Resenha: Orange – volume 1

review orangeLeitores do passado, por favor, leiam Orange!

Orange dispensa apresentações para muita gente, não somente por sua história, mas também por sua trajetória fora do ramo da ficção. Como comentamos aqui, em uma matéria sobre mangás que mudaram de editora no JapãoOrange começou a ser publicado na revista shoujo Bessatsu Margaret (Betsuma), mesma de Aoharaido e Ore monogatari, porém após alguns capítulos, a obra foi suspensa.

Não se sabe exatamente o porquê, mas alguns especulam que foi por causa de uma doença da autora, enquanto outros aliam isso a um desentendimento que ela teria tido com a Shueisha, editora japonesa.

Alguns sites chegaram a noticiar que seria o fim prematuro do mangá, mas para a felicidade dos fãs a autora retomou a obra em uma outra revista, de uma outra editora, a Mangá Action (ou Gekkan Action), da editora Futabasha, onde ficou até ser concluído em 5 volumes. O detalhe é que a Mangá Action não é uma revista shoujo como era a Betsuma, e sim uma revista seinen (destinada ao público masculino jovem adulto).

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À esquerda, capa da “versão shoujo” publicada pela Shueisha; À direita capa da “versão seinen” publicada pela JBC

O caso Orange é um exemplo interessante de como achar que shoujo, shonen, seinen são gêneros é completamente errado e equivocado. Essas classificações servem apenas para categorizar o público alvo original da obra e nem isso faz tanto sentido atualmente no Japão. Mas se ainda hoje vemos gente (seja fã de shoujo, seja não-fã) achando que shoujo é sinônimo de romance escolar, não surpreende que essa mentalidade se perpetue….

Mas tirando esses detalhes japoneses extra-ficção, Orange conseguiu se sustentar bem, cativou muitos leitores, inclusive brasileiros, e o título acabou por ser anunciado aqui em território nacional. Orange era um dos shoujos mais pedidos pelas pessoas e era nítido que uma hora ou outra iriam publicá-lo, principalmente por ser um título curto. Mas então, será que o mangá corresponde a todo hype criado em torno dele? Veremos agora….


Sinopse: Na primavera do segundo ano do colégio, chega uma carta vinda de dez anos no futuro. Nela, estava contido o desejo da Naho de 26 anos para a Naho de 16 anos, dizendo para ela “não passar pelos mesmos arrependimentos que eu passei”. E a Naho adolescente vai descobrir que o “arrependimento” é em relação ao Kakeru Naruse, o aluno novo que é transferido de Tóquio e o motivo da Naho adulta ter escrito a carta!


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Naho recebendo a carta mandada por… ela mesma…

História e desenvolvimento

Uma carta vinda do futura? De mim mesma? Impossível ser verdade! É assim que Naho, a protagonista da história, pensa inicialmente. Neste primeiro volume acompanhamos a protagonista descobrindo a veracidade da carta, se apaixonando por Kakeru e tentando (TENTANDO) fazer de tudo para que o fim trágico pré-dito na carta não se concretize.  Ao mesmo tempo, vemos pequenos flashsforwards da Naho adulta, casada com outro homem, reencontrando seus amigos e indo levar presentes para Kakeru.

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Kakeru sendo apresentado na classe…

É muito interessante ver a inter-relação entre os personagens nesses dois planos temporais em que, de um lado, vemos a amizade pura e simples de um grupo de amigos com todos eles se divertindo e, do outro, vemos uma tentativa de reconciliação, pois aparentemente eles já não se viam tanto quanto antes…

A Naho adulta é cheia de arrependimentos. Ela sabe que suas decisões e suas hesitações custaram bem caro para o seu futuro e para o futuro de seus amigos. Naho sente arrependimento de tudo, desde uma simples recusa em tentar rebater uma bola, até o medo de conversar com Kakeru, enquanto ele namorava uma veterana….

A carta enviada ao seu passado é uma tentativa de evitar que seu eu do passado sofra com as mesmas coisas. Assim como em várias histórias sobre viagem no tempo, a menina deseja eliminar os arrependimentos e as consequências de suas decisões erradas no passado.

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O problema é que a Naho do passado (a que recebe a carta e acompanhamos na maior parte da narrativa) não é a Naho do futuro. É difícil que ela consiga seguir seus conselhos, justamente por ser uma pessoa “do passado”.  A Naho do passado não viveu a vida da Naho do futuro, ela não teve a mesma vivência, as mesmas experiências, sendo uma pessoa completamente imatura nesse ponto da história.

Acho que viver sem arrependimentos é uma coisa difícil
Mesmo sabendo o futuro
Ainda sou eu quem faz as escolhas. (Naho do passado)

A carta por si mesma é incapaz de mudar o futuro e vemos isso logo de cara, quando Naho não obedece a carta e não evita que seus amigos convidem Kakeru para um passeio. Vemos isso também posteriormente com todas as hesitações de Naho em falar com Kakeru, mesmo com a carta dizendo que ela não deveria hesitar.

Entretanto as atitudes que a garota tomar, seguindo os conselhos da carta, podem efetivamente mudar o futuro. Na carta, a Naho do futuro dizia que a Naho deveria convencer Kakeru a entrar no time de futebol, entretanto ele terminou por entrar sem que ela fizesse qualquer esforço. O futuro foi, portanto, alterado devido a uma atitude anterior da garota.

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Mas se suas atitudes podem mudar o futuro, como saber até que ponto seguir a carta? Não há uma problematização extensa disso (apenas uma leve menção), mas é bem possível que nos próximos volumes essa questão fique mais intensa e preocupante.

Ainda não temos informações detalhadas sobre o mecanismo da “carta do tempo” e nem sabemos se as mudanças que a Naho de 16 anos fizer afetarão o futuro da Naho adulta. Não são questões para serem respondidas agora e, talvez, nem precisem ser respondidas. A questão de Orange é outra e não totalmente a “viagem temporal”. Em Orange importam as ações dos personagens, a inter-relações entre eles e as atitudes ou não atitudes da protagonista frente aos arrependimentos e possíveis arrependimentos.

A mensagem que fica neste primeiro volume é que não importa muito saber o que vai acontecer no futuro se não tivermos força e maturidade suficiente para mudá-lo. É um volume introdutório espetacularmente bom e nos coloca na ânsia de querer ler mais e mais o mangá e descobrir se Naho conseguirá evitar o terrível fim que aguarda aos seus amigos…


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Edição Nacional

A primeira edição de Orange teve 224 páginas e contou, ainda, com um oneshot que  a autora colocou na reedição japonesa para ser um atrativo a mais para quem comprasse o volume. O título foi lançado no formato 13,5 x 20,5 cm, capa com laminação fosca e miolo em papel offset. O título terá 5 volumes e está sendo lançado com periodicidade mensal ao preço de R$ 14,90.

Como vem sendo uma constante nos últimos tempos, o papel do miolo utilizado no mangá possui uma transparência além do que estávamos acostumados e isso se tornou um grande demérito da edição. Não chega a atrapalhar muito a leitura, porém em Orange há uma predominância muito grande de quadros brancos e, em vários momentos, acaba sendo ruim para apreciar bem a arte do mangá.

Não há dúvidas de que a escolha do papel por parte da JBC foi bastante equivocada neste título. Está certo que a editora disse que não quer “colocar os preços lá no alto”, mas de todo modo a empresa deveria ter pensado em colocar um papel melhor nessa obra, ainda que o preço fosse bem mais elevado….

Mas nem só de deméritos vive a edição brasileira. A capa está sensacional e não há o que reclamar dela. Outro ponto positivo a se destacar é a tradução e a adaptação feita pela JBC, muito fluída e divertida de ler. Mesmo que muita gente não concorde (olá fãs de Magi, de Sailor Moon e adoradores de honoríficos, tudo bem com vocês?), não há dúvidas de que a JBC é a editora brasileira de mangás que melhor sabe fazer adaptações e em Orange isso é novamente uma verdade….

Opinião final

Orange é um mangá sensacional e que não dá para não acompanhar, principalmente se você for fã de histórias de viagem no tempo, romance escolar ou dramas. A narrativa te prende de tal forma que é quase impossível não se apegar ao mangá e querer ler mais e mais os próximos capítulos…

Por fim vale lembrar a todos: se você não conhecia Orange e não quer esperar os próximos números ou achou inaceitável a edição da JBC, Orange pode ser lido de forma legal e licenciada no Crunchyroll, em inglês, clicando aqui.


***

Biblioteca Brasileira de Mangás

6 Comments

  • Buenas, finalmente consegui ler o seu post e de quebra já respondo o seu comentário no meu (então pode ficar longo). 😀

    A história de Orange me cativou demais, eu gosto de shoujo, mas não sou aquele “fã” da demografia, porém Orange já conseguiu nesse volume 1 entrar no meu Top15 da coleção fácil. Não li ainda o meu 5 Cm/S que você comentou (ainda estou esperando a NewPOP lançar o 2 para ler junto), porém acho que não são a mesma proposta, acho que 5Cm/S realmente tenha uma pegada mais para o dramático do que Orange.

    Agora, como não falar do papel, ainda mais que nós “discordamos concordando”. Eu concordo com você que Orange merecia uma qualidade melhor, o que sem dúvida deixaria ele mais caro. E é justamente nesse ponto que eu defendo Orange. Ele não custa R$ 16,90 ou R$ 19,90, o preço dele é R$ 14,90, e bom, para R$ 14,90 eu achei ele dentro do normal. Claro que eu não estou dizendo que é a melhor possível, óbvio que se ele custasse R$ 16,90 eu iria querer o papel de Hellsing ou o de Berserk se ele fosse R$ 18,90. Porém ele não custa isso.

    O pessoal tem me entendido errado, eu acho que Orange poderia sim ser muito melhor, porém quando eu digo que achei bom, é porque estou pensando nele na realidade em que ele está. Eu pagaria R$ 19,90 nele com o papel de Usagi, da mesma forma que eu entenderia toda a reclamação que tenho visto em grupos do Facebook, se fosse esse papel atual por R$ 16,90 por exemplo.

    E tem que analisar algo que você colocou muito bem aqui: “em Orange há uma predominância muito grande de quadros brancos”. O pessoal acha que por ter um traço mais leve ou com menos escuridão, significa que deveria ter menos transparência, mas é justamente o contrário, os mangás mais escuros escondem suas transparências atrás da escuridão. E bom, nesse ponto Orange tem muitas páginas brancas, o que evidência ainda mais o problema.

    Ótimo post como sempre.

    • Manchete

      Discordo bonito de vc em relação a qualidade foi escolha da editora publicar o mangá com essa qualidade… Não comprei mais consegui devolver na banca e trocar por Vinland Saga kkkk

      • Mas eu não disse que não foi escolha da editora, foi escolha dela sim, ela escolheu esse papel e o preço de R$ 14,90. Ela poderia ter escolhido um papel melhor e um preço mais alto. O que eu estou tentando dizer é que não adianta pedir o papel de Berserk ou Usagi em um mangá de R$ 14,90.

  • Anônimo

    A transpareça de Orange até que esta razoável comparado com Gangsta e Ultraman, não tive nenhum problema na leitura. Gostei bastante do 1° volume, tanto da história quando da arte, só espero que não decai…

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