Resenha: Bestiarius # 01

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Masasumi Kakizaki não é um autor desconhecidos de nós, brasileiros. Duas de suas obras já vieram ao país, o volume único Hideout, mangá de terror, e a série em cinco volume Green Blood. Se Hideout se passava no Japão em um contexto mais obscuro, Green Blood se passava na América, em um contexto bem western, mostrando duas obras completamente diferentes e que já nos fazia perceber a grande diversidade do autor.

Bestiarius é o terceiro mangá de Kakizaki a chegar ao país e dessa vez ele uniu Roma antiga com fantasia de uma forma primorosa. A obra se situa no contexto histórico pós-Cristo, na época em que existiam gladiadores e outros combatentes e Roma pretendia expandir e conquistar o mundo. Entretanto, em vez de ser uma série que mostra a realidade ipsis literis, o autor coloca figuras históricas ao lado de personagens e criaturas lendárias como o minotauro, como se fossem seres que realmente tivessem existido.

Dessa premissa surge uma história muito interessante em que mostra a relação de amizade e, até mesmo, familiar, entre humanos e os seres lendários, bem como relembra a nós que não há ser mais cruel e desumano que o próprio homem.

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Sinopse Oficial

Roma tem o intento de conquistar o mundo. Toda a Europa já foi invadida por eles. Enquanto isso, gladiadores arriscam suas vidas nas arenas de toda parte em batalhas incansáveis em busca de glória, dinheiro e renome. Mas alguns são forçados a lutar contra criaturas sanguinárias até a morte.

História e desenvolvimento

Diz o glossário do mangá: “[…] Na antiga Roma, existia três categorias de guerreiros que se apresentavam nas arenas, os gladiadores (que combatiam outros homens), os venadores (participavam de caçadas), e os bestiários (lutavam contra animais). Geralmente, os bestiários eram homens condenados à morte, lançados na arena completamente nus para serem estraçalhados por bestas selvagens como leões, tigres, ursos, hienas, etc. Mas existiam alguns poucos guerreiros que participavam dessa ‘categoria’ voluntariamente. […]. Alguns bestiários voluntários eram treinados e lutavam por dinheiro, sendo capazes de enfrentar várias bestas ao mesmo tempo”.

O mangá, então, apresentará justamente bestiários, escravos ou prisioneiros e a luta deles contra bestas. Porém, ao contrário da história romana, nos mangás eles enfrentam bestas mitológicas como Orcs e Manticoras, uma mistura realmente interessante entre ficção e fantasia.

O primeiro volume é composto por dois “episódios” (que é como o autor chamou os mini-arcos do volume), cada um deles dividido em uma certa quantidade de capítulos. Cada episódio conta uma história diferente, de um humano que se viu obrigado a batalhar contra criaturas monstruosas, seja para sobreviver, seja para conseguir a liberdade, e da relação desses humanos com uma criatura por quem eles acabam nutrindo um sentimento especial, de serem parte de sua família.

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Fynn, um dos protagonistas…

Fynn, um competente lutador, derrota com facilidade várias bestas, tudo isso por ser treinado por Durandal, uma espécie de dragão ou serpente (esse que aparece na capa do mangá) e ambos possuem uma relação que vai além de mestre e aluno e chega a ser de pai e filho. Já Zeno é um lutador que foi criado como irmão de Talos, filho de um minotauro, e os dois, transformados em escravos, buscam “trabalhar” com todas as suas forças para conseguirem comprar sua liberdade. Em ambas as histórias, os personagens acabam despertando interesse dos poderosos e eles acabam envolvidos em duelos ainda mais cruéis.

Nos dois “episódios” os seres humanos (Fynn e Zeno) são excepcionais ou, dito de outro modo, protagonistas, que sairão sempre salvos de suas batalhas. Eles são aqueles seres mais fortes e que, ainda que sofram riscos, darão a volta por cima e conseguirão vencer todos os seus inimigos. É algo que você sente e sabe que vai acontecer desde as primeiras páginas. Embora a obra tente dar uma justificativa para a força deles, fica nítido que eles saem vencedores nesse primeiro volume unica e exclusivamente por serem os protagonistas. Não apenas isso, a obra apresenta inúmeros deus ex-machina prontos para vir salvar os heróis na hora certa, quando tudo parecia perdido.

Toda e qualquer obra que apresente isso está fadada a ser só mais uma no meio de tantas outras e que não vale a pena investir tempo e dinheiro nela. Afinal, o título usa-se de um expediente batido e simplório para gerar emoção e fazer o leitor ter aquele bom e velho sentimento catártico.

Entretanto, existem obras e obras e a maneira como cada autor trabalha o protagonismo e coloca o deus ex-machina é que diferenciam uma obra mediana baixa, de uma obra mediana boa. Em UQ Holder!, Akamatsu simplesmente não dá sinais da existência desse ou daquele poder e, de repente, um certo personagem fica mais forte do nada sem razão aparente. Em Bestiarius a coisa não é totalmente assim. A gente já sabe que os personagens são fortes, então a vitória, mesmo quando parecia impossível, soa bastante credível e não diminui muito a obra, ainda que a gente saiba que eles só venceram por serem os protagonistas. Mesmo o deus ex-machina de um certo personagem aparecer para salvar Zeno em um momento de perigo já era previsto na obra, afinal já conhecíamos a índole dele.

De tudo isso, o único ponto realmente negativo foi a capacidade de luta de Talos, o filho do minotauro. Mesmo o autor colando que ele tentava treinar escondido, sua força parece desproporcional demais quando ele é colocado em combate, deixando uma imagem clara de que Kakizaki não soube explorar muito bem esse ponto. Existe toda uma explicação de que Talos ganhou força para proteger “a sua família”, mas é uma explicação completamente rasa e desprovida de sentido. Se fosse assim, ele já teria lutado antes e não só naquele momento específico. Isso não dista nada do velho conhecido “poder da amizade”.

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Apesar desses pequenos detalhes, eles não chegam a incomodar e mesmo quem já está cansado de battle shonens conseguirá apreciar o mangá, pois ele te prende de um jeito que você não consegue largar, coisa rara de ver, possivelmente por essa mistura entre realidade e fantasia. Além disso, mais do que as batalhas, a obra busca passar algumas mensagens importantes para o leitor, especialmente a de que o amor fraternal e familiar, é independente do sangue ou da raça. Não importam as circunstâncias de seu nascimento e que tipo de criatura você é, nada impede de que venhamos a nos considerar irmãos ou familiares de modo geral. Uma mensagem justa e digna que os mais jovens (e mais velhos) deveriam aprender^^.

Não que essa mensagem justifique os problemas do mangá, mas servem para dar uma grandeza maior ao título…

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Mais alguns pitacos

Beatiarius é um mangá shonen, mas muitos acham que ele é seinen devido ao autor só ter publicado obras para adultos até então ou, também, por causa daquela velha baboseira de que Kakizaki teria um “traço seinen”, seja lá o que isso quer dizer^^.

Por ser um mangá shonen, ainda que focado em batalhas, você não verá cenas pesadas de mais. Neste primeiro volume, toda a violência ficou muito bem contida e nada foi gratuito. Alguns shonen de batalha, como Fullmetal Alchemist apresentaram cenas bem mais fortes do que Bestiarius. O que não é um demérito. Pelo contrário, é uma característica positiva da obra, pois apesar de se passar em um mundo “sanguinário” não mostra a violência de forma gratuita para chocar o leitor. E mostra as cenas necessárias, de modo a demonstrar a bondade dos protagonistas frente aos nobres poderosos que se divertem com as lutas dos escravos e bestas…

Adaptação

No original, mesmo não se passando no Japão, Masasumi Kakizaki utiliza-se de honoríficos em diversos momentos. Não há -san, -kun, e esses mais conhecidos, pois a maioria dos personagens são escravos sem classe social, logo não se usa honoríficos para falar com eles, se usa a forma crua e desrespeitosa, que é o nome só. No original, existem apenas alguns tratamentos mais elevados, usados entre os nobres, como -sama e outras partículas substantivas que também funcionam como honoríficos. A edição da Panini, por outro lado, não utiliza honorífico nenhum, preferindo adaptar para os pronomes em nossa língua. Vejam a comparação de duas imagens abaixo. Os honoríficos estão circulados em vermelho:

Obviamente que a decisão da Panini foi a mais acertada possível. Como ferrenho crítico do uso de honoríficos em mangás traduzidos, acharia um absurdo maior ainda a presença deles em um mangá que se passa em Roma. Para um japonês faz sentido o uso, pois são formas de tratamentos da cultura deles e isso independerá do local em que se passa a história. Seja no Japão, seja em Roma, os honoríficos estarão presentes. Do mesmo modo que pronomes de tratamento em português, tais como senhor, senhora, vossa alteza, etc, são utilizados por nós em obras que se passam em outros países. Assim a decisão mais acertada era usar os pronomes em língua portuguesa, tal qual a Panini fez. Ponto para ela.

O resultado dessa excelente escolha da editora é que a leitura fica extremamente fluída, tudo corroborando com aquele ambiente romano criado pelo autor, fazendo com que a obra pareça  mais natural à época do império romano. De longe é um dos melhores trabalhos de adaptação da Panini.

Obs: A pesquisa e a verificação do original japonês foi feita pela nossa redatora Roses. Agradecimentos a ela pela gentileza.

A edição física

A edição nacional publicada pela Panini está impecável em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Fisicamente, a obra possui o formato usual da editora 13,7 x 20 cm, com miolo em papel offset e capa cartonada com orelhas. Embora a empresa não utilize costura interna, a encadernação está muito e, de longe, é o melhor trabalho da editora no fim de 2016.

O mangá possui ainda 12 páginas coloridas, sendo oito no início e mais 4 no decorrer da obra. Tudo muito bem feito. É o tipo de mangá que você pega e fica imaginando que todos os outros deveriam ser assim, embora a gente saiba que isso é impossível a curto prazo. Vejam imagens da edição:

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Veredicto

Compre Bestiarius. A obra é excepcional e vale a pena. Se você é fã de battle shonen pode ir com fé que irá lhe agradar, pois possui os elementos necessários para fazer com que você goste da história, com batalhas, reviravoltas, etc. Se você não é fã, dê uma chance, pois apresenta uma narrativa agradável e poderá te surpreender bastante.

Bestiarius não é a melhor obra do mundo, tá cheio de defeitinhos aqui e ali, mas quem se importa com isso? É uma leitura que te prende e que certamente merece uma oportunidade.

Ficha Técnica

Título: Bestiarius

Autor: Masasumi Kakizaki

Editora: Panini

Acabamento: Miolo em papel offset, capa cartonada com orelhas. 200 páginas, sendo 12 delas coloridas.

Número de volumes: 4 (ainda em andamento no Japão)

Periodicidade no Brasil: Bimestral

Preço promocional de lançamento: R$ 15,90

Onde Comprar: Amazon / Saraiva

BBM

20 Comments

  • Valeu @Kyon, obrigado pelas informações da edição brasileira do mangá, só encontrei estas informações aqui na sua resenha. o/
    Dei uma sumida lá do ACC e do SMA porque tem faltado tempo, mas sempre escuto os antigos casts que tenho salvado no celular. Vocês estão sempre comigo. Mande saudações minhas ao Carlírio (mesmo tendo dado 7 p/ Cowboy Bebop…kkkkkk), ao grande piadista Bebop (xD) e ao LukLukas que sempre faz todo mundo rir. Saudações ao amigo também. Abração. =)

    • Acho que você está confundido pseudônimos.^^

      Não faço ideia do que seja ACC e SMA e também não conheço nenhuma das pessoas que você citou…

      • Vixi! O_O
        Tem duas pessoas com o mesmo nick…?

        Bem, desculpe então. Mas isto não retira o meu agradecimento pela resenha de Bestiarius. =)

  • Raphael lopes

    No meu volume tem dois glossários. É assim msm ou a minha edição que saiu errada?

  • Bruno

    Kyon, um mangá que é lançado numa revista mensal e tem só 4 volumes, ser bimestral é uma boa ideia?

    • Já tivemos coisas iguais ou piores. De cara me vem à cabeça, Drifters 3 volumes em andamento, mensal e Savanna Game, 6 volumes em andamento, mensal.

      No caso da Panini me parece que a editora “foi enganada” pelo autor. Rs Não posso afirmar que foi assim que aconteceu, mas me parece que a editora deve ter licenciado o mangá com a ideia de que a obra fosse concluída em 3 volumes. Mas o autor voltou atrás e deu prosseguimento na história e aí já era… Vai entrar em hiato em menos de um ano…

      Parece que a Panini não gosta muito de periodicidade acima de bimestral. São poucos os títulos em que ela trabalha assim, logo a escolha por bimestral era a mais natural, mas não quer dizer que seja a certa…

      • Desde 2011 tendo apenas 4 volumes? Mesmo pra uma série mensal, isso é bem pouco… Tem informações se a série teve algum hiato grande ou se ainda continua saindo normalmente por lá? Ou mesmo se ela tem previsão de término ou estaria em reta final?

      • O autor concluiu o mangá em três volumes. Depois de um tempo ele “desconcluiu” e voltou a fazer. Não há nenhuma previsão de término.

      • Hummm, saquei… Então até o volume 3 deverá ser um arco fechado e uma continuação a partir do 4? É isso? Gosto do autor, mas não queria ficar com uma coleção incompleta por anos aqui igual outras… cof cof Kekaishi… cof cof Blood Lad… xD

  • Fabio Rattis

    eu quero saber quanto q essa obra irá custar nos próximos vol. ou se vão tirar as paginas coloridas para dar uma barateada. vamos esperar. e um otimos post vale dizer;

    • Tinha perguntado a Beth sobre isso, ela me respondeu que deve custar R$16,90. Acho que as páginas coloridas dão uma diminuída nos próximos volumes.

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