Opinião sobre os mangás da Mythos de 2023

O que achei do primeiro ano da editora

Embora a Mythos já tivesse publicado alguns quadrinhos japoneses num passado distante, 2023 foi o primeiro ano efetivo da editora nesse segmento de mercado, tendo, inclusive, criado um selo próprio para as publicações. Ao todo foram 5 mangás, de diversos estilos e gêneros.

Este site já fez resenhas para cada um dos títulos, mas agora gostaria de dar uma opinião mais geral sobre as obras e comentar algumas coisas que agradaram e outras nem tanto. O comentário será feito título a título, do que menos gostei para o que mais gostei e o porquê disso.


O BAILE DE MÁSCARAS DO MIASMA


O Baile de Máscaras do Miasma foi o mangá mais diferente da Mythos lançado em 2023. Ou talvez o mais comum. Dentre os cinco títulos lançados pela empresa do ano, ele é o que mais dista em questão de harmonia e escolha de títulos. Embora todos os mangás sejam bem diferentes entre si, eles obedecem a uma lógica de irem para o lado de gêneros (demográficos ou narrativos) menos publicados no país.

Esse, por outro lado, não é assim. Ele é um mangá de aventura e ação, com toques de fantasia, bem convencional que a gente vê aos montes no Brasil. Por isso ele é o mais diferente da Mythos, pois ele se distância dos demais mangás licenciados pela empresa, mas ao mesmo tempo é o mais comum, pois é de um gênero amplamente difundido no Brasil.

Daí que a obra de Mizuki Mizushiro e Yoshiki Tanaka se destaca por uma arte lindíssima, ainda que comum. É daquelas que a gente olha e fica admirando o traço, o modo como os personagens foram desenhados, o ambiente, etc. Além disso, o modo de condução do mangá, com uma quadrinização que faz a leitura ser rápida também é excelente.

SHOUKI NO GAS MASQUERADE © 2017 by Mizuki Mizushiro; Yoshiki Tanaka / COAMIX

O problema é que a trama não é lá das melhores. Ele tem muito do que a gente já viu milhares de vezes em outros mangás e o primeiro volume termina em um virada tão previsível, mas tão previsível que causa sono. O segundo volume melhora um pouco, mas não o suficiente para me fazer comprar o terceiro e último número e ver o desfecho da obra. Foi o único mangá da Mythos que eu não li por inteiro e, por isso, fica em último lugar nesta lista.

***

O Baile de Máscaras do Miasma é completo em 3 volumes e a Mythos nos enviou os dois primeiros. Do que eu li, é um título que dificilmente agradará a leitores mais velhos, sendo mais direcionado a quem é novo nesse meio dos quadrinhos japoneses, pois suas qualidades têm potencial para agradar (a gente nota que ele é feito para isso) um público menos exigente e que goste de uma obra de ação ou fantasia.


A FEITICEIRA DO CASTELO


A Feiticeira do Castelo foi o primeiro mangá da Mythos. Completo em 4 volumes, ele é de autoria de John Tarachine e tem como diferencial ser um mangá da demografia Josei que é bem rara de aparecer no Brasil. Daí que o início da editora pareceu bastante promissor por olhar para um lado que é bastante esquecido pelas outras editoras (mesmo por aquelas que dizem abraçar o diferente).

Mas claro que ser um mangá da demografia josei apenas diz que a empresa licenciou um título que originalmente era destinado a mulheres adultas no Japão, pois em termos de história a demografia pode abranger qualquer gênero, tal qual as demais demografias. Então, como era a história de A Feiticeira do Castelo?

AZAMI NO SHIRO NO MAJO © 2019 by John Tarachine / COAMIX

Em termos de história, A Feiticeira do Castelo é um título que reimagina o nosso mundo como se magia existisse de verdade e fosse de conhecimento corrente, ainda que nem todos pudessem usá-la. A obra não dista muito de outras de fantasia, assemelhando-se, em um primeiro momento, de The Ancient Magus Bride e até mesmo de XXX Holic, com a questão de um ser mágico “adotando” uma pessoa mais jovem e que também tem alguma espécie de poder, que atrai seres estranhos. Assim temos uma bruxa que precisa cuidar de um menino que tem um sangue diferenciado.

O desenvolvimento do mangá é meio esquisito, com algumas passagens desconjuntadas, mas no todo é uma narrativa bem terna, com momentos tensos e divertidos, mas destacando bastante a relação da bruxa com seu “afilhado”.

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A editora Mythos nos enviou os dois primeiros volumes desse mangá e eu continuei a coleção, pois a história me agradou e eu queria lê-la por inteiro. No todo, eu acho que A Feiticeira do Castelo não é um mangá indispensável, mas achei ele bem legal, com uma vibe que vai agradar a maioria das pessoas, embora a capa do volume final possa afastar um pouco. De mais a mais, talvez não agrade um público um pouco mais exigente, mas acho que a maioria é capaz de gostar do mangá.


BUS HASHIRU: OS PASSAGEIROS DO AMOR


Bus Hashiru: Os Passageiros do Amor é um volume único de autoria de Mizu Sahara e se trata de uma coletânea de histórias curtas, a maioria delas envolvendo o transporte coletivo.

Por ser de Mizu Sahara (que fez a belíssima adaptação de The Voices of a Distant Star) eu estava com as expectativas lá no alto por esse mangá e posso dizer que não me decepcionei. Claro, ele é uma coletânea e tem os mesmos problemas de todas as coletâneas (uma ou outra história não é tão boa ou até dispensável), mas no geral as histórias são excelentes, misturando drama e romance na medida certa.

BUS HASHIRU SHINSOBAN © 2018 by Mizu Sahara/ TOKUMA SHOTEN

As histórias nos fazem ficar pensativos sobre determinados assuntos e nos despertam sentimentos como aflição, esperança, dentre outras coisas. Existem conflitos aqui e ali, mas no todo são histórias calmas e relaxantes.

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A editora Mythos nos enviou esse mangá, mas se ela não tivesse enviado certamente eu o compraria e o recomendaria para todos vocês, justamente por causa da autora, visto que eu desejo mais e mais obras de Mizu Sahara no Brasil.

Entretanto, desconsiderando o nome da autora, as histórias dessa coletânea (ou a maioria das histórias) é realmente boa e acho que todos devem pegar para ler, pois é muito fácil gostar e adorar o estilo. E, sim, eu garanto que quem pegar para ler, vai querer mais e mais obras da autora no país.


AS INCERTEZAS DE SUMI IZUMI


As Incertezas de Sumi Izumi é um mangá de autoria de Anu e possui dois volumes no total. Talvez, para muitos, tenha sido o melhor mangá da Mythos lançado em 2023, mas para mim fica no segundo lugar, o que não é nenhum demérito.

O título é um slice of life de drama, daqueles feitos para te deixar para baixo, principalmente se você está passando ou já passou pelos problemas da protagonista. É uma história que envolve depressão, ansiedade social, desconcerto com o mundo, dentre diversas outras coisas.

NANDE IKITERU KA WAKARANAI HITO – IZUMI SUMI 25-SAI © 2018 by Anu / COAMIX

É um mangá com capítulos curtos, mas é bem tenso, ao ponto de nos fazer ficar aflitivos não só pela personagem como também por nós mesmos. Sim, pois sua história é como a vida e não apresenta soluções propriamente ditas, de maneira que as incertezas dela, são nossas também e pode nos fazer ficar em crise…

***

A editora Mythos nos enviou os dois volumes do mangá, a quem agradecemos imensamente. Mas o agradecimento é mais por trazer esse título para o Brasil, que é uma pérola escondida no Japão e que praticamente ninguém conhecia.

Certamente, As Incertezas de Sumi Izumi não é um mangá perfeito e pode despertar certas estranhezas aqui e ali, mas, de verdade, é um mangá excelente. E ele só não foi o melhor mangá da Mythos em 2023, pois teve A Bruxa Noturna.


A BRUXA NOTURNA


A Bruxa Noturna é um mangá de autoria de Shin Hotani e possui 3 volumes no total. Esse mangá faz parte de uma grande raridade no mercado brasileiro que são as obras de vida cotidiana pura e simples. Em geral, temos vários mangás de vida cotidiana no Brasil, mas todos com foco mais no drama (como Sumi Izumi), romance, comédia, etc. Um de vida cotidiana pura e simples é bem raro.

É bem claro que uma obra não se torna boa apenas por ser um determinado gênero, é preciso que ela tenha algum carisma e A Bruxa Noturna passa com louvor em todo e qualquer critério…

MAYA-SAN NO YOFUKASHI © 2016 by Shin Hotani / COAMIX

O mangá conta a história de Maya (uma moça que diz ser uma bruxa) e suas noites com a amiga, aspirante a Mangaká, Mameyama. As duas estão em casas diferentes, em cidades diferentes, mas se comunicam todas as noites por meio de uma chamada online, compartilhando a vida: as dúvidas, as alegrias, micos e frustrações.

É um mangá que nos coloca “em casa”, acompanhando um dia a dia (ou um noite a noite? rs) comum e mostra que uma boa história não precisa de muito para ser agradável.

***

A editora Mythos nos enviou os dois primeiros volumes do mangá e, na verdade, foi uma surpresa. Eu achava que a empresa só iria nos enviar o primeiro volume, daí que eu gostei tanto desse título após ler o primeiro número que logo comprei o segundo para poder continuar a leitura que tanto me deleitou. Assim, eu fiquei com dois números #02 por aqui, mas não tem problema, não me arrependo do dinheiro gasto.

O terceiro e último volume de A Bruxa Noturna é o mais fraco dos três, mas ainda assim muito superior a boa parte dos mangás publicados no Brasil e eu recomendo fortemente a todos.




A minha principal crítica a Mythos diz respeito à tradução, com a editora optando por não adaptar tudo para a língua portuguesa, ficando um texto um pouco desconjuntado em alguns momentos. Falo especificamente dos honoríficos, pois eles tiram toda a imersão de estarmos lendo algo em nossa língua.

Também não gosto do uso do papel branco, pois ele não é muito bom para a leitura, mas nesse caso entendo o seu uso, pois é algo que muitos consumidores gostam e, para uma editora nova nesse ramo, isso evita críticas desnecessárias.

Fora isso, acho que os mangás têm uma boa encadernação e o acabamento (especialmente de Sumi Izumi, A Bruxa Noturna e O Baile de Máscaras do Miasma) é muito bom, de maneira que a editora iniciou em 2023 com uma boa avaliação.

Para 2024, embora eu deseje que a editora use um outro tipo de papel e tal, a única coisa que eu gostaria da Mythos de verdade é a abolição do uso de honoríficos, pois isso tornaria a leitura muito mais fluída e apetecível, sem que a gente ficasse o tempo todo sendo lembrados que estamos lendo uma tradução…


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5 Comments

  • Eu lembro de vc recomendando um mangá de bruxa no twitter e comprei Flying Witch e não gostei. Agora acho que vc recomendou foi Bruxa Noturna kkkkkk

    • Eu recomendei os dois^^.

      Se você não gostou de Flying Witch provavelmente você também não gostará de A Bruxa Noturna, pois os dois são bem semelhantes entre si, não só pela temática de “bruxa”, mas principalmente pelo gênero. Os dois são mangás “que não acontece nada” feito para relaxar.

  • Anônimo

    Feiticeira achei beeeeeeem qualquer coisa, muito cara de mangá de estreia de autor. E ainda meu volume 4 veio todo ferrado, com páginas sem cortar, tive que passar a tesoura…

    Sumi Izumi não me interessou.

    Baile de Máscaras eu tenho mas ainda não li.

    Bruxa Noturna não me interessou.

    Bus Hashiru eu li e achei legal, não está nos meus favoritos nem nada, mas gostei de ter dado uma chance.

  • Anônimo

    Assim que lançado, comprei o volume 1 do A Feiticeira do Castelo; achei só “bom” e não segui. Fora ele, comprei Bus Hashiru, também por adorar a autora. Depois desses, nunca mais olhei para nenhum, e devo dizer que muito pelas capas, que acho feinhas e é a primeira impressão que temos da obra.

    Sobre as capas feinhas, faz 1 ou 2 dias que vi no X tu informando que “AS INCERTEZAS DE SUMI IZUMI” estava em promoção. Não olhei muito e ignorei porque pela capa, chutei que era NewPOP e tenho evitado obras dessa editora. E se eu não tivesse vindo aqui ler a matéria, não saberia que o mangá tem um tema que me interessa e que é da editora Mythos (aproveitei e já comprei).

    Enfim, espero que a editora invista mais em mangás em 2024. Obrigado pela matéria, achei ótima.

  • Anônimo

    Artigo muito perspicaz no tocante a mangás sobre vida cotidiana. Yokohama Kaidashi Kikou e Hakumei to Mikochi brilham como diamantes, esperando editoras que as publiquem. Adoraria que o fossem nos mesmos
    moldes simples porém luxuosos de One Punch-Man, mas acho que até mereceriam orelhas dobráveis. Estão a altura disso. Bom começo de semana. Fiquem bem.

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