Resenha: “Heroes”, de Inio Asano

Esse Frieren tá diferente…

A primeira sinopse que a gente viu de Heroes lembrava bastante o mangá Frieren e a Jornada para o Além: a história de um grupo de heróis que, após derrotarem o grande inimigo, precisam voltar para suas casas e viver sua vidas no “pós-aventura”.

Essa sinopse está correta, em certo sentido, e nos instiga a ver como Inio Asano criou essa história. Sim, pois, se é Inio Asano nada é tão simples quanto parece. E, de fato, o Frieren de Inio Asano é, na verdade, o meio da aventura e não o final ou talvez nem isso, talvez seja apenas o começo…

TALVEZ ESTE TEXTO TENHA SPOILERS, MAS NA MINHA OPINIÃO ELES NÃO FAZEM DIFERENÇA NA LEITURA DESTE MANGÁ.

O mangá começa justamente após a derrota da Escuridão, o grande inimigo que o grupo de heróis estava enfrentando e que havia destruído boa parte do mundo. Os valentes que sobreviveram comemoram a vitória e começam a discutir o que fazer após a aventura. Ocorre, porém, que o discutir (no sentido de debater) acaba virando discutir (no sentido de altercar) e uma briga ocorre fazendo com que um dos heróis termine morrendo. Se só isso já faz a situação ficar estranha, posteriormente o assassino, provavelmente levado pelo sentimento de culpa, termina por ser absorvido pela Escuridão e se torna o inimigo.

O primeiro capítulo termina exatamente nessa parte, quando um dos heróis se transforma na Escuridão. Já o primeiro quadro do segundo capítulo é a derrota desse inimigo e o fim da Escuridão novamente. E a obra prossegue dessa forma, em cada capítulo acontece alguma coisa, um dos heróis se transforma na escuridão, o capítulo termina, o outro inicia com a derrota desse ex-heroi e assim sucessivamente, até que aos poucos os heróis vão sendo eliminados um a um.

Embora Heroes seja um mangá de fácil leitura, em um primeiro momento é difícil entender o que a história quer passar, sendo necessário uma segunda leitura, mais atenta, para compreender um pouco mais o que é a Escuridão e qual o papel dos heróis (e se é que existe esse papel).

Em cada capítulo há diversas discussões, descontentamentos e raivas que fazem com que o final da aventura não seja o final de fato e a Escuridão volte a reinar.

A gente disse mais acima que sempre era um herói que se transformava na escuridão, mas não exatamente. Em um capítulo quem se transforma na Escuridão era um outro ser, um jornalista, que aparecera no local.

Nessa história em específico o jornalista queria fazer uma reportagem sensacionalista sobre a vitória dos heróis, para gerar engajamento, cliques, etc. Entretanto, os heróis não deixam e ele se vê aflito, em uma encruzilhada sem saber o que fazer e ele termina por se render à escuridão ao tentar forjar uma notícia.

Só o fato de os heróis virarem a Escuridão (o primeiro capítulo, inclusive, começa com a morte de um dos heróis que havia sido corrompido por ela) já serviria para demonstrar que qualquer pessoa poderia ser vítima dela e que o mundo continuaria a ter a presença desse mal, mas esse repórter também ter se transformado dá mais ênfase a isso, mostrando que qualquer pessoa, por determinadas razões pode vir a estar do lado do mal.

Nisso, o final do mangá é realmente emblemático. A história termina, realmente acabou tudo, a Escuridão foi vencida, todos estão felizes e contentes, é o final da aventura e tudo mais. O clichê das obras de fantasia. E aí tem uma página… uma página que muda tudo. Aparece um personagem e esse personagem está com raiva, com os olhos vermelhos, o que indica que ele também provavelmente sucumbiu (ou sucumbirá) à Escuridão…

A obra já dizia que a Escuridão sempre renasce, daí que fica evidente que ela está dentro das pessoas, embora os heróis tentem passar a ideia de que o problema é a floresta onde estão. Só que o que faz a Escuridão reinar? O que faz realmente com que uma pessoa se veja pronta a virar a Escuridão? O final mostra que não é a floresta o problema, o final mostra que o problema é tudo, é o contexto geral dos acontecimentos, o coração das pessoas, seus sentimentos (remorsos, dificuldade de lidar com brigas e perdas, etc), é, portanto, toda a conjectura que faz as pessoas sucumbirem à Escuridão e ela não deixar de existir.

No final há, inclusive, uma frase que engloba tudo o que dissemos. A Escuridão continuará a existir, enquanto as pessoas existirem, pois o problema são as pessoas, o coração delas, seus sentimentos, suas atitudes, etc, etc, etc.

Nisso me parece que existem muito mais camadas a se analisar em Heroes em releituras futuras. Sim, pois, em uma primeira leitura, o mangá parecia algo bobinho, meio sem sentido (ainda que com críticas claras à sociedade em geral), mas em uma releitura ele já se mostrou um algo mais, ele já se mostrou um Inio Asano como os outros. Talvez em mais releituras outras coisas apareçam e deixem claro coisas escondidas que ainda não vimos até aqui.

O que podemos dizer agora é que embora seja um título um tanto quanto diferente dos outros mangás do autor, ele mantém a mesma verve de crítica à sociedade e de mostrar a tristeza e a infelicidade das pessoas perante a ela (a sociedade). É um mangá muito bom.

***

A edição brasileira de Heroes veio no formato 15 x 21 cm (mesmo de Soul Eater Perfect Edition e Shaman King) com capa cartonada com orelhas e miolo em papel pólen bold 90g. São 184 páginas ao todo, sendo todas coloridas. É uma edição muito bonita e muito bem feita, não tendo nada a reclamar.


Ficha Técnica


Título Original: 勇者たち
Título: HEROES
Autor
: Inio Asano
Tradutor: Caio Pacheco
Editora: JBC
Número de volumes no Japão: 1 (completo)
Número de volumes no Brasil: 1 (completo)
Dimensões: 15 x 21 cm
Miolo: Papel Pólen Bold 90g
Acabamento: Capa cartão com orelhas
Páginas: 184 (todas coloridas)
Classificação indicativa: 18 anos
Preço: R$ 59,90
Onde comprar: Amazon

Sinopse: A história conta as aventuras de um grupo de heróis pitorescos: uma garotinha, uma barata falante, um gato numa nave alienígena, um panda de biquíni… e muitos mais! Seu dever é derrotar o “Tenebroso” e voltar para casa. Mas… parece que por mais derrotas que sofra, a história se repete! Uma comédia épica no mais puro estilo Asano em que zomba do estereótipo do mangá de aventura, aborda vários temas como discriminação, hipocrisia e deus com uma clara intenção satírica.


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