Relembre o que diziam as notícias da época…
Se você acompanha este blog sabe que recentemente a editora JBC anunciou o relançamento do mangá Gunnm (ou Battle Angel Alita, como se chamará agora) com previsão de lançar o título ainda em 2017. As primeiras informações do mangá ja foram dadas: ele custará R$ 39,90 e será lançado em formato BIG, reduzindo seus nove volumes originais para apenas quatro tomos.
A JBC explicou que anteriormente o título pertencia à Shueisha e depois foi para a Kodansha, onde foi lançada uma versão em quatro tomos (capas abaixo) e será esta que a JBC lançará.
Mas você sabe o porquê de o mangá ter mudado de editora no Japão? A nossa postagem de hoje é sobre isso. Iremos relembrar as notícias da época e falar dos problemas ocasionados por essa mudança^^.
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Gunnm – a rixa com a Shueisha
Gunnm nasceu originalmente em 1990 e foi publicado até 1995 na revista seinen Business Jump, da Shueisha, sendo concluído em 9 volumes. Anos depois, o autor realizou uma continuação intitulada Gunnm Last Order. O título começou a ser publicado em 2001 na revista Ultra Jump, também da Shueisha, e seguia sem percalços ao longo dos anos. Entretanto, após o lançamento do centésimo capítulo, em junho de 2010, o mangá foi paralisado pelo autor. Pior: não havia previsão de volta.
O próprio autor explicou o que estava acontecendo por meio de seu blog pessoal. Segundo ele um editor pediu para que ele revisasse e mudasse certas passagens de Gunnm, que ganharia uma reimpressão em breve. Tais passagens diziam, entre outras coisas, mais ou menos que tal ou qual personagem “ficou louco” e a empresa tinha medo de que houvesse uma associação dos termos utilizados pelo autor com doenças mentais.
Kishiro estava no meio da criação do capítulo 100 de Last Order e realizar esse pedido poderia acabar atrasando a entrega. O autor chegou a perguntar ao editor se ele sabia desse risco e se sabia que ele – Kishiro – poderia impedir novas reimpressões. O editor confirmou.
Kishiro notadamente não gostou do pedido do editor, mas fez as mudanças necessárias e também terminou o capítulo 100 a tempo. Entretanto decidiu colocar o mangá em hiato e avisou que talvez jamais existisse um capítulo 101. (Fonte: ANN).
Em agosto de 2010, Kishiro reuniu-se com o pessoal da revista Evening, da Kodansha, para viabilizar a publicação de Last Order, além de transferir todas as suas obras para essa nova editora. Antes, porém, ele fez uma oferta final à Shueisha. O departamento jurídico devia se desculpar por ter questionado os trechos e a Shueisha devia fazer um recall da reimpressão, revisando as palavras alteradas.
Os editores do Ultra Jump disseram a Kishiro que não poderiam fazer promessas, mas tentariam discutir a oferta com o departamento jurídico. Se essa oferta fosse aceita, o autor voltaria a publicar Last Order na Ultra Jump, caso fosse recusada ele se mudaria para a Kodansha e passaria a publicar seu mangá, na Evening (Fonte: ANN).
Creio que está claro que a proposta não foi aceita^^. Em fevereiro de 2011 foi confirmado que o mangá seria reiniciado na Evening, da Kodansha, a partir de março do mesmo ano (Fonte: ANN). Gunnm Last Order seria concluído em 2014, em um total de 19 volumes.
As consequências da mudança de editora
-No Japão
Até então, Gunnm Last Order tinha ganhado 15 volumes pelas mãos da Shueisha, o último deles justamente em junho de 2010, no início da polêmica. Somente em maio de 2011 que o mangá foi ganhar o volume 16, já pelas mãos da Kodansha. A empresa além de continuar essa publicação tratou de lançar uma nova versão do mangá, com mais páginas por volume. O primeiro deles saiu em julho de 2011, tendo uma publicação contínua até o volume 10 em abril de 2012. Essa reedição foi concluída em 12 tomos, os dois últimos lançados apenas em 2014, quando da conclusão da série.
-No exterior
O rompimento do contrato do autor com a Shueisha teve reflexos nos países em que o mangá era licenciado. Nos Estados Unidos, por exemplo, a VIZ publicava Last Order, mas com a mudança de editora acabou por ter seu contrato encerrado um tempo depois e a obra foi repassada para a filial americana da Kodansha, a Kodansha US. Assim, os 15 primeiros volumes de Last Order (os editados pela Shueisha) foram lançados pela VIZ e os quatro restantes pela Kodansha US. A Kodansha US, porém, também começou a relançar a obra em formato Ominibus (3 em 1).
Na França, por sua vez, a Glénat simplesmente cancelou o mangá após a publicação do volume 15. A empresa, porém, não foi desleal com os consumidores e rapidamente conseguiu contato com a Kodansha e relançou a obra em uma nova edição. Segundo uma notícia do site Manga-News: “Esta edição foi concebida o mais próximo possível da edição anterior, respondendo a certas restrições impostas tanto pelo antigo editor Shueisha, quanto pelo novo Kodansha”. Tais restrições diziam respeito, por exemplo, às capas. Foram feitas novas, visto que as antigas ainda estavam de posse da Shueisha, embora os direitos de publicação já fossem da Kodansha. Vale destacar que a nova edição francesa não seguia a nova versão japonesa, fazendo a obra ter 19 volumes no total.
Não foi esse o único problema ocorrido na França. Como o autor levou para a Kodansha todas as suas obras, os contratos delas acabaram vencendo, de modo que a Glénat não poderia, por exemplo, relançar ou mesmo sequer comercializar o primeiro Gunnm ou qualquer outra obra do autor. Segundo a editora, a Kodansha apenas reeditou Last Order e a Glénat deveria estar atenta e esperar a Kodansha fazer uma nova edição dos outros títulos do autor para tentar licenciar. Tais informações foram retiradas da mesma notícia já citada do site Manga-News.
Na Itália não houve muitos problemas quanto à Last Order. Por lá, a editora Panini publicava o mangá em meio-tanko e continuou assim mesmo após a mudança de editora no Japão. Em 2013, enquanto ainda publicava a versão em meio-tanko, a Panini relançou a obra baseada no formato da Kodansha, em doze edições. As datas podem ser vistas nesta página do site Anime Click.
No Brasil, por sua vez, a única consequência foi a JBC perder os direitos de publicação do Gunnm original, já que a obra estava licenciada junto à Shueisha. A JBC até retirou o mangá de seu site um tempo depois. No Web Archives (site que “printa” a internet de tempos em tempos) é possível ver a mudança. Neste link de 2011 você pode ver Gunnm presente na parte lateral do site, já neste, de 2012, Gunnm já não aparece.
Sempre que perguntada sobre um possível relançamento, a editora dizia que era difícil por questões burocráticas devido ao fato de o autor ter deixado a Shueisha e ido para a Kodansha. Entretanto, nunca vimos uma explicação mais detalhada. Agora você já sabe melhor o que aconteceu e o porquê de ter sido difícil um relançamento da obra^^.
O relançamento de Gunnm
No Japão, até onde sabemos, a Kodansha só foi lançar uma versão de Gunnm em 2014, mas era uma versão digital, em formato Kindle. O licenciamento dessa obra para o exterior aparentemente estava fechado, ao menos para os países ocidentais que acompanhamos com frequência. O título só começou a ser licenciado em 2016. No mesmo ano, a Kodansha lançou uma versão física do mangá diminuindo os 9 volumes originais para apenas 4.
Quando a JBC divulgou que lançaria seguindo essa edição da Kodansha, houve uma espécie de telefone sem fio e muita gente passou a achar que o formato era exigência da editora japonesa e que não se poderia contratar outra. Se você acompanha este blog você já sabe que isso não é verdade, visto que outros países relançaram ou relançarão a obra em uma quantidade de volumes diferentes. É claro que a JBC pode não ter conseguido licenciar um outro formato, mas isso nunca foi dito pela empresa.
Abaixo você vê um pouco sobre o relançamento em outros países:
-Na Itália o relançamento começou já em 2016 pela editora Panini. A edição teve 9 volumes e já foi concluído agora em meados de 2017. As datas podem ser vistas no site Anime Click, clicando aqui.
-Na França, o mangá também começou em 2016 e ainda está em publicação pela editora Glénat. Tal qual na Itália, o mangá terá nove volumes. O volume 7 está previsto para novembro. Você pode conferir no próprio site da Glénat, clicando aqui.
-Nos Estados Unidos, a Kodansha US começará a lançr o mangá em capa dura agora em novembro de 2017. A edição americana terá 6 volumes. A versão digital já está disponível. As capas podem ser vistas no site da editora, clicando aqui.
-Na Argentina, a editora Ivrea começará a lançar o mangá em dezembro, terá 9 volumes no total. A informação encontra-se no site da Ivrea, clicando aqui.
Na Alemanha, a editora Carlsen começará a publicar o mangá em outubro e, dentre os países pesquisados, é o único lugar que lançará o mangá também em 4 edições. Os 3 primeiros volumes já estão sendo vendidos, em pré-venda, na Amazon alemã.
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[…] e foi publicado no Japão entre 2001 e 2014, primeiramente pela editora Shueisha e posteriormente, após uma rusga do autor com a empresa, pela editora Kodansha, sendo concluído em 19 volumes no total. A obra ganhou uma reedição […]
[…] Para quem não se lembra, o mangá Gunnm foi originalmente publicado no Japão pela Shueisha, mas devido a divergência do autor com a editora quando ele publicava a continuação Gunnm Last Order, Kishiro levou suas obras para a Kodansha. Comentamos detalhadamente sobre esse caso em uma outra matéria, clique aqui para ler. […]
“e a Shueisha devia fazer um recall da reimpressão, revisando as palavras alteradas.”
Ou seja, ele queria que a editora fizesse um recall, retornando as palavras alteradas ao que eram antes? Então por que ele apenas não recusou o pedido, anteriormente?
Also, ótima postagem, como sempre, Kyon!
Queria que a versão da JBC mantivesse esses kanjis nas capas, que acho MUITO estilosos (assim como em revistas japonesas/antologias de mangás), mas sei que é impossível huahaha.
Bem, é fácil entender que ele não quis contrariar em um primeiro momento, apenas isso^^.
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Não deve manter, a imagem deve ser limpa igual às capas alemãs (que dá para ver no link).
Tem a questão de contrato. Por exemplo, se eu tenho um contrato de aluguel e o proprietário começa a foder as coisas, eu tenho que continuar pagando o aluguel e ao mesmo tempo entrar na justiça. Pois se eu me negar a pagar o aluguel eu perco “a razão”, pois terei deixado de cumprir com as minhas responsabilidades. Ao final das burocracias judiciárias eu receberia esses valores de volta, devidamente atualizados, mais qualquer resolução do caso.
Da mesma forma, a depender do contrato dele, se ele se negar, teria que pagar multas e poderia ele ser processado. Cumprir suas responsabilidades e quebrar o contrato da forma “correta”, melhor estratégia.
Ótima matéria sobre o assunto!
Gostaria muito que a Jbc publicasse a nova edição do Last Order, a edição em 12 volumes com capas brancas.