Ler ou não ler, esta é a questão.
Pessoalmente acho difícil descrever o mangá Fort of Apocalypse numa frase simples, se por um lado consegue ser interessante e até surpreendente, por outro é um show de amadorismo e abandono de te deixar chocado.
De fato não sei nem descrever como me sinto em relação a essa obra, se devo ou não sugerir que alguém leia… Entenda o porquê da minha indecisão:
Visão Geral
Fort of Apocalypse ou Apocalypse no Toride é um mangá de Yuu Kuraishi (roteiro) e Kazu Inabe (arte), serializado pela Kodansha entre 2011 a 2015 e concluído com 10 volumes.
Inicialmente saiu na Shounen Rival, mas a revista acabou sendo cancelada no final de 2014 e a série passou a ser lançada via web, numa plataforma chamada New Comic Research Institute, depois na Manga Box.
Honestamente não foi um estouro de vendas em lugar algum, dentro ou fora do Japão, nem muito menos virou anime ou filmes. Mesmo assim, dentro de todas as obras da revista, FoA teve um público considerável e mostrou excelência em criatividade, especialmente no fator zumbis.
Chegou a ser licenciado pelo Crunchyroll mangás, que o disponibiliza em inglês no seu site e, mais tarde, pela editora JBC, embora ainda não tenha data para publicação.
História, Abandonos e Exageros
A história de FoA é aquela mesma de sempre, um vírus contagioso via troca de fluidos aparece e reduz a humanidade a uma grande cidade fantasma, ou melhor, cidade zumbi. Um pouco antes da coisa chegar a esse nível crítico, Maeda Yoshiaki acaba sendo acusado de um assassinato (embora seja inocente) e vai parar numa prisão juvenil, que foi o que lhe salvou do apocalipse. Lá ele é colocado numa típica cela japonesa (onde se vive em grupos de 4-6 prisioneiros) e conhece seus companheiros: Iwakura Gou, Yamanoi Mitsuru e Yoshioka Masafumi… (De quem foi a ideia de fazer 3 personagens com os nomes começando com M e Y? Pior ainda, Yoshiaki e Yoshioka… Sério mesmo, senhor autor?)

Ele logo descobre que seus companheiros são muito problemáticos e que a vida na prisão não vai ser fácil. Mas de repente todo o drama interno é deixado de lado quando um zumbi aparece dentro do reformatório e eles se dão conta da situação em que o lado de fora se encontra. Após o susto inicial e batalhas contra zumbis, Maeda liga para sua família e descobre que estão todos bem, ele e seus novos “amigos” saem então para resgatar a família de Maeda. Até aí tudo bem, um começo simples e clichê, o problema começa a seguir: lembra como eles iam resgatar a família? Do nada, de repente, eles te informam que foram lá, mas chegaram tarde demais e estão decidindo o que fazer agora, com Maeda tendo um treco nervoso em meio ao seu pesar, até que dão de cara com algo. E assim termina o volume 1.
O pulo de história é tão grande que minha primeira reação foi “está faltando páginas”. Infelizmente esse tipo de pulo e total mudança de foco na história acontecerá muito mais vezes durante os 10 volumes. A partir daí, tendo matado a família do menino, os autores começam a trabalhar nos zumbis, aqui chamados de infectados, fazendo os rapazes voltarem para a prisão e se iniciar um drama interno lá.
Inclusive, durante vários volumes no final dos capítulos há uma chamada de quantos prisioneiros morreram e quantos ainda estão vivos, tipo aqueles de Battle Royale (lançado aqui pela Conrad). Você não deve se surpreender se eu te disser que em certo momento essa contagem de número de prisioneiros e guardas vivos e mortos desaparece e não tem mais a menor utilidade ou importância na história.
Se pararmos para pensar inicialmente o autor deveria ter planos de ser realmente um mangá voltado ao drama interno e resistência da prisão frente aos zumbis, isso fica claro não só pelas chamadas ao final, como pelo próprio título “Forte do Apocalipse”. Mas em algum momento o autor foi alterando e mudando seus plano até o forte em si não ter a menor importância.
Essas mudanças drásticas ou completo abandono de partes do enredo mostram o amadorismo do roteirista que de fato começou a trabalhar com mangás agora e não parece saber como adequar sua história às expectativas do leitor de forma mais natural. Inclusive você encontra isso também no outro mangá dele (que os publicou ao mesmo tempo), My Wife is Wagatsuma-san (Wagatsuma-san wa Ore no Yome). Embora tenham temáticas completamente diferentes, aqui também você vê essas mudanças de tema e pulos, além de um final de desapontar…
Mas além desses problemas, o autor também exagera demais às vezes… No começo da história os companheiros de cela são aqueles tipos rebeldes com algum talento em especial, um super esperto, outro valentão forte e certinho, outro maníaco e psicopata, algo bem clichê, a coisa entretanto começa a ficar exagerada mais para frente conforme a história deles é revelada e cenas de luta vão aparecendo. Um deles acaba sendo na verdade filho de um embaixador japonês na África, que foi assassinado por rebeldes africanos. O órfão então foi sequestrado e virou tipo um Rambo capaz de coisas absurdas… O nível de ridículo é tão grande que não tem como empatizar com o cara.
Mas se a coisa é tão ruim assim, como foi que conseguiu chegar a 10 volumes? A verdade é que por mais que o autor tropece o tempo todo, quando ele começou a trabalhar o enredo relacionado aos zumbis, ele mostrou uma criatividade e ideias muito interessantes. Há toda uma construção em cima dos vírus, tipos diferentes e como isso afeta cada zumbi, criando até um certo “ecossistema”, com zumbis predadores, zumbis “normais”, zumbis aquáticos e mais uma porção de coisas.
Ou seja, se você sobreviver ao amadorismo do autor, a criatividade dele vai com certeza te surpreender. É o tipo de mangá que poderia ter virado algo muito, muito melhor se o autor tivesse mais experiência e que mostra que ele tem sim algum talento e que dá para esperar grandes coisas dele no futuro.
Uma última coisa a ser comentada sobre esta parte é que os nomes dos capítulos são todos referências a músicas, exemplos claros em: “Smells Like Dead Spirit” do capítulo 11, clara referência a Smells Like Teen Spirit de Nirvana e “No Guy No Cry” do capítulo 9, referência a No Woman No Cry de Bob Marley e The Wailers ou No Boy No Cry de Stance Punks.
Pessoalmente isso me chamou a atenção pelo fato de Highschool of the Dead, outra história semelhante com zumbis, mas focada na fuga e fanservice, também utilizar músicas e ditados adaptados com a palavra “dead” nos títulos dos capítulos. Até mesmo o início da história parece em demasia com essa obra, note os “alunos” que se unem para ir salvar a família, o drama interno do colégio/reformatório, personagens com papéis específicos (o inteligente, o forte, o líder, etc)… Se não fosse a mudança drástica no final do volume 1, Fort of Apocalypse seria nada mais que um wannabe HotD sem fanservice (embora lá na frente o autor apareça com uma mulher de peitos avantajados em roupas absurdas).
Arte, Design e Criatividade
Vamos falar da arte, como comentamos acima, o desenho é de Kazu Inabe, mas não dá para saber de quem são os designs e ideias. O traço em si é bem “normal”, ele também é novo na área e este é seu primeiro mangá profissional. Às vezes deixa a desejar aqui e ali (tipo a posição e expressão do cara morto ali embaixo, ou o cabelo do Masafumi na imagem mais acima), falha em passar uns movimentos às vezes, com designs e composições sem nada de mais, mas aí… Quando você já tá desistindo do mangá, no capítulo 7, eles introduzem os “cachorrinhos”.
Olha, não sei se você gosta ou não de gore, terror e tal, mas não conheço ninguém que veja isso e não fique minimamente curioso. De fato, os “cachorrinhos” são extremamente simpáticos e carismáticos (ou a versão maníaca assassina disso), me vi torcendo pelos bichinhos e ficando magoada quando um morria. Os protagonistas tinham mais que virar ração mesmo…

Mas, ignorando meu desejo de levar um para casa, é a partir daqui que as coisas começam a pegar no ritmo e ficarem mais interessantes, novos personagens são introduzidos e a história segue até o final mais ou menos estável. Embora o fim seja extremamente confuso e cheio de pontas soltas (tendo sido feito um “segundo final” que não respondeu nada e me deixou com ainda mais perguntas…).
Mas voltando ao design, como comentamos, os cachorrinhos não são os únicos a aparecer e há toda uma variedade de tipos e caras de zumbis, todos lembrando pessoas, mas ao mesmo tempo não, com designs bem interessantes. Esse foco nos zumbis, tanto na história quanto na arte, foi o que salvou FoA e tornou-o um mangá mais que obrigatório para os fãs dos mortos-vivos.
Não me entenda mal, não é a primeira obra que trata zumbi como vírus, não é a primeira obra que apresenta diferentes tipos de zumbi, nem muito menos a primeira a ter zumbis com alguma coisa “animal” ou zumbis com inteligência e instinto, mas com certeza é algo novo a noção de um vírus que remodela o ecossistema, não uma doença, mas uma evolução, com zumbis, ou melhor, infectados assumindo diversas formas e papéis na nova cadeia alimentar. De fato, os infectados em geral pouco se importam com os não-infectados, tirando o fato de serem alimento em potencial, e quando se interessam é porque— Bem, melhor você descobrir você mesmo, hehe.
É com certeza uma forma diferente de se entender e interpretar os zumbis que acaba prendendo o seu interesse e te fazendo acompanhar até o final, mesmo com as dezenas de problemas.
Conclusão
Sendo esse um título tão problemático e sem anime, por que diabos foi licenciado? Olha, aparentemente zumbis vendem muito bem, seja aqui ou no Japão. Se formos contar então mangás de teor apocalíptico… Visto que zumbis e sangue é igual a boas vendas, tá explicado porque uma obra desse tipo tenha sido licenciada. (Nunca compreendi, entretanto, como I am a Hero nunca veio pro Brasil… Vai entender…)

Mas será que você deveria gastar seu dinheiro nisso? Vale a pena? Honestamente quando terminei de ler me senti muito frustrada, é péssimo o final ou segundo final é ainda mais inútil. Não senti de fato uma conclusão, apenas um término de qualquer jeito. Provavelmente um final forçado, pois, como comentamos lá no início, FoA não vendeu tão bem assim, a revista onde saia foi exterminada por não vender bem e a obra era tão, mais tão importante que não tinha lugar para ela nas outras revistas shounens da Kodansha, tendo sido concluída depois via web. Então, não é apenas uma birra pessoal, é realmente uma obra com muitos defeitos.
Por outro lado, as ideias e aqueles zumbis são realmente interessantes, principalmente os “totós” (hehe), não são poucos os comentários de fãs que queriam descobrir mais sobre os tipos de zumbi e o “novo mundo”. Imagino eu que se você realmente gosta de zumbis e assiste e consome aqueles filmes horríveis, Fort of Apocalypse pode ser uma boa pedida para você, aliás se você é obcecado por zumbis, não tem nem o que discutir, leia. Agora se você não dá a mínima para isso… Por que você leria esse mangá? 🙂
Olha, eu concordo com a maioria das coisas que você escreveu sobre os defeitos do mangá! Hahaha. Acabei de terminá-lo e olha, um show de horrores em continuidade de cena e buracos no enredo.
Apesar disso, eu gostei da estória em si, e achei os personagens bem desenvolvidos pra 46 capítulos. Acho que sou fácil de agradar. O final não me decepcionou, só me deixou com vontade de “quero mais”.
[…] Um jovem chamado Yoshiyaki Maeda foi acusado de um crime que não cometeu e acabou indo parar em uma unidade de correção juvenil. Cercado de assassinos, uma coisa acontecerá que fará a vida do jovem, já toda transformada, ficar ainda pior. Será que os detentos podem defender-se contra zumbis? O mistério e o horror começam agora. Confira a resenha sobre o mangá. […]
[…] Um jovem chamado Yoshiyaki Maeda foi acusado de um crime que não cometeu e acabou indo parar em uma unidade de correção juvenil. Cercado de assassinos, uma coisa acontecerá que fará a vida do jovem, já toda transformada, ficar ainda pior. Será que os detentos podem defender-se contra zumbis? O mistério e o horror começam agora. Confira a resenha sobre o mangá. […]
[…] Conheça mais sobre o mangá clicando aqui. […]
Passarei longe
[…] Sinopse: um vírus contagioso via troca de fluidos aparece e reduz a humanidade a uma grande cidade fantasma, ou melhor, cidade zumbi. Um pouco antes da coisa chegar a esse nível crítico, Maeda Yoshiaki acaba sendo acusado de um assassinato (embora seja inocente) e vai parar numa prisão juvenil, que foi o que lhe salvou do apocalipse. Lá ele é colocado numa típica cela japonesa (onde se vive em grupos de 4-6 prisioneiros) e conhece seus companheiros: Iwakura Gou, Yamanoi Mitsuru e Yoshioka Masafumi… Ele logo descobre que seus companheiros são muito problemáticos e que a vida na prisão não vai ser fácil. Mas de repente todo o drama interno é deixado de lado quando um zumbi aparece dentro do reformatório e eles se dão conta da situação em que o lado de fora se encontra. Conheça mais sobre o mangá clicando aqui. […]
[…] Um jovem chamado Yoshiyaki Maeda foi acusado de um crime que não cometeu e acabou indo parar em uma unidade de correção juvenil. Cercado de assassinos e em meio a um clima de violência que ele nunca havia vivido, uma coisa acontecerá que fará a vida do jovem, já toda transformada, ficar ainda pior. Será que os detentos podem defender-se contra zumbis? O mistério e o horror começam agora. Confira a resenha sobre o mangá. […]
[…] Um jovem chamado Yoshiyaki Maeda foi acusado de um crime que não cometeu e acabou indo parar em uma unidade de correção juvenil. Cercado de assassinos e em meio a um clima de violência que ele nunca havia vivido, uma coisa acontecerá que fará a vida do jovem, já toda transformada, ficar ainda pior. Será que os detentos podem defender-se contra zumbis? O mistério e o horror começam agora. Confira a resenha sobre o mangá. […]
Resenha muito completa, gostei da análise! Tinha até esquecido que a JBC lançaria esse título, gosto de histórias com zumbis, mas mesmo assim fiquei na dúvida se devo acompanhar ou não. Talvez seja como no ditado, quem não tem I Am a Hero caça com Fort of Apocalypse.
Não seria “eis a questão?”? <3
Caro Binho, em inglês é “To be, or not to be, that is the question”. “Esta é a questão ou pergunta” é perfeitamente aceito.
Desse aí irei passar longe, ainda mais dada a quantidade de lançamentos acima da media que estamos tendo e que teremos mais a frente…
Espero uma coluna dessas com os clássicos Lobo Solitário, Akira e GiTS, visto que o do Slam Dunk aguçou ainda mais a minha vontade de ter essa obra na coleção (será que demorará mto ainda para lançarem?!)… mas ela é igualmente bem vinda com esses títulos menos conhecidos também, pois é uma excelente maneira de os conhecermos!
uau, sua análise é mt boa, gostei, acho q vou acompanhar o blog
eu vi esse mangá na banca sexta, e fiquei pensando se ia gostar, me chamou a atenção mas achei q n ia gostar da história, a grana ta curta e eu tenho q economizar nos mangás agr, embora eu leia a maioria na internet, é, não vou comprar, vi outros q parecerem mais interessantes, obg por me ajudar a decidir, n curto mt zumbis ent definitivamente, não.
Obrigada 🙂