Loops e mais loops
Não sei se todo mundo conhece hoje em dia, mas até alguns anos atrás um dos filmes mais conhecidos que misturam comédia, romance e viagem no tempo era Feitiço do tempo, com Bill Murray. Nesse filme, um repórter vai parar em uma cidadezinha para cobrir o dia da marmota junto com seus colegas, porém misteriosamente ele fica preso em um loop temporal e acaba tendo que repetir o mesmo dia incontáveis vezes.
Feitiço do tempo é apenas uma de diversas histórias envolvendo esse tema que já virou um dos muitos lugares comuns em se tratando de histórias com viagem no tempo. Cinema, literatura e quadrinhos exploram esse tema à exaustão e não é diferente no nosso mundinho particular dos mangás, como o título que será alvo nosso hoje: All You Need Is Kill.
Adaptado de uma light novel de mesmo nome, All You Need Is Kill é um mangá com arte de Takeshi Obata (Death Note, Bakuman) e foi publicado na revista Young Jump, da Shueisha, em 2014, rendendo dois volumes. O mangá foi publicado no Brasil pela editora JBC em duas oportunidades, uma em formato pocket (em 2 volumes) e outro em formato maior reunindo os dois volumes em apenas um só. A pergunta que não quer calar, será que o título é bom?
Sinopse
A Terra está sendo ataca por seres alienígenas conhecidos como mimetizadores. Eles estão no planeta há vários anos e a humanidade luta bravamente para sobreviver, porém os mimetizadores são duros de serem batidos e parecem invencíveis.
No mangá acompanhamos o jovem combatente Keiji Kiriya que certo dia acorda após ter sonhado com sua própria morte. Para ficar mais estranho ainda, os acontecimentos do dia parecem repetir tudo o que ele vira no sonho, inclusive a aparição de Rita Vatraski, uma das maiores combatentes e talvez a maior esperança de força humana. Logo, porém, ele descobre a verdade, ele está preso em um loop temporal e precisa ficar mais forte para sobreviver.
Desenvolvimento
O mecanismo do loop temporal é a morte de Keiji. Toda vez que ele morrer, voltará para dois dias antes. E não há muito o que ele possa fazer a respeito. A cada novo combate ele acaba morrendo e se tenta escapar do quartel acaba morrendo de qualquer jeito. Keiji inicialmente é um novato e justamente a primeira investida de combate é que culmina com sua morte e o loop temporal. Não podendo fazer nada para sair dele, a única saída que tem é tornar-se mais forte para sobreviver.
Porém, tornar-se forte não é uma tarefa fácil. Se de um lado ele tem a vantagem de conhecer exatamente tudo o que vai acontecer, todos os movimentos das pessoas e, com isso, conseguir coisas a seu favor, por outro lado ele é completamente inexperiente e acabará tendo morrer mais e mais vezes até conseguir tornar-se forte.
Keiji sofre todas as consequências de se estar em loop temporal. Fica entediado, não consegue sentir mais o sabor da comida, e fica com dor de cabeça (este último, consequência do mecanismo de loop temporal desta história). Ao mesmo tempo consegue se aprimorar e se torna um mestre no campo de batalha, porém sua derrota acaba sendo inevitável todas as vezes, até que ele consegue a ajuda de Rita Vatrascki. E aqui começam os deméritos de All You Need Is Kill.
Basicamente todo o desenvolvimento do personagem Keiji ocorre no primeiro volume da obra e a sua construção acabou sendo bem realizada, apesar de não termos uma motivação forte para ele estar nas forças de defesa da Terra. Já o desenvolvimento de Rita fica restrito a poucas páginas do segundo volume. Embora Takeshi Obata apresente de forma competente o passado da moça, o número de páginas foi bastante diminuto e insuficiente para termos empatia por ela. De modo análogo, o tempo em que Keiji e Rita passam juntos acaba sendo curto demais e fica difícil não achar ridículo o final do mangá e um sentimentalismo barato de um sentir a falta do outro.
Parece que a obra tenta forçar um clima de intimidade e amor entre os dois que não existe, ou melhor, que não dá para perceber de tão rápido que acontece. O mangá nos obriga a acreditar que há um clima entre os dois por pura e simples magia.
A resolução do loop temporal também é muito confusa. É difícil perceber como a Rita consegue descobrir o meio de acabar com os mimetizadores e os loops temporais já que ela não estava fazendo loops. É claro que com um pouco de esforço imaginativo fica bastante claro o porquê de ela saber, mas o modo como isso foi passado na obra (para causar surpresa no leitor) acabou sendo bem mal feito.
Veredicto
All You Need Is Kill é um mangá que não pode ser considerado um primor de qualidade e tem muitos defeitos como elencamos acima. Talvez se tivesse um ou dois volumes a mais tivesse se saído melhor. De todo modo, ele é um mangá interessante para quem gosta de viagem no tempo, loops temporais e ficção científica de modo geral. Então se você é fã desses gêneros fica a dica^^.
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BBM
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existe alguma diferença em termos de material extra ou tradução revisada na Edição Especial?
Páginas coloridas. Apenas. A edição especial possui um erro de revisão que a edição pocket não tem.
Fiquei com vontade de ler.
Gostei da história mas achei aquela personagem que trabalha na cozinha totalmente desnecessária e totalmente inseria apenas pelo apelo sexual. Faz o menor sentido uma mulher seminua trabalhando em uma cozinha de guerra. Pq os mangakas continuam usando esse tipo de recurso eu não entendo, sinceramente…
Não lembro disso, em que parte ela aparece?
Sinceramente eu não entendo porque se incomodar com essas coisas. É o mesmo que reclamar a existência de monstros alienígenas que destroem a humanidade e loops temporais ou qualquer coisa que fuja da nossa realidade em uma historia fictícia. ¬¬
é bem isso.