Resenha: Vagabond, volumes 1, 2 e 3

vagabondA história de um assassino?

Alguns mangás acabam sendo tão recomendados pelas pessoas que somos tentados a comprar o título apenas para conferir se a obra é aquilo tudo mesmo que as pessoas dizem ou se as pessoas é que os superestimam demais. Em alguns casos acabam sendo uma decepção total como Terra Formars, ou decepção parcial, como One-Punch Man. A grande verdade (e que as pessoas teimam em não ver) é que boa parte dos mangás que as pessoas consideram como a última maravilha do mundo, na verdade não passam de mangás medíocres ou, no máximo, medianos. Provavelmente, vários dos seus mangás favoritos, leitor, são bem ruins, mas por ser fã você acaba não percebendo ou, mesmo, não se importa com os diversos erros e inconsistências que a obra possui.

Felizmente, Vagabond conseguiu se sobressair e mostrou que é uma série que vale a pena acompanhar, ao menos aparentemente. Mas o que tem de bom em Vagabond? Por que ele merece estar na sua prateleira? É isso o que iremos ver agora…

Preâmbulos

Shimen Takezo é o verdadeiro nome do espadachim/samurai mais famoso do Japão: Miyamoto Musashi. Conhecido por sua habilidade com a espada e tendo criado um estilo próprio, Musashi é uma referência mundial quando falamos desse país oriental. A história do samurai ganhou mais notoriedade ainda com a publicação do livro Musashi, de Eiji Yoshikawa, que narra a vida de forma romanceada desse espadachim.

Vagabond é justamente a história de Miyamoto Musashi. Livremente inspirado no livro de Yoshikawa, o mangá segue as aventuras de Shimen Takezo logo após a famosa batalha de sekigahara, em que Tazeko teria participado aos 17 anos de idade e fugido da derrota de seu batalhão.

Vols. 1 e 2 – a morte

Procurado, Shimen Tazeko decide vagar pelo país e fazer de tudo para sobreviver e os dois primeiros volumes de Vagabond narram a morte de Shimen Takezo. Morte não literal. Esses volumes servem para vermos a transformação de um homem forte, mas muito idiota (no sentido de inconsequente), para um sujeito forte, tanto física, quanto espiritualmente, ao menos de forma aparente. Essa “morte” é bastante simbólica e importante, pois marca o modo como Tazeko encarava a si próprio e as pessoas à sua volta.

Desejoso de tornar-se forte, de ser o mais forte, Takezo não media esforços por sua sobrevivência, matando a todos que o tentassem prender ou ameaçassem a sua vida. Desde as primeiras páginas do volume 1, vemos essa característica e isso vai se mostrando mais e mais ao longo dos capítulos.

Perseguido por todos, Takezo acabará por matar até mesmo várias e várias pessoas de sua vila natal (para onde só voltou para avisar uma moça de que o noivo dela, Matahachi, havia ido viver com outra mulher) e não sentia nenhum remorso por isso. Takezo chega a dizer que sua vida se resume a ser perseguido, matar e posteriormente ser morto pela mão de uma espada.

Por qualquer ângulo que se possa olhar, ele era apenas um assassino cruel e sua vida realmente se resumiria a matar e ser morto. Mas aí entra a figura do monge Takuan. Ele mostra para Takezo o quanto ele é viu e desprezível e faz de tudo para “matar” esse sujeito e o transformar em um novo homem. Nesse ínterim, ficamos sabendo o que levou ele a ser um assassino tão jovem, suas feridas internas, etc. Ao despertar para sua nova vida, seu antigo nome será substituído por um novo, Miyamoto Musashi.

Vagabond 03Volume 3 e deméritos

Embora eu tenha dado a entender que o contato com Vagabond só ocorreu com a versão da Panini isso não é uma verdade. Eu já havia encontrado alguns volumes da edição meio-tanko da Conrad em um sebo e folheado por lá mesmo. Consegui ler os dois primeiros números e confesso que não me chamou a atenção. O motivo é que Vagabond parecia apenas mais do mesmo, o protagonista fortão que derrota a todos sem problemas que a gente vê em tudo o quanto é obra e isso é algo que cansa com o tempo. Para novas histórias que tenham essa característica serem apreciáveis, é preciso que tenha algo de diferente, algo que nos faça nos prender àquela história e não largar mais.

E, de fato, o primeiro volume de Vagabond é muito convencional e não se tem qualquer motivo para uma pessoa continuar. O segundo número, entretanto, já faz o título ser diferente e nos apresenta uma história a mais com algum propósito e muitas reflexões especialmente pela figura do monge Takuan. A famosa frase do mangá “Quem não conhece a escuridão, não é capaz de reconhecer a verdadeira luz” é dita por ele para representar o lado cruel de Shimen Takezo frente à sua nova vida.

O terceiro volume, por sua vez, inicia um outro arco do mangá e ele volta a ser um título tradicional de lutas. Musashi , agora com 21 anos, resolve ir para uma grande cidade e desafia o Dojo dos Yoshioka, mata alguns membros em combate e enfrenta de igual para igual uns dos líderes. Percebemos mais uma vez o quanto Musashi é forte, mas também vemos que existem pessoas mais fortes que ele.

Os deméritos (aparentes) se encontram nesse volume. Depois de todo um discurso anti-assassinato proferido no volume 2, temos um terceiro tomo em que Musashi mata mais cinco pessoas. E isso não faz muito sentido para a minha mente moderna do século XXI. Quer dizer que é tudo bem matar pessoas em combate, mas não é legal matar pessoas que estão te perseguindo? Qual a lógica que separa um tipo de assassinato para outro tipo de assassinato? O mangá não nos dá uma resposta satisfatória. Fica parecendo que o discurso de Takuan no segundo volume foi inútil e perdemos tempo ali.

Contudo, não devemos nos precipitar. Depois de um volume 1 mais do mesmo, vimos um volume 2 muito bom. Então é de se esperar que isso o que achamos ruim e mal explicado faça sentido mais para frente. Talvez para quem conheça mais do mundo dos samurais e do Japão daquela época não tenha tido qualquer estranhamento, mas para quem está entrando nesse mundo pela primeira vez, não deu para entender muito bem, então é preciso esperar um pouco mais dos outros volumes…

De todo modo, Vagabond é um bom mangá. Tem uma boa história e lutas interessantes, me prendeu e me tentou a continuar comprando.

A edição nacional

A edição nacional possui um formato 13,7 x 20 cm, possui miolo em papel offset 90g (mesmo usados pela editora NewPOP) e orelhas. Quase todas as edições possuem páginas coloridas. Dentre os volumes analisados aqui, o único que não teve foi a edição 2, porém nesse volume a empresa colocou um pôster de Musashi. O preço é R$ 17,90.

Em termos de tradução, adaptação e etc, só temos a reclamar o de sempre “honoríficos”. Em quase todas as resenhas da Panini reclamo sempre da mesma coisa, então nem precisa falar mais aprofundadamente disso…

A arte e veredicto

Quando se fala em Vagabond, todos falam da arte detalhista de Takehiko Inoue. E, de fato, ela é belíssima. Isso fica muito mais claro quando vemos as paisagens, com um realismo impressionante. Muita gente chega a dizer que se deve comprar o título só por isso.

Não compactuo com essa ideia. Uma arte bonita não faz um mangá ruim ficar bom e um mangá com arte ruim, não faz ele ser ruim se tiver uma boa história. É claro que uma boa arte ajuda a nos afeiçoarmos mais um mangá, mas isso é outra história.

Mas, de fato, a arte de Vagabond é um charme extra que vem coroar uma história que aos poucos vai se desenvolvendo muito bem. Contudo é um mangá bem centrado em lutas e batalhas e se você não gosta disso talvez Vagabond não seja um título que lhe agrade, mesmo que ele possa ter um algo mais além disso.

Se você gosta de lutas Vagabond é indispensável e você tem a obrigação de ter. Se não tem dinheiro para o adquirir por já estar colecionando muitas séries, se desfaça de uma delas e comece e colecionar Vagabond, pois com certeza vale muito mais a pena…

Os grandes problemas do mangá é ter 37 volumes, ser mensal e não ter um fim no Japão. Não sei o motivo de a Panini ter colocado o título como mensal, mas Vagabond é um mangá que não precisava disso, visto a demora de sair volumes novos em seu país de origem. É bem capaz de chegarmos ao volume 37 e ainda não ter saído o 38 no Japão. Mas, enfim, se tiver uma folga no orçamento não deixe de ter.

De minha parte, Vagabond não estava previsto em minha lista de compras. Mas tentarei encaixar aquisições periódicas (a cada 4 ou 5 meses, por exemplo) para ir me atualizando, quando houver promoções e descontos. Como o título é vendido em livrarias não deve ser difícil achar os volumes posteriormente e por um bom preço. Ao menos, eu espero.

Atualmente o mangá já teve quatro volumes publicados e deve ter o quinto este mês…

***

Onde Comprar:

Volume 1 – Saraiva / Amazon / Fnac

Volume 2 – Saraiva / Amazon / Fnac

Volume 3 – Saraiva / Amazon / Fnac

Volume 4 – Saraiva / Amazon / Fnac

Volume 5 – Saraiva / Amazon / Fnac

BBM

6 Comments

  • Fabio Rattis

    eu achei o mangá muito lindo mesmo, o que me assusta é a quantidade de vol. q essa obra tem. e esse preço é tipo, vale a pena, mas eu tenho outras obras em mente, quem sabe um dia , não compro (se sair) o box completo. vo comprar pelo menos 1 edição, achei o desenho das capas, muito dahora!

  • Vagabond também é um mangá que eu não esperava iniciar uma coleção, dos fatores foi que quando foi lançado as edições dele não chegou na minha cidade e esgotaram muito rápido em alguns sites o que me fez desanimar bastante. Porém como a editora mandou uma nova remeça pras bancas e revendedores acabei comprando para ver se iria me agradar, comprei logo os três primeiros volumes para poder ler em sequência.
    É um mangá que tenho gostado bastante, gosto desse tipo de história detalhista (dizem que o livro também é perfeito, pretendo ler um dia), breve estarei comprando o volume 05.
    Eu também acho que a edição não precisava ser mensal, por ser um mangá com um valor um pouco alto (apesar de que ele compensa bastante cada centavo), e também ainda não ter sido concluído nem ter nenhuma previsão para isso.
    https://somaisumaleatorio.wordpress.com/

  • Varjl

    A verdade é que recomendar Vagabond apenas pelo primeiro volume acaba sendo precipitado mesmo, mas as pessoas que fazem isso, em sua grande maioria, são aquelas que já estão mais atualizadas na história (em relação aos volumes japoneses).

    Tudo o que posso dizer é que você ainda não viu nada da evolução do Takezo. Ele literalmente não mudou nada nesses 3 volumes. O que aconteceu foi apenas uma migração de “sou um selvagem e saio matando quem se meter comigo” pra um “sou um selvagem, mas vou usar minha selvageria da forma correta”. Ele só decidiu mudar, no final do 2, mas não significa que no 3 ele já tenha mudado de fato, e isso fica bem claro no volume 4 (que, por sinal, você vai gostar), onde mais algumas questões e reflexões começam a surgir em volta do Takezo. A ideia é que ele só vai evoluir como espadachim quando evoluir como pessoa, e isso ele vai aprendendo aos poucos com as andanças dele pelo mundo.

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