Um extra necessário?
A postagem a seguir provavelmente contém todos os spoilers do mundo. Leia por conta e risco.
Quando li o mangá Orange, de Ichigo Takano, pela primeira vez tive tanto uma imagem positiva, quanto negativa da obra. A questão dos arrependimentos, a temática da depressão, e a busca de cinco jovens de salvar um amigo foram bem desenvolvidas, nos permitindo refletir sobre essas questões e pensar nas coisas que nós mesmos poderíamos ter evitado em nossas vidas se agíssemos de outra forma.
Entretanto, a obra terminou por ter toques de inverossimilhança ao tentar explicar pessimamente o modo como as cartas chegaram ao passado, o que diminuiu bastante o mangá em termos de qualidade artística. Até o capítulo 19, Orange era redondinho em termos narrativos, mas o capítulo 20 fez o mangá tornar-se mediano de tão ruim que foi.
Explicamos mais detidamente as nossas críticas ao mangá Orange em uma postagem anterior, leia ela clicando aqui. Se você gosta de Orange e não viu defeitos na obra, é preciso ler essa postagem anterior para compreender satisfatoriamente os problemas que existem no mangá e entender melhor a argumentação desenvolvida aqui.
Orange encerrou-se no volume 5, e o sexto tomo é um volume de extras centrado no personagem Suwa, em especial a linha do tempo do futuro, no qual ele e seus amigos não conseguiram salvar Kakeru. Esse extra consegue ser bem emocionante e, a depender da sua interpretação, tenta até consertar um dos problemas centrais de Orange. A nossa resenha de hoje falará desse mangá.
- Sinopse oficial
A carta de Suwa enviada do futuro para ele próprio dez anos mais novo demonstrava o desejo de rever o amigo Kakeru e, com ele, poder visitar o templo Yohashira. O mesmo templo onde Suwa, um dia, pediria Naho em casamento… Dois “futuros”, um no qual Kakeru se perdera para sempre e outro em que a salvação se fez possível pela força do amor e da amizade. O seu agora e o seu depois…
- História e desenvolvimento
Embora seja um tanto quanto óbvio, é importante dizer que o volume 6 de Orange pressupõe que você já tenha lido os 5 volumes anteriores, afinal a obra tratará da mesma história embora em uma linha do tempo diferente. Do mesmo modo esta resenha por inteiro pressupõe que você já conheça a história.
O volume 6 é composto por quatro capítulos, três deles focando-se em como Suwa voltou a ter contato com Naho após o término do colégio e um primeiro capítulo que seria uma espécie de conclusão à história original.
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Nesse primeiro capítulo, acompanhamos os personagens no passado, de onde a obra havia parado, ao mesmo tempo em que vemos os personagens do futuro novamente refletindo sobre a ida das cartas ao passado e como isso funcionaria na prática.
É bem nítido uma tentativa da autora em consertar o problema ocasionado pelo capítulo 20 – que fez a obra ficar com toques de inverossimilhança – com os personagens achando tudo ser muito absurdo e que dificilmente o desejo deles se realizaria, entre outras coisas. Como sabemos, as cartas chegaram ao passado^^.
O capítulo ainda mostra o futuro alternativo em que Naho e Kakeru se casaram e todos estão felizes. A grande jogada, porém, dessa história e que a faz ser um um pouco acima da média é a dupla interpretação que a autora colocou após esse momento. No futuro em que Kakeru morreu, Suwa e Naho acordam e ambos dizem ter sonhado com o Kakeru ainda vivo. Ou seja, esse futuro alternativo teria sido apenas um sonho desses personagens.
A interpretação desta cena, porém, é propositalmente dúbia. De um lado você pode ler como se toda a história de Orange fosse um sonho e que as cartas nunca tenham chegado ao passado e de outro de que os personagens apenas sonharam com o futuro da outra linha temporal.
Muita gente teorizava que as cartas nunca tinham chegado ao passado e que tudo fora imaginação dos personagens do futuro, mas a verdade é que não havia nada na obra original que fizesse essa leitura ser válida. Com essa passagem, a interpretação continua não sendo aceitável, mas coloca no ar um “e se”.
É uma tática bastante comum em várias histórias, essa tentativa de fazer o leitor ficar pensando em qual é o verdadeiro final. A interpretação correta, porém, é a segunda, pois o final desse primeiro capítulo mostra novamente a chegada da carta do futuro para a Naho adolescente. Além disso toda a trama da obra original faz mais sentido e tem mais impacto se a história dos mundos paralelos for real.
Se a narrativa fosse um sonho, as discussões ainda seriam válidas e pertinentes, porém não teriam tanto impacto, pois não seriam os personagens ainda adolescentes descobrindo seus sentimentos, suas atitudes e tentando salvar o amigo. Seria algo muito superficial e o mangá seria narrativamente bem ruim, pior do que se tornou após o capítulo 20 da história original.
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Os outros capítulos da obra talvez sejam os melhores para quem queria ver o casal Suwa e Naho, pois mostram os dois como jovens adultos e o rapaz fazendo de tudo para conseguir que a garota goste dele. O passado deles com Kakeru continua lá, ainda os incomoda, mas a vida segue, deve seguir. E essa é a grande mensagens desses 3 capítulos e que faz esse volume ser importante.
Se na obra original, o futuro de Suwa e os demais personagens apresentavam-os como pessoas com grandes arrependimentos, por não terem compreendido o amigo e o deixado morrer, esses três capítulos vem para colocar um pouco mais de nuances neles, mostrando que eles conseguem sim aproveitar a vida apesar de tudo o que se passou. E isso é uma mensagem importante.
Por mais que as perdas sejam realmente dolorosas e que se demore para processá-las, não devemos ficar presos a esses sentimentos negativos. Vários obras dramáticas, como Anohana, tocam nesse tema e o exploram, mas Orange falhava nisso, pois não apresentava a evolução dos personagens, mostrando-os como pessoas muito ressentidas com o passado. Orange #06 vem corrigir esse problema e corrige muito bem. A gente vê de verdade os personagens felizes, a gente vê a evolução deles e vê que apesar de todo o sentimento em relação ao passado, eles conseguiram sim seguir em frente.
No Orange original, essa mensagem não esteve presente ou se esteve foi tão leve que ficou completamente ofuscada. Lá a obra “nos mandava” cuidar das pessoas que a gente gosta, que tenhamos atenção a eles, que tenhamos mais ação, etc. Aqui, a obra nos mostra que por mais duro que seja perder uma pessoa importante, ainda existem razões para viver e ser feliz.
- Veredicto
No todo, Orange #06 conseguiu diminuir a imagem negativa que eu tinha dos cinco volumes iniciais após aquele fatídico capítulo 20. Se a qualidade artística ainda deixa a desejar, todo o drama da obra continua muito bem executado e consegue superar os defeitos narrativos.
Orange #06 é realmente um extra necessário. Embora não faça parte realmente da história original, ele vem para complementar algumas coisas e corrigir certos deslizes que a obra de Ichigo Takano tinha. Se você for um fã de Orange não deixa de conferir esse volume.
- Ficha Técnica
Título: Orange #06
Autor: Ichigo Takano
Editora: JBC
Dimensões: 13,5 x 20,5 cm
Miolo: Papel Offset
Acabamento: Capa cartonada simples
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos
Número de volumes: 1
Preço: R$ 16,90
Onde comprar: Amazon
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Como sou #teamSuwa não sei se minha opinião é meio tendenciosa, mas apesar de ter gostado da autora explorar a forma como o Suwa se reaproximou da Naho depois da morte do Kakeru, gostaria que a Naho tivesse ficado com o Suwa mesmo na timeline em que o Kakeru sobreviveu, porque senão dá a entender que Suwa nem tentou se declarar de novo para ela, praticamente se sacrificou completamente pela felicidade do Kakeru, o que é meio exagerado na minha opinião já que acho que não é certo abrir mão da própria felicidade assim; e também porque parece que a Naho realmente só ficou com ele como segunda opção…
Eu teria gostado mais se na timeline em que o Kakeru foi salvo ele e a Naho tivessem até chegado a namorar, mas que depois a Naho percebesse que na verdade amava o Suwa e ficasse com ele. Acho que teria sido interessante mostrar como mesmo com o Kakeru eles teriam escolhas parecidas das tomadas sem ele, talvez mostrar como o Kakeru seguiu a vida continuando a amizade com todos, mas também fazendo as próprias escolhas e conhecendo outras pessoas.