BBM Responde: “Por que novels famosas e de grande sucesso não são trazidas pro Brasil?”

Um tempo atrás fazíamos todo mês uma série chamada BBM Responde, feita para responder dúvidas diversas que encontrávamos em redes sociais, em comentários do blog, etc. A ideia era responder perguntas bem simples, mas que mesmo assim muitos leitores e colecionadores tinham dúvidas.

Hoje viemos reativar essa coluna com uma pergunta feita nos comentários de uma postagem e que muita gente tem dúvidas. Esperamos que essa coluna volte a ser constante.

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O leitor Gustavo nos perguntou:

  • “Por que novels famosas e de grande sucesso como SAO não são trazidas pro Brasil? Essa é bem clichê, Mas sei que há outras que fizeram bastante sucesso por aqui, mas nada delas serem publicadas”.

Na verdade, novels famosas e de grande sucesso são trazidas para o Brasil, sim^^. Já tivemos em nosso país obras como Re: Zero, Log Horizon, No game No life e logo mais teremos Toradora. A impressão de que novels famosas não aparecem em nosso país acontece porque há muita light novel popular no Japão e sempre está surgindo uma nova por lá, porém o nosso mercado ainda é bastante pequeno, não havendo como ter tantas obras em publicação.

A gente não tem acesso a dados internos das editoras, mas o funcionamento do capitalismo é bem conhecido. Se um determinado produto é consumido e gera bastante lucro, as empresas vão atrás de mais produtos parecidos, investindo em um determinado segmento e fazendo-o crescer ainda mais.

Foi assim que se desenvolveu nosso mercado de mangás. Se lá atrás, em 2000 e 2001, Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Sakura Card Captor e Samurai X tivessem sido um fracasso, dificilmente teríamos o mercado atual. Talvez até existisse, mas em tamanho bem menor do que é hoje.

Em vista do exposto, é natural pensar que talvez ainda não exista demanda o suficiente para  ter mais e mais light novels no Brasil. Se fosse um produto que tivesse uma vendagem rápida e grande, igual ou superior ao das maioria dos mangás, certamente mais delas apareceriam e em maior profusão, pois as editoras sempre irão se agarrar às melhores oportunidades de obter lucro, afinal empresa nenhuma quer perder dinheiro.

No momento, apenas uma editora investe neste segmento, a NewPOP, mas o número de publicações ainda é pequeno comparado com o tanto de obra popular que existe no Japão. A mesma empresa também já comentou, em mais de um evento, da dificuldade de achar tradutores de japonês para as novels, o que, em certo sentido, também explica a pouca publicação desses livros no Brasil.

Por causa disso tudo, as novels populares devem continuar aparecendo aos poucos, mas quando uma vier, outras nove, dez, vinte, trinta, noventa e nove obras populares continuarão inéditas e essa impressão de que elas não aparecem permanecerá entre os consumidores.

  • Por que outras editoras não investem em light novels?

Pelo mesmo motivo explicado acima, porque ainda não viram como algo viável e lucrativo. Editoras são empresas e sempre irão visar o lucro e até o momento light novels não se mostraram atrativas para as duas principais concorrentes da NewPOP.

No caso específico da editora JBC, a empresa disse, em uma live no distante ano de 2012, que novels demoram mais para vender e as experiências da empresa com esse tipo de produto (novels de Rurouni Kenshin e Death Note, por exemplo) ou foram razoáveis ou foram ruins, não tendo nenhuma que tivesse sido ótima. De lá para cá, a JBC publicou Densha Otoko e Another, além de reimprimir as novels de Death Note, mas já são 3 anos sem publicar uma novel.

A Panini, por sua vez, já comentou que está estudando a possibilidade de lançar novels, mas os dias, meses e anos passam e nada de concreto aparece. Então, para a NewPOP deve valer a pena publicar esses livrinhos japoneses, para as outras editoras, não.

  • E especificamente Sword Art Online, por que não veio?

Desde 2014, quando lançou o primeiro mangá de Sword Art Online a Panini chegou a dizer que se os mangás fizessem sucesso a empresa pensaria em trazer a novel. Em 2015, quando o segundo mangá da obra foi lançado, a editora foi bem mais enfática nisso e deu reais esperanças de que a light novel pudesse ser lançada no futuro. De lá para cá, nada. Nem outros mangás da franquia apareceram.

A NewPOP, por sua vez, comentou uma vez que não pretendia lançar obras cujas franquias estivessem sendo publicadas por outra editora, a menos que tal editora deixasse claro que não tinha mais intenção de investir no produto. Esse comentário não foi direcionado exclusivamente a Sword Art Online, mas a ele se aplica.

Fora isso, existe também o lado japonês da negociação. Talvez a editora japonesa não queira negociar a light novel com o Brasil ou queira manter toda a franquia por uma mesma empresa, tornando a Panini a única possível. Entretanto, tudo isso é mera especulação no momento já que as editoras não costumam revelar esse tipo de detalhe de negociação. O único fato concreto é que a light novel ainda não apareceu e ninguém sabe se ainda há chance de aparecer um dia…

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14 Comments

  • Trakinas

    Não entendo essa a new pop não lança obras da mesma franquia que outras estão lançando no Brasil, mas já é a segunda vez que é anunciado uma obra de alguma light novel deles.

  • alcoollico

    Se a Panini, que nem lança as novels de Naruto.
    Naruto que é um dos “carro chefe” da editora e boa parte da suas novels possuem um volume com final fechado! (Obs. Que seria um bom termômetro pra testar o mercado)
    Imagina se a Panini vai se interessar por uma novel de mais de 20 volumes e ainda em andamento. (Obs. não estou comparando a qualidade da obra em si, mas os numero de volumes e o quanto a franquia é rentável para o mercado).

  • Marcelo

    Não seria um ciclo vicioso? Brasileiro notadamente não gosta de ler. Novels são, basicamente, livros. Tem bem mais texto que um Mangá convencional.

    Ou seja, se brasileiro não lê nem Mangá, imagina coisas com mais texto como Livros e Novels. E talvez uma pessoa que leia alguma coisa, no caso Mangás, não leia algo com mais texto.

    É uma coisa que leva a outra. Uma explica em partes o que acontece.

    Sorte que gosto de ler Mangás, revistas, livros (com preferência para revistas e mangás) e coisas que você lê, como as que leio aqui, na Biblioteca Brasileira de Mangás. ^^

    Nunca li Novels, mas tenho curiosidade.

    • Leia, por assim que você ler, vai entrar no consumo de novels, e não consegue ficar sem ler um pouco, além de estimular a imaginação :3

  • O problema é que a maior parte do nicho otaku não tem costume de ler livro. Cansei de ver comentário na página da NewPOP do tipo “ah, mas só vai trazer a light novel? E o mangá?”, “preferiria que fosse o mangá”, entre outras coisas do tipo.

    • Eu sou do tipo que lê tanto mangá quanto livro. Então se a NewPOP anuncia apenas a Light Novel, eu me interesso por ela, mas ao mesmo tempo peço o mangá, se tiver.
      Mesmo que adaptações para mangá de LN sejam feitas de qualquer jeito, geralmente, apenas para promover a obra, eu sinto um prazer distinto e ainda maior lendo o mangá.

  • Torres

    Não sei, acho que as editoras pensam que as novels vão vender tanto quanto mangá, mas, novel não vendo tanto quanto mangá nem no Japão…

  • Enzo Brasil Iglesias

    Eu acho q n tem como vender uma grande quantidade de light novel no Brasil, pois ela tem um preço bom para uma Light, mas n é muita gente q consegue acompanhar várias series q ele gostaria de acompanhar pq n teria dinheiro suficiente

  • Condoriano

    Kyon, o que diferencia uma Light Novel de um livro? Minha pergunta não é no sentido ontólogico das duas palavras, mas na razão de que eu sou um grande fã de mangás, e gosto de ler: mangás, quadrinhos com traço japonês que transmitem por recursos semi-óticos e linguísticos.

    A ideia de comprar uma espécie de pequeno livro pra mim não faz sentido. Quando eu quero ler um livro, eu leio um livro.

    O que uma light novel traria de diferente para que eu me interessasse a ler?

    • Rigorosamente falando, nenhuma diferença. Light novel é um livro comum e normal. Então o único jeito de você se interessar em ler alguma LN seria alguma realmente te chamar a atenção^^.

      Só que, lembre-se, existem livros e livros. Não é a mesma coisa você ler um Grande Sertão: Veredas (com uma linguagem mais robusta e diferente, cheia de experimentações com diversas palavras “inventadas”) e ler um A droga da obediência (um divertido livro infanto-juvenil, com linguagem simples). São experiências diferentes, uma mais pesada, outra mais leve.

      Light Novels teriam também linguagem mais simples, mais diálogo, etc.

      Há dois textos mais explicados sobre o assunto que eu esqueci de linkar inicialmente no texto:

      https://bibliotecabrasileirademangas.wordpress.com/2016/04/07/desmistificando-qual-a-diferenca-de-uma-light-novel-e-um-livro/

      https://bibliotecabrasileirademangas.wordpress.com/2016/12/02/bbm-responde-light-novel-nacional-e-possivel/

    • Hackoen

      “Light novel” é uma categoria que encaixamos alguns livros, da mesma forma que colégios tratam seus livros como “módulos” e tratamos quadrinhos japoneses como “mangás”.

      Uma light novel é um livro pocket ilustrado com (na maioria das vezes) uma linguagem mais leve. Tem gente que trata light novels como “baixa literatura” ou “otaquisse em prosa”, mas existem autores que destroem por completo esses rótulos.

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