Veja como está o mangá
Mangá Aberto é uma nova coluna de resenhas aqui do blog em que mostraremos a edição física de um mangá, geralmente um lançamento. O nome advém de um antigo blog em língua espanhola que fazia exatamente isso^^.
A ideia é apresentar aos leitores exclusivos do blog o que já fazemos em nossas redes sociais, mostrar fotos do mangá acrescentando alguns detalhes sobre as obras e opiniões. A postagem de hoje será sobre a edição brasileira de Morada do Desertor, mangá publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim em junho de 2023.
A presente postagem foi feita graças a um exemplar cedido ao blog pela editora, a quem agradecemos à parceria. As opiniões contidas no texto, porém, seguem a mesma premissa dos demais posts da coluna, elogiando o que é para elogiar e criticando o que é para criticar, então os leitores podem ficar tranquilos que a análise será sincera^^.
DETALHES SOBRE A OBRA
Morada do Desertor é um mangá de autoria de Junji Ito e se trata do quinto volume da Masterpiece Collection, uma coleção publicada no Japão pela editora Asahi Shimbun reunindo as principais obras do autor publicada na editora e na finada Asahi Sonorama.
Este título em específico reúne os contos pré-publicados entre 1987 e 1990 na revista de mangás shoujos Halloween, da Asahi Sonorama, sendo um compêndio do início da carreira de Junji Ito.
No Brasil, o mangá foi anunciado pela editora Pipoca & Nanquim no dia 27 de janeiro de 2023 e foi lançado em meados de junho de 2023.
FORMATO DA EDIÇÃO BRASILEIRA
A edição brasileira veio no formato 15 x 22 cm. Esse é o tamanho padrão da maioria dos mangás da editora Pipoca & Nanquim (excetuando-se os publicados em capa dura), sendo maior que os títulos comuns da JBC e da Panini, por exemplo.
O acabamento é em capa cartão com sobrecapa e o miolo é em papel pólen bold (falaremos mais disso adiante). Ao todo são 396 páginas, todas em preto e branco.
SOBRECAPA
Antes de começar este tópico, vale uma explicação: no Japão (e em alguns outros países em que se lançam mangás) todos os mangás são publicados com sobrecapa. Trata-se de um item removível que fica acima da capa e também é chamada de jacket. No Brasil, a maioria dos mangás são publicados sem elas, de modo que as imagens que ficam na sobrecapa original japonesa são colocadas nas capas brasileiras.
A editora Pipoca & Nanquim (à exceção dos mangás em capa dura) lança todos os quadrinhos japoneses com sobrecapa, igual ao original. Assim, Morada do Desertor também tem sobrecapa.

A sobrecapa da edição brasileira segue a mesma ilustração da versão japonesa, com a imagem do conto principal da obra e que dá nome ao mangá. Em termos de acabamento, a sobrecapa é feita com um bom material e possui verniz localizado no título, nome do autor e logotipo da editora.
De maneira simplificada, verniz localizado é um tipo de acabamento que dá um destaque às partes em que é utilizado. Quando você passa a mão você sente algo diferente, quase em alto relevo. Além disso, quando movimentado contra a luz você percebe um reflexo nessas partes, dando uma característica aprimorada ao produto.
O verniz localizado também está presente na parte de trás da sobrecapa, tanto nos caracteres japoneses, quanto nas inscrições em nosso alfabeto. A lombada, por seu turno, também possui verniz nos mesmos elementos da parte da frente da sobrecapa.
Se você leu a nossa análise de Mortos de Amor, é tudo igual. Ou seja, no todo, é uma sobrecapa muito bonita, muito bem feita e o único demérito na edição é a ausência de uma sinopse na parte de trás (ela se encontra nas orelhas da sobrecapa).
Como eu disse na resenha anterior, compreendo que a maioria das vendas da empresa deve ser pela Internet, mas existem pessoas que compram em lojas físicas e em todas as livrarias que eu vi os produtos da Pipoca & Nanquim eles são vendidos lacrados, de modo que o possível consumidor não vai conseguir folhear e nem ler a sinopse que tem na orelha. Embora o nome Junji Ito por si só possa ser um catalisador de uma venda, uma sinopse em destaque seria algo bem importante para os consumidores em geral poderem decidir com mais precisão.
CAPA
A sobrecapa fica acima da capa, então é necessário mostrar a capa também. O material é o mesmo utilizado nas capas da maioria dos mangás e não há verniz localizado e nem nada do tipo nela. O mesmo vale para a quarta-capa (parte de trás) e lombada.
Como tem sido o padrão da coleção de mangás do Junji Ito, a editora utilizou ilustrações diferentes para a capa e a quarta-capa, ficando sempre algo bem legal. Sobre a lombada, eu preferia mesmo sem os caracteres japoneses, mas ok, não vai ficar à mostra mesmo.
CAPAS INTERNAS
As capas internas de Morada do Desertor são brancas. Como eu já disse em milhões de postagens anteriores, eu prefiro que sejam assim, afinal é o normal dos mangás e livros mundo à fora (com exceção de edições especiais). A gente só comenta de capas internas, justamente porque algumas editoras brasileiras colocam coisas nelas, então para manter o padrão das postagens desta coluna, falamos também mesmo quando não há nada.
PAPEL
O papel utilizado no miolo é o pólen bold. Trata-se de um papel de cor creme bastante utilizado em livros por ser bom para a leitura e não afetar os olhos. Também tem sido bastante utilizado em mangás de uns anos para cá. O pólen pode ser mais fino e mais grosso e o utilizado pela Pipoca & Nanquim faz parte dos mais grossos.
Como eu disse no post de Mortos de Amor, considero esse um dos melhores papeis nos mangás da atualidade, pois ele tem realmente uma tonalidade melhor, assemelha-se aos mangás originais e dá grande qualidade na impressão, destacando a arte do autor. Sem dúvida, a Pipoca & Nanquim acerta e muito quando escolhe esse papel para seus quadrinhos japoneses.
ACABAMENTO
Aqui também repetimos o que dissemos no texto de Mortos de Amor. O acabamento geral do mangá também é muito bom. Além de usar um bom papel e ter capa cartão com sobrecapa e verniz localizado, a Pipoca & Nanquim utiliza costura em seus mangás, de modo que é possível abrir, ler e folhear o mangá muito mais do que os da concorrência em geral, não havendo nenhum problema de encadernação.
É um produto realmente bem feito e que vale cada centavo, daqueles que a gente olha e pensa que todos os mangás, de todas as editoras, poderiam ser assim^^.

TEXTO
A tradução de Morada do Desertor ficou a cargo de Drik Sada e, normalmente, os trabalhos dela são muito bem feitos e nesse mangá não é diferente (aliado, claro, à escolha editorial da Pipoca & Nanquim).
Assim como Mortos de Amor, também achei Morada do Desertor com tradução e adaptação muito boas. Ou seja, é daquelas que eu não canso de elogiar e que – em minha opinião – deveria ser o padrão de todos os quadrinhos japoneses, sendo um texto bem fluído, em um bom português, coeso e coerente, e que faz com que qualquer leitor que pegue o quadrinho para ler não se sinta perdido, mesmo que nunca tenha lido um mangá antes. Ou seja, é um texto em que o leitor não precisa conhecer convenções (fora convenções dos quadrinhos, obviamente) e não tem estrangeirismos desnecessários.
Fora isso, não notei erros de revisão e nem nada do tipo. E, novamente, o único ponto fraco é a página de abertura dos capítulos, em que a editora deixa o título original (em caracteres japoneses mesmo) e coloca a tradução em baixo, vejam o exemplo a seguir:
Como eu disse na resenha de Mortos de Amor, em que também enfatizei isso, não sei se é uma escolha editorial ou uma sugestão/imposição da editora japonesa (pois é padrão nos mangás do Ito da PN), mas particularmente acho que ficaria melhor apenas com o título em português, com os nomes em japonês dá um aspecto meio poluído demais para a página…
PARATEXTOS
Morada do Desertor possui, ao final do mangá, uma lista com as datas em que cada conto foi publicado originalmente. Há também um pequeno texto falando de Junji Ito e sua obra, além de duas ilustrações dos contos do volume.
Por fim, há também uma lista com os mangás que compõem a Masterpiece Collection (ou Coleção de Obras-Primas de Junji Ito) e a seleção especial de Contos Favoritos do autor, os mangás Calafrios e Dismorfos.
A HISTÓRIA E UMA CONCLUSÃO
Morada do Desertor é uma coletânea de histórias curtas de Junji Ito publicadas no início de sua carreira, então muitos dos contos presentes na obra distam bastante no quesito sofisticação em relação às histórias posteriores do autor.
Dos títulos dele que já tive a oportunidade de ler, a coletânea desse mangá foi a mais fraca no geral, especialmente na primeira metade da obra, que contém histórias de um tom mais aventuresco e pueril, que parecem remeter a um artista iniciante realmente.
A bem da verdade, na primeira metade do mangá eu praticamente não gostei de nenhuma, tamanho o nível (não tão bom) das histórias. A segunda parte do mangá dá uma amenizada nessa situação apresentando alguns contos muito bem elaborados, como o “Morada do Desertor”, que dá título ao mangá, e “Coração de Pai” (que começa na primeira metade do mangá e se estende na segunda).
Especialmente essas duas histórias mostram bem que a genialidade do autor já estava presente desde o início de sua carreira. “Coração de Pai” é uma aventurinha clássica, com um vilão bem definido e a tentativa dos personagens principais de fugir dele. Embora seja uma história de terror, ela vai mais para o lado do fantástico e a gente consegue até sentir empatia pelo passado do vilão.
O grande destaque, porém, é justamente “Morada do Desertor”, em que uma família decide se vingar de um desertor da Segunda Guerra por ele ter – supostamente – matado uma certa pessoa. A história trilha caminhos de um jeito que – mesmo parecendo ultra clichê – consegue te pegar desprevenido. É uma história genuinamente boa, a melhor – de longe – de todo o volume. A gente meio que tem um grande spoiler do conto logo na capa, mas mesmo assim a leitura dele e o final nos deixam boquiabertos.
Recomendo, então? Para quem é fã de Junji Ito e quer ter tudo dele, sim. Faz parte do trabalho do autor e é essencial para conhece-lo. Além disso, o trabalho da Pipoca & Nanquim está impecável neste mangá, como sempre. Para os demais consumidores, principalmente aqueles que nunca leram nada do autor, eu acho que existem obras bem melhores dele para você começar.
Ficha Técnica
Título Original: 脱走兵のいる家
Título: Morada do Desertor
Autor: Junji Ito
Tradutor: Drik Sada
Editora: Pipoca & Nanquim
Número de volumes no Japão: 1
Número de volumes no Brasil: 1
Dimensões: 15 x 22 cm
Miolo: Papel Pólen Bold 90g
Acabamento: Capa cartão com sobrecapa
Páginas: 396
Classificação indicativa: Não divulgado
Preço: R$ 86,90
Onde comprar: Amazon
Sinopse: As sementes do mal estão plantadas nesta coletânea dos primeiros trabalhos de Junji Ito! Uma família vingativa esconde um soldado desertor do exército por oito anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, envolvendo-o em uma falsa realidade em que a guerra ainda não terminou, só para mantê-lo como prisioneiro. Este é o enredo de Morada do Desertor, o conto que dá nome a este volume de 12 impressionantes histórias do mestre do horror, todas originalmente lançadas entre 1987 e 1990, na clássica revista Halloween, da editora japonesa Asahi Sonorama, quando o autor começava a despontar por meio de seus mangás incômodos, estranhos e perturbadores, amparados por uma arte chocante e sem paralelos. Entre os demais contos, veremos o pesadelo de um homem tentar escapar para o mundo real; um deus demoníaco tomar como servos todos os habitantes de uma cidade; uma espada misteriosa capaz de reanimar os mortos; duas garotas muito parecidas que não são gêmeas… Tramas que certamente vão permanecer assombrando o leitor muito tempo após serem lidas.
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