Desmistificando: Demografia x Classificação Indicativa

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Qual a diferença entre elas?

Não é incomum que as pessoas confundam demografia com classificação indicativa. Os dois se parecem muito, mas ao mesmo tempo são coisas muito diferentes. Vamos explorar aqui o que são cada um dos dois e como não precisam influenciar um ao outro:


Demografia


Gêneros demográficos

Na verdade, ao falarmos de demografia, estamos falando de gêneros demográficos, que fazem parte dos gêneros literários. Gêneros demográficos são aqueles que separam obras de acordo com o público-alvo, por exemplo, os gêneros brasileiros: Infantil, Infantojuvenil, Juvenil e Adulto.

Nos Estados Unidos eles usam uma variação ainda maior com gêneros bem estabelecidos para a literatura de Novos Adultos, Jovens Adultos, Mulheres e Gays (nomes traduzidos).

No Japão, eles dividem o público pela idade e gênero, são os famosos Kodomo (infantil), Shounen e Shoujo (infantojuvenis), Seinen e Josei (juvenil-adulto). Coisas como Gekigá, Boy’s Love, Gay-Comi, Hentai e Yuri são misturas de demografia e temáticas, às vezes subgêneros.

O Boy’s Love (yaoi no Ocidente), por exemplo, se trata de uma demografia josei, é um subgênero que nasceu aos poucos nas revistas shoujos e no josei tomou enormes proporções, virando um animal próprio. Ainda assim, continua sendo um gênero voltado para mulheres de mais de 18 anos (josei).

O mesmo acontece com os outros: Gekigá tem como público a faixa etária adulta. O Yuri pode ser seinen e josei a depender do tipo, alguns simplesmente classificados como hentai.  O Gay-Comi é oficialmente seinen, inclusive existem “meios-termos” com foco LGBT que saem em revistas seinen como a obra Otouto no Otto. O Hentai é adulto e, embora às vezes tratado como seinen, costuma ser separado devido ao tipo de conteúdo pornográfico e erótico.

***

Público-alvo

O papel de um gênero é categorizar uma obra, os gêneros demográficos caracterizam a partir do público-alvo.

Existe uma imensa diferença entre público-leitor e público-alvo, o público-alvo é aquele que se tem em mente quando está sendo criado uma obra, o público-leitor são todos aqueles que de fato leem aquela obra.

OrangeNem sempre os dois refletem o mesmo público, embora incomum, existem casos de obras que são lançadas para um público A, mas acabam virando sucesso com um público B. Orange, de Ichigo Takano, é um caso desses; embora tenha sido criado para a demografia shoujo, um tempo depois, após mudar de editora, teve seus capítulos transferidos para uma revista de público juvenil-adulto masculino (seinen), alterando seu público-alvo no meio do caminho.

Outros exemplos são os mangás do Tezuka, que embora tenham sido feitos como gêneros shoujo e shounen (público-alvo infantojuvenil), atualmente são lidos exclusivamente por adultos (público-leitor).

Essa diferença entre os dois também fica clara quando o mangá é licenciado em outros países, algo lançado para o público infantil lá, pode ser consumido pelo público juvenil aqui.

Dessa forma, a demografia é definida pelo público-alvo daquela publicação, em especial pelo público-alvo das revistas onde são serializadas. Independente se aquele é ou não de fato seu público-leitor.

Vale ressaltar que estamos falando de gêneros e públicos-alvos do autor e editora no Japão. Sua editora brasileira quando licencia a obra, a lança para determinado público-alvo brasileiro, este independe do público-alvo original. Assim você poder ter um kodomo (infantil) japonês lançado no Brasil como literatura juvenil.

O público-alvo da editora tupiniquim influenciará no gênero brasileiro, não tendo qualquer conexão ou consequência em cima do gênero original japonês.


Classificação Indicativa


Já comentamos anteriormente do que se trata a classificação indicativa, mas recapitulando, são restrições ao público que pode consumir aquela obra, baseado nos gêneros, temas e conteúdo que estão presentes na mesma.

Ao contrário das demografias, que são baseadas no público-alvo, as restrições são baseadas no conteúdo das obras e restringem e definem o público-leitor. A ligação com o público-alvo está apenas na base da criação daquele conteúdo.

A maioria esmagadora dos gêneros e temas não implicam numa classificação indicativa específica, sendo Hentai a exceção. Inclusive, um dos sinônimos de hentai é “18kin”, que significa 18+ (para maiores de 18 anos).

Outro exemplo, mas ocidental, é o gênero maduro, que necessariamente indica que se trata de algo exclusivo para uma idade mais alta, enquanto o adulto classifica baseado no público-alvo. Não é incomum, entretanto, que os dois se confundam bastante.

Todos os demais possuem uma variação comum e um certo padrão, mas por utilizarem temas e conteúdos em comuns e não por estar veiculado ao gênero.


Quando demografia e indicação não batem


De fato, existem vários casos de gêneros demográficos adultos de classificação livre!

Só porque um gênero é adulto, não significa que seu conteúdo possui assuntos que restringem a idade do leitor, que sejam maduros. Da mesma forma, só porque é de classificação livre, não significa que seja uma obra interessante para uma criança.

Tudo que “classificação livre” diz é que naquela obra não existe nada que vá ser inadequado ou prejudicial para uma criança ou adolescente, não que seja adequado e indicado para elas, que foi feito para elas. Embora o nome engane, a classificação indicativa restringe, não sugere um público.

Um exemplo famoso de mangá seinen de classificação livre é Chi’s Sweet Home, uma história 100% colorida à aquarela sobre um gato perdido que é adotado por uma jovem família japonesa. História essa que foi lançada na França como literatura infantil.

gourmetNo Brasil tivemos casos também, como Gourmet, pela editora Conrad, um seinen sobre as aventuras culinárias de um certo trabalhador japonês, uma obra de nenhum apelo para crianças e adolescentes, porém de classificação livre.

Mais raramente ocorre com gêneros infantis e juvenis, mas pode acontecer de algo kodomo (público-alvo infantil) chegar ao Brasil com restrições que acabam restringindo a leitura do público original em mente, como aconteceu com Pokémon, onde episódios e pedaços foram censurados por não se adequar ao público infantil ocidental.


Conclusão


Muita gente confunde as categorias, às vezes usando sua percepção ocidental para classificar usando as categorias japonesas e até criando novas, como os joseis chamados de Smut Shoujo, os seinens chamados de Dark Shounen. Isso sem contar as trocas mesmo de um pelo outro na hora de classificar usando as categorias japonesas, como aqueles que chamam NANA (mangá shoujo) de josei e Puella Magi Madoka Magica (mangá seinen) de shoujo, meramente por “preferir” ou “achar” que deve ser aquilo.

Essa confusão piora ainda mais quando algo infantil acaba chegando com indicações para o público adulto, dando aquele nó cerebral. Espero, então, que este breve texto tenha ajudado a entender a diferença entre os dois e te ajudado a entender como funciona as classificações e o que as define!

Você conhece algum exemplo de uma série que a classificação indicativa e a demografia não batem? E quanto a obras com demografias ocidentais totalmente destoantes das originais? Conte para a gente!


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! :)

3 Comments

  • Não gosto do termo gênero demográfico, gênero eu entendo como drama, terror, ficção científica, fantasia, etc.. A confusão com Puella Magi Madoka Magica é por ser do gênero mahou shoujo, que começou na demografia shoujo, gekigá caiu em desuso, usam seinen, mesmo para obras clássicas do movimento gekigá como Golgo 13, publicado até hoje.

    • Roses

      O que você entende como “gênero”, na verdade é a simplificação de “gênero temático”.

      Gênero;
      1 Conceito de ordem geral que abrange todas as características ou propriedades comuns que especificam determinado grupo ou classe de seres ou de objetos.

      Existem vários outros tipos de gêneros como os literários (poema, dissertação, narração), musicais (pop, funk, rock, clássica), de artes plásticas (estilos, movimentos, tintas usadas).

      Sua concepção de gênero que é errada.

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