mangá tem certos momentos em que ele não parece ele mesmo, que parece seguir por uma rota não muito boa, por um rota do convencional, mas felizmente a autora é bem hábil e contorna tudo o que faz com base em sua personagem muito bem feita.

Não me entendam mal, o clichê das histórias de romance é muito bom, é sempre aprazível acompanhar uma história romântica bem-feita, entretanto quando você começa uma história buscando ir por um outro caminho – para o diferente – e no meio você vai para o convencional, você acaba criando um problema de coesão narrativa e que faz a trama ficar menos boa do que deve.

Sem Sorte para Amar tem seus problemas de coesão, sim, mas no todo a autora faz tudo dar a volta e colocar a história nos eixos, dando para o leitor o que de melhor o mangá tem, uma personagem com intensa propensão a se apaixonar e que gera diversos e diversos casos em que ela não tem um relacionamento legal.

Eu indico Sem Sorte para Amar para todos vocês. Mais que isso, acho que ele é um título – por ser volume único e ter uma história fechada e bem divertida – que pode ser dado de presente para apresentar o mundo dos mangás às pessoas ou – mais que isso – para apresentar um novo gênero, um novo tipo de história para um leitor de quadrinhos. O preço é bastante elevado, como tudo atualmente, mas uma promoção deve acontecer em algum momento e aí é só aproveitar…

Ficha Técnica

Título Original: ダメ恋みほん帖
Título: Sem Sorte para Amar
Autor: Ai Mizutani
Tradutor: Erika Yuriko Tanaka
Editora: NewPOP
Número de volumes no Japão: 2 (completo)
Número de volumes no Brasil: 1 (completo)
Dimensões: 15 x 21 cm
Miolo: Papel offset
Acabamento: Capa cartão
Classificação indicativa: 16 anos
Preço: R$ 59,90
Onde comprar: Amazon