[TRADUÇÃO] Entrevista de Atsushi Ohkubo no Salão de Mangá de Barcelona

Entre os dias 31 de outubro e 3 de novembro ocorreu na Espanha o tradicional Salão de Mangá de Barcelona e, como é corriqueiro, diversos autores de mangás estiveram presentes nos quatro dias do evento. Um deles foi Atsushi Ohkubo, autor de Soul Eater e Fire Force. Dentre outras coisas, ele participou de uma sessão de perguntas e respostas, além de uma Master Class.

O site espanhol Ramen Para Dos (que transmitiu diversas conferências do evento ao vivo pelo Youtube) conseguiu realizar uma pequena entrevista com o autor. Se você domina fluentemente o idioma espanhol, poderá ouvir a entrevista no Youtube:

O Ramen Para Dos também transcreveu, em seu site, várias coisas que foram ditas pelo autor na entrevista. Resolvemos, então, traduzir essa matéria para apresentar a vocês que são fãs do autor. O original em espanhol pode ser lido clicando aqui. Nossa tradução você vê abaixo.


-Vamos direto ao ponto para falar sobre Fire Force, shonen que é publicado nas páginas da Weekly Shonen Magazine da editora Kodansha desde 2015 e que a editora Norma publica na Espanha. Perguntamos sobre o sorriso característico do protagonista, com aquelas presas evidentes.

Em princípio, o sorriso dele é um desenho que eu gosto muito, então decidi fazer um protagonista que sorria assim, esse foi o gatilho de sua criação.

-Continuando a falar sobre o personagem principal de Fire Force, perguntamos o que exatamente significa ser um herói, já que é o sonho de Shinra.

Para mim, um herói é uma pessoa cuja presença lhe dá paz de espírito e segurança, como bombeiros que salvam vidas, eles são heróis. Quando essa pessoa está lá, você pode ficar calmo e seguro, tudo ficará bem. Por exemplo, quando você quer ser um mangaka e está procurando uma figura de referência, um herói sempre vem à mente, o Mestre Akira Toriyama, ele está lá, ele fez. Essa pessoa, essa imagem para mim é um herói.

-O universo de Fire Force e Soul Eater parece compartilhar uma estética comum.

Eu não gostaria de fazer um trabalho muito diferente do primeiro, porque seria negar meu começo. Todos nascem de mim, têm uma estética semelhante, poderíamos dizer que nesse sentido eles estão no mesmo mundo.

-Começamos a falar sobre o tema da história, por que os bombeiros como protagonistas?

A resposta é simples, quando você vê uma pessoa vestida de bombeiro, carregada com cilindros de oxigênio, com o capacete, correndo, lutando para salvar alguém… e também montando naquele caminhão vermelho, o que é mais legal do que isso? É uma imagem incrível.

-Em Fire Force, Arthur empunha uma espada chamada Excalibur, uma clara referência à lenda do rei Arthur. Mas não é a primeira vez que o nome Excalibur aparece em suas obras, já tendo feito em Soul Eater.

Eu gostaria de poder também tirar essa espada de uma rocha. Essa imagem se perpetuou em mim e eu a usei no Soul Eater, mas de uma maneira um pouco especial. Todo mundo queria ter Excalibur, mas quando descobriram que ela era uma personagem tão pesada e insuportável, todos a abandonaram (risos). Nesse caso, Excalibur não tem vida como em Soul Eater, mas Arthur é o personagem insuportável que todos deixariam de lado. Eu fiz uma reformulação, mas eis Excalibur novamente, à sua maneira.

-Nesta entrevista, não podemos deixar de perguntar por autores e obras de referência, pois no Soul Eater inevitavelmente se lembra de Tim Burton:

Gosto [de Tim Burton] e sua influência no meu trabalho é evidente, gosto muito dos filmes dele, mais do que qualquer mangá ou anime. Eu também gosto muito de David Lynch e filmes de terror com fantasmas. Talvez seja daí que vem a inspiração para meus trabalhos. Também gosto muito do filme The City of Lost Children (Ladrão de Sonhos, no Brasil), de Jean Pierre Jeunet, por causa de sua influência Steampunk.

-Suas obras são geralmente descompromissadas, com um forte componente de aventura, humor e ação, mas evoluem criando muitos conflitos internos nos personagens. Talvez por causa da influência de David Lynch?

É por isso que gosto de tramas mais obscuras, talvez mais psicológicas e emocionais. Devido à publicação semanal, é mais simples transmitir toda a dureza dessas situações. Como você tem esta publicação tão presente e ocorre uma mudança tão difícil, ela atinge você muito mais. Eu realmente gosto dessa parte emocional.

-Mudamos um pouco de tema para focar em suas próprias emoções. Após o sucesso do Soul Eater, perguntamos se você não se sentia pressionado.

Mais do que sentir pressão, o que mais me preocupava era poder capturar tudo o que não havia usado no Soul Eater e focá-lo no Fire Force. Afinal, Soul Eater era um ‘mata-mata’, luta e luta para seguir em frente, e a lua é um elemento principal. No entanto, tópicos muito semelhantes são tratados em Fire Force, mas como tema principal, temos dois conceitos: por um lado, o sol, o calor, o fogo e, por outro, a vida. Não é um “videogame” de matar e avançar, matar e avançar. Queria capturar tudo o que me restava no tinteiro do primeiro trabalho.

-E com 19 volumes [de Fire Force] lançados no mercado japonês, pedimos que você olhe para trás:

Se eu começar a pensar no que poderia ter mudado, estaríamos aqui até amanhã, então prefiro não pensar nisso, apenas olhando para frente.

-[Ele também confessa que gosta muito de escrever e desenhar personagens]

Talvez o que eu mais sofra seja quando essas duas partes se juntam para criar o mangá, sempre parece um pouco diferente.

-Aproveitamos a oportunidade para falar sobre as mudanças no seu ritmo da publicação, uma vez que ela passou para a periodicidade semanal

Antes de começar a trabalhar no meu próprio mangá, passei dois anos como assistente em um mangá semanal, por isso, quando fui de mensal para semanal, já tinha uma ideia aproximada do que esperava e de como organizar. Quase parece mais natural, porque é assim que organizamos as pessoas, semanalmente. É por isso que, distribuindo a carga de trabalho dessa maneira, é mais fácil do que fazer mangá mensalmente.

-Personagem que mais gosta de desenhar

Shinigami, mas talvez eu goste mais de Haumea, de Fire Force,  porque é tão espontâneo, como o fogo, eu gosto muito.

-[Todos e cada um de seus personagens têm algo especial, confessa o autor rindo. Só podemos agradecer o tempo gasto pelo autor].

Via Ramen Para Dos


Fire Force é publicado no Brasil pela editora Panini desde julho de 2018. Oito volumes publicados até o momento, com o nono previsto para novembro.

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2 Comments

  • Muito interessante ter uma visão mais “interna” da produção de mangás, é bem legal saber que o autor tem como inspiração um diretor ocidental! Muito obrigado pela tradução, conteúdo de primeira.

  • Gabi

    Muito obrigada por traduzirem a entrevista! Sempre é bom ler um pouco do artista falando de sua obra.

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