Aquela forçada de roteiro…
Quem costuma ler as resenhas de Fullmetal Alchemist deste blog, sabe que é a primeira vez que estou lendo este mangá tão aclamado. Entretanto já assisti aos dois animês e gostei muito deles, apesar de ver algumas inconsistências aqui e ali no roteiro. Até aqui os dois primeiros volumes já tinham mostrado que o mangá era melhor do que as adaptações em desenho animado, porém no terceiro volume despontou uma daquelas forçadas no enredo que sempre me incomodaram. Falo precisamente a inserção questionável da personagem Sheska, a fanática devoradora de livros.
Atenção: conterá spoilers
O terceiro volume é bastante agitado. Conhecemos Winry, a amiga de infância de Ed e Al, e sua avó Pinaco, descobrimos parte do segredo da pedra filosofal, a existência de mais pessoas com almas fixadas em armaduras, entre diversos outras coisas. O problema é que para as coisas começarem a acontecer foi necessário uma daquelas forçadas no roteiro que tanto me desagradam, com a inserção de um personagem do nada, um salvador da pátria, sem o qual a narrativa ficaria estagnada.
Hiromu Arakawa é uma eximia roteirista e segue a cartilha de como escrever uma história muito bem. Desde o primeiro volume a gente vê ela colocando pequenas pontas de história que serão desdobradas posteriormente, tudo de uma forma bem sutil, às vezes imperceptível ao leitor. Esse não é o caso, entretanto, da inserção da personagem Sheska. Ela aparece do nada para mudar os rumos da história. Aos que não se lembram, no volume 2, o doutor Marco disse aos irmãos Edward e Alphonse a localização de suas pesquisas, em uma biblioteca em Central City. Luxúria (um dos homúnculos) sabendo disso resolve ir à Central City e acabar com as pesquisas do Doutor Marco. No caso destruindo a biblioteca.
Esse era um ponto de impasse em que a história dos irmãos Ed e Al pararia sem nenhuma possibilidade de continuação visível, afinal a única pista sobre a pedra filosofal e, consequentemente, sobre como recuperarem seus corpos havia desaparecido completamente. E, como se um deus descesse do céu em uma máquina para mudar a sorte do herói, surgiu Sheska, a devoradora de livros. Uma personagem excepcional, única e inacreditável. Despedida recentemente da biblioteca por ficar lendo os livros em vez de trabalhar, Sheska é capaz de gravar absolutamente tudo o que leu, palavra por palavra e coincidentemente elas leu as pesquisas do Doutor Marco. Com isso, ela consegue reproduzir as pesquisas, fazendo com que a história progredisse.

Isso é muito verdade, pois se não fosse a Sheska, os irmãos Elric não conseguiriam descobrir que o principal ingrediente da pedra filosofal é um censurado. De igual modo, eles não teriam descoberto a existência do quinto laboratório (um laboratório do exército que se acreditava estar desativado), não saberiam que haviam outras pessoas com almas fixadas em armaduras e também não encontrariam com os homúnculos. Sheska é a responsável por todo esse desenvolvimento ocorrido no terceiro volume.
O problema é que Hiromu Arakawa tirou essa personagem do nada, sem uma menção prévia, algo muito incomum e que tira um pouco do mérito do mangá. Para o mangá ser 10/10 não basta a história ser perfeita, emocionante, catártica, é necessário que o roteiro não tenha essas forçadas. Se Arakawa tivesse falado no primeiro ou no segundo volume de uma personagem demitida da biblioteca faria muito mais sentido e Sheska não seria uma aparição forçada.
Mas notem que mesmo sendo um deslize no roteiro, a autora manejou muito bem, pois fez toda a situação em um toque de comédia, meio absurdo. Tão absurdo que deu naturalidade à trama, tanto que eu praticamente não vejo menções a esse problema no roteiro.
É importante ficar claro que a aparição forçada de Sheska não faz Fullmetal Alchemist tornar-se mediano ou ruim, a gente consegue relevar facilmente esse problema, pois o mangá ainda é muito bem construído e continua sendo aquela narrativa boa e intensa que tem muita coisa para nos dizer e nos fazer refletir.
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Há várias coisinhas a se comentar mais sobre o volume. A comédia em meio a momentos de drama continua firme e forte, nos fazendo rir e amainando uma situação que seria muito tensa. Os personagens também continuam cativantes e mostrando a sua natureza bondosa e a preocupação com os irmãos Elric, como a recém apresentada Winry, a garota fanática por automails, as próteses mecânicas.
Fora isso, tivemos uma discussão sobre o que significa ser um “ser humano” e a importância da vida, discussão essa que irá se repetir – ou ficar subentendida – ao longo do restante da história. No mais o próximo volume deve ser um daqueles bem tensos, com alguns acontecimentos chocantes e tristes…
BBM
Li Full Metal através de scans e pra mim a história desandou do meio pro fim, espero que tenha sido o peso das traduções ruins; gostei do primeiro anime, nunca terminei o Brotherhood.
Acho o mangá de Fullmetal exemplar.
São sempre ótimas reviews 👍